Esta é uma Igreja Batista?

Tenho pregado em muitas igrejas batistas e também de muitas outras denominações. Mas, vez por outra, quando digo que sou batista “até no nome”, quase sempre sou abordado por algum crente batista dos mais idosos que me perguntam: “Ainda existe alguma igreja realmente batista?”. Diante disso, respondo afirmativamente. Diante da minha resposta sempre ouço alguém dizer: Será?

Um dia desses alguém me procurou e afirmou o seguinte: “Sempre fui batista tradicional, mas ultimamente, estranhando a liturgia da minha própria igreja onde sou membro, fui visitar várias outras igrejas batistas, mas, no meio do culto, ao fechar os olhos, me perguntei o seguinte: Esta é uma Igreja Batista?”. E é justamente para tentar responder tal indagação que estou tentando, através deste artigo, responder e trazer alguns esclarecimentos sobre essas dúvidas,

É bom lembrar que a igreja batista nasceu a partir dos movimentos de reforma eclesiástica que agitaram o século 16. Segundo alguns estudiosos do assunto, os batistas descendem da igreja inglesa que, com Henrique VIII, rompeu com o catolicismo romano, dando início à Igreja denominada como Anglicana.

Durante a reforma de Henrique VIII, os membros da Igreja Anglicana, discordaram dele por achar que esta reforma deveria ser mais ampla e ir além das questões institucionais e atingindo não somente as áreas da fé e da doutrina. E foi justamente nesse ponto que esses grupos esperavam que a reforma servisse para criar uma igreja que desejasse um retorno ao Novo Testamento de uma forma mais pura e direta. Diante da Igreja Anglicana esse grupo de pessoas se tornaram conhecidos como os puritanos.

Cabe destacar ainda que, entre os puritanos existiam ainda um outro grupo menor chamado de os separatistas que, além de se opor a certos aspectos teológicos da Igreja Anglicana, também não aceitavam a interferência do Estado sobre a igreja, pois defendiam que a igreja deveria ser independente.

O problema maior é que a coroa inglesa não viu com bons olhos os movimentos dos puritanos separatistas e os considerou ilegais. Em função desse conflito, a maior parte desses grupos fugiram da Inglaterra para vários outros países. Durante o ano de 1609, uma congregação liderada por John Smith se refugiou em Amsterdã, na Holanda e alí, John Smith teve contatos com os anabatistas e também com um outro grupo conhecido como os menonitas. Nesse momento, a congregação liderada por John Smith foi profundamente influenciada pelos anabatistas e menonitas pois defendiam um retorno completo às Sagradas Escrituras, ao batismo somente de crentes e, principalmente, a questão da rejeição do batismo infantil.

Depois de três anos, Thomas Helwys e outros membros da igreja fundada por John Smith voltaram para a Inglaterra e fundaram, em Londres, a primeira igreja batista. É interessante notar que essa igreja já detinha os outros traços distintivos dos batistas, isto é, a aceitação da Bíblia como autoridade final em matéria de fé e prática, a salvação pela graça mediante a fé, a separação entre a igreja e o Estado e o dever do governo de garantir a liberdade de consciência e de culto.

Espalhando-se para as mais diversas regiões do globo, os batistas muito cedo chegaram aos Estados Unidos. De lá veio para o Brasil o casal de missionários William e Anne Bagby. Por esse tempo, já havia batistas americanos em Santa Bárbara e Americana (SP), mas suas igrejas eram voltadas apenas para a colônia estrangeira. Já no ano de 1889, o casal Bagby fundou a Primeira Igreja Batista Brasileira na Cidade de Salvador. A partir daí os batistas se espalharam por todo o País e, em 1907, foi organizada a Convenção Batista Brasileira.

           

Daquele tempo até hoje podemos dizer que muita coisa mudou, principalmente na questão da liturgia. Mas não posso encerrar este artigo sem destacar os principais traços que caracterizaram os batistas desde o início. Os batistas sempre foram e continuam sendo conhecidos como aqueles que adotam a Bíblia como única regra de fé e prática (2 Timóteo cap. 3 vers.16). Além disso, defendem a doutrina da salvação pela fé (Efésios cap. 2 vers. 8 a 10). Os batistas também são conhecidos como aqueles defendem o ensino do sacerdócio de todos os crentes com base em 1 Pedro cap. 2 vers. 9. Uma outra marca dos batistas é a separação total entre Igreja e Estado com ênfase na independência da igreja de acordo com Mateus cap. 22 vers. 21. Podemos afirmar também que os batistas defendem a idéia da autonomia de cada igreja local e adota também a forma de governo congregacional (Mateus cap.18 vers.17 e Atos cap. 6 vers.1 a 6). Não se pode esquecer também a idéia defendida pelos batistas da importância da cooperação entre as igrejas batistas para a expansão do Reino de Deus (1 Coríntios cap. 16 vers.1 a 4). Para conhecer melhor os batistas é preciso lembrar ainda outras características importantes como a prática do batismo por imersão ministrado somente aos crentes (Atos cap. 8 vers. 36 a 39), a rejeição do batismo infantil (Mateus cap. 28 vers.19), além de considerarem o batismo e a Ceia do Senhor como símbolos de verdades espirituais ao invés de considerar apenas como sacramentos (Romanos cap. 6 vers. 4 e 1 Coríntios cap. 11 vers. 24 e 25). E em último lugar, mesmo bastante polêmica, uma marca dos batistas é a rejeição de doutrinas pentecostais especialmente no tocante ao batismo do Espírito Santo acompanhado pelo dom de línguas (1 Coríntios cap. 12 vers.13 e 30).

           

Mas, é muito importante lembrar também que os batistas não são os seguidores de João Batista apesar de muitos identificarem os batistas com os seguidores dele. Mas esse entendimento é fruto apenas da intuição popular que percebe a igualdade dos nomes. Esse modo de pensar, porém não tem qualquer amparo, até porque João Batista e seus discípulos nunca fundaram qualquer igreja ou movimento religioso. O papel de João e seus discípulos se limitou apenas a preparar o caminho para a vinda do Messias que é Jesus (Mateus cap. 3. Vers. 1 a 3).

           

Curiosamente, apesar de tudo que temos visto por aí atualmente, é bom lembrar que os batistas não adotam a Teologia da Prosperidade. A idéia de que todo aquele que tiver fé terá prosperidade material e livramento de doenças, ensino este defendido claramente pela chamada Teologia da Prosperidade. Este é um tipo de ensino que normalmente não é ensinado nas igrejas batistas genuínas por não ter nenhum tipo de amparo bíblico. Na Palavra de Deus sempre aprendemos que dificuldades físicas ou financeiras vêm tanto para os crentes como para os incrédulos (Mateus cap. 19 vers. 23; Lucas cap.16 vers. 22 e 23; Gálatas cap. 4 vers.13; Filipenses cap. 2 vers. 25 a 27; 2 Timóteo cap. 4 vers. 20; Tiago cap. 2 vers. 5).

           

Um outro aspecto importante a ser destacado ainda é que os batistas tradicionais não costumam manter comunhão com seitas paraprotestantes. E o que são estas seitas paraprotestantes? São aquelas seitas cujos fundadores estiveram originalmente ligados de alguma forma à alguma igreja protestante, mas romperam por professarem doutrinas estranhas ao cristianismo histórico, fundando em seguida o seu próprio movimento. Todos esses movimentos, à luz da Bíblia, não podem ser considerados cristãos. Em função disso, fica  impossível manter comunhão entre estes grupos e as igrejas batistas que preservam seus princípios fundamentais (2 João vers. 10).

            É bom lembrar ainda que os batistas também não costumam praticar rituais comuns em outras igrejas ditas evangélicas, tais como: Rituais de quebra de maldição, supostas orações de poder, cultos de libertação espiritual, unção de objetos ou coisas do gênero. Todas essas práticas não costumam ser adotadas pelos batistas tradicionais ou por qualquer igreja bíblica. Na verdade, essas superstições servem apenas para desfigurar o nome de cristão e desviar o coração das pessoas da verdadeira mensagem do evangelho, fazendo-as crer em fábulas (Mateus cap. 7 vers. 21 a 23; 2 Timóteo cap. 4 vers.3 e 4; 2 Pedro cap. 2 vers. 1 a 3).

            Finalmente, é importante lembrar que a maioria das pessoas que me questionam sobre este assunto, normalmente se referem apenas às questões litúrgicas. Diante de tal situação, cabe lembrar que as discussões precisam girar em torno das principais doutrinas defendidas pelos batistas tradicionais desde o seu surgimento. Se você é mais um daqueles que vivem se perguntando, “Esta é uma Igreja Batista?”, vai aqui a minha orientação, ao invés de se prender apenas a liturgia, observe apenas as principais doutrinas defendidas, pois dessa forma você vai facilmente descobrir se sua igreja é realmente batista.

Pastor Adilson Batista Amelio

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