CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITAITUBA
FACULDADE DE ITAITUBA-FAI
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS VERNÁCULAS ? VIII PERÍODO







O TEXTO E O CONTEXTO NA VIDA E OBRA DE TARSILA DO AMARAL


MARIA DANIELLE LOBATO PAES






ITAITUBA-PA
2011




MARIA DANIELLE LOBATO PAES






O TEXTO E O CONTEXTO NA VIDA E OBRA DE TARSILA DO AMARAL







Monografia de Graduação apresentada para obtenção do título de Licenciatura Plena em Letras da Faculdade de Itaituba. Orientadora: Profª. Norma Iolanda Lindoso Viana. Esp.





ITAITUBA-PA
2011


















PAES, Maria Danielle Lobato.
O Texto e o Contexto na vida e obra de Tarsila do Amaral/ Maria Danielle Lobato Paes - Itaituba: LPL da FAI, 2011.
68f.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ? Faculdade de Itaituba ? FAI, Curso de Graduação em Licenciatura Plena em Letras, BR ? PA, 2011.
Orientadora: Profª. Norma Iolanda Lindoso Viana. Esp.

1. O Texto e o Contexto na vida e obra de Tarsila do Amaral







CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITAITUBA
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Acadêmica: MARIA DANIELLE LOBATO PAES


Título: O TEXTO E CONTEXTO NA VIDA E OBRA DE TARSILA DO AMARAL


Monografia de Graduação apresentada para
obtenção do título de Licenciatura Plena
em Letras da Faculdade de Itaituba.
Orientadora: Profª. Norma Iolanda Lindoso Viana. Esp.

BANCA EXAMINADORA
Presidente: ____________________________________________Nota________
Profª. Djalmira de Sá Almeida, Dra.
Orientadora: ____________________________________________Nota________
Profª. Norma Iolanda Lindoso Viana, Esp.
Avaliadora:___________________________________ Nota________
Profª. Zilda Meira Almeida, Esp.
Resultado:___________________________________ Média:________
Data: 16 de Julho de 2011




















Dedico este trabalho a minha avó Lourdes Lobato que não se encontra mais entre nós. Mas sei que onde estiver está feliz por saber que a primeira neta da família conseguiu realizar um objetivo. Aos meus pais, principalmente a minha mãe Deusdeth Lobato que me ensinou a ser tudo o que sou hoje, a minha filha Luana Lobato que compreendeu mesmo sem entender a importância deste momento. E ao meu esposo Dejair Valério por fazer parte da minha vida.




Agradecimentos

Ao longo do período da graduação, muitas pessoas passaram por minha vida, deixando marcas e lições para toda ela, proporcionando-me alegrias, conhecimento e crescimento pessoal.

Neste momento gostaria de primeiramente agradecer a Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nele.

Agradeço a todas as dificuldades que me ensinaram a ser o que sou hoje.

Aos meus pais, irmãos, a minha filha, ao meu esposo Dejair pelo carinho, pela compreensão, pelo apoio, pelo incentivo.

À professora e orientadora Norma Viana por seu apoio e inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me levaram a execução e conclusão desta monografia.

À Dra. Djalmira pela paciência e incentivo.

A todos os professores da FAI, imensa gratidão por tudo.

A todos os amigos da faculdade que foram grandes companhias, dentro e fora de sala e que continuarão fazendo parte dessa história.


























"Quero ser uma pintora da minha terra". "Foi assim que Tarsila do Amaral definiu, certa vez, sua ambição nas artes."









PAES, Maria Danielle Lobato Paes. O Texto e Contexto na Vida e Obra de Tarsila do Amaral. Monografia Graduação em Licenciatura Plena em Letras Faculdade de Itaituba ? FAI. Itaituba- Pará, 2011.

Resumo

Este trabalho trata Tarsila do Amaral como participante da Literatura Modernista, enquanto escola literária que absorvia diversas formas de arte, em que a pintura e a simbologia retratavam o movimento Antropofagista. Existe um atraso no discurso da história da arte em reconhecer o devido lugar dessas mulheres, que produzi outra face para a cultura. A condição da mulher artista apresenta, tanto na Europa como em outras áreas do mundo, percursos diferentes de formação. Até o final do século XIX encontramos, de fato, uma constituição de uma tradição que impedia as mulheres o acesso as academias, fazendo com que elas só pudessem frequentar cursos particulares. Por meio da obra de Tarsila poder-se-á estudar a questão artista-mulher na sociedade: sua biografia acaba por revelar uma artista que se acredita ter sua vida tão revolucionária quanto sua obra. Tarsila casou-se, separou-se, casou-se novamente, numa época em que isso era alvo de muitos preconceitos. Estudar Tarsila é um convite para que se pense sobre a identidade cultural do Brasil, além de se fazerem releituras e de interpretarem suas principais obras.

Palavras chaves: Tarsila do Amaral. Literatura. Modernismo.








SUMÁRIO
p.
RESUMO....................................................................................................................09
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1. TARSILA DO AMARAL: PRESENÇA DA ARTE NO MODERNISMO BRASILEIRO...................................................................................................13
1.1. BIOGRAFIA...........................................................................................13
1.2. OBRAS..................................................................................................16
1.3. TEMÁTICA BRASILEIRA......................................................................19
2. MODERNISMO BRASILEIRO.........................................................................20
2.1. ESCOLA LITERÁRIA............................................................................20
2.2. CARACTERÍSTICAS.............................................................................21
2.3. SEMANA DE ARTE MODERNA...........................................................22
3. TEXTO E CONTEXTO NA VIDA E OBRA DE TARSILA DO AMARAL .........................................................................................................................25
3.1. TEXTO: LEITURA DE IMAGENS..........................................................25
3.2. PUBLICAÇÕES SOBRE TARSILA DO AMARAL.................................40
CONCLUSÃO.............................................................................................................44
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA................................................................................45
ANEXOS.....................................................................................................................46









INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo encontramos muitas figuras de mulheres artistas, cujos nomes ficaram de alguma forma esquecidos, que pelos mecanismos culturais da sociedade burguesa do século XIX a figura predominante era do gênero masculino. Existe um atraso no discurso da história da arte em reconhecer o devido lugar dessas mulheres, que produziram outra face para a cultura. Até o final do século XIX encontramos, de fato, uma constituição de uma tradição que impedia as mulheres o acesso as academias, fazendo com que elas só pudessem frequentar cursos particulares.
Nesse sentido, citamos Tarsila do Amaral definida ainda hoje da seguinte forma; "mais que principal artista dos anos, Tarsila foi como musa inspiradora dos modernistas e de Oswaldo de Andrade em particular." Na sua biografia haveremos de encontrar determinação e força de luta contra as adversidades, além de grande integração político-poética. Por meio da obra de Tarsila poder-se-á estudar a questão artista-mulher na sociedade: sua biografia acaba por revelar uma artista que se acredita ter sua vida tão revolucionária quanto sua obra. Tarsila casou-se, separou-se, casou-se novamente, em uma época em que isso era alvo de muitos preconceitos.
Estudar Tarsila é um convite para que se pense sobre a identidade cultural do Brasil, além de se fazerem releituras e de interpretarem suas principais obras. O Abaporu é um grande personagem enigmático, que talvez tivesse prenunciado o mundo globalizado ou antropófago, nunca foi tão atual como agora. Tarsila do Amaral é uma artista que se dedicou a pintura, mas aparece na literatura devida sua presença marcante na arte moderna, primeiro pela amizade com Oswaldo de Andrade, segundo por ter sido a criadora do símbolo Antropofagismo e terceiro pela exposição de seus trabalhos. No entanto aparece na Literatura, mas nunca escreveu nada.
O trabalho tem por objetivo apresentar Tarsila do Amaral como participante da Literatura Modernista, enquanto escola literária que absorvia diversas formas de arte, em que a pintura e a simbologia retratavam o movimento Antropofagista.
O trabalho visa revisar a Literatura sobre a participação de Tarsila do Amaral na Semana de Arte Moderna; levantar dados da sua vida e da sua obra relacionando com as características do Modernismo; descrever e analisar os títulos e temática dos quadros de Tarsila do Amaral que passaram a representar a primeira fase do Modernismo brasileiro com sua simbologia, retratando o movimento nativista da revista Antropofagia; elaborar um relatório final sobre o tema; apresentar uma síntese na Banca do TCC.
O presente trabalho sendo de cunho bibliográfico obedecerá às seguintes etapas: 1) Contextualização histórica: nessa etapa haverá estabelecimento de relações entre obra e seu contexto de produção e dados bibliográficos da artista e sua relação ao estilo artístico. 2) Leitura e compreensão da obra com a identificação da abordagem temática - com tessitura do elemento artístico utilizados e a profusão das cores como retrato fiel de sua personalidade.
A partir das interpretações das obras de Tarsila do Amaral, buscarão possíveis padrões expressivos fornecerão um sentido para uma releitura de gênero sobre sua obra. Considerar-se-á o posicionamento assumido pelas mulheres da época em relação à função exercida pela arte, tentando descobrir uma estratégia eventual para obter um reconhecimento "oficial" das suas produções.
O enfoque será constituído, pelos elementos que faziam parte da construção da beleza, e da elegância feminina da época. O trabalho destina-se a professores, alunos do Ensino Médio e Acadêmicos do curso de Letras. Com este trabalho discutir-se-á que ler uma imagem é que a partir dela possam ser elaboradas novas criações que se tornará importante para o desenvolvimento da capacidade criativa.
Pillar (2001:12)
Ler uma obra, então percebe, interpreta a trama de cores, texturas, volumes, formas, linhas que constituem uma imagem. Perceber objetivamente os elementos presentes na imagem foi produzido por um sujeito em determinado contexto, numa determinada época, segundo sua visão de mundo. E esta leitura, esta percepção, esta compreensão, esta atribuição de significados vai ser feita por um sujeito em determinado contexto, numa determinada época, segundo sua visão de mundo. E esta leitura, esta percepção, esta compreensão, esta atribuição de significados vai ser feita por um sujeito que tem uma história de vida, em que objetividade organiza sua forma de apreensão e a propiação do mundo.

Quando se observa uma obra diante, vê-se um filme, lê-se um livro, cria-se na mente uma série de pensamentos que podem ser diferentes a cada vez que se repete a mesma atividade de ver e observar a obra de Arte. Ao ato de observar e produzir pensamentos novos pode ser chamado de Leituras de Imagens. A Leitura de Imagens de uma obra de Arte pode ser desenvolvida e incrementada permitindo que o observador consiga uma série de informações e significados enriquecendo seus conhecimentos.
Segundo os (Parâmetros Curriculares Nacionais)
O artista desafia as coisas como são, para revelar como poderiam ser segundo certo modo de significares, intraduzível do artista ou do expectador como aquela obra particular, num instante particular. (2001, p.37)

Percebe-se também que cada pessoa, de acordo com seu repertório e seu modo de vida consegue ver o mesmo filme, por exemplo, e interpretá-lo seu modo de forma totalmente diferente de outra pessoa. Além disso, essa mesma pessoa assistindo o mesmo filme no dia seguinte ou em outro momento produz uma descrição com ideias bem diferentes das que produz quando o viu pela primeira vez.
Afinal, o que é Leitura de Imagens? Superficialmente é a observação e análise visual, auditiva, táctil, sensorial e através de outros sentidos de uma obra de arte com a posterior produção de uma análise descritiva.





















1. TARSILA DO AMARAL: PRESENÇA DA ARTE NO MODERNISMO BRASILEIRO

1.1. BIOGRAFIA

Nascida em 1º de setembro de 1886, na Fazenda São Bernardo, em Capivari, interior de São Paulo, Tarsila do Amaral era filha de José Estanislau do Amaral Filho e de Lydia Dias de Aguiar do Amaral, e neta de José Estanislau do Amaral, cognominado "o milionário" em virtude da imensa fortuna acumulada em fazendas do interior paulista.
Seu pai herdou a fortuna e diversas fazendas, onde Tarsila e seus sete irmãos passaram a infância. Desde criança, fazia uso de produtos importados franceses e foi educada conforme o gosto do tempo. Sua primeira mestra, a belga Mlle. Marie van Varemberg d?Egmont, que tinha vinte anos e morava na fazenda, ensinou-lhe a ler, escrever, bordar e falar francês. O pai de Tarsila a contratou para dar aulas a seus filhos, assim era o costume das pessoas ricas desse tempo. As primeiras letras que Tarsila lia vagarosamente eram B, A, G, P, que ficavam em cima do grande portão da casa. Eram as iniciais do nome do fundador da fazenda.
Era difícil estudar em um lugar cheio de árvores, bichos para brincar e riacho para mergulhar. Quando a professora a chamava ela fugia para o mato a procura de maracujá. Um dia pegou o papel e lápis de cor e desenhou uma cesta de flores e uns bichinhos que ela via todos os dias: uma galinha rodeada de pintinhos bem amarelos. Esse foi seu primeiro desenho.
Sua mãe passava horas ao piano e contando histórias dos romances que lia às crianças. Seu pai recitava versos em francês, retirados dos numerosos volumes de sua biblioteca.
Aos doze anos foi estudar na cidade de São Paulo no Colégio Santana e era a mais estudiosa da classe. Também estudou no colégio de freiras chamado Sion. Os estudos eram muito importante para as famílias ricas de São Paulo por isso era comum os pais levarem seus filhos para estudar na Europa. Em 1902, Tarsila e sua irmã Cecília, junto com seu Juca e D. Lydia foram para Barcelona, na Espanha para estudar.
Na escola de Barcelona ela fez sua primeira experiência em pintura. Passados dois anos, os pais foram buscar as duas irmãs. Antes de voltar, visitaram aquela cidade dos sonhos de Tarsila: Paris.
Ao chegar da Europa, em 1904, casou-se com André Teixeira Pinto Rosa primo de sua mãe. Logo o primeiro casamento da artista chegou ao fim. A diferença cultural do casal era grande. O marido se opunha ao desenvolvimento artístico de Tarsila, que se separou e conseguiu a anulação do casamento anos depois. Após se separar, começa a estudar escultura.
Somente aos 31 anos começou a aprender as técnicas de pintura com Pedro Alexandrino Borges. Mais tarde, estudou com o alemão George Fischer Elpons.
Em 1920, foi estudar na Academia Julian (escola particular de artes plásticas) na cidade de Paris. Em 1922, participou do Salão Oficial dos Artistas da França, utilizando em suas obras as técnicas do cubismo.
Em janeiro de 1923, Tarsila retornou para Europa e teve contato com vários artistas e escritores ligados ao movimento modernista europeu. De volta a Paris, estudou com os artistas cubistas: frequentou a Academia de Lhote, conheceu Pablo Picasso e tornou-se amiga do pintor Fernand Léger, visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência do modelado legeriano.
Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e, no mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Em 1928, Tarsila pinta o Abaporu, cujo nome de origem indígena significa "homem que come carne humana", obra que originou o Movimento Antropofágico, idealizado pelo seu marido.
A Antropofagia propunha a digestão de influências estrangeiras, como no ritual canibal (em que se devora o inimigo com a crença de poder-se absorver suas qualidades), para que a arte nacional ganhasse uma feição mais brasileira.
Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York e da consequente crise econômica, Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da crise do café. Ainda em 1929, Oswald de Andrade deixou Tarsila para ficar com a revolucionária Patrícia Galvão.
Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Porém, com o advento de Getúlio Vargas e com a queda de Júlio Prestes, perdeu o cargo.
Em 1931, vendeu alguns quadros de sua coleção particular para poder viajar à União Soviética, com seu novo companheiro, o médico nordestino Osório César, que ajudaria Tarsila a se adaptar às diferentes formas de pensamento políticos e sociais. O casal viajou a Moscou, Leningrado, Odessa, Constantinopla, Belgrado e Berlim. Logo estaria novamente em Paris, onde sensibilizou-se com os problemas da classe operária. Sem dinheiro, trabalhou como operária de construção, pintora de paredes e portas. Logo consegue o dinheiro necessário para voltar ao Brasil.
No Brasil, por participar de reuniões políticas de esquerda e pela sua chegada após viagem à URSS, Tarsila é considerada suspeita e é presa, acusada de subversão. Em 1933, ao pintar o quadro "Operários", a artista passa por uma fase de temática mais social, da qual são exemplos as telas Operários e Segunda Classe. Em meados dos anos 30, o escritor Luís Martins, vinte anos mais jovem que Tarsila, passa a ser seu companheiro constante.
A partir da década de 40, Tarsila passa a pintar retomando estilos de fases anteriores. Expõe nas 1ª e 2ª Bienais de São Paulo e ganha uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1960. É tema de sala especial na Bienal de São Paulo de 1963 e, no ano seguinte, apresenta-se na 32ª Bienal de Veneza.
Em 1965, foi submetida a uma cirurgia de coluna que a deixou paralítica, permanecendo em cadeira de rodas. Em 1966, Tarsila perdeu sua única filha, Dulce, que faleceu de um ataque de diabetes. Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em entrevista, sua aproximação ao espiritismo.
A partir daí, passa a vender seus quadros, doando parte do dinheiro obtido a uma instituição administrada por Chico Xavier, de quem se torna amiga. Ele a visitava, quando de passagem por São Paulo e ambos mantiveram correspondência.
Tarsila do Amaral, a artista-símbolo do modernismo brasileiro, faleceu no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 17 de janeiro de 1973.
Foi enterrada no Cemitério da Consolação de vestido branco, conforme seu desejo. A grandiosidade e importância de seu conjunto artístico a tornou uma das grandes figuras artísticas brasileiras de todos os tempos.

1.2. OBRAS
? Pátio com Coração de Jesus (Ilha de Wight) ? 1921
? A Espanhola (Paquita) - 1922
? Chapéu Azul - 1922
? Margaridas de Mário de Andrade - 1922
? Árvore - 1922
? O Passaporte (Portait de femme) - 1922
? Retrato de Oswald de Andrade - 1922
? Retrato de Mário de Andrade - 1922
? Estudo (Nú) - 1923
? Manteau Rouge - 1923
? Rio de Janeiro - 1923
? A Negra - 1923
? Caipirinha - 1923
? Estudo (La Tasse) - 1923
? Figura em Azul (Fundo com laranjas) - 1923
? Natureza-morta com relógios - 1923
? O Modelo - 1923
? Pont Neuf - 1923
? Rio de Janeiro - 1923
? Retrato azul (Sérgio Milliet) - 1923
? Retrato de Oswald de Andrade - 1923
? Auto- Retrato - 1924
? São Paulo (Gazo) - 1924
? A Cuca - 1924
? São Paulo - 1924
? A Feira I - 1924
? Morro da Favela - 1924
? Carnaval em Madureira - 1924
? Anjos - 1924
? EFCB (Estrada de Ferro Central do Brasil) - 1924
? O Pescador - 1925
? A Família - 1925
? Vendedor de Frutas - 1925
? Paisagem com Touro I - 1925
? A Gare - 1925
? O Mamoeiro - 1925
? A Feira II - 1925
? Lagoa Santa - 1925
? Palmeiras - 1925
? Romance - 1925
? Sagrado Coração de Jesus I - 1926
? Religião Brasileira I - 1927
? Manacá - 1927
? Pastoral - 1927
? A Boneca - 1928
? O Sono - 1928
? O Lago - 1928
? Calmaria I - 1928
? Distância - 1928
? O Sapo - 1928
? O Touro - 1928
? O Ovo (Urutu) - 1928
? A Lua - 1928
? Abaporu - 1928
? Cartão Postal - 1928
? Antropofagia - 1929
? Calmaria II - 1929
? Cidade (A Rua) - 1929
? Floresta - 1929
? Sol Poente - 1929
? Idílio - 1929
? Retrato do Padre Bento - 1931
? Operários - 1933
? Segunda Classe - 1933
? Crianças (Orfanato)- 1935/1949
? Costureiras - 1936/1950
? Altar (Reza) - 1939
? O Casamento - 1940
? Procissão - 1941
? Terra - 1943
? Primavera - 1946
? Estratosfera - 1947
? Praia - 1947
? Fazenda - 1950
? Porto I - 1953
? Procissão (Painel) - 1954
? Batizado de Macunaíma - 1956
? A Metrópole - 1958
? Passagem de nível III - 1965
? Porto II - 1966
? Religião Brasileira IV ? 1970

1.3. TEMÁTICA BRASILEIRA

Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco. Este grupo foi o mais importante da Semana de Arte Moderna de 1922.
Em 1924, em meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, Tarsila iniciou sua fase artística "Pau-Brasil", dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais"(mencionados em poema por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana. A Antropofagia propunha a digestão de influências estrangeiras, como no ritual canibal (em que se devora o inimigo com a crença de poder-se absorver suas qualidades), para que a arte nacional ganhasse uma feição mais brasileira.
Tarsila do Amaral foi à representante do movimento Pau-Brasil que, subdividido nas fases construtivo, exótico e metafísico, representa o cúmulo da brasilidade, traduzida não somente em seus temas humanos e nacionais, como também nas cores vivas até então rejeitadas por uma academia retrógrada e passadista.
Seus tons, de intensidade e força absurdas, são reminiscências de infância da pintora nascida em Capivari, interior de São Paulo. Desde então, Tarsila adota de forma quase que rebelde e contestadora cada colorido excessivo para, assim, melhor representar um país-aquarela.





























2. MODERNISMO BRASILEIRO

2.1. ESCOLA LITERÁRIA

O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. Comparado a outros movimentos modernistas, o brasileiro foi desencadeado tardiamente, na década de 1920. Este foi o resultado, em grande parte, da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, tendo como exemplo do Cubismo e o Futurismo, refletindo, então, na procura da abolição de todas as regras anteriores e a procura da novidade e da velocidade. Contudo, pode-se dizer que a assimilação dessas ideias europeias deu-se de forma seletiva, rearranjando elementos artísticos de modo a ajustá-los às singularidades culturais brasileiras.
Encaixam-se nesta classificação a literatura, a arquitetura, design, pintura, escultura, teatro e a música modernas.
O movimento moderno baseou-se na ideia de que as formas "tradicionais" das artes plásticas, literatura, design, organização social e da vida cotidiana tornaram-se ultrapassadas, e que se fazia fundamental deixá-las de lado e criar no lugar uma nova cultura. Esta constatação apoiou a ideia de reexaminar cada aspecto da existência, do comércio à filosofia, com o objetivo de achar o que seriam as "marcas antigas" e substituí-las por novas formas, e possívelmente melhores, de se chegar ao "progresso". Em essência, o movimento moderno argumentava que as novas realidades do século XX eram permanentes e iminentes, e que as pessoas deveriam se adaptar a suas visões de mundo a fim de aceitar que o que era novo era também bom e belo.
No Brasil, os principais artíficios do movimento modernista não se opunham a toda realização artística anterior a deles. A grande batalha se colocava contra ao passadismo, ou seja, tudo aquilo que impedisse a criação livre. Pode-se, assim, dizer que a proposta modernista era de uma ruptura estética quase completa com o engrossamento da arte encontrado nas escolas anteriores e de uma ampliação dos horizontes dessa arte antes delimitada pelos padrões acadêmicos. Em paralelo à ruptura, não se pode negar o desejo dos escritores em conhecer e explorar o passado como fonte de criação, não como norma para se criar. Como manifestações desse desejo por ruptura, que ao mesmo tempo respeitavam obras da tradição literária, temos o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o livro Macunaíma, o retrato de brasileiros através das influências cubistas de Tarsila do Amaral, o livro Casa Grande & Senzala, dentre inúmeros outros. Revistas da época também se dedicaram ao tema, tais como Estética, Klaxon e Antropofagia, que foram meios de comunicação entre o movimento.
Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas: Graça Aranha, um pré-modernista, por exemplo, foi um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco.
O Modernismo dividi-se em três fases : a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; a segunda que formou grandes romancistas e poetas; e terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira, e era por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo. Tarsila do Amaral participou da primeira fase Modernista.

2.2. CARACTERÍSTICAS
São inúmeras as características do Modernismo, todas em oposição aos conceitos tradicionais. Elas fizeram uma verdadeira ruptura. Principais características:
? Total liberdade de forma de expressão;
? Uso da linguagem coloquial (cotidiano);
? Uso do verso livre e bárbaro;
? Descontinuidade cronológica e espacial;
? Humor na poesia (Poema-piada);
? Inclusão dos fatos do momento;
? Nacionalismo, presença da paisagem e sensibilidade da história da terra;
? Regionalismo, folclore, lendas, tradições e mitos brasileiros;
? A ação do enredo perde a importância;
? Linguagem direta, predominância dos substantivos;
? Universalismo.

2.3. SEMANA DE ARTE MODERNA
A Semana de Arte Moderna ocorreu em uma época cheia de turbulências políticas, sociais, econômicas e culturais. As novas vanguardas estéticas surgiam e o mundo se espantava com as novas linguagens desprovidas de regras. Alvo de críticas e em parte ignorada, a Semana não foi bem entendida em sua época.
A Semana de Arte se encaixa no contexto da República Velha, controlada pelas oligarquias cafeeiras e pela política do café-com-leite. O capitalismo crescia no Brasil, consolidando a República e a elite paulista, esta totalmente influenciada pelos padrões estéticos europeus mais tradicionalistas.
Seu objetivo era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com "a perfeita demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual", como informava o Correio Paulistano, órgão do partido governista paulista, em 29 de janeiro de 1922.
A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo no ano de 1922, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, no Teatro Municipal. Cada dia da semana foi dedicado a um tema: respectivamente, pintura e escultura, poesia, literatura e música.
O presidente do estado de São Paulo à época, Washington Luís apoiou o movimento, especialmente por meio de René Thiollier, que solicitou patrocínio para trazer os artistas do Rio de Janeiro Plínio Salgado e Menotti Del Pichia, membros de seu partido, o Partido Republicano Paulista.
A Semana de Arte representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado e até corporal, pois a arte passou então da vanguarda, para o modernismo.
O evento marcou época ao apresentar novas ideias e conceitos artísticos, como a poesia através da declamação, que antes era só escrita; a música por meio de concertos, que antes só havia cantores sem acompanhamento de orquestras sinfônicas; e a arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura, com desenhos arrojados e modernos. O adjetivo "novo" passou a ser marcado em todas estas manifestações que propunha algo no mínimo curioso e de interesse.
Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros, e como um dos organizadores o intelectual Rubens Borba de Moraes que, entretanto, por estar doente, dela não participou.
A Semana, de uma certa maneira, nada mais foi do que uma ebulição de novas ideias totalmente libertadas, nacionalista em busca de uma identidade própria e de uma maneira mais livre de expressão. Não se tinha, porém, um programa definido: sentia-se muito mais um desejo de experimentar diferentes caminhos do que de definir um único ideal moderno.
13 de fevereiro (Segunda-feira) - Casa cheia, abertura oficial do evento. Espalhadas pelo saguão do Teatro Municipal de São Paulo, várias pinturas e esculturas provocam reações de espanto e repúdio por parte do público. O espetáculo tem início com a confusa conferência de Graça Aranha, intitulada "A emoção estética da Arte Moderna". Tudo transcorreu em certa calma neste dia.
15 de fevereiro (Quarta-feira) - Guiomar Novais era para ser a grande atração da noite. Contra a vontade dos demais artistas modernistas, aproveitou um intervalo do espetáculo para tocar alguns clássicos consagrados, iniciativa aplaudida pelo público. Mas a "atração" dessa noite foi a palestra de Menotti del Picchia sobre a arte estética. Menotti apresenta os novos escritores dos novos tempos e surgem vaias e barulhos diversos (miados, latidos, grunhidos, relinchos) que se alternam e confundem com aplausos. Quando Ronald de Carvalho lê o poema intitulado Os Sapos de Manuel Bandeira, (poema criticando abertamente o parnasianismo e seus adeptos) o público faz coro atrapalhando a leitura do texto. A noite acaba em algazarra. Ronald teve de declamar o poema pois Bandeira estava impedido de fazê-lo por causa de uma crise de tuberculose.
17 de fevereiro (Sexta-feira) - O dia mais tranquilo da semana, apresentações musicais de Villa-Lobos, com participação de vários músicos. O público em número reduzido, portava-se com mais respeito, até que Villa-Lobos entra de casaca, mas com um pé calçado com um sapato, e outro com chinelo; o público interpreta a atitude como futurista e desrespeitosa e vaia o artista impiedosamente. Mais tarde, o maestro explicaria que não se tratava de modismo e, sim, de um "calo inflamado".
Tarsila, ainda que não tenha participado efetivamente da Semana de Arte Moderna de São Paulo, foi responsável pela criação de uma nova linguagem para a pintura brasileira. Segundo Mário de Andrade, podemos afirmar que, da história da nossa pintura, Tarsila foi a primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional, já que é a inspiração de seus trabalhos que versa temas nacionais.

























3. TEXTO E CONTEXTO NA VIDA E OBRA DE TARSILA DO AMARAL

3.1. TEXTO : LEITURA DE IMAGENS
Quando observamos uma obra de arte e estabelecemos um diálogo com ela é muito importante que olhemos com muita atenção. Esse olhar aguçado fará com que aos poucos possamos entender os sentimentos e mensagens que a obra despertou em nós e os sentimentos e mensagem que o artista procurou transmitir.

3.1.1. A Negra



Na obra "A Negra" (1923), Tarsila começava a se preocupar com temas do universo cultural e social brasileiro. A obra destaca a importância dos negros em nossa cultura. A lembrança de sua infância junto às amas de leite das fazendas, com enormes seios.
A pintura em si denuncia a condição dos negros na sociedade da época, o enorme seio sugere ser a mulher "ama-de-leite", que muitas vezes tinha o próprio filho vendido para que pudesse amamentar o filho e/ou filha de seu dono; as pernas cruzadas sugerem a mulher se protegendo, fechada ao sexo, visto que as "mucamas" muitas vezes tinham de "servir" aos seus "donos".
O olhar triste parece invocar a tristeza, a melancolia e o pessimismo; fatores dos quais muitos negros vieram a morrer. Na época recebia o nome de Banzo; hoje é a conhecida "depressão".
A imagem dessa mulher é uma reminiscência dos personagens das histórias contadas em sua infância pelas mucamas das fazendas em que cresceu. Essa obra é tida como "uma das raras pinturas plenamente modernas que haviam surgido até então no ambiente cultural brasileiro, e antecipava ideias do "Manifesto Antropófago" escrito por Oswald de Andrade em 1928."

3.1.2. A Cuca


"A Cuca" mostra claramente uma lenda da infância vivida por Tarsila do Amaral: a cuca e alguns animais em torno dela, olhando para ela. Nota-se também uma árvore de corações.
Tarsila tratava a natureza com carinho, de uma forma afetiva. Seus traços sempre arredondados, sem violência, sem quebra, sem ruptura. Existe a predominância das cores secundárias; as cores primárias aparecem timidamente.
Tarsila, com esta obra, mostra uma relação romântica, de amor com o país onde nasceu e ao concluir a obra, escreveu para filha dizendo que estava fazendo uns quadros "bem brasileiros". Descreveu a obra como "um bicho esquisito, no meio do mato, com um sapo, um tatu e outro bicho inventado".
Este quadro é considerado um prenúncio da Antropofagia na obra de Tarsila. Foi doado ao Museu de Genoble na França.

3.1.3. Morro da Favela

Favela é o nome de uma planta que encobria os morros na região da cidade de Canudos, onde ocorreu a guerra santa de Antonio Conselheiro.
Quando os soldados voltaram da guerra, alguns vieram para o Rio de Janeiro e fizeram moradias provisórias no Morro da Providência. Como referência ao local que viveram em Canudos este morro passou a ser popularmente conhecido por Morro da Favela. Na década de 20 o termo favela passou a ser usado para designar habitações improvisadas que ocupavam os morros.

3.1.4. Carnaval em Madureira

Tarsila veio de Paris e passou o carnaval de 1924 no Rio de Janeiro. É curioso ver que ela colocou a famosa Torre Eiffel no meio da favela carioca. As cores deste quadro são muito vivas e vibrantes, contrastando com os tons pastéis que ele usava durante seus estudos nas faculdades parisienses e paulistanas. Na realidade, a torre representa a própria Tarsila, deslocada em seu próprio país, logo após seu regresso do exterior.

3.1.5. Estrada de Ferro Central do Brasil



Este quadro foi pintado depois da viagem a Minas Gerais com o grupo modernista. Foi então que Tarsila começou a pintura intitulada Pau-Brasil, com temas e cores bem brasileiros. Esta tela foi pintada para participar da exposição-conferência sobre modernismo do poeta Blaise Cendrars realizada em São Paulo, em junho de 1924.

3.1.6. O Pescador



Este quadro tem um colorido excepcional e trata de um tema bem brasileiro: um pescador num lago em meio a uma pequena vila com casinhas e vegetação típica. Este quadro foi exposto em Moscou, na Rússia em 1931 e foi comprado pelo governo russo.

3.1.7. Paisagem com touro


Esta obra faz parte de uma das fases mais importantes da carreira da artista, intitulada antropofágica. Dentro desse contexto torna-se importante salientar que esta obra foi concebida em uma época em que a sociedade, presa à tradição acadêmica, vivia da importação atrasada dos modismos europeus, relutando em aceitar as discussões contemporâneas dos artistas sobre os novos rumos da denominada Arte Moderna.
E abraça simultaneamente o abstracionismo calculado do movimento cubista (cheio de pesos e contrapesos, equilíbrio e dinamismo convencional, linhas e cores variando ao infinito) e a "brasilidade" das cenas interioranas, conquistando a emancipação das tradições acadêmicas.
O boi, parado defronte o espectador da obra, parece contar uma história que conduz a outro universo: o dos mitos regionais, tão comuns nos bocados do mundo caipira que existem pelo Brasil a fora, um acervo precioso da cultura tradicional.
O boi também está ligado a crendices, a tradições rurais, a canções populares, a festas e folguedos em todo o país. O Boi-Bumbá em Parintins, no Amazonas, o Bumba-meu-boi nordestino, a Farra do Boi no Sul, o boi da cara preta dos acalantos infantis, o boi sem coração das canções sertanejas, o boi dos rodeios e festas de peão, o boi Barroso (personagem fictício do filme A marvada carne) e tantos outros, cuja narrativa de significação simbólica, continua sendo transmitida de geração em geração, numa alegoria mítica.

3.1.8. O Mamoeiro


Esta obra mostra o início da ocupação dos morros das grandes cidades. A simplificação e estilização das formas promovem certa relação com o cubismo.
Mostrando a vida simples, o dia a dia das pessoas (roupas no varal), vizinhas que se visitam, mãe com filhos. É importante refletir sobre a mudança de hábitos das pessoas a partir da grande concentração de pessoas que hoje habitam os morros. Frutas e plantas tropicais são estilizadas geometricamente.

3.1.9. O Sono



Na época que Tarsila pintou o "O Sono" ela estudava na Europa e foi extremamente influenciada pelo cubismo e surrealismo. A obra mostra um coqueiro estilizado no alto, do lado esquerdo, é o ponto áureo do quadro. Ele nos guiará a um passeio em espiral até o vazio de um lago em manchas lilases em pincelados sonolentas.
Todavia, o que nos leva a crer na existência de um lago é um arco tensionado nos limites do quadro. Daí vê-se, suspenso estranhamente sobre este lago, elementos orgânicos sem muita definição. Uma espécie de árvore destorcida, como numa alucinação, se repete infinitamente até sangrarem o quadro. Os elementos suspensos são a prova de uma não-realidade, elementos vindos de um mundo onírico. As árvores destorcidas, pintadas em um tom de bege desfalecido, saltam do quadro como se não pertencessem a ele.
Faz lembrar a obra homônima de Salvador Dalí, em que um rosto bege está suspenso, como um lençol, por varas num varal do quintal do inconsciente.

3.1.10. O ovo (Urutu)



Nesta tela temos símbolos muito importantes da Antropofagia. A cobra grande é um bicho que assusta e tem um poder de "deglutição". A partir daí, o ovo é uma gênese, o nascimento de algo novo e esta era a proposta da Antropofagia. Esta tela pertence ao importante acervo de Gilberto Chateaubriand e está sempre sendo exibida em grandes exposições.

3.1.11. Apaboru

Neste quadro, segundo a descrição da própria artista, "há uma figura solitária monstruosa, pés imensos, sentada sobre uma planície verde, o braço dobrado repousando num joelho, a mão sustentando o leve peso da minúscula cabeça. Em frente, um cacto explodindo em uma enorme flor."
Quando uma de suas amigas diz que suas pinturas antropofágicas lembravam-lhe pesadelos, Tarsila então identifica a origem de sua pintura desta fase: "Só então compreendi eu mesma que havia realizado imagens subconscientes, sugeridas por histórias que ouvira quando em criança, contadas na hora de dormir pelas velhas negras da fazenda. Segui apenas numa inspiração, sem nunca prever os seus resultados."
Essa representação é o homem, plantado na terra; é a figura de pés grandes, plantados no chão brasileiro, sugerindo a ideia da terra, do homem nativo, selvagem, antropófago. Como o próprio nome Abaporu indica em tupi-guarani, aba: homem, poru: que come. Tarsila valorizou o trabalho braçal (corpo grande) e desvalorizou o trabalho mental (cabeça pequena) na obra, pois era o trabalho braçal que tinha maior impacto na época. Além de apresentar alguns traços surrealistas e evidenciar a preocupação de Tarsila com a estilização do desenho, a obra traz fortes características brasileiras, como as cores da bandeira nacional (verde, amarelo e azul).
A intensa relação amorosa e intelectual com Oswald fez Tarsila pintar, em 1928 o Abaporu ("homem que come carne humana", em tupi). O quadro impressionou tanto Oswald que serviu para o Movimento Antropofágico, nome dado a segunda fase de Tarsila, que "deglutiu" ainda mais radicalmente referências culturais estrangeiras em um ambiente brasileiro.

3.1.12. Antropofagia


A obra "Antropofagia" mostra um exagero nas formas anatômicas e por um toque surrealista, mas sem perder de vista a questão da identidade nacional.
Nesta tela temos a junção do "Abaporu" com "A Negra". Este aparece invertido em relação ao quadro original. Trata-se de uma das telas mais significativas de Tarsila e o colecionador Eduardo Costantini, dono do "Abaporu", está muito interessado no quadro e já ofereceu uma soma muito alta por ele e que foi recusada pelos atuais donos.

3.1.13. Sol Poente

No céu flamejante de Tarsila relampeja a imagem que a mesma tinha de sua infância na fazenda de café no interior de São Paulo. Trata-se de um tele poema onde o amarelo vivo racha o céu e o verde vem ditar seu ordenamento do próprio universo. É surreal e imaginativa a tela em estudo, pois entre o nadar ou o vasculhar no azul as ideias perpassam por um grupo de ratazanas ou peixes que inocentemente procuram comida.
O universo político social da autora se faz presente deflagrando a compatibilidade com os questionamentos dos intelectuais da época, assim a universalidade se faz presente sem desmerecer a brasilidade.

3.1.14. Operários

Essa obra mostra o interesse de Tarsila em retratar os acontecimentos sociais e de pessoas vindas de todos os pontos do Brasil para São Paulo e Rio de Janeiro, com objetivo de trabalhar nas fábricas, que começavam a surgir na época.
A pintora Tarsila do Amaral expressa o mundo do trabalho: um grande número de rostos colocados lado a lado, sem nenhum sorriso, pois a preocupação não deixa lugar para a alegria. Os operários são brancos, negros, mestiços, japoneses, homens e mulheres de várias idades, todos com fisionomia bastante séria, formando a cena, observe que não há rostos iguais.
A expressão dos operários representados é de tristeza, indiferença, cansaço. Representam as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos, e a falta de perspectivas que predomina no contexto de opressão da chamada "Era Vargas".
São pessoas que nos olham fixamente como a nos lembrar que é duro o trabalho nas fábricas, presentes na obra sob a forma de um prédio austero. A obra é um raro exemplo da etnia brasileira. Por isso foi escolhida para representar os museus frente ao diálogo intercultural, do pluralismo de ideias, do desenvolvimento humano e do respeito à diversidade.
Ao fundo, aparecem as grandes chaminés das fábricas que impulsionaram o crescimento do nosso país na primeira metade do século XX.

3.1.14. Segunda Classe



O quadro "Segunda Classe", é uma expressão do crescimento capitalista no Brasil e do preço pago pelos trabalhadores para que seu êxito fosse garantido ilustra o momento político e social brasileiro do início dos anos 30: industrialização, migração de trabalhadores, consolidação do capitalismo industrial e de uma classe de trabalhadores marginalizada e explorada.
3.2. PUBLICAÇÕES SOBRE TARSILA DO AMARAL
Inspirado na ternura de pintora, florescendo ao fervor do pincel, assim se expressou o poeta e historiador Homero Dantas, seu conterrâneo: Pintora Modelo.
À memória de Tarsila do Amaral
"Ela pintava flores simplesmente
copiando pelo espelho o lindo rosto.
Era uma flor humana que, ao sol-posto
ou de manhã, se retratava ardente!...
Assim, com seu semblante róseo em frente
ao espelho ? modelo pulcro exposto!...
ela, beleza rosicler, com gosto
pintava flores em tela albescente!...
Olhando a rósea cor de sua face
em mescla com um brancor leve e fugace
flores róseas e brancas pintalgava!...
E ao pintá-las, em meio às variegadas
flores ? níveas e rosas e encarnadas ?
ela, flor, com as flores se igualava!"...
Tarsila foi uma das mulheres mais bonitas da sua época, notada em todos os lugares que frequentava. Morena, de pele suave, olhos grandes e expressivos, nariz perfeito, lábios carnudos, rosto arredondado e bem definido: um conjunto maravilhoso. Inspirou poetas e pintores. Sua beleza marcou a época.
Flávio de Carvalho, ao recordar uma das celebres recepções na casa de Paulo Prado afirma: "No terraço, Tarsila, com um exótico vestido de flores, cabelos puxados sobre a nuca, enormes brincos pingentes, reinava, bela e serena, cercada de um enorme grupo de admiradores".
Manuel Bandeira, certa vez, impressionado com a beleza da Bahia, disse que "a Bahia é mais bonita do que Tarsila do Amaral". E ainda: "nunca vi boniteza tão brasileira como o da pessoa e dos quadros de Tarsila".
Já Oswaldo escreveu no poema "Atelier":
Caipirinha vestida de Poiret
A preguiça paulista reside nos teus olhos
Que não viram Paris nem Piccadilly
Nem as exclamações dos homens
Em Sevilha
À tua passagem entre brincos
Locomotivas e bichos nacionais
Geometrizam as atmosferas nítidas
Congonhas descora sobre o pálio
Das procissões de Minas
A verdura no azul klaxon
Cortada
Sobre a poeira vermelha
Arranha-céus
Fordes
Viadutos
Um cheiro de café
No silêncio emoldurado.
Tempos depois Carlos Drummond de Andrade, em seu poema "Brasil/Tarsila", a descreve como:
"Tarsila,
nome Brasil, musa radiante
que não queima, dália sobrevivente
no jardim desfolhado, mas constante
em serena presença nacional fixada com doçura,
Tarsila amora amorável d?amaral
prazer dos olhos meus onde te encontres
azul e rosa e verde para sempre"
Artigos de Menotti Del Picchia publicados em 'A Gazeta' nas edições de 27/12/1950, 27/01/1961 e 25/02/1966 nos quais o ilustre articulista fez referências à chegada de Tarsila de Paris em 1922 e seu encontro com os modernistas:
"foi Anita Malfatti quem me apresentou a artista numa confeitaria elegante onde tomávamos chá?Esta é Tarsila, paulista, pintora e vem de Paris. Pintora ? Tinha eu na frente uma das criaturas mais belas, mais harmoniosas e mais elegantes que me fora dado ver?É claro que todos se apaixonaram por Tarsila?".
Do crítico de arte português Antonio Ferro, sobre a exposição de Tarsila em Paris, em 1926:
"Tarsila do Amaral inaugurou, há pouco, em Paris, a sua exposição. Era fácil de prever o acontecimento. Blaise Cendrars, que não quer outra ilustradora para os seus livros, Jean Cocteau, Valéry Larbaud, Rosemberg, Raynal e tantos outros, obrigaram a França a olhar para Tarsila. A França, por sua vez, obrigará o Brasil a consagrar esta grande pintora. Será, de resto, um gesto de gratidão?".
Mário de Andrade, em 21/12/1927:
"Tarsila é um dos temperamentos mais fortes que os modernos revelaram pro Brasil. Afeita às correntes mais em voga da pintura universal, ela conseguiu uma solução absolutamente pessoal que chamou a atenção dos mandões da pintura moderna parisiense. Provinda de família tradicional, se sentindo muito a gosto dentro da história da nossa pintura ela foi a primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional?".
Artigo de Álvaro Moreira em 'Para Todos', edição de 22/07/1928:
"Ela foi o presente mais bonito que Papai Noel botou nos sapatos pobres da pintura brasileira. Desde aquela manhã a pintura brasileira teve uma sorte boa e a gente se esqueceu das coisas feias que tinha visto para ver os quadros de Tarsila como as cores da infância, um cor de rosa que nem as rosas têm um azul que não é dos céus nem dos rios nem da distância. Cor de rosa de Tarsila. Azul de Tarsila. Sem iguais no mundo".
E vejam as palavras do escritor Fernando Góes: "Tarsila viveu sua longa vida cercada não só dos aplausos e da admiração, sem desfalecimentos, do público e dos meios artísticos e intelectuais, mas também da estima e da amizade de seus companheiros de ofício, dos escritores, daqueles que tiveram a alegria do seu convívio e que nela viam não somente a grande artista, mas, igualmente, fundindo-se e confundindo-se com esta, uma grande figura humana".
E, Pedro Dantas, arremata: "Tarsila não se deixou abalar conforme a rosa dos ventos. Seu lugar, sua posição na história da arte brasileira, é inexpugnável. Ela brilhará, nesse firmamento, como estrela que não deixou e não deixará de nos comover com os raios da sua luminosa trajetória no mundo das formas, da cor, da luz".
Mas de todos os grandes elogios sobre a pintura, ficaria com as palavras do poeta Paulo Bonfim, que lhe fez a oração de despedida, quando o corpo da Tarsila baixava à sepultura, no Cemitério da Consolação, em São Paulo, numa tarde fria e nebulosa de janeiro de 1973: "Tarsila não parte. Chega com o futuro".
Tarsila do Amaral já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretada por Ester Góes no filme "Eternamente Pagu" (1987), Eliane Giardini nas minisséries "Um Só Coração" (2004) e "JK (minissérie) (2006). A artista também foi tema da peça teatral Tarsila, escrita entre novembro de 2001 e maio de 2002 por Maria Adelaide Amaral. A peça foi encenada em 2003 e publicada em forma de livro em 2004.
E foi homenageada pela União Astronômica Internacional, que em 20 de novembro de 2008 atribuiu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio. Em 2008, foi lançado o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral, uma catalogação completa das obras da artista em três volumes, em realização da Base7 Projetos Culturais, com patrocínio da Petrobras, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo.






















CONCLUSÃO

Essa pesquisa permitiu conhecer o mundo e a vida de Tarsila. Uma mulher que não teve medo de ser feliz fascinou seus contemporâneos graças à inteligência, coragem e determinação, rompeu com as regras de uma sociedade machista e patriarcal. Quando olhamos suas obras percebemos uma grande simplicidade. Mas o que hoje é tão familiar, no início do século era um choque. Muito se discutiu e se criticou até que pinturas como as de Tarsila fossem consideradas obras de arte de importância.
O ser criado por Tarsila só pode existir na imaginação. Queria liberdade para se expressar, usar as cores e formas que desejasse representar paisagens e figuras vindas da imaginação e, que refletisse as cores da sua terra, contasse as lendas e o folclore do Brasil.
Na época, predominava no Brasil a pintura acadêmica, com regras para tudo: que cores usar, o que devia ser pintado, como os quadros de natureza-morta. O modo de retratar devia ser realista.
Tarsila do Amaral pintou o Brasil, desrespeitou normas clássicas da pintura tradicional e encheu suas telas de cores, muitas cores. Tarsila conseguiu traduzir em cores vibrantes todas as sombras de um país. País este que, segundo a visão apurada e singular da pintora, também é caipira, interiorano, quase rústico. País que Tarsila, em viagem feita a Minas Gerais, descobriu em pessoas, casas, ruas e aridez. A artista não traz apenas a beleza exemplar brasileira, mas ao contrário, denota suas silhuetas e contornos mais obscuros e, talvez por isso, mais interessantes.
Engana-se, no entanto, quem acredita ser Tarsila do Amaral uma pintora estritamente rural. Não. É ela, isso sim, uma artista brasileira, modernista, bem-humorada, arraigada à nacionalidade brasileira.






Referências Bibliográficas

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TUFANO, Douglas. Estudos de Língua e Literatura. São Paulo: Ed. Moderna, 1998.

FARACO & MOURA. Língua e Literatura. São Paulo: Ed. Ática volume 3, edição reformulada, 1990.

MAIA, João Domingues. Língua, Literatura e Redação. São Paulo: Ed. Ática, 1998.

DE NICOLA, José. Literatura Portuguesa: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1999.

AMARAL, Tarsila do. Tarsila por Tarsila. São Paulo: Celebris, 2007.

AMARAL, Aracy Abreu. Tarsila: Sua obra e seu tempo. São Paulo: Edusp, 2008.

WWW.tarsiladoamaral.com.br acessado dia 30/07/2010 às 17h02min
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