NÃO CHORES! PARE O VELÓRIO

A morte é algo sub-humano. Há no homem uma incompatibilidade com a interrupção da vida. Algo fora da programação. Contemplando o fim, nosso interior entra em erupção. Abre-se uma fenda no chão da existência. No Evangelho de Lucas, cap. 7, uma viúva, perde o seu único filho. Insuportável. Toda cidade a acompanha numa fúnebre procissão silenciosa e incapaz. Eis que surge outra procissão, antagônica, a multidão da alegria, que tem como ícone Jesus, o Salvador. Ele ordena: “Não chores! Pare o velório.” Nesse embate, andarilhos versos peregrinos da luz, a esperança prevalece. Este foi o extraordinário velório que transformara-se na festa da ressureição. Único. Uma lição ímpar de consolo e esperança a um indomável coração.

É inusitado o encontro entre a multidão da alegria e a multidão da tristeza e morte. Isso nos traz a memória que a vida um dia pode ser festa, e logo em seguida uma caminhada rumo ao sepultamento. Esse embate, vida vs morte, rotineiramente nos rodeia. Um telejornal que assistimos, uma ente familiar que se vai, uma criança que vem ao mundo, a doença que nos surpreende, tudo isso nos alerta no dia a dia. Salomão, em Eclesiastes 7, nos adverte que a sabedoria se encontra na casa do luto, porque é lá que encontramos o fim de todos os homens. Isso nos convoca a amadurecermos e buscarmos esperança em Deus. A estar de prontidão para O Dia. Jesus está na comissão de frente desse povo preparado para ordenar vida.

Diz o texto que o Salvador se compadeceu da viúva. Ordenou que tudo parasse, tocou a esquife e disse ao defunto: levanta-te. Diante da falência do futuro, de perdas insubstituíveis, da conformidade com o apagar da luzes, prestes a lançar a sete palmos o último motivo de alegria, surge a esperança no Nome. Ele não esquece de nós, conhece a dor de nossas perdas, vem caminhando com uma multidão festiva ao nosso encontro. Vem ministrar ao nosso abatido espírito: Não chores! Não temas! Vem ordenar vida. Ressuscitar defuntos em cortejo. Estancar a hemorragia da morte. No verso 15 fala que Ele restituiu o filho a sua mãe. Em Deus há toda restituição daquilo que se esvaiu pelas mãos. Basta crer.

Esta morte e ressureição desse filho único é uma prévia tipologia do sacrifício por vir do próprio Redentor. Adentrando no texto, no sofrimento da mãe, na dor da perda e rendição, percebemos um pouco da renúncia e sacrifício que foi a paixão de Cristo para Deus Pai. Não há Deus semelhante. Conhece nossas dores porque a todas sofreu. NEle encontramos a luz na grande caminhada, por vezes escura e dolorosa. Não chores! Pare o seu velório. Jesus está a caminho.