DEUS RESPEITA E COMPREENDE A HUMANIDADE?

 

No relato do capítulo 3 do livro de êxodo sobre a conversa de Deus com Moisés ante a sarça ardente, vejo algo muito bonito, maravilhoso e ao mesmo tempo algo que me enche bastante de tremor.

  Tudo começou quando Moisés em pleno pasto do gado de seu sogro Jetro, ficou "atraído" ou "fascinado" por Deus, intermediado por uma Sarça que, mesmo ardendo, não se consumia pelas chamas. Em admiração, Moisés aproxíma-se, então, Deus começa uma conversa que se estende ao longo dos versos do Capítulo 3. Mostrando sua autoridade divina e, animando Moisés com palavras e milagres, pra ver se ele creia e confiando cumpra com o chamado de Deus para a libertação de seus irmãos. Mas, vejo a conversa a tornar-se mais interessante apartir do capítulo 4, versos 10 a 17 onde se medita:

"10 Disse, porém, Moisés ao SENHOR: “Ó Senhor! Nunca tive facilidade para falar, nem no passado nem agora que falaste a teu servo. Não consigo falar bem!”

11 Disse-lhe o SENHOR: “Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o SENHOR?

12 Agora, pois, vá; eu estarei com você, ensinando-lhe o que dizer”.

13 Respondeu-lhe, porém, Moisés: “Ah, Senhor! Peço-te que envies outra pessoa”.

14 Então o SENHOR se irou com Moisés e lhe disse: “Você não tem o seu irmão, Arão, o levita? Eu sei que ele fala bem. Ele já está vindo ao seu encontro e se alegrará ao vê-lo.

15 Você falará com ele e dirá o que ele deve dizer; eu estarei com vocês quando falarem e direi a vocês o que fazer.

16 Assim como Deus fala ao profeta, você falará a seu irmão, e ele será o seu porta-voz diante do povo.

17 E leve na mão esta vara; com ela você fará os sinais milagrosos”.

Eu vejo nessas linhas, um Deus súper relacional, e amigo da humanidade em um sentido transcendental (inexplicável), observe comigo:

Antes de Moisés mostrar para Deus (humanamente falando) sua falha de linguagem (pois era gago) no verso 10, "Ó Senhor! Nunca tive facilidade para falar..." Deus já havia feito três milagres: 

 

1º- A sarça em chamas sem queimar ,e a voz misteriosa de Deus(Teofania);

2º- O cajado transformado em serpente e vice-versa;

3º- A mão revestida de lepra e curada no mesmo instante.

Todos esses milagres tinham a finalidade de vincular a fé de Moisés no poder infinito de Deus, com tudo, Moisés não creu.

 

Obs:

*O primeiro milagre era exclusivo em cativar o afeto e a atração atenciosa de Moisés com relação a Deus.isso foi alcançado quando Moisés reconheceu ser seu dever cobrir o seu rosto diante da glória de Deus.

*Os dois últimos milagres deviam desenvolver os efeitos afetivos do primeiro milagre. Especialmente o do braço leproso verso braço limpo, pois tinha o objetivo direito de fazer entender que Deus tinha autoridade integral sobre o corpo humano. Aqui Moisés devia desenvolver a confiança e consequentemente o privilégio de gozar os milagres revelados e os não revelados desse Deus maravilhoso.

 

Mas, infelizmente, mesmo depois de todos esses milagres, Moisés não creu que Deus poderia fazer mais do que isso, por isso , crendo que os milagres sobre a mão inchada e a vara transformada em serpente teriam convencido seus irmãos, lembrou-se, então, que era gago, e concluiu que essa deficiência era a mais pior de todas em dificultar tal missão, por isso acrescentou (verso 13): " Ah, Senhor! Peço-te que envies outra pessoa".

Depois de Moisés afirmar ser gago, Deus quis lhe fazer entender algo muito importante que mudaria toda sua história (verso11): “Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o SENHOR?"

Com certeza, essa era mais uma chance que Deus deu para que Moisés pedisse a Deus que lhe curasse de ser gago, e que respondesse entusiasmado nessas perguntas sobre quem faz a boca, dizendo: Ês tu, Senhor. Solte a minha língua por amor de sua obra! Deus teria imediatamente respondido a tal pedido, óbvio. Mas muito pelo contrário, veja qual decepcionante foi a resposta de Moisés (verso 13): "Ah, Senhor! Peço-te que envies outra pessoa”. Observe que, Deus bem teria curado e soltado arbitrariamente a língua de Moisés, mas não o fez, porque? Simplesmente por que Moisés (embora desejasse ter língua solta) não acreditou que esse era o Deus "Que deu boca ao homem". 

Em seguida, o relato diz que "Deus ficou irado com Moisés", com tudo, em seu infinito amor, providenciou um meio termo pra servir de muleta ao ministério de Moisés: o seu irmão Arão.

Deus disse: "Você não tem o seu irmão, Arão, o levita? Eu sei que ele fala bem. Ele já está vindo ao seu encontro e se alegrará ao vê-lo.15 Você falará com ele e dirá o que ele deve dizer; eu estarei com vocês quando falarem e direi a vocês o que fazer". 

*Em palavras mais claras, Deus providenciou Arão à Moisés, para que Moisés se serviçe da boca de Arão, ou seja, é a boca que está em causa até aqui (por falta de fé de Moisés). E, Deus continua dizendo: "Assim como Deus fala ao profeta, você falará a seu irmão, e ele será o seu porta-voz diante do povo". Nesse verso, podemos observar como Moisés constrangiu o infinito a agir como finito. Podemos aprender que Deus compreende e respeita a nossa frágil humanidade, mas de um modo que me deixa muito maravilhado. 

Vejamos o último verso como Deus se despede de Moisés (verso 17): 

" E leve na mão esta vara; com ela você fará os sinais milagrosos”.

Moisés levou na mão o milagre da vara, como um sinal de que ele, realmente, esteve com Deus. Mas Deus queria que ele levasse mais do que isso. Infelizmente, Deus não devia transpor os limites que Moisés impusera em sua fé.

"Se milagres fossem o Salvo conduto da fé o povo não poderia ter adorado o bezerro de ouro no deserto". (Rodrigo Silva).

"O maior milagre é crer, mesmo antes de houver milagre".