RESUMO

Esta dissertação visa descrever, com base na história da Literatura Portuguesa, faça um texto dissertativo, as diferenças que podem ser percebidas entre o Realismo-Naturalismo da segunda metade do século XIX, de autores como Eça de Queiroz, e o Neorrealismo da década de 1930, de autores como Alves Redol e Fernando Namora.

Palavras-chave: Literatura Portuguesa; Realismo - Naturalismo; Neorrealismo.

 

            Antes de apontar as diferenças entre os movimentos literários requisitados na questão, faz-se necessário a contextualização apresentando os conceitos e caracterização desses movimentos. Anteriormente ao século XIX, a regra estilística clássica transmitia o ponto de vista das classes dominantes. Os personagens eram, nobres que realizavam peripécias surpreendentes. A linguagem utilizada era a mais elevada possível e o que predominava era a separação rígida entre o sublime e o vulgar.

            O Realismo Português foi um movimento iniciado em 1865 no século XIX, com a Questão Coimbrã, a partir de um prefácio do autor romântico Feliciano de Castilho criticando a nova tendência literária presente na poesia de Antero de Quental, que por sua vez, respondeu-lhe em uma carta aberta, na qual defendia a liberdade de expressão e de existência da nova escola. No Realismo, enfatizava-se a necessidade de enxergar o mundo com base na realidade, sendo assim, esse movimento não reconhecia a existência de deuses, fadas, monstros e outras criaturas fantásticas, além disso, o movimento discursava sobre temas, considerados polêmicos, como a loucura, racismo e a violência. Segundo Villanueva, pode-se classificar o realismo como “um período ou escola na literatura moderna e contemporânea; realismo como uma marca constante de todas essas escolas, bem como de suas precursoras; e, finalmente, realismo como um objeto de reflexão teórica” (VILLANUEVA, 1997, p. 2 apud: FORTUNA,2012,p.479).

            O principal romancista do realismo português foi Eça de Queirós sua obra pode ser dividida em três fases: a de preparação, composta por produções veiculadas na imprensa (1866-1867) e alguns textos ainda de cunho romântico; realismo agudo, quando escreve os grandes romances críticos  O crime do padre Amaro (1875/1876/1880), O primo Basílio (1878) e Os Maias (1888); e de maturidade, publica A ilustre casa de Ramires (1900) e A cidade e as serras (1901).

            No movimento Naturalista, as obras eram escritas em uma linguagem parecida com a fala cotidiana e tinham longas descrições de pessoas e lugares. Além disso, os personagens tinham seu destino determinado por seus instintos, pelas características que herdavam da família e pelo ambiente em que viviam. Além do senso do real, é fundamental que o escritor naturalista saiba descrever a realidade de maneira original, colocando nos fatos e/ou nas personagens “a vivacidade de sua ironia e a suavidade de sua ternura” (ZOLA, 1995, p. 32 apud: FORTUNA,2012, p.480).

            É incontestável que a obra “O primo Basílio” de Eça de Queirós, em Portugal no ano de 1878 influenciou significativamente o Naturalismo brasileiro. Porém, segundo a crítica, na tentativa de se espelhar nesses autores, os escritores brasileiros acabaram por deixar de fora temas cruciais da época, como as experiências raciais, já que como afirma Pereira (1988, p.128):

 “seguiam os temas de (...) Eça de Queirós, sem atentarem nas diferenças entre as sociedades (...) e o nosso meio em formação, sem perceberem que o que lá refletia a desagregação da burguesia, aqui não passava de anedota isolada” (apud FORTUNA,2012, p.486).

 

         A datar do seu surgimento, no Brasil, o Naturalismo sofreu duros ataques por parte dos críticos, que não só o condenavam como escola literária, como anulavam a relação entre o Naturalismo e o Realismo. Já que consideravam o Naturalismo brasileiro uma tendência importada e que, por esse motivo, não representaria verdadeiramente o caráter nacional. Sobre isso escreve Pereira (1988):

Na Europa, onde eram outras as condições sociais e outro o nível de cultura, [o Naturalismo] foi a resultante de tendências generalizadas; no Brasil permaneceu estranho às exigências mais profundas do meio e às reações da sensibilidade. Assumiu um caráter de imposição, de disciplina formal. (PEREIRA,1988,p.136 apud FORTUNA,2012, p.488)

 

          No que diz respeito ao Neorrealismo, observa-se que ele é compreendido como o movimento literário que surgiu como uma movimentação cultural em 1938 e se consolida nos anos 40, durante esse período Portugal vivia em tempos caótios resultante da consolidação do Estado Novo Português, que era pautado na censura e repressão sob o governo fascista de Antônio de Oliveira Salazar. O movimento possuía como traço definidor, uma forma explícita de solidariedade e de intervenção transformadora.

          Diante disso, surgem os escritores da segunda geração modernista empenhados em produzir uma literatura voltada para a realidade, e, portanto, às questões sociais, culturais, políticas e econômicas pelo qual passava a sociedade, portanto, de caráter social, documental, combativa e reformadora. Esse movimento apresentava como características o anticapitalismo, marxismo e psicanálise; suas obras possuíam temática social, econômica, histórica e regional; além de utilizar a linguagem popular, coloquial e regional, apresentava ainda repúdio às formas tradicionais e a vulgarização de personagens, dentre outros aspectos que podem ser empregados tanto na Literatura como também nas outras artes.

          O Neorrealismo teve seu início marcado pela publicação do romance, de Alves Redol, “Gaibéus” escrito em 1940. Alves Redol foi um escritor português que vivenciava e reconhecia os problemas sociais, por meio do contato que mantinha com os locais e grupos sociais desfavorecidos. O escritor era empenhado na luta pela melhoria independente das classes trabalhadoras, o que resultou em sua prisão em 12 de maio de 1944, sob a ameaça, que se concretizou, nem um lápis nem um papel para escrever. “Gaibéus” foi o primeiro romance neorrealista escrito em Portugal, é dedicado “à memória de Venâncio Alves e João Redol, ao ferreiro e ao campino”, seus avós. Com este romance Alves Redol inaugura o ciclo de ficção de temática social sobre os camponeses e pescadores. Na obra acima citada, é possível notar o reconhecimento de uma pirâmide social descrita pela ficção. E essa pirâmide, segundo Reis (1983), é transcrita da seguinte forma:

Dominada no topo pela “Senhora Companhia”, ela compreende degraus sociais extremamente nítidos, que vão de Agostinho Serra à base ocupada pelo grupo dos gaibéus, passando pelos capatazes e rabezanos. Se este esquematismo é só por si, capaz de suscitar ilações importantes no domínio da representação e da pragmática ideológica, ele permite desde já apreender um aspecto também relevante da economia diegética do romance. De fato, notar-se-á facilmente que esta descida do topo à base corresponde, de forma gradual, a uma passagem do individual ao coletivo; e este último acaba por se definir, de acordo com o observado pela crítica redoliana, como dominante fundamental na caracterização da que é indiscutivelmente a personagem nuclear: o grupo de ceifeiros que, desde início e sintomaticamente, ocupa uma das epígrafes que abrem a obra.  A projeção do coletivo em Gaibéus decorre de um conjunto de procedimentos inaugurados pelo título do primeiro capítulo (“Rancho”) e prosseguido com a entrada dos gaibéus na cena da ação”. (REIS, 1983, p.481-482 apud PONTES,2005, p.51)

 

          A respeito das diferenças que podem ser percebidas entre os movimentos literários português, será salientado as discrepâncias que se refere à ideologia e ao herói de cada movimento. No que concerne à ideologia é possível identificar que o Realismo oitocentista é burguês e sua compreensão, com relação aos fatos históricos e a condição do homem na sociedade, é ingênua ou insuficiente, sendo que ao Neorrealismo sucede o inverso. Sua visão dos fatos históricos, da sociedade e da vida humana é crítica o suficiente para incitar uma luta literária contra a alienação.

        No que tange o herói, no movimento realista ele continua sendo o protótipo do cidadão moldado pelo individualismo e o Liberalismo filosófico, já que, o Realismo reduzirá seu comportamento ao individualismo, e isto se deve a um condicionamento biológico determinista. Já no romance neorrealista o herói é coletivo, os nomes dos homens em certos casos são dispensáveis. O Neorrealismo, não é determinista já que atribui ao homem a característica de ser um ser determinado pela natureza humana e pela sociedade em que vive, porém, seu processo de apropriação do real dá-se a partir do ganho efetivo da consciência que lhe possibilita agir para transformar o mundo e construir seu próprio destino e história.

 

REFERÊNCIAS

 

FORTUNA, Daniele Ribeiro. Do naturalismo ao Realismo sujo: A tendência realista na literatura brasileira. Cadernos do CNLF. Volume XVI, Nº 04. Rio de Janeiro. 2012.

MARGATO, Izabel. Notas sobre o Neorrealismo português: um desejo de transformação. PUC, Rio de Janeiro.2009.

PONTES, Roberto. Realismo de 70 e Neorrealismo Português. Revista de Letras – Nº27.Ceará, 2005.