Análise do poema: I wandered lonely as a Cloud por William Wordsworth
Por José Fernando Barbosa de Lacerda | 08/08/2022 | LiteraturaO Romantismo foi um movimento literário contra a corrente que teve maior evidência entre 1750 e 1900 na Europa, sendo uma reação ao mundo moderno e suas mazelas, tais como a industrialização, a urbanização e o consumismo. É preciso ressaltar que esse movimento não foi uma guerra contra o mundo nem um evento político, mas sim o nascimento de um novo conjunto de ideais nos quais o imaginário era livre, uma vez que para os românticos o sentimento se sobressaía à razão. Com isso o Romantismo quebrou o período de iluminação o qual dizia que o conhecimento era a chave para libertar-se de todas as formas de dominação, uma vez que para os escritores românticos a chave para a produção era, na verdade, a criatividade presente na mente humana.
Um dos grandes percursores desse movimento foi o escritor William Wordsworth. Wordsworth nasceu na Inglaterra e viveu por um longo período na França, o que influenciou nas suas produções futuras, assim como seu encontro com o escritor Samuel Taylor Coleridge, com o qual publicou o livro “Lyrical Ballads” em 1798. William utilizava em suas produções incontáveis camadas poéticas e pessoais. Porém, suas produções mais populares e que mais refletiam o aspecto romântico foram escritas quando se mudou para Lake District, England. Lá, ele produziu a obra “I wandered lonely as a Cloud”, poesia essa que relata com propriedade a ideia de que ser um romântico era tomar o partido da natureza contra a industrialização, preferindo uma árvore a um trem.
Mesmo com o título do poema citando uma nuvem em destaque, o elemento principal dessa produção - “I wandered lonely as a Cloud” - é o conjunto selvagem de narcisos dourados que dançam próximo ao lago sob as árvores. O eu-lírico, metaforicamente nos dois primeiros versos, compara-se a uma nuvem que observa os narcisos enquanto vaga.
Na primeira estrofe é criada uma imagética completamente natural e idealizada opondo-se à realidade ocasionada pelo capitalismo, uma vez que a civilização havia sido para os românticos o que havia adoecido a sociedade. É interessante ressaltar o individualismo do autor nessa poesia, uma vez que nuvem que o representa é citada no singular, mesmo nuvens sendo um elemento natural que vaga em grupos por vales e colinas. Já os narcisos estão representados no plural e em dourado, cor que representa a riqueza e o valor, relacionando a riqueza de um romântico à natureza e sua pluralidade inspiradora. Porém, esses narcisos não estão plantados ou fixos, mas sim dançando em sua forma sob o vento, dando a eles um movimento coreografado, característica ligada aos humanos e suas ações.
Em seguida, na segunda estrofe, referencia-se outros aspectos naturais porém distantes. A galáxia e a Via Láctea. O espaço é um elemento muito admirado pelos românticos, uma vez que contém imensa vastidão e luz natural. Aqui Wordsworth compara o brilho dourado dos narcisos ao brilho incessante das estrelas que iluminam e refletem sua beleza selvagem num caminho sem fim, sendo ele o lago representado pela Via Láctea de forma a completar sua posição com as estrelas. No fim dessa estrofe o eu-lírico afirma ver dez mil brilhando e balançado suas cabeças enquanto dançam, sendo esses dançarinos os narcisos e o número exagerado seria a representação da incontável beleza daquela cena.
Já na terceira estrofe tem-se a exaltação dos narcisos em comparação ao brilho das águas, no qual o autor enfatiza que o brilho das águas não lhe pertence, uma vez que é apenas o reflexo do sol em suas ondas cristalinas, fazendo um imenso contraste com a dança natural dos incomparáveis narcisos. Wordsworth cita que com uma cena daquelas seria inevitável sentir-se gay, uma vez que encantou-se pelos narcisos e de acordo com a mitologia grega essas flores são a beleza de Narciso, filho do deus do rio, que nasce próximo a lagos uma vez que o personagem grego afogou-se e encontrou sua morte após apaixonar-se por si mesmo de tão reluzente e belo que era, sendo ainda símbolos do rejuvenescimento e da mais pura alegria, e assim se sente o eu-lírico pela companhia alegre e esplêndida que tem dos narcisos dourados naquele momento. No fim da estrofe o autor repete a palavra “gazed” tentando assim representar seu estado de espírito em afirmação, ponderando acerca da riqueza daquele momento, podendo até ser um paralelo entre a riqueza buscada na época e a real riqueza para o poeta romântico. Após isso ele interrompe o fluxo de sua imaginação e seu escapismo para chegar na última estrofe.
Na quarta e última estrofe Wordsworth quebra a narrativa metafórica de ser uma nuvem que contempla a natureza e volta a ser humano, citando o processo de criação dessa poesia e sua inspiração para escrever como relances e flashes que surgem naturalmente em sua memória a cada piscar de olhos. Assim, sempre que o poeta esvazia sua mente de pensamentos a imagem surge e lhe inspira como uma musa instintiva e intuitiva interior. Em seguida ele cita um olho interior, sendo esse o olho de sua mente, o qual lhe possibilita ver com os olhos da alma aquilo que seus olhos físicos não estão vendo no momento atual. Wordsworth compara os narcisos à pura felicidade de seus momentos melancólicos e solitários, enchendo seu coração de prazer como quando era criança e sua vida era pura, imaginativa e individual.
Assim como Narciso viu seu reflexo, Wordsworth vê a si mesmo em sua produção, enfatizando o sonho, seu eu interior e o seu mundo individual. No decorrer do poema podemos identificar os 5 “I”s do Romantismo, sendo eles imaginação, inspiração, idealismo, intuição e individualidade. A poesia carrega um tom emotivo, sensível, pensativo, expressivo e hiperbólico. Na primeira parte ele ajuda o leitor a ver e compreender a magnificência da simplicidade que ele está vendo, o que se intensifica cada vez mais no decorrer da produção, onde no fim ele permite que o leitor entre em sua mente – em seu processo criativo e individual – para que ele compreenda a complexidade e a riqueza que apenas a natureza pode proporcionar a um artista, contendo uma aura relaxada e plena em todo o decorrer do poema, mostrando a importância da natureza em sua vida tanto pessoal quanto artística.
O Romantismo foi um movimento literário contra a corrente que teve maior evidência entre 1750 e 1900 na Europa, sendo uma reação ao mundo moderno e suas mazelas, tais como a industrialização, a urbanização e o consumismo. É preciso ressaltar que esse movimento não foi uma guerra contra o mundo nem um evento político, mas sim o nascimento de um novo conjunto de ideais nos quais o imaginário era livre, uma vez que para os românticos o sentimento se sobressaía à razão. Com isso o Romantismo quebrou o período de iluminação o qual dizia que o conhecimento era a chave para libertar-se de todas as formas de dominação, uma vez que para os escritores românticos a chave para a produção era na verdade a criatividade presente na mente humana.
Um dos grandes percursores desse movimento foi o escritor William Wordsworth. Wordsworth nasceu na Inglaterra e viveu por um longo período na França, o que influenciou nas suas produções futuras, assim como seu encontro com o escritor Samuel Taylor Coleridge, com o qual publicou o livro “Lyrical Ballads” em 1798. William utilizava em suas produções incontáveis camadas poéticas e pessoais. Porém, suas produções mais populares e que mais refletiam o aspecto romântico foram escritas quando se mudou para Lake District, England. Lá, ele produziu a obra “I wandered lonely as a Cloud”, poesia essa que relata com propriedade a ideia de que ser um romântico era tomar o partido da natureza contra a industrialização, preferindo uma árvore a um trem.
Mesmo com o título do poema citando uma nuvem em destaque, o elemento principal dessa produção - “I wandered lonely as a Cloud” - é o conjunto selvagem de narcisos dourados que dançam próximo ao lago sob as árvores. O eu-lírico, metaforicamente nos dois primeiros versos, compara-se a uma nuvem que observa os narcisos enquanto vaga.
Na primeira estrofe é criada uma imagética completamente natural e idealizada opondo-se à realidade ocasionada pelo capitalismo, uma vez que a civilização havia sido para os românticos o que havia adoecido a sociedade. É interessante ressaltar o individualismo do autor nessa poesia, uma vez que nuvem que o representa é citada no singular, mesmo nuvens sendo um elemento natural que vaga em grupos por vales e colinas. Já os narcisos estão representados no plural e em dourado, cor que representa a riqueza e o valor, relacionando a riqueza de um romântico à natureza e sua pluralidade inspiradora. Porém, esses narcisos não estão plantados ou fixos, mas sim dançando em sua forma sob o vento, dando a eles um movimento coreografado, característica ligada aos humanos e suas ações.
Em seguida, na segunda estrofe, referencia-se outros aspectos naturais porém distantes. A galáxia e a Via Láctea. O espaço é um elemento muito admirado pelos românticos, uma vez que contém imensa vastidão e luz natural. Aqui Wordsworth compara o brilho dourado dos narcisos ao brilho incessante das estrelas que iluminam e refletem sua beleza selvagem num caminho sem fim, sendo ele o lago representado pela Via Láctea de forma a completar sua posição com as estrelas. No fim dessa estrofe o eu-lírico afirma ver dez mil brilhando e balançado suas cabeças enquanto dançam, sendo esses dançarinos os narcisos e o número exagerado seria a representação da incontável beleza daquela cena.
Já na terceira estrofe tem-se a exaltação dos narcisos em comparação ao brilho das águas, no qual o autor enfatiza que o brilho das águas não lhe pertence, uma vez que é apenas o reflexo do sol em suas ondas cristalinas, fazendo um imenso contraste com a dança natural dos incomparáveis narcisos. Wordsworth cita que com uma cena daquelas seria inevitável sentir-se gay, uma vez que encantou-se pelos narcisos e de acordo com a mitologia grega essas flores são a beleza de Narciso, filho do deus do rio, que nasce próximo a lagos uma vez que o personagem grego afogou-se e encontrou sua morte após apaixonar-se por si mesmo de tão reluzente e belo que era, sendo ainda símbolos do rejuvenescimento e da mais pura alegria, e assim se sente o eu-lírico pela companhia alegre e esplêndida que tem dos narcisos dourados naquele momento. No fim da estrofe o autor repete a palavra “gazed” tentando assim representar seu estado de espírito em afirmação, ponderando acerca da riqueza daquele momento, podendo até ser um paralelo entre a riqueza buscada na época e a real riqueza para o poeta romântico. Após isso ele interrompe o fluxo de sua imaginação e seu escapismo para chegar na última estrofe.
Na quarta e última estrofe Wordsworth quebra a narrativa metafórica de ser uma nuvem que contempla a natureza e volta a ser humano, citando o processo de criação dessa poesia e sua inspiração para escrever como relances e flashes que surgem naturalmente em sua memória a cada piscar de olhos. Assim, sempre que o poeta esvazia sua mente de pensamentos a imagem surge e lhe inspira como uma musa instintiva e intuitiva interior. Em seguida ele cita um olho interior, sendo esse o olho de sua mente, o qual lhe possibilita ver com os olhos da alma aquilo que seus olhos físicos não estão vendo no momento atual. Wordsworth compara os narcisos à pura felicidade de seus momentos melancólicos e solitários, enchendo seu coração de prazer como quando era criança e sua vida era pura, imaginativa e individual.
Assim como Narciso viu seu reflexo, Wordsworth vê a si mesmo em sua produção, enfatizando o sonho, seu eu interior e o seu mundo individual. No decorrer do poema podemos identificar os 5 “I”s do Romantismo, sendo eles imaginação, inspiração, idealismo, intuição e individualidade. A poesia carrega um tom emotivo, sensível, pensativo, expressivo e hiperbólico. Na primeira parte ele ajuda o leitor a ver e compreender a magnificência da simplicidade que ele está vendo, o que se intensifica cada vez mais no decorrer da produção, onde no fim ele permite que o leitor entre em sua mente – em seu processo criativo e individual – para que ele compreenda a complexidade e a riqueza que apenas a natureza pode proporcionar a um artista, contendo uma aura relaxada e plena em todo o decorrer do poema, mostrando a importância da natureza em sua vida tanto pessoal quanto artística.