O MELHOR LIVRO DO MUNDO: Sérgio Nunes 

 

“Luís Henrique de Abreu Nunes, Danilo Duccia, Allan Ivo Ayres e Maria Carolina Fernandes Euzébio, a minha Carol. Meu amor por vocês não tem fim”

 

PREFÁCIO: Prepare-se para as linhas a seguir. Você está prestes a embarcar em uma odisseia à procura de respostas do que sentimos, para as situações e adversidades do exercício de viver. Entraremos como ilustres convidados do mundo interior desse ser que pode ser eu, você, ele ou o outro ali. Ao se encontrar sozinho e confuso, embarca de cabeça no seu mundo interior.

Como Dante Alighieri que desceu por todas as camadas do inferno para resgatar sua Beatriz, eu me instalo nesse mundo interior em nome daqueles seres iluminados que foram verdadeiros anjos desse mundo, embarcando nesse mundo interior à minha procura em nome deles. Para maior compreensão da obra, beberemos das águas de Dante Alighieri e sua “A Divina Comédia” porém sem um legítimo Virgílio ou Beatriz. Iremos a fundo nesse mundo retratando os habitantes. Abordaremos intimamente cada personagem que se torna dispensável dar o nome ou alguma característica física precisa. Gostaria de deixar claro que esses personagens desse mundo interior formam a personalidade desse ser que vai retratar o mundo, procurando não se esquecer de nenhum detalhe qualquer.

Alcançar como total integridade os fatos, buscando a legitimidade como Afrânio Peixoto a respeito de José de Alencar, que aponta a busca por uma nacionalidade de todas as formas, sendo na escrita, no pensamento, nos gestos e ações. A partir da primeira linha escrita da obra até a última, procurarei ser inteiramente verdadeiro, prometo que honrarei essa promessa. Como o amor incondicional de Isabel Allende por Paula, sua filha. Do concebimento até o momento do derradeiro adeus, como um artista que se dedica a partir do primeiro momento até o fim da obra. Com o título bastante desafiador, a explicação para dar sentido o nome se torna necessária a partir do primeiro instante. Então mãos à obra, pois antes de embarcar nesse caótico e confuso mundo à procura de si mesmo, gostaria de dar mais informações que acho necessária antes eu se inicie a leitura da obra. Então desde já gostaria de agradecer e desejar uma boa leitura.

Antes de concluir esse texto, não posso me esquecer de um amigo que se mostrou um verdadeiro combatente ao meu favor quando me arrisquei na tentativa de expor esse tal mundo para o mundo. Deixo registrado aqui toda a minha gratidão a admiração a você Marcelo, que deu estrada para as minhas viagens.

 

O Melhor Livro do Mundo:

Qual o segredo para tal feito? Escrever o melhor livro do mundo. Uma proposta bastante pretensiosa, concorda? Talvez seja assunto para aqueles ditados prontos que apontam que vale mais a pena é o caminho e não o ponto de chegada. Ainda uma proposta bastante pretensiosa. Qual a receita para criar o melhor livro do mundo? Existe uma receita? Uma formula pronta? Por onde começamos? Tantas perguntas e tantas repostas... e estamos caindo nas armadilhas dos ditados prontos.

Vamos tratar o assunto com o devido respeito. Acredito que para tal feito é necessário o hábito regular da leitura. Ler e escrever está como a mão direita está para a mão esquerda. Para dar legitimidade, busco como referência um historiador e que também se chama Sérgio. Aliás, evitando qualquer possível curiosidade, fui eu quem chegou por último por aqui. Além de um admirador de seus feitos para com a humanidade, é uma honra compartilhar o mesmo nome. Além de Sérgio Buarque de Holanda, vou utilizar diversos autores e suas obras. Perceba que estou procurando apontar o quanto eles influenciaram minha forma de ver o mundo. Poderia citar alguns autores de assuntos voltados para a sociologia, pedagogia e a construção do ser social, porém não é um assunto que gostaria de explanar diretamente na obra. Mas é notório que o ser humano aprende também do que vê e não me refiro só do sentido de enxergar. Feito essa observação, me sinto mais à vontade para falar dos meus heróis literários.

O que somos é resultado do que vivemos. A cada livro, cada autor, cada personagem fez parte da formação do meu ser. Era como que vivesse pela vida deles, pelos livros posso transitar por diversos mundos sem me importar com a linha atemporal que estamos inseridos. Vivo a vida dos personagens diante dos meus olhos, vou dos meus heróis e anti-heróis, de Aliocha Karamazov aos heróis de Stan Lee, aos ideais de um mundo justo para todos de Karl Marx a Jean Valjean e sua França Miserável, sendo banhado pelo mar das filosofias. É assim que se fez o meu mundo, minha Inhapuambuaçu.

Além dos livros e personagens que passam pelos meus olhos, vivo da canção que chega aos meus ouvidos. Já dizia o poeta: "cada ser humano é um universo" isso prova o quanto somos complexos, como um encontro de pessoas é também um choque de mundos e não existe nada simples nisso. Voltando para o título " O Melhor Livro do Mundo " vou ter o prazer de percorrer pelo meu mundo de uma forma nunca antes percorrida. Vou ser um mero espectador, observando cada personagem que se criou, como uma história dentro de outra história. Já dizia Fernando Pessoa: " A história do fascismo está inserida na história da industrialização moderna ". Cada personagem do meu mundo é resultado desse personagem que forjei para viver no mundo de todos nós. Irei transitar pelo íntimo de cada ser que existe e faz parte do meu mundo que passo agora a chamar de nosso. Por todas essas particularidades de visão, total liberdade para transitar por todas as esferas, sendo o único espectador desse mundo, te convido para juntos visualizar esse mundo que passa pelos olhos. Então podemos afirmar sem a pretensão que o título pode propor que se trata do melhor livro do mundo. Com personagens que serão tratados com todo o amor e dedicação. Que chegue para você ilustre leitor(a) toda a verdade que alimenta o mundo desse melhor livro. Morris West, escritor australiano, em uma entrevista contou o quanto é importante criar um clima para tornar mais apreciável ao leitor, a história que irá ser apresentada. Me dê sua mão e vamos percorrer por esse mundo que já chamo de nosso. Pois posso afirmar que sim, esse é o meu mundo e você ilustre leitor(a) é a luz que ilumina ele, sendo a razão dessa obra literária.

Como Jean-Paul-Sartre que escrevia para seu avô há muito já falecido, pois ele era a referência do ser humano ideal na visão do autor. Essa obra é direcionada para cada ser humano que respira nesse exato momento, pois sou mais que um fã, sou um eterno admirador da humanidade. É para todos vocês que escrevo. Gostaria de deixar outra observação. Esses olhos que irão documentar personagens desse mundo na verdade nem existe. Paramos e analisamos, como único espectador que pode transmitir o íntimo de cada personagem, pode percorrer de todas as formas, pensamentos e ações. Não é brincar de Deus, muito longe disso, pelo amor do próprio. Esse que fala, não passa de um pensamento, um sonho. Resumindo: um pensamento desprendido da matéria. Por meio dessa, eu convido você leitor(a) para viver esses personagens, cujo a vida irá passar diante dos seus olhos, vamos viver esse mundo. Pois segundo Jean Valjean, de Victor Hugo: "Morrer não é nada, horrível é não viver" Que bom que você gosta do hábito da leitura. Em um mundo cada vez mais tecnológico é bom saber que existe humanos que tenham interesse nessas tortuosas linhas. Por ser gago, falar baixo, enfim uma péssima dicção, tenho uma relação muito próxima a escrita. Sobre os meus erros gramaticais. Sim, sou réu confesso. Surgem pela falta de sincronia entre minha mão e os pensamentos que habitam na minha cabeça. Eu não sei se penso muito rápido ou escrevo devagar. Então, por favor perdoe esse reles humano.

Tão elaborado, observado com todo o cuidado, como Lon Fuller na obra Exploradores de Cavernas, como Fausto de Goethe, em busca da felicidade e do infinito a todo o custo. Um pouco atrasado ou talvez não, mas recheado de verdades, venho por meio dessa te agradecer pela oportunidade, pelo tempo que se propôs embarcar nessas tortuosas linhas que agora tenho total clareza que em nenhum momento foi minha, já que desde o começo de sua criação, à partir do primeiro pensamento já era dirigido para você. Então receba o meu muito obrigado.

Antes de embarcarmos no mundo interior, gostaria de dar espaço para esse ser que irá embarcar de cabeça nesse complexo, caótico e tão pessoal cenário que irá dividir com você estimável leitor(a) Machado de Assis escreveu certa vez: "O sol é inimigo dos sonhos malucos" A falta de luz, a escuridão esconde a novidade, o novo, a informação, causando medo, ideias confusas e incompreensão. Vamos dar a vez a esse personagem que irá ser nossos olhos na aventura da obra. Acredito que assim podemos nos familiarizar. Nesse momento passo a conduzir a obra:

Eu sou aquele que não para de escrever. Eu entendi, é o meu jeito de sobreviver. Sou aquele que torce de todas as forças e não sabe se despedir de todas as formas. Eu sou um indivíduo comum, que por uma viagem se perdeu no tempo, quando conseguiu enfim se encontrar se perdeu novamente, perdendo o sentido da batalha. O garotinho chora por não saber sofrer. Não sinta pena, é o outro lado da moeda. Pela falta de abraços se tornou tão distante os abraços, que o impacto tem a capacidade de faltar oxigênio em meu mundo. A beira do precipício perdeu a graça e eu que fiquei para apagar a luz em uma sala de espetáculo com a plateia composta pelo simples, desengonçado e notável vazio eu. Já era notado que chegou a hora de voltar e que fica mais difícil para quem não tem um ponto de chegada.

Talvez seja que tenho que comprimir o tamanho das minhas letras, mas nunca o seu grandioso significado. Cada traço de cada letra me faz enxergar uma infinidade. Pois esse mundo interior não se apega aos padrões do mundo exterior. Um mundo, outro mundo, dentro de outro mundo, se chocando entre si e criando sementes. Todo o dia é o dia do 'Big-Bang'

Mais um só no meio da multidão. Poderia ser até um bom começo de uma história cotidiana dessa cidade de poucas horas que não tem fim, de outras e outras histórias que no fim de tudo procuravam por salvação. Como o poeta já nos alertou que não existe um GPS para a felicidade, vivemos nadando em um mar de tentativas. As inconsequências da juventude, as tentativas de fuga de si, ignorar ações do mundo exterior por meio da dor, nas tentativas alcoólicas e se enganar com um simples "tudo bem"

Reparo e encaro como tudo deve ser, não posso desistir. Eu acredito no que é verdadeiro, agora só vale a pena se for assim. Eu tenho a missão e o desejo de fazer efetivamente um mundo melhor. O pai só cobra para quem já deu muito. Isso não me assusta, me faz agradecer. A mente é a melhor máquina, é necessário reprogramar-se.

Eu sou um tupinambá, católico, apostólico romano, ioruba vindo do golfo de Benin, judeu, hindu, budista e etrusco. Enfim, meu povo é isso e muito mais que um choque de mundos e características culturais. Não vou me aprofundar em nossas características, pois meu amigo e ilustre escritor Allan Ayres fez melhor que todos que andam por aqui. Façamos de suas palavras a nossa: "o escritor precisa escrever histórias"

A religião é o ópio do mundo. É necessário mais prudência e oração. Assim propicia acontecer o verdadeiro. E justamente hoje vem batendo aquela sede de provar um pouco da caretice, venho me negando a me transformar em alguma espécie de burocrata que vai criando mecanismos a ponto de deixar até o sorriso uma ação complicada de ser executada. É como escrever um mês de palavras, como uma característica do mundo e suas somas. Em todos esses anos de leitura, escrita e pensamentos perdidos, me levo a conclusão que ainda não compreendo nada e preciso me inteirar e combater contra a bestialidade intelectual-social que se instalou pelas minhas terras. Para os residentes que assistiam o passado proferir tais palavras que acompanhada pelos gestos das mãos que lhe indicavam a direção com o seu semblante de uma busca por nada e compartilhando tudo que o mundo ofereceu, voltando a atenção para o passado novamente, sem esquecer de fazer referência e homenagens aos grandes escritores do meu planeta de Victor Hugo, Allan Ayres à Sartre e Augusto dos Anjos. Está aí bons motivos para fazer o mundo girar.

 

Foi como um daqueles momentos que percebemos aquele exato segundo que de tão marcante, impactante parece que irá perpetuar por toda a eternidade. Mas esse segundo passa e voltamos a perceber o fluxo da linha do tempo que estamos inseridos. Mas esse segundo que passa fica marcado, apontando que nada será como antes após o segundo que passou. Como um Dante que acorda e percebe que está em uma floresta na noite escura, como um Javert de Victor Hugo, ao passar por uma hecatombe após seu segundo marcante tira a sua própria vida a procura do tão desejado alento. Esse ser que embarcaremos no seu mundo interior que pode ser eu, você ou todos nós ao mesmo tempo, percebe que está passando por esse momento do segundo marcante e que nada será como antes:

Foi como que estivesse acordado de algum sonho do qual não se lembra. Mas sim, ele tinha acordado de algo ou para algo. Ele se enxergou sentado em uma cadeira, tratando de assuntos que não sabia ao certo o porquê estava fazendo parte. Há muito ele já percebera o quanto era caótico o seu interior. Foi como que estivesse acordado no momento que se fez o segundo de silêncio, no mesmo momento que o universo se movimentava no eterno movimento de não olhar para traz. A conversa em sua volta acabou se tornando um conjunto de barulhos já que as frases foram perdendo os sentidos. Repentinamente foi surgindo luz nas perguntas que há muito estava ganhando força dentro dele. "Será que sou o que quero ser ou sou algo que alguém quis que seja para completar algo que existe um interesse que não é meu? Tudo bastante confuso, porém exercitou mais uma vez o seu número que gosta de chamar de: A Arte de Fingir que está tudo bem.

Com algumas gotas de álcool no sangue, ele acende um cigarro, enche seu copo mas uma vez com alguns daqueles deliciosos venenos etílicos e vai para a casa com um "Faroeste Caboclo" de perguntas e indagações que jamais fizera. Deitado em sua cama, bastante alcoolizado, perguntando se realmente gostava da prática de beber ou estaria seguindo um padrão imposto, ou para ele agradar alguém no eterno jogo dos amantes de tentar fazer feliz. Já fazia tempo que não enxergava mais sentido para colocar a cara na garrafa, só não conseguia, pois nunca havia pensado dessa forma sobre a vontade de parar de se embriagar. Dormiu levado pelo mar de perguntas que acabava de surgir.

Após surgir o demônio embriagado, só resta acusar o culpado em um gesto já ensaiado e vivido algumas vezes, sentenciado a ser qualquer coisa em uma estante. Depois do delito, acusação, sentença e um depoimento não declarado, continua na estante com aquele sorriso que nunca foi seu. É injusto cobrar gratidão, pois na estante ele perdeu além dos sentidos, os sentimentos também se foram. E por algum tempo ele continuou com aquele sorriso que nunca foi seu, mas já sabia que nada iria ser como antes.

 

Após o segundo marcante que determinou que tinha chegado a hora do mergulho ao seu mundo, se entregou definitivamente dentro da jornada. Dentro dele, ele fez o seu alento, seu confidente: "eu só sei que estou caindo, mas não sei onde vou chegar. Se tudo já foi corrompido, quem é o juiz que vai me condenar?" Ao perceber que já habitava o mundo de diversos personagens, que todos eram um pouco dele que se foi criando com o tempo como resultado de suas experiências vividas. Como um Dante que percebeu que acordava em trevas. Não foi preciso muito tempo para se acostumar com o ambiente, já que todos faziam parte dele. Caminhou, observou e gostou do viu. A sensação de bem estar foi substituída pela amarga lembrança, do fim de algo que daria a vida para sempre. Mas na verdade o tempo é relativo e indomável acima de tudo. A música toca no tempo, não o tempo que existe na música. Então ele percebeu que deu a vida sim, que viveu tudo que tinha que viver nessa história. E sim novamente, ainda é uma dolorosa lembrança. Nem sempre costuma ser, mas é. Como um Werther de Goethe, um homem atormentado por um amor impossível, seu anseio para viver a história de amor chega a ser tanta que leva a se esquecer por completo, fazendo chegar a triste conclusão que a melhor saída desse seu emaranhado de emoções seria se anular do mundo. Das lembranças do fim, se criou tal personagem que ele pode ver com total nitidez na sua frente murmurar acontecimentos e palavras que levaram até o derradeiro momento:

"Eu não sei se te amo o só estou acostumada com o seu jeito doentio e dependente. Isso te faz fraco e cabe no meu frasco como eu bem entender" "Vai e não vai. Eu não sei ao certo, é muito forte, me deixe em paz. Você sabe como que vou ficar, vou sobreviver recolhendo o que sobrou de nós dois. Demais para o meu lado, você sabe que uma parte de mim mesmo que no fim de tudo, acreditava no desejo que lutaria por nós de alguma forma" Então o que há no amor se não a dor? Você consegue se imaginar em um mundo repleto de sozinhos, aumentando mais a sensação de se sentir só? Tão só!

 

Um amor como de Leonora por seu marido Florestan, da obra de Ludwig Van Beethoven, que por amor não mediu esforços para o encontrar e salvar da prisão, renegando sua própria identidade em nome do amor. Nessa região do mundo que estamos retratando ecoa com o vento a sensação do fim do mundo, a aflição da vontade de ser salvo, podendo notar uma leve esperança compondo a atmosfera. O vento sopra finais de frases, palavras de amarguras, pois a maioria são alegorizadas pelas tristes linhas do fim. O fim de um espetáculo é quando as cortinas se fecham. Também pode ser o começo de um novo espetáculo, sozinho, triste e solitário. Mas ainda sim, um espetáculo. Nessa região composta por saudades e finais, surge como resposta de um silencioso pedido de socorro e amparo. Não como um Virgílio, está mais para quase um jargão bíblico: "É nas tuas palavras que me amparo". Ecoa as palavras poéticas do meu amigo e poeta de todas as horas, o eterno Allan Ayres. Façamos surgir o fim de algo em forma de palavras que acontece em sua frente:

Quando você estiver decidida a me virar as costas de uma vez, seja a última a apagar as luzes, fechar as portas e as cortinas do seu próprio espetáculo. Talvez eu escolha viver no seu inferno ao ser o seu santo homem. Reinando em um lugar triste e bonito e ao mesmo tempo triste e sozinho...triste e sozinho. Olhando as estrelas enquanto desabam, percebo que uma se mantém no alto, mas deixou de brilhar enquanto o meu anjo estava sendo expulso do seu paraíso. Entre poeira, escombros e cimento, caminho no meu desmoronamento. Sabe aquela rosa que você me deu? Nasceu mais um espinho em mim! Talvez nas vezes que nos encontrarmos, em lugares que nunca estivemos, acompanhados de uma explosão de sentimentos como saudade das lembranças que nunca existiram. Ou sempre existirão?

 

O mesmo amor que pode alcançar um egoísmo natural, se pode ser chamado assim, é o mesmo amor que cria um universo de dois, podendo chegar no fim como um apocalipse celestial. Por mais que houve uma luta em resposta contra a dor, remando contra o fim que apontava ser inevitável. O reconhecimento do fim por mais doloroso que seja é reconhecido que chegou o momento, ele se lança sem olhar para traz na sua noite escura e dolorosa:

Rodopiando, banhado pelo torpor de amor ao mundo, descubro e reconheço o quanto sou fã do ser humano. Como é intenso a força criadora do amor construtivo. Também temos o outro lado, legitimando essa informação, podemos observar que atuamos de certa ou de todas as formas no campo do egoísmo. Podemos observar a intensidade do amor nas palavras e na preocupação de ser mais claro e amoroso possível.

No nosso mundo, procuramos salvação, procuramos de diversas formas. Você já quis me deixar, eu já quis te deixar, aqui ninguém é santo. Porém não consigo enxergar fraqueza por me sensibilizar em ver tudo escorrendo como se fosse areia pelas nossas mãos já muito cansadas. É só o final de tudo, no fim das contas é só o final do que sobrou e muito tempo durou em uma tentativa desesperada de ser o bastante. Ninguém vai viver sua história. É só o final de uma vida que viveu tantas outras. Então esse é um novo começo, veja que já passamos pela linha de chegada. Por sorte ou azar, chame como quiser mas temos que nos dar conta que chegamos até aqui. Não posso deixar de ressaltar que não se pode se perder nos planos que apontam para alguma razão, procurando a esperada legitimidade.

 

O que vem depois do primeiro passo? O primeiro segundo de uma boa nova? Ele se lançou sem saber qual o caminho após o retorno do conto de fadas e o cárcere na estante. Uma mordida, um estalo, um gemido. Teve tantas oportunidades para executar o plano de fuga em prática, pois percebeu que o que faltava era coragem. Foi um empecilho para si próprio durante muito tempo e no momento repentino largou tudo na beira da muralha do desespero. Podia se vender como um eunuco ou um qualquer, porém percebeu que a partir daquele momento começara a se notar impagável.

Pelo destino se criou um andarilho, caminhante do seu mundo, trovador da sua selva de pedra. Lembranças ele tem, já se embebedou, já amou, já viu mandraques, teve insidies, esteve fraco. Ele não olhou para traz, ele queria respostas, queria se encontrar, não ser um mártir dos fracos esquecidos. No momento da partida, a lua veio repentina e avermelhada, porém não era novidade. Foi no deserto que os cegos tiveram sede de ouvir as palavras de carinho, como uma nota falsa no lugar do relógio de parede onde os deuses estão procurando o sentido de uma suposta verdade absoluta: Se sentir só com todos em sua volta não é tão estranho, mas ainda transpira como uma novidade. O que está em mim está em volta, eu só reproduzo o que é minha cidade.

Podia ser só mais um dia chuvoso, de uma cidade chuvosa, como que cair aos prantos fosse a coisa mais normal do mundo. Me encontro guardado em alguns metros quadrados que luto desesperadamente para chamar de meu em uma tentativa de conter os meus demônios. Cansado da sensação que me deixa cheio desse vazio que me faz caminhar pelas ruas, me misturando nessa legião de sozinhos, que de certa forma suas angústias são como um ingrediente indispensável para a goroa constante que banha a cidade. Caminhando pelas esquinas à procura do café mais amargo que combine com o meu cigarro, chego a constatar na verdade o que busco é preencher vazios através do cigarro, do beijo da amada. Não sinto sede e também não consigo me manter calado. Como uma voz dentro do meu ser gritando tão alto que se resume em um silêncio sereno e prazeroso que parece querer me dizer algo.

Nesse dia esquecido pelo sol, que me faz lembrar de um dia esquecido como esse, quando estava fazendo parte da história que Deus escreve em seu caderno de linhas tortas. Mas hoje quando estou diretamente ligado a essa cidade que tem mais sonhos que carros na marginal, me encaro no espelho, buscando profundidade no fundo dos meus olhos, penso ser necessário deixar um recado junto ao espelho: "é capaz que não esteja mais aqui quando você voltar..." Depois de uma afirmação que poderia ter saído de um Zaratustra de um Nietzsche, observo que não é que eu tenha perdido o gosto pela vida, só não sei mais se o que sou é o que tenho que ser ou realmente eu queira ser.

 

Caminhando, agindo com total naturalidade, ele se sente à vontade nessa parte do seu mundo que não era às mil maravilhas, porém como se fosse. O frio que entra pelos poros e chega no coração também traz conformidade. É natural o desejo pela busca, deve ser com todas as espécies do universo. Então não seria diferente nesse mundo interior de todos nós. Fausto de Johanm Wolfgang Goethe é um homem em busca do conhecimento. Tal interesse e dedicação para alcançar a desejada busca chega a fazer pacto com um certo demônio, dando sua alma em troca do total conhecimento almejado, se tornando um ser irreconhecível para si próprio. Se Fausto estivesse por essas regiões, com toda a certeza seria alvejado por esse frio conformador regional dessa cidade. Talvez seu final teria sido um pouco diferente. Enquanto isso, ele contempla seu cenário com o rosto cansado de sorrir, se encontrando nos seus próprios pensamentos, ele observa a todos a sua volta:

Tudo e todos são milhões de faces. Em algum meio termo que se encontra a medida da minha loucura que define o meu ser. Com palavras desconexas criei personagens de mim mesmo para encarar essa cidade da qual não me canso de fazer referências, fazendo uma mistura de sensações que vai do repúdio à gratidão por nela nascer e fazer parte. Quem nasce pelos meus Campo de Piratininga é um andarilho por natureza. Um nômade ou um seminômade em busca de um abraço, um tapa nas costas, tudo em sinal de respeito. Porém quem vai recolher os seus restos no chamado "dia D"?

A vida que percorre pela humanidade é uma eterna divina comédia, como uma família descalça que passa frio, descendiam dos que andavam com um pé só, da linhagem dos que voavam em tempos remotos. Caminhando pela calçada, assisti tudo de perto e senti muito frio com as mãos abanando. Não é porque sangra, é porque dói. É doloroso ver o porto seguro que você traçou, na verdade eram linhas imaginárias que para existir precisavam ser enxergadas. Reconhecer os erros por mais que seja doloroso é a nova palavra de ordem. Seria interessante começar a pensar nas desculpas que irá pedir pelo caminho. Pode até ser doloroso, porém nada vai ser mais gratificante. Um e um são dois, com mais um são três e assim por diante. É uma grande soma que no final resulta em todos nós.

 

Um zumbido, um sinal, um alarme. Tudo muito silencioso, sou abruptamente levado para um lugar de dias cinzas, pessoas cinzas, todas as manifestações acinzentadas. Até as ações mais sombrias perderam a intensidade, se transformando em algo parecido com uma linha fina prestes a estourar a qualquer momento. De uma forma à Charles Bukowski que trata com total naturalidade que chega a aparentar uma possível total frieza a qualquer manifestação que torna materializado como um dar de ombros de Allan Ayres para qualquer mesmice bestial:

A plebe se acumula na fila dos milagres, onde tudo que procuram pode ser resumido em uma palavra: salvação. Insistem em dizer que você está só, como que se sentir aborrecido não fosse o bastante. Mas no final, você percebe que de todo o mal, esse é o menor, olhando o sol que aparece só de vez em quando, por ter se cansado de te ver triste, andando pelas ruas cheia daqueles sozinhos... Nessa São Paulo desvairada, nessa garoa cheia de não ter graça, nessa selva de pedra fria e solitária, ela te guarda... Por aqui tem vezes que os sonhos vão embora junto com a tragada do cigarro, como uma tentativa de salvação. O velho centro cheio de prostitutas e mendigos, mostram que o final feliz à muito tempo ali já passou. Nessa cidade que faz parte de mim, mas não sei ao certo o quanto faço parte dela também, ou talvez seja só a cidade fazendo o seu papel. Nessa São Paulo desvairada, nessa garoa cheia de não ter graça, nessa selva de pedra fria e solitária, ela te guarda... Em algum canto triste é possível ouvir: "alguma coisa acontece com o meu coração..."

 

Quando tudo é vazio, o que é o vazio? Falando geograficamente, o que podemos encontrar dentro do vazio? Um local vazio? Ou um lugar com diversas ruas e avenidas lotadas de nada, como tudo que existe por lá. Então podemos concluir que existe algum lugar dentro da região que vamos dar a seguinte denominação: Vale dos Solitários. Um lugar cheio de memórias amargas, saudade e culpa. Todas essas misturas em devaneios e medo causam tudo isso. Esses personagens forjados desse único ser são fragmentos dos vários pedidos de socorro e total insanidade que pode causar. Podemos observar o quanto luta esse personagem para sua libertação dos sentimentos que o aprisionam. É doloroso afetar tantos rostos que se fizeram da dor. Como um personagem de Eça de Queirós, que já tinha se esgotado o prazer de criar, só lhe restou o prazer de destruir:

Vai ser preciso repetir quantas vezes? Seres como você que vive dos restos tem uma sagacidade sem igual. Mas afinal, o que te fiz? Nada, foi você que me enxergou grande, teve mais do que medo, teve inveja. Pode levar o que quiser, nada é meu, a magia não vai estar no que você levar. A flor que foi a mais linda do meu jardim, que me fez o mais feliz dos jardineiros, por que foi se fazer de tão pouco, quando te propus inúmeras vezes a liberdade sem olhar para traz? Se consegue me enxergar como um culpado pelos seus devaneios aventurosos, começo a achar que foi quase uma culpa ter te amado tanto. Foi você que fez esse ser que vive de restos de amores alheios me ver grande e implacável. Enquanto sobre esse ser, torço que encontre o seu jardim e enxergue além de restos, minha torcida vêm acompanhada com a graça da divina distância que espero ter de seres como você. Eu quero ver quando sobrar somente você com você. Pode ser a melhor companhia, uma saída ou nenhuma solução. Para todos os envolvidos neste cenário, eu deixo os meus votos de boa sorte.