Justino Amorim da Silva - Bacharel em Ciências Sociais

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ADVENTO, NATAL E ANO NOVO

O período de advento que significa a espera da boa nova, espera da nova criança, do novo mundo possível, da preparação para a vinda de Jesus o profeta de todas as nações como diz no livro de Jeremias Cap. 1. 5. Desde o ventre de tua mãe eu te consagrei para seres profeta das nações. A leitura de Jeremias nos convoca ao compromisso, todos nós somos chamados ao profetismo, não cabe somente a padres, Pastores, (as) ou a religiosos, (as) mais a todos nós enquanto cidadãos.

A festa Natalina é uma das festas mais importante de nosso país, principalmente para nós e para aqueles que professam sua fé no cristianismo, festa esta tão bonita que todos os anos se celebram no Brasil e também no mundo.

No novo ano que nasce, precisamos nos comprometer com a nova criança que vem a este mundo, educá-la para não cair nas garras do consumismo, individualismo, egoísmo, machismo, racismo, preconceitos e etc. Precisamos renovar nossas esperanças e projetos de vida, é importante festejar para partilharmos a vida e fortalecer os laços afetivos familiares e de amizade.

Cada cidadão independentemente de denominação religiosa, imbuídos pela fé no Deus da vida, Xangô, Oxalá, Deus tupã e nas nossas Mães Iemanjá e Nossa Senhora de Nazaré e a cada um em sua espiritualidade justificada pela sua crença, somos chamados em todos os tempos e em especial neste período de advento, natal e final de ano a discernirmos nosso papel como cidadãos a protagonizar nossa fé e profetismo denunciando todos os modelos de opressão e de morte.

Natal não pode ser reduzido ao consumismo, troca de presentes e festas entre famílias e amigos, mais é também o momento de pararmos para analisar nossas atitudes e ações e desenvolvermos algum projeto que venha a resgatar a dignidade daqueles (as) que a perderam e os que a estão perdendo, teremos milhões de adultos, idosos, crianças e jovens espalhados pelo mundo, pelo Brasil a fora e de maneira especial aqui em nossa Amazônia que no período de natal e ano novo querem e sonham em poder ter uma vida digna mais que infelizmente ou talvez não possam ter. Neste século pós-moderno todos nós somos chamados a protagonizar um profetismo sério e comprometido com a vida em todos os âmbitos: ambiental, social, cultural, espiritual, econômico, político e humano.

A nós não só como cristãos ou de qualquer outra denominação religioso-espiritual mais também como cidadãos (as) pertencentes à grande comunidade qual seja ela a Cidade, o Estado ou País devemos desempenhar as funções que nos cabe no desenrolar do bem comum para que todos tenham vida em abundância. Não podemos mais a cada ano que se passa nas festas natalinas, de ano novo ou em outras festividades comemorativas continuarmos festejando em nossos pequenos grupos enquanto que grupos maiores de famintos, miseráveis, enfermos, analfabetos fiquem mendigando pratos de comidas, remédios, abrigos, folhas de jornal ou de papelão para passar a noite no frio mortal que assola suas vidas, portanto, devemos desenvolver projetos de transformação social e não fazermos papel de bons samaritanos distribuindo cestas básicas contribuindo com um assistencialismo barato que contribui muito pouco ou em nada para com aquele que está em situação de risco de vida passando por necessidades.

Faz se necessário e é uma questão ética de urgência urgentíssima nos determos sobre o que é fundamental para construirmos o verdadeiro presépio de Cristo em uma sociedade na qual onde todos possam viver com dignidade, que todos possam ter acesso a saúde, educação, a família, moradia, a leitura, ao lazer, ao trabalho justo e digno, geração de renda para que possam ser cidadãos e desempenhar sua cidadania cuidando e zelando da comunidade para o bem de todos.

É imoral, desumano, ridículo, antiético, antievangélico e antissocial vivermos em pleno período de advento, a espera da boa nova, do natal, do Jesus histórico-profético e vermos tantos seres humanos terem suas vidas ceifadas pela violência, seja esta pelo racismo, machismo, preconceitos dos mais variados possíveis, fome, miséria, analfabetismo, falta de moradia, de alimento ou por uma violência repressiva por parte do Estado/Naçãoo qual no decorrer da história vem defendendo modelos hegemônicos de mortee que usa de aparato militar repressivono combate ao caos social que se chegou às grandes metrópoles do país como é caso do tráfico intensivo de drogas o qual é um dos frutos da corrupção exacerbada de setores dos poderes públicos, Judiciário, Executivo e Legislativo. Indignamo-nos mais ainda por saber que também atos corruptíveis invadem as instituições religiosas, atos estes praticados especialmente por seus líderes ou representantes, isto é blasfemar contra Deus.

Há que refletirmos que cristandade ou cidadania estamos vivendo, onde uma grande porcentagem quedizem serem cristãos ou religiosos são a favor da morte em massa de pessoas envolvidas no tráfico de drogas.Apoiar à ação de combate as drogas é uma coisa, agora apoiar o assassinato de pessoas (“traficantes”) e ainda jovens é absurdo e desumano. Porque se chegou a este ponto? De quem é a culpa? Pensemos sobre isso, porque é sério.

Concluindo, tomamos de empréstimo alguns pontos fundamentais citados por: (Hans Kung, Teólogo Ecumênico – Projeto de ética Mundial), é necessário:

1. Para que o direito fundamental de todas as pessoas (independente de sexo, nação, religião, etnia ou classe) por uma vida humana digna seja realizado cada vez mais e que não seja mais ignorado.

2. Para que a barreira entre ricos e pobres e entre nações ricas e nações pobres não aumente ainda mais (ao contrário do que aconteceu nas décadas de 1980 e 1990 que, nesse tipo de luta, parecem ter sido anos perdidos). Para que as favelas nos cinturões de pobreza do Quarto Mundo não aumentem ainda mais.

3. Para que o nível de bem-estar social não seja arrasado por catástrofes ecológicas ou por movimentos migratórios internacionais.

4. Para que seja possível uma sociedade sem guerra, uma sociedade na qual as diferenças materiais sejam equilibradas, levantando-se o nível social dos mais pobres.

O que é para a pessoa é aquilo que a torna verdadeiramente humana. Aquilo que é humano, que é verdadeiramente humano, que é humanamente digno, pode com razão, fundamentar-se no “Divino”. Aquilo, porém, que é desumano, “animalesco”, “bestial”, não pode remontar aquilo que é “Divino”. (Hans Kung. Projeto de Ética Mundial). 

Somos chamados a construir a nova coroa do Advento, não a de espinhos, mais a de flores para que nos torne mais responsáveis com a nossa realidade para que possamos construir a circularidade da vida, da comunidade encarnada e comprometida com o ser humano e com o meio ambiente. Precisamos fazer com que a nova criança que venha a este mundo encontre nele a razão de viver como ser humano e cidadão e, que ela possa crescer sadia para poder fazer deste planeta uma (OIKOS) casa para todos, saudáveis, amigável, acolhedora, e propulsora de vida, para que neste grande habitat natural, OIKOS, que toda a criação do Deus da vida seja sempre cuidada, amada e zelada. 

Belém/Pará 08 de Dezembro de 2010.