Como que dor já fizera sofrer tanto, ocasionando insanidades, manifestações irreconhecíveis na procura de algo que nem se sabe ao certo. Fica pesado, dolorido, sem cor e vontade alguma de continuar respirando. Na queda, o que deseja é chegar ao maldito encontro com o solo, colocando fim no desespero. A dor crônica dentro de si nos coloca em cenas que ficamos acorrentados sempre no mesmo ato, começando, terminando e começando novamente: Um looping e loucura. Entra e saí da minha mente, vai e volta bem de frente, é como que se aguarda sua presença, mas não. É tudo tão distante como se estivesse a milhões de léguas de qualquer lugar, se colocado até na margem da dúvida se seria possível ser salvo ou talvez esteja passando nas linhas onde a luz já não consegue alcançar. Tudo sendo questão de acreditar...e tudo volta novamente. Por um segundo desisti de tudo e despenquei para um enorme poço escuro, frio e triste pela minha procura e me salvar novamente. Na queda lembrei que tive que me transformar no meu super-herói e me salvar. E começa tudo novamente, nesse looping de loucura...vai e volta, entra e saí, volta novamente. Ele não precisa te procurar, parece ser um mecanismo natural. Você pensa que superou e novamente você perdeu mais uma aposta em si, sem perceber ao certo quando foi a hora. Não importa muito quando foi o momento, você jogou e permaneceu na roda de traumas. Nesse looping de loucura...vai e volta, entra e saí, volta novamente. Ele não precisa te procurar, ele nunca precisa...

Jogado nessa região onde a luz chega a ficar ausente, ele se sente enfraquecido de uma forma que chega a dar medo. Tudo que passa pelos seus olhos faz parte de tudo que faz parte dele. A maioria dos nossos demônios nascem do medo das lembranças que faz reviver, nem que seja por uma fração de segundo. O cenário é pavoroso, localizado no canto mais sombrio desse mundo que estamos retratando, era mais do que provável que iria confrontar todos aqueles demônios que ele manteve enterrados. Depois de tanto tempo que se manteve resguardado deles, porém hoje estão a solta. Vamos dizer que era o melhor dia da vida desses pobres demônios. Ele se sente anestesiado na presença deles pela sensação que a região daquele mundo transmite e os recebe de braços e coração aberto, se comportando como um legítimo anfitrião: Depois de desviar de você por todos esses anos como se fosse atravessar a rua para não ter contato, não ter pelo caminho, sempre se esquivando e usando artifícios. Foi por muito tempo literalmente minha gaiola. Por sua causa eu tomei minhas piores escolhas, me comportei de diversas formas que de tão negativas que foram nem consigo explicar. Mas fui eu, eu sei. A vaga lembrança bate junto com a ressaca moral do que fui. Hoje, como sempre quis e nunca imaginei estar me sentindo, confirmo que a existência sempre pode nos trazer uma sensação diferente que jamais imaginamos sentir. É realmente uma verdadeira arte de dominar, conseguir parar no exato gole. Gostaria que a ação de se conter fosse tão fácil como pronunciar palavras. Hoje, ergo o copo para vocês amigos de copos que dividi alguns tragos e garrafas que consumi pelo caminho. Para as garotas, gostaria de reverenciá-las com todo o respeito que merecem, por mais que nunca soube enxergá-las como realmente mereciam. Ergo o copo para você companheiro veneno. Hoje foi o dia que me deixei me perder e sucumbir. Estou me sentindo tão sozinho que aceito sua companhia, mesmo sendo você o meu veneno de toda a vida. Ando topando tudo para não ficar sozinho na minha presença. Então, depois de todos esses anos, eu brindo por você, meu veneno, companheiro do momento.

Foi como ter percebido que afinal, no final de tudo que só se fez foi ter corrido em uma fuga de algo ou de alguém nessa triste região de mundo interior. Com todos os demônio a solta, era o que restava para esse sofredor que de tanto sentir medo e dor, acabara encontrando familiaridade com os pobres diabos da região. Ele correu, correu e correu. Quando cansou, se enxergou o mais perdidos dos que nunca foram encontrados. Percebeu que correu tanto para jamais ter saído do lugar praticamente. Um labirinto de dor. A dor é um labirinto: É como se ver novamente no labirinto 1996/2019. É assustador a sensação de perceber que sempre esteve inserido no jogo, mas desta vez era mais que uma promessa não levar para a garganta o gosto amargo da derrota. É como embarcar em uma máquina do tempo, sem perceber, sem convite, nem nada. Não foi percebido os sinais. Desembarcando em um período do qual jamais gostaria de voltar, em um período que não deseja nem para o seu inimigo. Um amargo frescor anestesiador que surge ou passa pelo estômago e toma conta do corpo todo, como que procurando apontar que não tem para onde correr, não tem como fugir mesmo que você quisesse. Não é questão de uma fuga, é um enorme desesperador querer que ninguém se vá. É como dormir em um ano, acordar em outro que muito tempo se passou, sentir os ventos do período assustador e injusto. Era um dia comum com também foi um dia, estava chegando ao meu lar como muitas vezes havia chegado. Vejo uma ambulância na frente de casa, continuo andando na mesma direção, mas já não escuto nada, exceto o vento com o seu sopro que toma uma enorme proporção nos meus ouvidos. Como há muitos anos deixou aquele garoto atordoado e confuso, procurando a razão para tal desconforto nas fivelas da mochila que carregava nas costas. Mal sabia, era um treino para o peso do vazio do mundo que terá que carregar. -Vamos dar passagem! Obedeço ao comando, duvidando se ouvi de fato ou só respondi aos comandos da minha cabeça. Tanto agora como antes, dou passagem, sentindo a temperatura do seu hálito enquanto beijava o meu rosto. Estava cansada, mas seus olhos me pediram toda a calma que poderia manifestar no momento. Calma que não encontrei há muitos anos atrás enquanto criança, procurando motivos na mochila. Sinto meus dois menores dedos do meu pé esquerdo sendo apertado pela cadeira de rodas, levando ela no exato momento que obedeço o pedido de passagem. Eu, aqui novamente, onde chego à conclusão de que nunca saí. Onde achei que já estive não passou de imaginação, é os efeitos desse labirinto impiedoso. Consigo ver o reflexo daquele garoto perdido com medo até de chorar. Se lembre da palavra de ordem: "Mantenha a calma, tenha força ou finja ter pelo menos e assista o seu maior medo na sua frente novamente" O garoto quer correr e chorar, mas não consegue se mover. Ele aparentemente quer falar algo mas não consegue pronunciar as palavras. Os garotos de Deus se preparam para mais uma despedida. Enxuguem as lágrimas, não existe tempo para as dores.

A guerra, a batalha, o confronto, mudando tudo em sua volta. As consequências da guerra são irreparáveis. Qual o preço do combate? O resultado da guerra? O suposto resultado justo?

Percorrendo pelo lado triste, nessa região ele observa os tristes habitantes que de tão tristes, tornam o céu mais cinza como jamais visto: Depois da batalha, o que resta é juntar os trapos, em um choro solitário do exército de um homem só. Em sua volta, além de si mesmo, só corpos e devastação. Em alguns momentos parece que podia ouvir pedidos de ajuda, o levando a uma procura desesperada pelos pedidos de socorro. Quem passava de longe podia avistá-lo: - Olha lá, o guerreiro solitário que perdeu uma batalha para os próprios pensamentos. Percorreu Xangrilá, alcançando limites geográficos inimagináveis, chegando a terras desconhecidas, o levando a conhecer as práticas quimiocrônicas. Está aí o segredo do sucesso que contém as soluções. Foi enfraquecendo, perdendo a razão, os sentidos, percebendo tarde demais que um dos segredos entre e remédio e o veneno é a dose. Seguiu caminhando com o seus triunfos pelo limbo. - Quem é esse que saboreia a felicidade pela escuridão? - São as palavras de um triste encostado pelos cantos tristes. Ele quis se transformar tantas vezes procurando a fuga de si mesmo, sem notar que foi sumindo pouco a pouco. No final não conhecia mais se enxergar que é tão triste quanto não se reconhecer. O que podia ouvir era apenas o melancólico choro com lágrimas frias escorrendo pelo rosto. Foi perdendo ar no mesmo instante que constatou o quanto está só. Já era visto como um nativo nessa terra de infelizes, se comportando como tal. - Quem vai querer revanche? Se aqui nunca chega nada. Bem-vindo ao fim da linha, depois da última parada - essas foram as palavras ditas pelo velho tristonho enquanto pitava seu cigarro que fazia companhia a sua tristeza. E mesmo ouvindo as palavras melancólicas do velho triste, conseguiu ouvir o barulho do navio cargueiro, como que se transitasse pelo Caronte, trazendo os tristes imigrantes que não paravam de chegar.

Já não há mais novidade para o nativo e sua terra. Como o dia e a noite se tornou um verdadeiro tanto faz com os ombros. Quando tudo já se esgotara, ficou o vazio. Pesado vazio de ficar com si mesmo, como uma visita indesejada. Sobrou você para você nesses dias que parecem não ter fim. Depois da batalha travada, destroços reunidos na construção de ser completamente inacabado, ele observa como que geograficamente a região marcada pela melancolia e desprezo por si mesmo. De tanto que vagou, passou a se enxergar como um acessório, um objeto qualquer que compõe esta região. Ele passou a perder o interesse pelos dias: Passa o dia, passa outro, mais outro e mais outro. Nem tudo parece como deve ser. Passa noite, outra, mais outra e mais outra. A tristeza não espera o amanhecer. Mais uma procura pela esperada felicidade, respirando o ar puro que Deus deu. Depois do curto passeio, volto a inalar a solidão. O cigarro aceso cronometra a minha incerteza. Essa é a legítima certeza, de passar o dia, passar a noite e estamos envelhecendo. Gostaria de reciclar o tempo perdido e encontrar minha única útero-casa. Como um preço pago pelo sofredor poeta é esquecer os problemas, esquecer as incertezas de passar o dia, passar a noite, mais outra, mais outa, outra, outra...outra... Hoje estou pelas valetas feito os monges do castelo sombrio. Que Deus me proteja de mim e me deixe em paz, pois essa luta começa e termina em mim. Na maioria das vezes, eu me sinto como se fosse uma bomba relógio prestes a explodir. Pois tudo tem um por que ou deveria ter? Que o pai me proteja, pois consigo ser assim. Posso ser ingrato, depravado, desprezível, solitário e muito mais. Também consigo sentir falta de algo que me enganou, me expôs, me humilhou, direcionou meu libido para um lugar escuro, alegando uma culpa da minha parte, me fazendo acreditar que não merecia ser amado. Amor que fere amor, alguém está profanando o sagrado. Só o pai sabe o quanto ele tem que me proteger de mim. Estava escuro e frio. Eu estava triste e sozinho, isso pode ser uma sobremesa para o poeta que saboreou a refeição amarga do desprezo? Ouvi no escuro o que não se pode ver, onde o solitário chora acompanhado pela culpa de todas as apostas que não fez. A alma que só quer chorar no desespero de não querer ficar sozinho nessa triste noite fria que espera. Eu gostaria de saber cantar um canto que conseguisse compreender a minha dor. Mas essa noite escura e fria é minha e não dá para dividir com ninguém. Só você é o merecedor das suas próprias desgraças.

Venha viver por traz dos meus olhos, você não duraria um segundo se quer. Só caos, devastação, solidão e desespero. Bem-vindo ao meu doce lar, da minha esfumaçada cidade louca. Eu procurei alguma mão de salvação e não encontrei o aconchego de um abraço. Minha melhor companhia se tornou eu mesmo quando estou dormindo. Sei que é triste de pensar, então não pense e também não me deseje melhoras. Como é solitário se sentir só. Está ai talvez a mais vazia das frases. Sem surpresas, sem tarefas. Como acordar para um dia, desejando ver ele se acabando como um rápido pôr do sol. Escurecer com você todos os seus pensamentos, de fórmula pronta. Nem todos já passaram pela escuridão, mas todos tem algo para falar dela. O que me resta? O que me resta como ação de um representante dessa multidão de sozinhos em que as aflições pesam mais do que pedágios das estradas? O que resta em frente a essas fórmulas prontas que não serve para ninguém? Na mais simples e sagrada ação, uma verdadeira celebração do sentido, eu gostaria de me despedir desse cenário, com todo o meu amor e silêncio. Deixo o meu corpo junto da companhia dessas seletas almas tristes, pois esse caos colore de cinza toda minha volta. É melhor ter paz do que razão. Está difícil de acabar o dia que não deveria ter existido. Jogou ladeira à baixo toda a minha imunidade emocional, mais baixo do que consigo imaginar. Me jogando nos labirintos que tem um grande poder de destruição nesse mundo. Mas esse dia que não acaba! Hoje estou para me jogar em locais que de tão doloridos e sombrios sentimentos, que até então achava que sabia como me comportar em frente a eles. Seus olhos conseguem produzir lágrimas quando está sentindo pena de si mesmo? Com a sensação de abandono, vêm junto diversas sensações, como medo, angústia, ansiedade, aflição...o pacote completo que se forja um sofredor. Tal sensação pode até mesmo ocasionar manifestações físicas. O que podemos fazer? É o outro lado, isso também é viver. Espero contar com a sorte de quem sabe apareça um herói e me salve ou me transforme em alguma coisa que seja só por alguns instantes. Pois tem horas que não quero estar em mim. Mas em nenhum momento negarei a existência. Eu não cometeria esse sacrilégio.

Percorrendo por esse mundo interior, como ilustres espectadores podemos observar entre os cidadãos um conformismo entristecedor que impregna a atmosfera do ambiente. Vamos denominar essa região como Vale dos Tristes. Voltamos a atenção para um único cidadão dessa região. Ele se encontra sentado em uma escada de algum monumento que não consegue ser definido ao certo o que é. Mas pouco importa para ele, para quem anda por ali tudo está perdido. Como um Robin qualquer que deu seu colo como última morada como forma de amparo ao seu moribundo Batman, que afirmou que no final, ele não morreu insano: Nessa região desse universo que nem Augusto dos Anjos tem a palavra certa, a droga que movimenta a minha cidade é a solidão. É uma manifestação geral. As corujas voam chorando, enquanto as serpentes se aborrecem com a humanidade que insistem em respirar pela região que habitam. Me deixe, eu quero estar só. Não quero ir e não quero ficar. Eu preciso me encontrar nessa multidão de sozinhos. Que o vento que bate sobre as estradas dos princípios para o frescor que bate nos nossos rostos nos façam lembrar o porque que estamos aqui.

Depois de acompanhar de perto os cidadãos e os acontecimentos que fazem parte do enredo dessa região que compõe esse ser que se lançou nesse mundo à procura de respostas e salvação que pode ser na verdade uma libertação contra sí mesmo. Acolhendo todos os seus demônios, os recebendo face à face, aceitando cada um que se formou contra ele e assistindo de camarote todos os seus pesadelos revividos com toda a força na sua frente. Se pergunta se já não foi o bastante por que ainda insistem em feri-lo. De tanta dor que causou, se conformou que talvez fosse para sempre essa condição. Esse nefasto conformismo tomou conta de si, apontando uma estranha esperança. Tão estranha quanto qualquer expressão que existe por essa região. Mas ainda sim, uma esperança: Vagando nessa região como um devoto que tem sua fé voltada para uma complexa esperança, peço proteção por onde meus pés possam percorrer. Todos os lugares são cenários onde interpretamos nossa própria odisseia que as vezes chega a ser dramático o enredo. Mas todos merecem a devida redenção. Buscando na caixa de memórias, percebo que não me encaixo, porém não me incomodo. Tenho a sensação de ter sido o motivo de muitas conversas regadas a álcool e no mínimo secretas, entregue a visita junto com as doses oferecidas na demonstração de cordialidade e uma falsa superioridade por enganar alguém que apontava querer tão bem. Ao ouvinte ficava o sabor além do veneno que podia se sentir pelo sentido do paladar e o gosto da traição à partir do enganador. Um tanto cruel, porém uma visão privilegiada. O sorriso falso de uma aventura que se manteve na penumbra, o enorme prazer de se sobrepor a quem amava. No enredo do amargo e estranho poeta não cabe amargura, pois não é seu sentido existencial. Fica aqui o meu muito obrigado e minha desculpa por alguma coisa, pois de fato não fui capaz de algo. Se estamos aqui nos abandonando pelas esquinas, é sinal que somos humanos em toda a nossa essência. É preciso deixar claro que não estou e nem desejo fazer parte desse cenário de tensões, medindo forças, encharcados de narcisismo e vaidades. Eu reafirmo que não estou mais aí, mas deixo claro que tenho o profundo amor e respeito, pois tudo tem um porque, eu tenho que agradecer por me ajudar a superar feridas que trago além da existência. Nas diversas tentativas de me lançar, descobri que posso ser sempre mais forte, pois o mal do veneno acabou.