Mas tu, ó Israel, servo meu; tu Jacó, a quem escolhi, descendência de Abraão, meu amigo; (Isaías 41:8).

Amigo é uma palavra que designa aquele tipo de pessoa em que se pode confiar, com quem se têm uma relação de afeto, companheirismo e amizade. Assim era o relacionamento entre Deus e o patriarca Abraão. Eles eram amigos. O que mais me impressiona foi o fato de Deus ter declarado que Abraão era Seu amigo. Mas onde estava Abraão quando iniciou a amizade entre ele e Deus? Que deu o primeiro passo na direção dessa amizade?  A seguir veremos como se desenvolveu a amizade entre Deus e Abraão.

I.  A INICIATIVA DA AMIZADE.

Abraão foi chamado amigo de Deus. O desenvolvimento desta bela amizade só se tornou possível por que Deus tomou a iniciativa. Abraão não conhecia o verdadeiro Deus e não havia feito nada para merecer conhecê-lo. Foi o Senhor que foi ao encontro de Abraão e não este ao encontro do Senhor. Deus o chamou do meio da idolatria (Js 24:2) quando se encontrava em Ur dos caldeus (Gn 11:28, 31; 15:7; Ne 9:7), uma cidade dedicada a Nanar, o deus Lua. Aqui iniciava um relacionamento de amizade entre Deus e Abraão. Porém, o privilégio de ser amigo de Deus não foi somente do patriarca. Em Cristo é possível tornar-se amigo de Deus.

Após terem aceitado o chamado para salvação, experiência necessária para o início dessa amizade, disse Jesus aos Seus discípulos: Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. (João 15:15,16). Por Jesus Cristo ser Senhor e Mestre, deveria chamar-nos de servos; porém, em vez disso, chama-nos de amigos. Jesus os considerava amigos porque Ele lhes havia dito tudo o que tinha ouvido do Pai. Quão confortável e tranquilizador é ser escolhido como amigo de Cristo.

Não se deve, porém, interpretar a palavra amigo de maneira limitada, pois o termo grego significa "um amigo na corte". Descreve o "círculo mais íntimo" ao redor de um rei ou imperador. Os "amigos do rei" desfrutavam de intimidade com o monarca e conheciam seus segredos, mas também eram seus súditos e deveriam obedecer a suas ordens. Não existe, portanto, conflito algum entre ser amigo e ser servo.

Jesus fez a primeira escolha: amar-nos e morrer por nós, para nos convidar a viver com Ele para sempre. A nossa escolha e aceitar ou rejeitar a sua oferta. Se Ele não tivesse feito a primeira escolha, não teríamos qualquer escolha a fazer.  Charles Spurgeon explica que há pessoas que gostam muito de citar a primeira parte do versículo dezesseis, e ficam muito felizes em ouvir um sermão sobre a livre e soberana graça de Deus. Nunca se cansam de repetir as palavras: “não fostes vós que me escolhestes, mas eu escolhi a vós”. No entanto, não falam muito sobre a próxima cláusula: “para que vades e deis frutos, e para que o vosso fruto permaneça”.  Como ramos (Jo 15:2), compartilhamos da vida de Cristo dando frutos; como amigos, compartilhamos seu amor dando frutos. Como ramos, somos podados pelo Pai; como amigos, somos instruídos pelo Filho, e sua Palavra controla nossa vida. Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. (Salmos 119:105).

II. A CONTINUIDADE DA AMIZADE.

Quando Deus chamou Abraão, prometeu fazer dele uma grande nação (Gn 12.1-3). Apesar de a  promessa ter sido confirmada (Gn 15.4), a esterilidade de Sara continuou, e, dez anos depois de sua chegada a Canaã, Abraão e Sara estavam impacientes, por que ainda não tinha filhos. O capítulo 16 do Gênesis relata o perigo da impaciência em nossa caminhada com Deus.

Deus havia prometido um filho ao casal, mas não disse quando essa criança iria nascer. Era um período de espera, e a maioria das pessoas não gostam de esperar. Sara, então, propôs a Abraão que tomasse Agar por mulher, cujo o filho ela poderia adotar, e conforme a proposta de Sara, Abraão fez (Gn 16.2). Esta atitude foi tomada sem que pedissem o conselho do Senhor. Foi uma obra de incredulidade. Este foi um mal exemplo e uma fonte de múltiplo desconforto e dores. Ao que tudo indica, essa atitude de Abraão desgastou por um longo período a amizade entre ele e Deus. Amigos íntimos não ficam muitos dias sem conversarem. Mas Deus manteve silêncio em relação a Abraão durante treze anos. Quanto Ismael nasceu Abraão tinha oitenta e seis anos (Gn 16.16), então, só quando Abraão completou noventa e nove anos, que O Senhor, falou novamente com ele. Eu sou o Deus Todo-poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. (Gn 17:1). Esta foi a exigência para continuidade da amizade entre Deus e Abraão.

William Barcley explica que a palavra "perfeito" não significa "impecável", pois ninguém poderia alcançar esse objetivo (1 Rs 8:46). O termo quer dizer "honesto, sem culpa, sincero, inteiramente dedicado ao Senhor e a Sua vontade. Virtudes que não estavam presentes na vida de Abraão ao deitar-se com Agar.

Deus têm a mesma mensagem para nós hoje. Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. (Tg 4.7). Ao falar do "mundo", Tiago se refere, obviamente, à sociedade humana sem Deus. O sistema todo das cosas nessa sociedade em que vivemos é contrário a Deus. Abraão era amigo de Deus (Tg 2:23); A escolha de Ló deixa claro que ele era amigo do mundo (Gn 13:7-13). A amizade com o mundo é comparada ao adultério. O cristão é "casado com Cristo" (ver Rm 7:4) e deve ser fiel a ele. O mundo é inimigo de Deus, e quem deseja ser amigo do mundo não pode ser amigo de Deus. Quem almeja continuar sendo amigo de Jesus, precisar levar a sério o que Ele diz: "Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando" (João 15.14). 

lII. O COMPROMETIMENTO DA AMIZADE.

Amizade e sinônimo de compromisso mútuo. Os capítulos dezoito e dezenove de Gênesis está repleto de eventos, que revelam o compromisso que o Senhor tinha com Abraão e, este com o Senhor. Senão, vejamos:

1. O comprometimento de o Senhor com a casa de Abraão.

O Senhor visitou a casa de Abraão.  Amigos frequentam a casa um do outro. "Depois disso, o Senhor apareceu a Abraão junto aos carvalhos de Manre, quando ele estava sentado à porta da tenda, no maior calor do dia". (Gn 18:1). O Senhor não teve dificuldade nenhuma em visitar a casa de seu amigo Abraão, o mesmo não pode ser dito de Ló. Por ser amigo do mundo, só os dois anjos visitaram a residência de Ló (Gn 19.1). O Senhor preferiu permanecer conversando com Abraão (Gn 18:17-33).

2. O comprometimento de Abraão em servir ao Senhor.

Abraão serviu ao Senhor. A amizade envolve servir, e nesse capítulo vemos Abraão servindo ao Senhor (Gn 18:1-8). Vejamos como Abraão serviu ao Senhor de acordo com Warren W. Wiersbe.

a. Abraão serviu ao Senhor pessoalmente. Lembre-se de que Abraão tinha noventa e nove anos de idade, era um chefe de tribo muito rico e poderia ter incumbido seu assessor ou um de seus mais de trezentos servos (Gn 14:14) de cuidar dos três viajantes. Em lugar disso, resolveu servir ao Senhor pessoalmente.

b. Abraão serviu ao Senhor imediatamente. Abraão poderia tê-los ignorado, fingindo estar dormindo, ou poderia ter pedido que se assentassem e esperassem até que tivesse terminado seu cochilo. Mas Abraão era um homem de fé, e a fé não protela para servir ao Senhor.

c. Abraão serviu ao Senhor rapidamente. Ele correu ao encontro dos visitantes (Gn 1 8:2), apressou-se para a tenda de Sara e pediu que ela fizesse pão (v. 6). Correu ao gado, escolheu um novilho e deu-o ao criado, que se apressou em prepará-lo (v. 7). Não se esqueça de que estamos falando de um homem de idade.

d. Abraão serviu ao Senhor com qualidade. Deu-lhe o melhor daquilo que tinha. Sara preparou o pão da "flor de farinha" (v. 6), e o novilho era "tenro e bom" (v. 7). Não ofereceu restos nem produtos de segunda para visitantes tão ilustres!

c. Abraão serviu ao Senhor cooperativamente.  Ele envolveu o ministério de outros. Sara assou o pão; um criado preparou a carne e, sem dúvida, outros servos levaram a coalhada e o leite. Além disso, não se assentou para comer com os convidados, permaneceu em pé pronto para atender qualquer pedido, como convém a um verdadeiro servo.

3. O comprometimento do Senhor em compartilhar Seus segredos com Abraão.

Disse o Senhor: Ocultarei a Abraão o que estou para fazer, (Gn 18:17). Deus revela a Abraão o que vai fazer em Sodoma e Gomorra. Em seguida, Abraão começa interceder em favor dos habitantes destas cidades pecaminosas. Deus jamais ocultará algo de seus profetas, nem de seus intercessores. Amigos de Deus saberão antecipadamente o que Ele irá fazer. A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança. (Salmos 25:14).  A "intimidade", no versículo 14, refere-se a uma "conversa íntima, planos e propósitos", o tipo de relacionamento ao qual Jesus se referiu em João 15:15, e que Abraão experimentou em Gênesis capitulo 18.

4. O comprometimento do Senhor com a intercessão de Abraão.

Abraão pertencia àquele grupo seleto de pessoas de Deus conhecidas como intercessoras - indivíduos como Moisés, Samuel, Elias, Jeremias, os apóstolos e o próprio Senhor Jesus. Abraão aproximou-se dele e disse: "Exterminarás o justo com o ímpio? (Gn 18:23). Abraão aproximou-se do Senhor (Tg 4:8); a palavra usada no hebraico significa "ir a um tribunal para defender uma causa". Abraão sentia um peso no coração por Ló e sua família, bem como pelos pecadores perdidos das cinco cidades da planície, e precisava compartilhar esse peso com o Senhor. Enquanto Gênesis 18:23-33 revela a intercessão de Abraão, Gênesis 19:29 faz-nos saber que Ló foi salvo por causa da intercessão de Abraão. Deus têm compromisso em responder as orações de seus filhos, seus amigos.

CONCLUSÃO: Assim como o Senhor teve a iniciativa de iniciar um relacionamento de amizade com Abraão, o mesmo Ele quer fazer com você prezado leitor. O que você precisa é reconhecer Jesus como Único e Suficiente Salvador de sua vida. Experiência necessária para se tornar amigo de Deus. Todavia, a continuidade da amizade e compromisso mútuo depende da obediência incondicional ao que Jesus nos manda fazer (João 15:14). A obediência se aplica a toda variedade de mandamentos de Cristo. Não devemos omitir nenhum deles, disse Charles Spurgeon, pois os deveres negligenciados, costumam ser lançados sobre nós como pequenas pedras na bota de um viajante. Elas o fazem mancar. Talvez não o impeçam de viajar, mas prejudicam seu conforto na estrada.

AUTOR: Pr Antônio Pacifico