Luanda-Angola, Janeiro de 2022
RECENSÃO CRÍTICA DO ARTIGO: “O RUÍDO DOS PSEUDÓNIMOS NAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA”- DE MÁRIO REIS.
                                                                                                                                                 Por: António Paulo José1


Reis, M. J. A. (2012, 11ª 24 de Junho). «O Ruído dos Pseudónimos nas Literaturas Africanas de Língua Portuguesa». CULTURA – Jornal Angolano de Artes e Letras, nº 6, pp. 10-11.
O artigo em apreciação no presente trabalho, «O Ruído dos pseudónimos nas literaturas africanas de língua portuguesa» de autoria de Mário J. Aires Reis, foi publicado de 11 a 24 de Junho de 2012 no Jornal angolano de artes e letras – CULTURA, no âmbito de uma secção dedicada às letras.
Mário J. Aires Reis, doutorado em Literatura pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador no CLEPUL, Universidade de Lisboa, Leitor do IC, na Universidade Katyawala Bwila, Benguela. Neste artigo apresenta uma apreciação crítica acerca dos pseudónimos nas literaturas africanas de língua Portuguesa, dando realce à questão da opacidade no plano semântico-cultural, do ponto de vista da antroponímia. O autor apresenta a sua reflexão dividida em duas artes.
Na primeira parte da abordagem do autor são apontadas duas «justificações persistentes da história do uso dos pseudónimos: pseudónimos por obrigação e por prudência conjuntural» Reis, 2012). Esta ideia converge na sua essência com o pensamento de Maingueneau (2016, p. 108), pois, muitos pseudónimos são colocados para a protecção contra a censura de vária ordem ou perseguição, quando se trata de alguma crítica social ou a algum sistema político; protegendo, assim, o nome civil.
Pensamos que os dois aspectos apresentados pelo autor são elementos fundamentais da reflexão em questão, pois quanto na primeira como na segunda justificação notamos um desinteresse em adequar o pseudónimo aos escritos. Na primeira justificação pode-se notar a colocação de pseudónimos sem qualquer interesse na carga semântica do mesmo e a devida adequação com a identidade da produção literária, por isso, tais nomes podem estar carregados de bastante banalidade. Quanto a segunda justificação, há evidências da mesma ruptura, pois a intenção do autor é de não se tornar cognoscível aos leitores, sendo que o mesmo faz críticas sociais, tendo a pretensão de não ser perseguido. Partindo desta visão, não haverá necessidade alguma em dar uma carga semântica dos pseudónimos que se adeqúem ao português, no caso concreto a que se refere o artigo em análise. Podemos aludir que os casos apresentados no artigo em análise estejam convergidos nos aspectos (nas justificações) acima apresentados, sendo que a conjuntura da época pudesse influenciar tais pseudónimos.
Parece bastante evidente que tais pseudónimos não encontram a carga semântica na sua correspondência com o português, porque havia uma tendência de valorização da identidade cultural africana, desprendendo-se das nomenclaturas europeias que eram impostas pela colonização. Não é por acaso que grande parte dos pseudónimos apresentados pelo autor é proveniente de línguas africanas; pseudónimos como Uanhenga Xito, Ondjaki, Ungulani Ba Ka Kosa, Mukua Kianga e muitos outros. A preocupação esteve na exaltação da cultura e não no significado e identidade dos mesmos com o que o autor escreve, provocando assim um afastamento abismal entre o pseudónimo e o conteúdo literário que as suas obras representam. O autor do artigo em análise faz bem esta reflexão ao focalizar os aspectos culturais e conjunturais. Pois, nos próprios dizeres de Reis (2012), em tais designações existe um movimento de estranhamento, de distanciação, de ironia, de sarcasmo, de incerteza e de insegurança em relação ao mundo extra-literário. E não há dúvida alguma que nos moldes apresentados, tais pseudónimos remetem para uma onomástica tradicional africana.
Na segunda parte o autor faz uma análise acerca do lugar hipotético do leitor perante tais pseudónimos e os dispositivos de “ler mal” que eles poderão ocultar. É óbvio que os pseudónimos confundem-se na tríplice aliança: autor, escrita e leitor (Leão, 2011). Na mesma linha de pensamento caminha o autor do artigo em análise, sendo que a opacidade dos pseudónimos apresentados identificam-se como um problema no que toca à referência com o que se pode ler e entender nos escritos dos mesmos e sem qualquer possibilidade de fazer referência exterior dos mesmos. A ser assim, a leitura e interpretação do leitor apresenta-se como mera subjectividade em função daquilo que o texto se dá a ler, aquilo que o autor considera como o visório, e não haverá qualquer objectividade na apreensão dada à falta de referência, ou melhor, diríamos mesmo a falta de adequação do autor com o que o mesmo escreve, estando contida a mesma carga semântica identitária. O leitor pode obter uma interpretação diferenciada dos escritos caso conheça a identidade oculta do autor, uma vez que por detrás de um pseudónimo há sempre um nome.
Não havendo conhecimento da identidade do autor, obviamente a carga de subjectividade impõe-se com maior relevância e a percepção dos escritos pode estar distorcida. Há, realmente, uma necessidade de haver uma conexão, uma proximidade entre o autor, o seu escrito e o leitor para que a mensagem a ser passada seja saudável. Dali a necessidade de se conhecer a identidade do autor para que se faça uma leitura mais adequada dos seus escritos.
A título conclusivo, podemos dizer que o artigo analisado, embora tendo sido apresentado para o público através do jornal CULTURA, é bastante interessante e útil para que se tenha consciência na aplicação de pseudónimos. Recomenda-se a leitura do presente artigo para o público em geral e necessária para estudantes ou formados em literatura. Na área da filosofia o conteúdo apresenta-se como útil especificamente no campo da filosofia africana.
Luanda-Angola, Janeiro de 2022

1 Mestrando em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto (FLUAN); Licenciado em Filosofia pelo Instituto Superior Dom Bosco (ISDB) da Universidade Católica de Angola (UCAN). Contacto: [email protected] ou [email protected]
Luanda-Angola, Janeiro de 2022.


Fontes consultadas


Leão, J. O. (2011). Interface entre Literatura e Filosofia: a pseudonímia como estratégia de criação literária em Kierkegaard. Revista Espaço Acadêmico – nº 127, ano XV, Dez. 2011, pp. 95-103.
Maingueneau, D. (2016). Autoridade e Pseudonímia. Revista da ABRALIN, vol. 15, nº 2, Jul./dez. 2016, pp. 101-117.