Reflexões sobre a obra A Greve do Sexo: Lisístrata

Por Nadson Cardoso de Jesus | 05/04/2023 | Literatura

Aristófanes. A Greve do Sexo. Lisístrata. Tradução de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2003. 

Reflexões sobre a obra A Greve do Sexo: Lisístrata

A comédia, desde o início, mostra que vai tratar de alguns tabus e, principalmente, da temática da mulher: a submissão a ela imposta, a categoria de objeto que lhe é atribuída, o silenciamento dessa voz, entre outros, de forma “irreverente”, como se pode observar nas falas de Lisístrata: “Só pensam em bacanais” e “Me envergonho de ser mulher. Sou obrigada a dar razão aos homens quando nos tratam como objetos, boas apenas para os prazeres do leito” (ARISTÓFANES, 2003, p. 3). Além disso, as falas de Lisístrata demonstram sua indignação com o fato de as mulheres “aceitarem” isso e com o que a guerra (disputa entre homens) lhes tira.  

Logo em seguida, a resposta da vizinha de Lisístrata reflete que as obrigações das mulheres se resumiam às questões “domiciliares”: “você sabe como é difícil para as donas de casa se livrarem dos compromissos domésticos” (ARISTÓFANES, 2003, p. 3). Após a resposta da vizinha, Lisístrata critica o comportamento das mulheres em relação à submissão e à guerra: “Ou nos reunimos e enfrentamos juntas ou ela nos devora” (ARISTÓFANES, 2003, p. 3). Com essa crítica, em uma reunião com as outras mulheres, Lisístrata consegue transmitir sua posição às demais, mostrando que elas têm o poder de encerrar a guerra. Mesmo que ainda receosas, as mulheres compreendem e percebem através de Lisístrata o quão doloroso tem sido o papel delas: de objetos sexuais, “donas de casa” e também de geradoras de filhos para manter uma guerra “sem sentido”.  

Para fazer a guerra cessar, elas se utilizam de si mesmas, recusando-se a satisfazer os desejos sexuais dos homens, além de não prosseguirem com as outras “obrigações”. Esse fato mostra o lado “animal” do homem, que precisa saciar seus desejos, e também evidencia como as mulheres não tinham voz nas decisões. Quanto ao desfecho, ele retrata o quanto, na maioria das vezes, as guerras acontecem por motivos fúteis e como um simples acordo poderia resolver tudo. Ou seja, demonstra que os seres humanos, e explicitamente os homens na obra, muitas vezes cometem atos como a guerra sem pensar nas consequências não apenas para si, mas para todos ao seu redor.  

Assim, é importante destacar que a obra é uma comédia que aborda de maneira irônica e crítica diversas problemáticas, sendo a mais evidente e focada aquela que mostra como o pensamento patriarcal trata a mulher como inferior ao homem e diretamente submissa aos seus desejos, algo que permanece arraigado em boa parte da sociedade contemporânea. Dessa forma, Lisístrata pode ser vista como uma representante dessa causa, que luta não só pela paz (no contexto da guerra), mas também pelos direitos que as mulheres merecem. 

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