Introdução:
A educação especial vem ao longo do tempo passando por grandes transformações. Considerando os avanços que se têm observado no que diz respeito à Constituição Federal (1988) e a Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, que estabelece que a Educação seja direito de todos, garantindo o atendimento educacional especializado às pessoas com deficiências. O que anteriormente centralizava-se somente nas deficiências, atualmente adquiriu uma nova visão de educação, ou seja, a educação para pessoas portadoras de necessidades especiais.
A partir dessa realidade, a presente pesquisa"A prática ludo-pedagógica como ferramenta para promoção da inclusão de alunos (as) portadores (as) de necessidades especiais na escola municipal de ensino fundamental Santa Rita", localizada no município de Tailândia-Pará,tem o objetivo de averiguar a prática ludo-pedagógica como ferramenta para promoção da inclusão de alunos (as) portadores (as) de necessidades especiais na referida escola.
O interesse pelo tema surgiu a partir do conhecimento de alunos com necessidades especiais no campo. Daí nos propomos a investigar e demonstrar como funciona a aplicabilidade da prática ludo-pedagógica na escola Santa Rita e como esta ferramenta metodológica vem viabilizar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos deste espaço escolar.

1- A Educação de Portadores de Necessidades Especiais: Um breve histórico.
Somente na última metade do século XX houve a preocupação com a educação não segregada, pois as pessoas com deficiência deviam ser respeitadas garantindo-lhes o direito de ser diferente. Desta forma o precedente histórico da educação especial no Brasil evidencia que as pessoas com deficiência, por serem diferentes, sempre foram vistas como "doentes e inválidas", por isso, foram constantemente marginalizadas e ignoradas pela sociedade. Surgindo posteriormente várias pessoas, leigas, profissionais, que estimularam a tomada de providência para o atendimento as pessoas com deficiência, favorecendo assim a construção de conhecimento e o acesso na área social bem como a melhoria de vida destas pessoas.
Para Mazzotta (2001, p.37), a educação especial foi inspirada em experiências concretizada na Europa e Estados Unidos da América do Norte, alguns brasileiros iniciaram, já no século XIX, a organização de serviços para atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais e deficientes físicos. Durante um século, tais providências caracterizaram-se como iniciativas oficiais e particulares isoladas, as quais contribuíram ainda mais para a exclusão social da pessoa deficiência devida se apresentar com característica mais assistencialista do que educativa, e principalmente por não estarem incorporadas nas políticas públicas.
Entretanto, no início da década de cinqüenta, diversas providências foram tomadas no sentido de favorecer uma educação que atendesse as pessoas com deficiências. Porém, no século XIX é incluída a educação escolar para as pessoas com deficiências. No entanto, somente anos mais tarde mais precisamente no começo da década de sessenta do século XX, vem acontecer na política educacional brasileira à introdução da educação de deficientes ou educação especial. Segundo Mazzotta (2001, p.28)

O atendimento escolar especial aos portadores de deficiência teve seu início, no Brasil, na década de cinqüenta do século passado. Foi precisamente em 12 de setembro de 1854 que a primeira providência neste sentido foi concretizada por D.Pedro II. Naquela data, através do Decreto Imperial nº 1.428, D.Pedro II fundou, na cidade do Rio de Janeiro, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

A realização da concretização desta fundação se deu em grande parte, graças ao brasileiro cego, chamado José Álvares de Azevedo que no século XVIII em Paris, obteve uma experiência ao estudar em um Instituto fundado por Valentim Hauy no qual adquiriu ótimos resultados. E, ao chegar ao Brasil, ficando impressionado com o descaso dado ao deficiente visual, lutou influenciando de maneira positiva junto ao Ministério Imperial alcançando resultados positivos referentes à educação com os surdos. Entretanto, esse trabalho foi muito relevante para a estruturação da educação Especial no Brasil, e no dia 06 de julho de 1957, através da lei 3.198 foi nomeada de Instituto Nacional de Educação de Surdos ? INES.
Aos pouco se foi estabelecendo a escolarização do excepcional por que consistia no desenvolvimento das habilidades manuais (Antipoff;1992,p 65). No entanto, a partir da década de trinta, acontece o aumento da industrialização e diante de uma realidade em que o país é governado por militares, à alfabetização sendo vista como interesses políticos, as várias reivindicações, o sonho republicano de educar a todos, resulta na elaboração de reformas educacionais.
É neste momento que as organizações juntamente com os pais e amigos dos deficientes ganham força para lutar em favor de melhores qualidades de vida das pessoas com deficiências, essas organizações ganham mais impulso, quando ao mesmo tempo aparecem alguns estudiosos que defendem a idéia de que essas pessoas deviam ser adequadas e integradas à sociedade. Desta forma Voivodic (2004. p. 85) destaca que:

A partir das décadas de 60 e 70 aparecem programas voltados para a integração dos portadores de deficiência mental como alternativa à institucionalização. No Brasil, esses programas visavam Transplantar a filosofia da normalização restringindo-se na colocação do aluno com deficiência em classe especial dentro da escola.

Diante de tais propostas o órgão público vigente conseguiu concretizar o trabalho de integração das pessoas com deficiências no meio social. E assim tornou-se evidente o compromisso do governo federal em dar apoio aos serviços educacionais assumindo a nível nacional a idealização de campanhas estreitamente voltada para atender aos deficientes. Posteriormente, foram extintas as campanhas nacionais, retornando as finanças ao novo órgão que detinha autonomia administrativa e financeira.
É cabível ressaltar que muitas mudanças ocorridas trouxeram novos questionamentos em virtude de opiniões políticas diferentes abrindo um maior espaço para uma análise crítica das propostas de governo no Ministério da Educação (MEC). Assim, a partir de 1993, período este marcado por discussões, debates, os quais exigiam novos olhares e novas idéias para a educação, bem como uma transformação na área política, social e econômica onde todos pudessem ter acesso à escola e a conhecimento.
Neste contexto, vai se processando um novo modelo de educação o qual não consiste mais em integrar o aluno no ensino regular, mas incluir garantindo meios para o seu acesso e permanência na escola, onde todos possam ter oportunidade de aprender juntos independentemente da dificuldade de cada um.
De acordo com a declaração de Salamanca, (aprovada na Espanha no ano de 1994 pela conferencia mundial sobre necessidades educativas especiais) a qual teve por finalidade a promoção da educação para todos os que apresentam necessidades educativas especiais, pois,

O principio que rege esse Marco de Ação é que as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas e outras. Devem acolher crianças com deficiências e crianças bem dotadas, crianças que vivem na rua e que trabalham crianças de população remotas ou nômades, crianças de minoria lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas [...] As escolas têm de encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive aquelas com deficiências graves (SALAMANCA, 1994.p.17- 18.)

Neste o referido documento determina que a escola deva se adaptar ao aluno com deficiência e não este a escola. Cabe a escola buscar maneiras de educar com eficiência todas as crianças inclusive as deficientes graves, independentes da cor, raça, religião ou outro haja vista que as necessidades brotam em função da dificuldade de aprendizagem.
Assim, o principal desafio da escola é promover uma educação que atenda a todos sem excluir nenhum, respeitando as diferenças individuais e estimulando a capacidade de aprender, ficando contemplado na declaração que a escola inclusiva deve admitir e dar respostas às variadas necessidades de seus educandos, procurando adaptá-los a maneira e ritmos de desenvolvimento cognitivo, garantindo uma educação de qualidade para todos, procurando adequar um bom projeto de estudo organizado com metodologias de trabalho, uso de recurso e opiniões em harmonia com a comunidade local.

2-O Processo de ensino e aprendizagem e a Inclusão na escola do campo.


O processo educacional no campo ainda passa por uma trajetória fora da realidade que o campo apresenta, pois os aspectos sócio-culturais não são levados em consideração para o planejamento educacional do campo, devido estas apresentarem uma cultura docente solitária, por haver uma solidão do professor em relação ao seu trabalho nestas escolas, pois Hage (2004, p. 53) nos remete que a realidade da escola multisseriada demonstra fracos vínculos com os educadores junto a essas escolas, pois geralmente esses professores estão de passagem e grande parte deles busca-se liberar para sair do campo.
Alem disso, os índices alarmantes de evasão, repetência, analfabetismo e distorção idade-série que surgem das escolas multisseriadas (Geperuaz; 2004), jorram rios de desigualdades sócio-educacionais no campo, isso prejudica a universalização do ensino e aprendizagem no campo. Também há um conjunto de precariedade na oferta do ensino que resulta em degradantes estruturas físicas das escolas, a falta de recursos matérias e apoio pedagógico e na má aplicabilidade de recursos financeiros direcionados as escolas do campo.

A realidade do processo de ensino e aprendizagem das escolas multisseriadas está estruturada numa sala de aula, onde há a junção de várias séries num só espaço (entre elas a educação infantil), tendo um tempo de quatro horas diárias para suprir as demandas curriculares inerentes a cada série. Essa configuração direciona a pratica pedagógica do educador a realizar vários planejamentos de ensino que não se compatibilizam com a hora/aula, resultando em uma sobrecarga de trabalho para este professor.Segundo Hage (2004;p.27)remete que:
As escolas multisseriadas são espaços marcados predominantemente pela heterogeneidade que reúnem grupos com diferenças de série, de sexo, de idade, de interesse, de domínio conhecimento, de níveis de aproveitamento. Essa heterogeneidade inerente ao processo educativo que se efetiva na multissérie, articulada a muitas outras particularidades.
Nesta perspectiva as escolas multisseriadas do campo possuem um conjunto de articulações pedagógicas que desencadeiam processos de resistências dos professores, entre eles, os trabalhos docentes e a própria relação escola-comunidade que acontecem das mais diversas formas, ainda que pouco expressivas.
Nesse sentido, a escola multisseriada do campo tem a missão de despertar no educando esta visão mais ampla do meio em que vive buscando a partir dos seus conhecimentos sistematizados, que lhe foi oferecido, pelos sistemas de ensino e pelos educadores que lhe instruiu, isto dará mais chance de melhoria de vida em seu convívio social.
Esse processo de aprendizagem na escola campo tende a contribuir para resgatar os valores, os costumes, os dialetos e a historia local do lugar. Para tanto, a escola tem se preocupado muito com as perdas dos valores, e tenta resgatá-lo dando uma nova vida a algo que já se encontrava esquecido pelas novas gerações, isso só nos reforça cada vez mais que o processo de aprendizagem é capaz de desenvolver a educação do campo.

Considerando a educação do campo, como uma realidade bastante complexa, por se tratar de relações fundamentadas na sociedade campesina. Este conceito fundamenta-se na prática educativa que temos desenvolvido nos movimentos sociais, nas diferentes organizações que atuam com educação, e na LDB ? Leis de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394/96, que determina em seu art. 1º que:

A educação deve abranger os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Nesse contexto, pensar a educação inclusiva do campo é rever marcas de distinções e exclusão. Pois sabemos que a educação no campo se apresenta de forma precária para atender alunos ditos normais. Daí nos perguntarmos se esta escola multisseriada está preparada para receber alunos com necessidade especial?Pois para Caldart (2004; p.43) as políticas públicas para a escolarização das populações rurais mostram seu fraco desempenho ou o desinteresse do Estado com respeito à educação rural.
É cabível destacar que a relação de aprendizagem no campo ainda é precária, pois muitos educadores atuantes têm problemas em difundir esse ensino, pois as dificuldades enfrentadas são grandes junto ao desafio de trabalhar com classes multisseriadas no campo.

3-A importância do lúdico no processo de ensino-aprendizagem.

O lúdico é um assunto bastante abrangente, que vem sendo estudado e discutido desde a Antigüidade, pelos filósofos e estudiosos que vieram antes da era cristã, pois acreditavam que todo ser humano já vinha em sua essência com uma inclinação para a diversão e para os jogos, o que explicava, de certa forma, alguns costumes de povos primitivos em suas atividades de dança, caça, pesca e lutas, como sendo aspectos de divertimento e prazer natural.
A ludicidade é uma necessidade que cada ser humano possui em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O lúdico refere-se a uma dimensão humana que evoca os sentimentos de liberdade e espontaneidade de ação. Abrange atividade desprovida de intenções severas, descontraídas e desobrigadas de toda e qualquer espécie de intencionalidade ou vontade alheia. Para Santos e Cruz (1997, p.12)

O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.

Desta forma percebemos que o caráter gratuito presente na atividade lúdica é a característica que mais a deixa desacreditada diante da sociedade moderna. Entretanto, enfatiza que é graças a essa característica que permite que o sujeito se entregue à atividade despreocupadamente. Assim, o jogo, a brincadeira, o lazer enquanto atividades livres, gratuitas são protótipos daquilo que representa a atividade lúdica e longe estão de se reduzirem apenas a atividades infantis, isto é, ter um caráter de brincadeira.

As práticas lúdicas são fundamentais para o exercício do processo de ensino-aprendizagem, pois se acredita que qualquer atividade pode ser corrompida na sua essência, dependendo do uso que se faz dela. Logo, para Freinet (1998, pg.304) a dimensão lúdica é:

[...] um estado de bem-estar que é a exacerbação de nossa necessidade de viver, de subir e de perdurar ao longo do tempo. Atinge a zona superior do nosso ser e só pode ser comparada à impressão que temos por uns instantes de participar de uma ordem superior cuja potência sobre-humana nos ilumina.

O emprego da atividade lúdica define-se a toda e qualquer tipo de atividade alegre e descontraída, desde que possibilite a expressão do agir e interagir. Contudo, os estudos sobre o emprego do lúdico no processo de ensino-aprendizagem, apontam alguns questionamentos referentes ao posicionamento de alguns teóricos referente ao emprego do lúdico enquanto instrumento de aprendizagem. Para Almeida (1994, p.10)

A educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial. A educação lúdica é uma ação inerente na criança, adolescente, jovem, adulto e aparece sempre como uma forma tradicional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações constantes com o pensamento coletivo.

Nessa perspectiva, percebe-se que a ludicidade é uma atividade que tem valor educacional intrínseco, mas além desse valor que lhe é inerente, ela tem sido utilizada como recurso pedagógico. Dessa forma várias são as razões que levam os educadores a empregarem às atividades lúdicas no processo de ensino-aprendizagem.

4-Descrevendo a pesquisa.

Desenvolvemos essa pesquisa junto à práticas ludo-pedagógica para promoção da inclusão de alunos (as) portadores (as) de necessidades especiais na escola Santa Rita. Sendo que nesta utilizamos a pesquisa qualitativa para desvelar o cotidiano escolar da escola pesquisada. E como instrumento para coleta de dados optou-se por a entrevista semi-estruturada, que segundo Ludke e André (1985, p.33) é destacável por

Considerar que a pesquisa tem uma característica qualitativa e desta forma ela favorece para que se alcance um grande número de informação através do diálogo realizado com os entrevistados.

Nesta abordagem também utilizamos como metodologia uma observação minuciosa da escola onde obtivemos dados precisos para nossa descrição. Por conseguinte, direcionamos entrevistas e aplicação de questionários aos atores envolvidos no processo, ou seja, professores e pais de alunos. Segundo Neto (2002, p.51)

O trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo.

Também foi realizada 01 (um) entrevistas, com 01(uma) professora, com questionário fechado contendo oito perguntas. Daí (idem) destacarem que o uso de questionários é importante para (ibidem) encerra e compreender um grande potencial para conhecer melhor os problemas do espaço em estudo. A utilização da pesquisa bibliográfica foi fundamental para o desenvolvimento do estudo, pois esta viabilizou pressupostos e subsídios científicos que referendaram nosso trabalho.

4.1- Caracterizando a realidade e clientela da Escola Santa Rita.

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Rita está situada Rodovia PA150 km 136 (estando á 7 km de distância da sede do município), sendo que a mesma apresenta estrutura física de alvenaria, comportando somente uma sala de aula, um pequeno compartimento que funciona como cozinha e secretaria (onde são guardados os poucos pertences como livros e materiais didáticos) e o banheiro masculino e feminino. A escola atende 33 alunos (18 meninas e 15 meninos) nas séries que variam do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, isto é, compondo uma classe multisseriada que funciona no turno da manhã.Sendo que a mesma apresenta em seu quadro discente dois(02) alunos portadores de necessidades especiais, sendo um com autismo e outro com dislexia.
Vale destacar que a Escola Santa Rita funciona há 30 anos e foi criada no ano de 1980 para atender alunos, filhos de trabalhadores do campo, que moram as margens da rodovia e que se mantém da agricultura (muitos são filhos de agricultores e de pais que trabalham serrarias e carvoarias), sendo que a referida escola durante todo tempo de funcionamento sempre atendeu em regime multisseriado. Considerando que a Escola fica dentro da área da igreja católica, a professora aproveita o espaço (pequeno campo gramado) da mesma para desenvolver as atividades físicas com os alunos como jogam bola, e se valem de outras brincadeiras populares para promover o lazer.
Vale ressaltar que a maioria dos alunos mora distante da escola, sendo necessária utilização do transporte escolar que vai até as vicinais (pequenas estradas de terras) para transportar esses alunos. Por conseguinte, a escolha da escola Santa Rita se deu pelo fato dela está localizada no campo e próxima a cidade, o que facilita consideravelmente nosso trabalho de pesquisa.
A professora pesquisada é habilitada em magistério a nível médio pelo Projeto Gavião , e atualmente cursa Licenciatura Plena em Pedagogia pelo Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), sempre trabalhou em escola do campo, tendo quartoze (14) anos de experiência em sala de aula com classe multisseriada e a dois (2) anos trabalha com o fundamental de nove anos.

5- O lúdico como recurso pedagógico na sala de aula da escola do campo.

Acredita-se na importância de um aprofundamento em relação às práticas ludo-pedagógicas de inclusão, para que haja mais eficácia das mesmas dentro de um trabalho de sensibilização de toda a comunidade escolar (professores, pais e alunos) tudo isso somado com um programa de capacitação e aprimoramento profissional, que leve em consideração as especificidades do campo e a proposta de educação inclusiva garantindo um currículo alusivo à tipologia das deficiências, que valorizem a diversidade dos alunos, proporcionando reflexões, que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem do aluno junto à ludicidade. Pois Antunes (1998, p.37) enfatiza que:

[...] uma grande quantidade de jogos reunidos em um manual somente tem validade efetiva quando rigorosamente selecionados e subordinados à aprendizagem que se tem em mente como meta. Em síntese, jamais pense em usar os jogos pedagógico sem um rigoroso e cuidadoso planejamento, marcado por etapas muito nítidas e que efetivamente, acompanhem o progresso dos alunos.

Dentro deste contexto, o autor indica que os jogos ajudam a criar um entusiasmo sobre o conteúdo a ser trabalhado a fim de considerar os interesses e as motivações dos educandos em expressar-se, agir e interagir nas atividades lúdicas realizadas na sala de aula.
Considerando o brincar uma atividade natural da criança, faz-se necessários novas abordagens acerca do lúdico, para entender melhor seu significado em função de um bom desenvolvimento e construção do conhecimento humano. Dessa forma, vale salientar que brincar é muito importante enquanto estimula o desenvolvimento intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos necessários a esse crescimento. (Bettelheim apud Maluf, 2003, p 19).
Nesse sentido, acentua-se o lúdico como instrumento fundamental para o desenvolvimento intelectual afetivo e social do ser humano, como também estimula o desenvolvimento de várias habilidades físicas, possibilitando uma oportunidade para a criança se expressar e comunicar-se de forma espontânea as suas crenças, atitudes, criatividades e valores. Diante desta visão, Maluf (2003, p. 33) diz que Imaginando e fantasiando, a criança poderá vivenciar os desafios, instigará a sua curiosidade em tudo, e aprenderá com mais criatividade. Diante desta visão, percebe-se que o brincar apresenta-se como um espaço de aprendizagem como também significa, para a criança, uma inspiração e aproximação de um processo de assimilação sendo este inserido no meio educativo.
Vale lembrar que Maluf (2003, p. 33) diz que: É através do brincar que a criança vai diferenciando o seu mundo interior (fantasias, desejos e imaginação) do seu exterior, que é a realidade por todos compartilhada.
Dessa forma, percebe-se que no lúdico o indivíduo quer sejam adultos, quer sejam crianças podem brincar à sua maneira, aproveitando dessa experiência toda aprendizagem para a qual eles estão prontos naquele momento, sendo a aprendizagem ocorrida neste momento sem nenhuma percepção imediata, explica-se pelo fato de muitas vezes o individuo no momento do desenvolvimento da atividade não ter real certeza de seu aprendizado, percebendo-se como assimilador desse processo em momentos posteriores. Conforme Maluf (2003, p.20) aborda: [...] no brincar existe necessariamente, participação e engajamento, sendo uma forma de desenvolver a capacidade de manter-se ativo e participativo.
Desse modo, o significado do lúdico está ligado á possibilidade de acentuar nos educadores a criatividade, integração, imitação assimilação, percebendo-se como sujeito integrante de um processo evolutivo da aprendizagem. Toda criança que brinca vive uma infância feliz, além de tornar-se um adulto muito mais equilibrado fisicamente e emocionalmente, conseguirá superar com mais facilidades problemas que possam surgir no seu dia-a-dia. (Maluf, 2003, p. 21).

6- Análises dos dados da Pesquisa.

Para compreendermos as práticas ludo-pedagógicas como ferramenta para promoção da inclusão de alunos (as) portadores (as) de necessidades especiais, levantando vários questionamentos à professora no que tange ao processo de ensino- aprendizagem desses alunos.
Primeiramente perguntamos a professora como é trabalhar o processo de ensino-aprendizagem numa classe inclusiva, e esta respondeu que:

Eu tenho muitas dificuldades. É muito difícil, pois é uma realidade dissociada da qual nos estamos acostumados. Parece que não vou dar conta. Porque não é só o professor que tem que receber esse aprendizado [...] também tem os coleguinhas e os outros funcionários que não estão preparados também pra receber um aluno especial e aí vem o medo de recebê-lo. (Professora. A.C.2010)

Percebemos através da fala da professora que é nítido o pânico do docente de se deparar com uma criança deficiente numa sala de aula e não está preparado para lidar com a situação, pois já é difícil trabalhar com o aluno dito normal, agora imaginemos desenvolver o processo de ensino-aprendizagem com alunos portadores de necessidades especiais.

Ao questionarmos à professora como é que ela trabalha a prática da inclusão em sua sala de aula, obtemos como resposta da mesma:

Tento acolher a todos de forma igual, apesar de haver diferenças, principalmente numa sala multisseriada, contudo é muito difícil, pois os alunos têm particularidades que não podemos passar por cima. (Professora. A.C, 2010).

Nesse contexto, perceber-se que trabalhar dentro de uma perspectiva inclusiva torna-se um grande desafio para os educadores, pois o desconhecimento e o constante medo expressos por parte da professora constitui uma dura barreira para que as pessoas com deficiências possam conviver com as demais. Desta forma Kishimoto (2008, p.36) destaca que:

O lúdico é entendido como recurso que ensina, desenvolve educa de forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar cores e formas, nos brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão do número e nos múltiplos brinquedos e brincadeiras, cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil.

Ao investigar como a professora desenvolve a prática da inclusão em sala de aula, esta enfatizou que:

Faço a distribuição das carteiras em forma de círculo com o intuito de promover a interação e socialização entre os alunos. Também utilizo jogos e brincadeiras para aproximar os alunos e fazê-los interagir entre si. (Professora A.C, 2010).

Observamos que a professora utiliza a posição de círculo onde facilita a interatividade dos alunos, pois eles têm a visão total de todos, ou seja, temos uma participação mútua onde facilita o aprendizado com os jogos e brincadeiras, que são fundamentais nessa interação. Nesta perspectiva Kishimoto (2001, p. 69) destaca que:

É através de brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos, onde ela restabelece sua auto-estima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os outros.

Nesta perspectiva as atividades lúdicas fazem parte do patrimônio lúdico- cultural da criança, porém ainda não é visto como um instrumento facilitador da aprendizagem nas escolas (públicas) e quando é utilizado não lhe é dado o real valor no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

Ao questionar sobre as estratégias usadas pela professora para desenvolver a prática da inclusão em sala de aula, a mesma respondeu que:

Procuro desenvolver um trabalho de forma interdisciplinar, utilizando atividades em grupo de acordo com as especificidades de cada aluno, promovendo sempre a interação dos mesmos e utilizando como recursos didáticos a ludicidade através dos jogos, brinquedos e brincadeiras. (Professora. A.C, 2010)

Os procedimentos metodológicos utilizados pela professora são condizentes com o processo de ensino na inclusão, contudo esta precisa intensificá-lo para ter um maior dinamismo deste processo. Pois ao serem aplicadas as atividades lúdicas em sala, cabe ao professor ter a consciência de que não há possibilidade de dar receitas prontas, uma vez que a atividade proposta estará envolvida com múltiplos fatores sociais, os quais irão variar de acordo com o grupo. No entanto, cabe ao professor fazer adequação e modificação no que se pretende ensinar proporcionando atividades que envolva a todos sem exceção. Sobre este aspecto Cunha (1988; p.42) nos afirma que:

No brinquedo existe necessariamente participação e engajamento, o brinquedo é certamente uma forma de desenvolver a capacidade de engajar-se, de manter-se ativo e participante. A criança que brinca bastante será um adulto trabalhador. A criança que sempre participou de jogos e brincadeiras grupais saberão trabalhar em grupo; por ter aprendido a aceitar as regras do jogo, saberá também respeitar as normas grupais e sociais. É brincando bastante que a criança vai aprendendo a ser um adulto consciente, capaz de participar e engajar-se na vida de sua comunidade.

Ao perguntarmos como se desenvolve o processo de avaliação do ensino-aprendizagem dos alunos com necessidades especiais na escola Santa Rita, a professora enfatizou que:

O processo de avaliação como o nome diz tudo é um processo que não tem fim, por isso sua avaliação é contínua, diagnóstica, no sentido de verificar se houve aprendizagem e levar em consideração todo o processo de desenvolvimento da aprendizagem do aluno no período determinado pela professora. O lúdico ajuda neste processo avaliativo. (Professora A.C.2010)

Por conseguinte, evidenciamos que no relato da professora que ela procura desenvolver seu trabalho dentro de uma avaliação qualitativa onde a construção do conhecimento é algo continuo e o processo avaliativo também o segue. Desta forma Hoffmann (2001, p.25) enfatiza que é:

[...] necessário desestabilizar práticas rotineiras e automatizadas de avaliação a partir de uma tomada de consciência coletiva sobre o significado dessa prática [...] o maior dentre os desafios é ampliar o universo dos educadores preocupados com o fenômeno avaliação, estendendo para o interior das escolas [...] descaracterizada da feição autoritária que ainda reveste, em busca de uma ação libertadora

Através do lúdico a avaliação torna-se um processo menos complexo, pois facilita avaliar o desenvolvimento cognitivo do aluno com necessidade especial tornando o processo avaliativo mais dinâmico. Desta forma Kishimoto (2001, p.03) nos mostra que através do lúdico a criança passa a:

[...] ter identidade e autonomia, é poder expressar suas emoções, suas necessidades, formar sua personalidade, socializar- se em contato com a multiplicidade de atores sociais, e expressar a compreensão do mundo pelas linguagens gestuais, artísticas além de oral e escrita. Ser criança é ter direito educação, ao brincar, aos amigos ao conhecimento, mas é principalmente, à liberdade de escolha.

Segundo a autora é através do lúdico que podemos tornar o processo avaliativo do aluno com necessidade especial no campo mais expressivo, pois através do lúdico o aluno especial consegue desenvolver habilidades que ajudarão no seu desenvolvimento cognitivo. Por conseguinte, O que se pode perceber claramente é que tal como afirma Piletti (2003, p.168):

A avaliação deve servir para aumentar a confiança do aluno em sua própria capacidade. [...] é um meio, um instrumento que deve servir como ponto de referência para o aluno, para que saiba em que direção está avançando.

A partir do exposto pudemos concluir que a professora possui ainda pouco conhecimento sobre o tema inclusão, porém esta sempre busca novas práticas ludo-pedagógicas para o melhoramento do processo de aprendizagem do aluno com necessidades especiais no campo.



Considerações finais

A Pesquisa realizada sobre a prática ludo-pedagógica como ferramenta para promoção da inclusão de alunos (as) portadores (as) de necessidades especiais foi de grande importância, enriquecendo nossa vida acadêmica e futuro profissional. De acordo com os dados obtidos a partir da pesquisa, constatamos que o lúdico exerce um papel importante na aprendizagem dos alunos do campo, onde estes desenvolvem inúmeras relações que variam da confiança consigo e com o mundo exterior.
As hipóteses que nortearam nossa pesquisa foram análise da prática ludo- pedagógica desenvolvida na escola Santa Rita para a promoção da inclusão dos alunos com necessidades especiais. E como essa prática vem sendo desenvolvida pela professora nesta escola. Sobre a primeira hipótese verificamos que a prática ludo-pedagógica é de fundamental importância para a promoção dos alunos ditos especiais, pois a mesma contribui significativamente para o desenvolvimento da aprendizagem, da interação e socialização dos mesmos com os outros alunos neste espaço escolar.
Referindo-nos a segunda hipótese enfatizamos que a professora tenta desenvolver da melhor forma possível a prática ludo-pedagógica em sala de aula, contudo trabalhar numa classe multisseriada com alunos especiais é um desafio muito grande, pelo fato desta lidar com séries diferenciadas (1º a 5º ano) num mesmo ambiente. Sendo que a professora não dispõe de acompanhamento pedagógico nem de cursos voltados para trabalhar as necessidades destes alunos.
Vale ressaltar o quanto é relevante a formação continuada do professor, pois é através desta formação que o professor se apropria de conhecimentos significativos que lhe ajudarão a transformar sua prática pedagógica, proporcionando a escola um espaço democrático, onde todos sejam sujeitos ativos e protagonistas do seu processo de aprendizagem
É importante destacar que este trabalho foi de grande relevância para nossa formação e em especial para os professores que atuam ou que venham a atuar na área educacional do campo, pois em decorrência de termos poucos estudos desenvolvidos com o tema inclusão no campo torna-se necessário começarmos a pensar nesta nova realidade.

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