OS PERIGOS DA CONTEXTUALIZAÇÃO

 

Nosso Alvo: Uma igreja Auto-Governante, Auto- Sustentadora e Auto-propagadora.; mas como fazer isso? Como aproveitar o máximo de elementos neutros da cultura (adiáforas); como purificar o máximo os elementos que foram afetados pelo pecado (Desculturização – Deus mesmo efetuou a desculturização de certos elementos que estavam em conflito com a sua Auto-revelação, tais como o conceito cananita de El, Logos, etc.), como indigenizar a igreja, as formas de culto, a música, a arquitetura, enfim tudo isso sem descaracterizar a mensagem?

O que é contextualização (naturalização):  esta palavra começou a ser empregada à partir de 1972 e tem a idéia de:

  1. 1.    Processo pelo qual a mensagem cristã se torna pertinente e significativa em determinadas culturas.  
  2. 2.    É a capacidade de responder de modo relevante ao evangelho dentro do arcabouço da situação da própria pessoa.
  3. 3.    Acomodação, adaptação, autoctonização (natural do país onde habita e proveniente das raças que ali habitam; aborígene, indígena)
  4. 4.    Labor teológico que consiste em apresentar os enunciados da fé cristã de tal maneira que sejam plenamente entendidos, assimilados e vividos pelas mais diversas gerações e culturas.
  5. 5.    Teoria que afirma que toda mensagem deve ser compreendida em seu contexto cultural total, e que cada mensagem pode ser culturalmente condicionada.

6.      Corpo ou estrutura resultante de entrelaçamentos ou ligações de partes.

 

 

Antes de contextualizar é necessário entender: Missionários de terceiro Mundo precisamos entender pelo menos 4 culturas diferentes:

 

  1. 1.    A da Bíblia.
  2. 2.    A do missionário ocidental que trouxe o evangelho (Não há evangelho puro e nenhuma exegese é exegese é neutra, de modo que a hermenêutica é circular, com interação constante entre objeto e sujeito, o interprete e o texto).
  3. 3.    Sua própria cultura.
  4. 4.    A do povo o qual se propõe a levar o evangelho.

 

Perigos da contextualização

 

  1. 1.    Insensibilidade para com a cultura do outro – Se preocupar demasiadamente com a pureza do evangelho e desconsiderar os padrões de pensamento e comportamentos culturais das pessoas às quais proclamam o evangelho.

 

 

2.  Insensibilidade para com a sua própria cultura -  falta de discernimento à respeito de sua própria herança cultural e experiências pessoais sobre o modo de entender e interpretar o evangelho.

Acha possível transmitir ao ouvinte o evangelho puro sem modificá-lo  - toda teologia é, em parte, culturalmente condicionada.

3.  Demonização da cultura alheia – “Tudo é ruim, tudo é mau, nada é bom”- Há aspectos em cada cultura que não são incompatíveis  com o Senhorio de Cristo, os quais não precisam ser ameaçados nem descartados, mas pelo contrário, preservados e transformados.

  

4.  Deificação da cultura alheia -  “Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e bondade. Porque ele caiu, a totalidade dela é manchada com o pecado e parte dela é demoníaca”- Lausanne

 

a)    O mito do bom selvagem – aborígene puro que reflete uma sociedade primordial.

b)    “Deus nos deu o evangelho, o homem nos dá a cultura”-  Não é totalmente verdade; a cultura dos hebreus não era fruto apenas do meio ambiente mas era uma interação entre a supracultura e o seu meio ambiente.

c)    Toda cultura é rica e bela mas o pecado estragou parte da nossa cultura (inclusive sub-culturas). Existe em toda cultura fenômenos de origem supracultural ( Jo 13:31; I Jo 5;19; I Cor 10:20; II Cor 6:16; Ef 2:2; Ef 6:12).

Modelos da Teologia Contextualizante

 

  1. 1.    Contextualização existencial – essa abordagem visa acomodar o “Cristo”  a uma situação histórica presente.

 

Este é especialmente popular em círculos ecumênicos. A maior parte da literatura contemporânea sobre contextualização é escrita a partir deste ponto de vista.

Este é o Cristo mutável, sujeito às variações da história. Ora pode ser um Jesus asceta, O Jesus “sem terra”, O Jesus “filósofo” ou o mesmo um “superstar”.

  1. 2.    Contextualização dogmática – usa a teologia bíblica cuja compreensão dogmática é contextualizada numa determinada situação cultural.

Alguns aspectos:

a)   crê na relatividade do texto e do contexto. Aceita-se em grande escala que toda teologia, inclusive a Bíblica, é condicionada culturalmente e portanto relativa.

b)   Fazer teologia é um aspecto humano e falível, de modo que nenhuma teologia é perfeita e absoluta.

Nega a possibilidade de uma teologia Bíblica única, mas, pelo contrário fala de “teologias Bíblicas” no plural, sendo cada uma condicionada pela comunidade de fé do autor e situação histórica vivida pela comunidade.

Argumentos usados:

a)    Teologia do N.T não é uma Teologia contextualizada? Paulo não adapta este evangelho a à formas culturais do judaísmo helênico que era influenciado por um “deus que morre e que ressuscita” das religiões de mistério?

b)  Todas as escrituras, inclusive a Bíblia, são “matéria confessional, e refletem a fé e a crença das pessoas que as compuseram num determinado tempo”, por isso texto e o contexto têm valor apenas relativo.

 

c)   Todas as religiões procuram anunciar sua experiência religiosa dentro do arcabouço de uma “história” da natureza do mundo, do homem, de Deus e do destino da vida. Nenhuma história individualmente é mais válida do que as outras.

 

Ex: A história judaico-cristã da “criação-queda-redenção” não é menos válida do que a história hindu do carma, renascimento e da unidade essencial entre o homem e Deus.

O Perigo do Sincretismo

 

Definição: tentativa de conciliar crenças diversas ou conflitantes num sistema unificado.

 

  1. 1.    Sincretismo cultural – tentativa de traduzir a fé cristã por meio de usar acriticamente os símbolos e práticas religiosas da cultura receptora, tendo como resultado uma fusão de crenças e práticas cristãs e pagãs.      

 

a)    Símbolos trazem em torno de si conceitos, abstrações – lavar a escada do Bonfim.

b)  Sincretismo usado pelos judaizantes – forçar formas culturais religiosas sobre convertidos através de estruturas eclesiásticas obrigatórias, padrões sociais de conduta correta e de mundanismo totalmente estranhos a cultura local.

Ex: A controvérsia de Atos 15:1,2,5,28-29 (dividiam a lei em 248 positivos e 365 negativos)

       

 

2.  Sincretismo teológico – vai para o âmago da cultura, porque é a ligação de conceitos e imagens nas profundidades da cosmovisão e dos valores morais e  éticos. Relativiza a natureza da verdade, levando consigo a suposição de que todas as formas de verdade e práticas são apenas expressões da verdade universal e absoluta.

       Relativiza a revelação registrada na Bíblia, e visto que toda a teologia é culturalmente condicionada, não é possível saber com certeza qual a palavra que Deus revelou.

       A teologia Bíblia não é uma parede divisória, mas apenas “postes de iluminação que derrama luz e brilho sobre a experiência religiosa da comunidade.

 

O receptor e sua susceptibilidade ao sincretismo

  

        O receptor terá que:

 

  1. 1.    Terá que conviver com a “incoerência e desalinhamento cultural do missionário”.
  1. 2.    Terá que entender a mensagem bíblica possui aspectos culturais e históricos distantes.
  1. 3.    Terá dificuldades na mistura da cultura do missionário com o cristianismo.
  1. a.    Perspectiva da roupa – bermuda acima ou abaixo do joelho, uso de camisa, etc.
  1. b.   Perspectiva do culto – violão, piano, horário do culto, manifestação corporal, etc. 
  1. c.    Classificação de pecados – o que é pior: beber vinho ou ser vaidoso? Ter 2 ou mais mulheres ou mentir? (ver artigo do livro “Omodo” no livro o Evangelho e a diversidade de culturas – pg 177)
  1. d.   Perspectiva da convivência com a família –
  • disciplinar os filhos é cultural ou bíblico?
  • Beijar a esposa – bíblico ou cultural?
  • “Ele não permite que sua mulher carregue lenha então deve ser Bíblico?
  1. e.   Perspectiva hierárquica – o jovem ensina e o velho também ensina; cultura o preceito bíblico?         

 

Considerações gerais

 

Que cultura devemos adotar para nos tornarmos cristãos? Devemos despir do que e imitar quem? A judaica da época de Cristo? Mas eis a questão de Atos: “Devem se tornar judeus a fim de se tornarem cristãos?”.

“Embora o evangelho tenha sido entregue dentro do contexto da cultura judaica de Abraão até Cristo, e deva ser entendido dentro deste contexto, as boas novas foram a mensagem de Deus entregue dentro daquela cultura, mas não estão limitadas àquela estrutura cultural”.

  1. 1.    O alvo colimado: “Transmitir o evangelho de uma forma relevante” – esta frase sempre tem em vista a cultura do R.E e não tem a ver com a mensagem.
  1. 2.    O evangelho que foi transmitido tem como “forma”(símbolos) a cultura e língua judaica. O significado, no entanto, é supracultural e tem sua aplicação em cada cultura.
  1. 3.    Não se pode “despir, despojar, alijar” o evangelho de sua forma essencialmente judaica; todo conceito deve vir travestido, vestido de forma a não cair na categoria de mito.

EXEMPLO: Cristo morreu pelo pecado.

 

Cristo Aponta para sua messianidade (não devemos ignorar a expectativa do reino judaico).

Jesus – Aponta para sua humanidade (nasceu onde? Como? Quais as evidencias de sua humanidade?)

 

EXEMPLO DE UMA MÁ CONTEXTUALIZAÇÃO: Sal 23

“O Senhor é o meu Piloto; jamais serei carregado pelas correntes ou pelo vento. Ele me alumia o caminho através das águas tenebrosas; guia-me por canais profundos. Marca-me o curso da viagem; guia-me pela estrela da santidade, pelo amor de seu nome”.

“Ainda que eu navegue pelo meio dos trovões e das tempestades da vida, não temerei perigo nenhum, porque Tu estás perto de mim; o Teu amor e o teu cuidado me protegem”.

“Preparas-me um ancoradouro na pátria da eternidade. Unge as ondas com óleo; o meu barco navega tranqüilo”.

“Certamente a luz do sol e das estrelas me iluminará por toda a viagem e descansarei no porto de meu Deus para todo o sempre”.

 

Erro: Abandonou a fidelidade histórica, do ambiente cultural do texto original; a mudança de imagem de um contexto pastoril para o marítimo despiu a mensagem de sua forma original, perdeu a fidelidade histórica.

Como ensinar de modo evitar o sincretismo:

 

 

A.        Com fidelidade às referencias históricas

 

  1. 1.    Não deve haver substituições na mensagem ao ser ensinado fatos históricos.
  1. 2.    Quando o ambiente cultural é alterado ou deixado de lado o princípio de fidelidade histórica deixa de existir. Alguns perigos:
  1. a.    A história Bíblica se torna um conto.
  2. b.    Os fatos se tornam ficção pois personagens históricos estão despidos de suas “vestes culturais” e lingüísticas.
  • Problema da “histórinha com um fundo moral”.

B.         Ensinar com fidelidade didática

  1. 1.    A mesma informação didática transmitida pela Bíblia é comunicada na L.R.
  1. 2.    A Bíblia não é apenas um manual histórico, mas seu propósito é interpretar os fatos históricos relacionando-os às necessidades dos homens; mostrando-lhes como aplicar à sua vida as lições decorrentes dos fatos históricos. 

 

 

Algumas sugestões práticas

 

  1. 1.    O indivíduo e a igreja deve reconhecer a necessidade de lidar biblicamente com todas as áreas da vida. Essa compreensão pode surgir quando uma nova igreja está diante de nascimentos, puberdade, casamentos, funerais (ritos de passagem, um retorno ao passado mítico) e deve decidir como devem ser os rituais cristãos.

O fracasso de uma igreja pode vir por não querer lidar com aspectos nevrálgicos de sua cultura, e isso abre as portas para práticas não cristãs.

  1. 2.    Os líderes da igreja local e o missionário devem conduzir a congregação a uma reunião e analisar os costumes tradicionais associados a questão. O objetivo é entender os velhos hábitos!

 

Tome cuidado com as críticas, pois as pessoas poderão não mais falar abertamente com medo de serem condenadas. Se isso acontecer estaremos incentivando a prática secreta de velhos costumes. Se porventura houver uma critica severa seja um aborígene e não você que faça isso; lembre-se que apesar de pertencer ao corpo você ainda é culturalmente um outro.

 

 

  1. 3.    A congregação deve avaliar criticamente seus próprios costumes do passado à luz do novo entendimento bíblico e tomar uma decisão com respeito a suas práticas. Eles conhecem sua cultura melhor que o missionário e estão numa posição privilegiada para criticá-la uma vez que tenham instrução bíblica. Além do mais, eles crescerão espiritualmente aprendendo a aplicar os ensinamentos das Escrituras em suas próprias vidas.

 

Ex: “Ouvimos que missionários estão estragando sua cultura!”(Beth) – O que é cultura? (Estevam).

 

 O Evangelho é estrangeiro – É rejeitado

Negação do Velho


O Velho Permanece oculto - Sincretismo

(Rejeição daContextualização)

Lidando com o Velho                                                                       

(Contextualização  Crítica)  

   

 (1) Reúne informaçãoacerca dovelho 

                                 

 (2) Estuda ensinamentos bíblicos sobre os acontecimentos                                  

                       

(3) Avalia o velho à luz dos ensinamentos bíblicos                                    

   

 (4) Cria uma nova práticacristã contextualizada

                                                                              

Aceitação Acrítica   do Velho    =     Sincretismo

Contextualização crítica