Aristófanes. A Greve do Sexo. Lisístrata. Tradução de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2003. 

Reflexões sobre a obra A Greve do Sexo: Lisístrata

A comédia já de início mostra que vai tratar de alguns tabus e, principalmente, sobre a temática da mulher, a submissão posta a ela, a categoria de objeto que lhe é atribuída, o silenciamento dessa voz, etc. de forma “irreverente”, como se pode observar nas falas de Lisístrata: “Só pensam em bacanais” e “Me envergonho de ser mulher. Sou obrigada a dar razão aos homens, quando nos tratam como objetos, boas apenas para os prazeres do leito” (ARISTÓFANES. 2003, p. 3). Além disso, as falas de Lisístrata demonstram a sua indignação sobre elas (mulheres) “aceitarem” isso e o que a guerra (disputa entre homens) tira delas.

Em seguida, a resposta da vizinha de Lisistrata retrata que as obrigações das mulheres se resumiam as questões “domiciliares”: “você sabe como é difícil para as donas-decasa se livrarem dos compromissos domésticos” (ARISTÓFANES. 2003, p. 3). Posteriormente a resposta da vizinha, Lisístrata faz uma crítica ao comportamento posto e exercido pelas mulheres sobre a submissão e a guerra: “Ou nos reunimos e enfrentamos juntas ou ela nos devora” (ARISTÓFANES. 2003, p. 3). Com sua crítica, em reunião com as demais mulheres, Lisístrata consegue transmitir a sua posição as demais, ao mostrar que elas possuem o poder de encerrar a guerra e, mesmo que ainda receosas, as mulheres compreendem e percebem através de Lisístrata o quão doloroso tem sido o papel delas, de objetos, de objetos sexuais, “donas de casa” e também o de gerar filhos para manter uma guerra “sem sentido”.

Para fazer com que a guerra cesse, elas usam a si mesmas, se recusando a saciar os desejos sexuais dos homens, além de não darem continuidade com as outras “obrigações”. Esse fato mostra o lado “animal” do homem, que precisa saciar seus desejos, e também mostra como antes as mulheres não tinham voz nas decisões. Sobre o desfecho, ele retrata o quanto, em sua estrema maioria, as guerras acontecem por coisas fúteis e que um simples acordo poderia resolver tudo. Isto é, mostra que os humanos, e na obra de forma explicita os homens, por diversas vezes acabam cometendo atos, como a guerra, sem pensar nas consequências que isso trará, não somente para si, mas para todos a sua volta.

Assim, cabe salientar que a obra é uma comédia que retrata de forma “irônica”/crítica diversas problemáticas, mas a mais nítida e enfocada é a de mostrar o quanto o pensamento “patriarcal” trata a mulher como “abaixo do homem” e diretamente submissa aos seus desejos, algo que permanece impregnado em boa parte da sociedade contemporânea. Dessa forma, é possível conceber Lisístrata como uma representante da causa, que luta não só por paz (para a guerra), mas pelos direitos que as mulheres merecem.