ORGULHO X HUMILDADE

Reinaldo Bui

Cultivando um coração humilde.                

 A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda. Porque o Dia do SENHOR dos Exércitos será contra todo soberbo e altivo e contra todo aquele que se exalta, para que seja abatido. (Provérbios 16.18 e Isaías 2.12) 

 A humildade é o primeiro passo para desfrutarmos da plena salvação que Deus proporciona para o homem caído. Quando digo plena salvação, me refiro à salvação total, integral de nossas almas, em três tempos: passado, presente e futuro.

 Passado... Em Romanos 5.1, Paulo relata que fomos justificados mediante a fé. O apóstolo, aqui, está se referindo à nossa salvação sim, mas àquela que aconteceu no passado e que ocorre apenas uma vez na vida. Foi a nossa justificação, ou seja, fomos salvos da condenação do pecado ao sermos justificados por Deus (tornados justos pelo sangue de Cristo), não por mérito algum. Nós não merecíamos, mas Deus nos salvou. É preciso humildade para reconhecer que somos incapazes de nos relacionarmos com Deus, se não for por Ele mesmo.

 Presente...  Embora salvos da condenação do pecado, este ainda é uma realidade na nossa vida e no mundo que nos cerca. Em Filipenses 2.12, Paulo admoesta os irmãos a desenvolver a salvação com temor e tremor. Este é o processo de santificação, pelo qual todos os crentes devem estar passando: estamos sendo salvos do poder do pecado. Como disse, é um processo, e pela força da nossa carne jamais conseguiremos. O Espírito Santo nos dá poder para lutar contra o pecado, mas não imunidade contra o pecado. O pecado domina quando “baixamos a guarda” e permitimos que nossa velha natureza se sobressaia. Nós não merecemos, mas Deus continua a nos auxiliar neste processo. É preciso humildade para esta caminhada. Precisamos dia a dia fazer morrer o nosso eu, nos humilharmos diante de Deus e reconhecermos quem somos.

 Futuro...  Por fim, a glorificação. Estaremos plenamente salvos, não apenas da condenação e do poder do pecado, mas também da sua presença. É a isto que Paulo se referia quando escreveu que a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos (Romanos 13.11). Jamais alguém poderá fazer algo para merecer o céu. Lemos em Mateus 5.3 o que Jesus disse: “...dos humildes de espírito, é o reino dos céus.”

 Conforme dissemos no começo, a humildade é o primeiro passo para que tudo isto se realize. A questão, porém, é o quanto precisamos percorrer.  John Bradford captou muito bem esta ideia e concluiu:

    - “É somente pela graça de Deus que eu prossigo.”

 Ele sabia (e Deus o sabe muito bem) que somos egoístas por natureza. Isto é, somos orgulhosos, arrogantes e amamos mais a nós mesmos do que a Deus e ao próximo. Esta é a radiografia do ser humano: minha e sua também.

Para quem não consegue enxergar, o orgulho pode se manifestar em várias áreas da nossa vida: podemos ser orgulhosos em relação à nossa aparência física, personalidade, inteligência, eloquência, posição social, família, cultura, títulos e graus acadêmicos, trabalhos e realizações, riqueza, bens materiais (casas, carros, roupas, etc.) ou, ainda que não possuamos nenhuma destas “qualidades”, podemos apresentar orgulho pela nossa auto-suficiência. Pergunte a si mesmo: O que causa orgulho na minha vida?  Poderia ser satisfação ou insatisfação com quem eu sou, o que eu sou, o que tenho, o que e quanto eu sei, quanto dinheiro eu possuo, quão bom e belo eu sou, habilidades que domino, o que eu faço, onde eu tiro férias, as roupas que eu uso, as minhas jóias, o carro que dirijo, a casa em que eu moro, meus pais, meus filhos, meu nome de família, os títulos que conquistei, as realizações em minha vida, a quantidade de dinheiro que dou na igreja, minha participação na igreja, quantos versículos já memorizei, quantas vezes eu ajudei aos pobres, as atividades missionárias que tenho empreendido, a posição que ocupo na minha empresa, a minha força, meu carisma, minhas medalhas, minha estatura na comunidade, minha saúde, etc.

O orgulho pode esconder-se atrás de coisas bem simples e habituais. Ele é o pior pecado que existe, porque ele nem sequer admite ser. Portanto, é preciso discernimento do alto para reconhecê-lo e muita humildade para admiti-lo. Não quero que este seja simplesmente um devocionário, mas também um confessionário, como tem sido para mim. C. S. Lewis foi sábio ao dizer as seguintes palavras:

 "Existe um vício do qual nenhum homem no mundo é livre, que cada um no mundo detesta vê-lo em outra pessoa, e da qual quase ninguém, exceto os cristãos, imaginam-se ser culpados.”

 Que o Senhor nos abençoe na leitura deste devocionário*!

 (*) Baseado no livro Do orgulho à Humildade, de Stuart Scott, Ed. Fiel

 

  1. Olhe para si mesmo

 “Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos.” (Romanos 12.16)

 Talvez, um dos maiores enganos que o homem vive é pensar que tem o controle de sua vida nas mãos. Triste engano! Somente o soberbo pensa assim. Sequer compreendemos a pecaminosidade do nosso próprio coração, um coração enganoso, que nos faz pensar que somos bons e melhores. “Aqueles que pensam muito a respeito de si mesmos, não pensam suficientemente”, ponderou Amy Carmichael. 

O orgulho é um mal epidêmico. Ele está em todos nós e se manifesta de muitas maneiras: da mais sutil à mais extravagante. Por mais que odiemos admitir, todos nós somos orgulhosos! A questão, então, não é se somos ou não orgulhosos, mas o quanto temos de orgulho em nossos corações e como ele se manifesta. Reconhecê-lo é o primeiro passo para nos alinharmos com Deus.

Talvez eu vá contra suas convicções referentes a amor próprio (que, aliás, é uma das definições de orgulho), mas, também fui tremendamente confrontado a refletir sobre a nossa natureza e a mediocridade da soberba humana. Nunca na humanidade houve um tempo como o que estamos vivendo hoje, marcado pela propaganda hedonista que diz: Ame a si mesmo, cuide-se bem, aproveite a vida, siga os impulsos do seu coração, e por aí vai.

Mas note o que Thomas Kempis, escritor alemão, já aconselhava há 600 anos atrás:

 "Se você quer aprender algo que valha a pena, então considere o amor próprio como nada. Conhecer e desprezar o “eu” é o melhor conselho. Pensar em si como nada, e sempre pensar bem dos outros é a mais nobre sabedoria. Portanto, se você vê outra pessoa cometer um pecado abertamente ou ainda um crime grave, não se considere melhor do que ele, pois você não sabe quanto tempo você pode permanecer em bom estado. Todos os homens são frágeis, mas você deve admitir que ninguém é mais frágil do que você.

 O orgulhoso não pensa assim. Ele gosta tanto de si que não sobra muito espaço para os outros; ofende-se facilmente e demonstra pouca tolerância para com as diferenças do próximo porque não ama como convém. Mas note o que Paulo escreveu em sua carta (Filipenses 2.1-5) :

 Se há, pois, alguma exortação em Cristo, alguma consolação de amor, alguma comunhão do Espírito, se há entranhados afetos e misericórdias, completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus...

 

 O homem jamais mudou a sua natureza pecaminosa, que abriga e aprecia tanto o orgulho. Este pecado nos oferece os mesmos “benefícios” que vem oferecendo a toda humanidade desde o início: “Voce em primeiro lugar, ...sereis como deuses, ...a glória é só tua!”  Triste engano! Jesus Cristo nos mostrou que a única forma de suprimir o orgulho é através da obediência a Deus. Pride offers us the same challenge it has offered all of mankind since the beginning of time. Ele foi o único que viveu sem pecado e, portanto, o homem mais humilde que jamais viveu. Em tudo obedeceu a Deus, e por isso foi exaltado. 

Eis um grande paradoxo: Cristo fez da humildade o caminho para a glória.

 Reflita... Quanto reconheço do meu orgulho? Tenho focado mais nas falhas dos outros ou reconheço minhas próprias falhas? O que Jesus quis dizer com “Negar-se a si mesmo?”

Ore: Senhor, sonda meu coração. Mostre-me onde abrigo o orgulho. Dê-me humildade para reconhecer e sabedoria para mudar.

 

2. Minha auto-suficiência                                     

 Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.  (Leia Lucas 18.9-14)

“Sempre me comparo a alguém inferior. Preciso fazer isto porque assim posso me destacar diante de Deus e dos homens. Preciso fazer também com que os outros se pareçam menores do que eu. Não posso demonstrar fraqueza de forma alguma, para não evidenciar inferioridade.” Este é um pensamento bem comum, embora dificilmente ouçamos tais palavras da boca de algum irmão.

Nossa carne se inclina ao orgulho. O orgulho é uma armadilha fácil de ser usada por Satanás. O puritano Thomas Watson disse:

“O orgulho é uma embriaguez espiritual; ele sobe à cabeça como um vinho e intoxica nossa mente. É idolatria. Um homem orgulhoso é um adorador de si mesmo.”

Algumas pessoas tentam esconder seu orgulho atrás de ações e palavras espirituais, mas, apesar disso, o orgulho permanece no íntimo destas pessoas. Por sermos assim, dificilmente agradecemos a Deus pela vida, pelo crescimento e pelas vitórias do próximo.

Ao invés disto, demonstramos toda nossa impaciência e irritabilidade para com os outros, por, talvez, imaginarmos que “sou Eu” quem deveria estar desfrutando daquele prestígio, daquela alegria. Ou talvez porque tal situação arruinará Meus próprios planos. Mostramo-nos inflexíveis em nossas posições, e nossos corações se tornam duros e obstinados. Jesus bem falou, quando alertou Nicodemos: Se você não nascer de novo...

Não pode haver humildade onde o orgulho impera, porque estes são opostos e excludentes. O orgulho é um (senão o maior) dos pecados mais desprezíveis aos olhos de Deus. A humildade nos ensina a agradecer constantemente a Deus pela vida dos outros, ensina-nos a não ambicionar coisa alguma que infle o nosso ego. Por conseguinte, tudo o que Deus nos proporciona (a nós ou aos nossos irmãos) será sempre muito bem recebido, com gratidão e ações de graças, com a consciência de que somos participantes de um mesmo Corpo e de que é a Igreja de Cristo que está sendo beneficiada. 

Neste contexto, é bem oportuno lembrar as palavras de Pauloem I Ts5.13-18:

“Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como também estais fazendo. Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam. Vivei em paz uns com os outros. Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos. Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos. Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.”

 Reflita... Julgo-me superior aos outros? Sou auto-suficiente? Procuro aprender a estimar mais os outros que a mim mesmo? Reconheço a necessidade de me relacionar sabia e saudavelmente com o Corpo de Cristo?

 Ore: Senhor, que eu tenha uma opinião humilde a respeito de mim mesmo e que Tu me ajudes a enxergar o próximo como um instrumento vindo de Ti, colocado em minha vida para edificação mútua.

 

  3. Quem é o culpado?                                    .

 

 Disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?  Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.  Como  insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. (Leia João 8.1-11)

 Buscar o bem do próximo, ser compassivo e falar sobre os outros somente coisas boas ou para o seu bem. Como seria o mundo se esta fosse a realidade vivida por toda humanidade? E quanto a nós: como seria a Igreja se os cristãos agissem assim, como Deus espera? Se aprendêssemos a ser humildes como Deus deseja, nossas bocas somente se abririam para falar o bem sobre os outros, nunca como inquiridores. No caso de lembrar ou perceber alguma coisa negativa sobre alguém, somente nos concentraríamos nisto para ajudar aquela pessoa. Infelizmente a realidade é outra. Olhando para os tipos abaixo descritos, diga com sinceridade: qual destes é o mais comum?

 O homem que não tem juízo ridiculariza o seu próximo, mas o que tem entendimento refreia a sua língua. Quem muito fala trai a confidência, mas quem merece confiança guarda o segredo. (Provérbios 11.12-13 NVI)

 Falta de compaixão tem sido uma das marcas mais vergonhosas da nossa sociedade, fortemente refletida no seio da Igreja. Penso que, se trocássemos o parâmetro para amar o próximo de “como eu me amo” para “como Cristo nos amou”, muita coisa mudaria (compare Mt 22.37-39 com Jo 13.34). A prática deste amor foi expressa pelo apóstolo Paulo em Romanos 12.10:

 “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.”

O orgulho do nosso coração faz com que raramente nos preocupemos com os outros; nos importemos com as necessidades e as aflições do próximo. Uma pessoa orgulhosa não vê nada além de seus próprios desejos, nada além de suas necessidades. Só nos lembramos do próximo quando é para apontar algum defeito ou falha cometida. Quantos de nós temos este hábito de comentar a respeito da vida alheia, falar mal da vida dos outros? Você faz isto (também)?

Se não aprendermos a cultivar um espírito humilde não poderemos amar e servir aos outros, nem nos relacionarmos da maneira como Deus quer. Não poderemos também nos comunicar apropriadamente, resolver conflitos, ou lidar da maneira correta com os nossos pecados nem com os pecados do próximo. Sem humildade, não podemos resistir (em especial) ao nosso próprio pecado. Em resumo, devemos abraçar e praticar a humildade, a fim de viver e ser, verdadeiramente, aquilo que Deus quer que sejamos. Esta é a razão porque Ele nos exorta através de Paulo:

Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro do Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão. (Efésios 4.1-2)

 Reflita... Cultivo um espírito crítico, sempre em busca de encontrar culpa no próximo?  Analiso os defeitos das pessoas com um microscópio, enquanto procuro ocultar ou deixar de olhar para os meus? Já aprendi a ser misericordioso, a ser capaz de perdoar pelo simples fato de ter recebido perdão de Deus (Mateus 5.7; 18.23-35)?

 Ore: Senhor, ajude-me a reconhecer meus erros, dê-me coragem para assumi-los e pedir perdão quando necessário.

  

 4. Você em primeiro lugar.                                

 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. (Filipenses 2:3)

 Vamos voltar àquele exercício de imaginar um mundo onde cada pessoa atenta primeiramente para a necessidade do próximo antes de se preocupar em satisfazer a si mesmo. Não seria maravilhoso viver num mundo assim? Pois é isto que Deus esperava de nós, cristãos...

 Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros. (João 13.35)

 

No entanto, sinceramente, estamos muito longe disto. Preferimos pensar num mundo onde todas as pessoas atentem primeiramente para as minhas necessidades antes de se preocuparem em satisfazer as suas. Por quê? Simplesmente porque não suportamos esperar.

Geralmente vemos os outros em termos do que eles podem fazer por nós e por nossos interesses. Raramente demonstramos inclinação ou disposição de beneficiar alguém. Tudo é para nós e a nosso respeito. Se colocássemos em prática apenas o princípio registrado em Mateus 7.12, seríamos um enorme canal de bênçãos para todos os que nos cercam. Pense nestas palavras:

Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas.

Mas, ao invés disto, preferimos praticar o “não faço para este infeliz o que não quero que ele faça para mim.” Assim podemos conviver pacificamente com aqueles que não nos convêm nem nos favorecem.

Ao querer que o mundo gire ao meu redor, estou transmitindo a mensagem que ninguém mais tem importância para mim; que meus direitos são prioridade e minhas prioridades devem ser a prioridade de todos; que eu devo ser o centro e os outros devem atentar para minhas necessidades e me socorrer.

Vamos um pouco mais além. Utilizamos de alguns recursos que Deus graciosamente nos concedeu (como por exemplo, o falar) para manipular, bajular ou rebaixar pessoas a fim de conseguir tudo o que queremos. Alguns são extremamente habilidosos nesta prática. Pense na sofisticação deste pecado! Pense também em como nossa natureza está corrompida e longe daquilo que o Senhor planejou para nós.  Para que fim estamos utilizando nossa língua?  Somos exortados a procurar sempre edificar e encorajar os outros.

Ao invés de usar o próximo, devemos amar o próximo. Ao invés de utilizar nossa língua para benefício próprio, devemos utilizá-la para beneficiar os outros, empregar somente palavras que edificam e falar o que é necessário para a edificação do corpo. Nunca devemos fazer comentários que rebaixam ou diminuem os outros. A Bíblia é bem clara:

Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. (Efésios 4.29, 30)

 Reflita... Sou egoísta em relação ao meu tempo, minhas necessidades e meus direitos? Abro mão das minhas prioridades em favor dos outros? Utilizo habilidades presenteadas por Deus para benefício próprio ou para edificação do Corpo? Amo o próximo como Cristo deseja?

 Ore:  Senhor, quebre o meu coração ao ponto de eu conseguir enxergar as necessidades do próximo além das minhas.

 

 

 5. Minha língua e meu orgulho                            

 Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. (Leia Isaías 53.7; Mt 27.12-14; I Pedro 2.21-24)

 

 Quanta saliva gastamos para provar que estamos certos, firmar nossas opiniões, ou para nos defender. Não podemos admitir nossos erros, por isso gastamos muito tempo e energia em racionalizações e argumentações ordinárias. Esta verborragia toda aponta apenas para uma coisa: o quanto somos orgulhosos.

Uma das características de uma pessoa orgulhosa é que ela gosta de falar muito sobre si mesmo e expor sua opinião. Faz isto com frequência porque imagina que tem coisas mais importantes do que aquilo que outras pessoas têm a dizer. Em Provérbios 10.19, Deus nos ensina que quando há muitas palavras, o pecado é geralmente inevitável:

 “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente.”

 O orgulhoso também gosta muito de falar a respeito de si, procurando centralizar a conversa em si mesmo. Cuidado ao compartilhar realizações e qualidades pessoais, pois pode ser jactância e ostentação. Veja o que Provérbios 27.2 diz:

 “Seja outro o que te louve, e não a tua boca; o estrangeiro, e não os teus lábios.”

 Outro perigo está em utilizar táticas dissimuladas de chamar a atenção para si mesmo: seja através do vestuário, do comportamento espalhafatoso, mostrando-se rebelde e irreverente, seja exaltando seus problemas ou qualidades.

Precisamos cultivar uma visão correta de nós mesmos. Em relação a Deus, estamos muito distantes do Senhor e somos totalmente indignos dEle. (Salmos 8.1-4). Em relação ao próximo, não somos nem melhores e nem piores que os outros. Em geral, não somos capazes de realizar algo digno aos olhos de Deus.

O orgulho nos cega. Esta é a razão porque, frequentemente, temos dificuldade em enxergá-lo em nós mesmos e facilidade em identificá-lo nos outros.

Em contrapartida, vemos a seguinte comparação em Provérbios 29.23:

 “A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra.”

 A pessoa humilde não tem problema em admitir quando está errada, de ouvir a opinião alheia (muitas vezes contrária à sua), nem de admitir “Eu estava errada, você está certa. Obrigado por me dizer isto.”

A chave de um relacionamento saudável e duradouro está nas mãos de quem sabe se humilhar, relevar e perdoar; de quem se importa menos com as coisas e as situações e mais com as pessoas.

Nosso relacionamento com Deus só é possível, porque ele abriu mão de tudo para estar junto de nós, para nos levar junto a Ele. Para isto, Ele se humilhou, não deu conta de nossas ofensas e nos perdoou incondicionalmenteem Cristo Jesus.

É assim que Ele nos ama e é assim que Ele quer que amemos.

 Reflita... Quanta necessidade eu sinto de provar que estou sempre certo? Quanto me esforço para proteger minha reputação? Sei abrir mão dos meus direitos, de viver na defensiva?

 Ore: Senhor, ensina-me cultivar um coração humilde e confiante: que o Senhor seja meu defensor e não eu mesmo.

 

 

 6. Eu exijo meus direitos!                                

 ...seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. (1 Pedro 3:4) 

 Já notou quem são as pessoas que Deus escolhe?Em I Coríntios, Paulo traça o perfil dos escolhidos:

 “...não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios; as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.”

 Esta palavra tanto me anima quanto me consola. Há ainda um outro tipo de pessoa que Deus muito considera. Em Números 12.3 lemos que “... era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra.”

Ao contrário das grandes corporações que estão sempre atrás das pessoas mais agressivas e competitivas, Deus procura e também nos ensina a sermos mansos. E o que é ser manso? É cultivar um gênio afável, sossegado, bom, dócil, sereno e pacífico. Considero o manso como aquele que sabe abrir mão de seus direitos. O oposto de manso é o iracundo e impaciente. É aquele que não suporta esperar, não suporta gente lerda e incompetente. É aquele que exige o que é seu por direito...  e quer agora! Num nível mais religioso, é aquela pessoa que ousa ordenar a Deus: Eu determino!  (Ai!)

Uma pessoa orgulhosa nunca é mansa, e sim iracunda. Normalmente se expressa em acessos de raiva, retaliação, retraimento, amuo ou frustração. O iracundo pode ser um assassino silencioso. Outro fato interessante é que um sinônimo de ira é “mau humor”. Voce já notou que uma pessoa iracunda está sempre mal humorada? O orgulhoso geralmente se ira porque suas expectativas ou seus “direitos” não foram atendidos. Leia Mateus 20.1-16 e pense como você se sentiria se estivesse no lugar do trabalhador que foi contratado nas primeiras horas do dia. Por que esta indignação?

Seja manso, gentil, bondoso e paciente. A pessoa humilde quer agir como Deus age e não focaliza naquilo que ela pensa estar perdendo. Também deseja amar aos outros da maneira como Deus a ama. O manso não se irrita facilmente, nem se importaem esperar. Considereatentamente o que o Senhor nos ensinou:

 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.( Mateus 11:29)

 Ser manso e humilde para Deus é aquela disposição de espírito com a qual aceitamos Sua forma de lidar conosco como sendo a melhor, sem, no entanto, disputar ou resistir. No AT, os humildes eram aqueles que confiavam inteiramente em Deus, mais do que em suas próprias forças, para defendê-los contra toda injustiça. Assim, uma atitude de humildade e mansidão implica em saber que Deus está permitindo pessoas e situações que nos afligem, que Ele as usa para nossa edificação e que é Ele quem nos livrará a Seu tempo (Sl 121.1,8). Ser manso e humilde é oposto a ser arrogante e egoísta e origina-se na confiança na bondade de Deus e no Seu controle sobre a situação. A pessoa mansa não está centrada no seu ego. Mansidão é obra do Espírito Santo, não da vontade humana.

 Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. (Colossenses 3.12-14)

 Reflita... Sou daqueles que demonstram um espírito exigente, mandão e severo ou procuro cultivar espírito de mansidão, paciente e gentil?

 Ore: Senhor, tem misericórdia de mim! Ensine-me o que é ser manso e humilde de coração.

  

 

7. Seu desejo é uma ordem.                             

 Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. (Ler Marcos 10.35-45)

 Precisamos enxergar que o dom da vida que Deus nos concede, Ele o dá diariamente, pouco a pouco, minuto a minuto e pode tirar-nos a qualquer momento, quando menos esperarmos. Esta consciência deveria ser suficiente para não nos orgulharmos, para buscarmos uma vida marcada pela simplicidade, pela humildade, pela escalada à santificação e amor ao próximo. Pensar em quem nós somos não pode ir além da comparação com a flor do campo, que hoje existe e amanhã murcha ao sol do meio dia. Pensar em nossa vida não pode ir além da comparação da brevidade de um vapor que logo se dissipa. Quem pensa de si mais do que isso é tolo e vive se enganando.

Nós temos muito valor para Deus. Mas, Ele não nos mede pela nossa capacidade intelectual, habilidade financeira, beleza física ou por aquela inclinação natural à moralidade presente em alguns humanos. Um dos parâmetros que Ele utiliza para nos medir é nossa disposição a obedecer, porque obediência pressupõe humildade.   

Pessoas orgulhosas tendem a apresentar sérios problemas nesta área, que podem ser manifestadas de dois modos.

Primeiramente, pessoas orgulhosas desejam ser servidas. Sempre. Já vimos um pouco sobre isto, mas o motivo deste desvio de caráter é que esta é uma maneira de demonstrar sua importância e seu status. São pessoas que gostam daquela teologia que diz “Voce foi escolhido para ser cabeça e não “rabo”.

Em segundo lugar, percebe-se claramente uma falta de espírito de serviço no orgulhoso. Este não presta serviço aos outros simplesmente porque não pensa nos outros, ou (quando muito) porque deseja ser induzido a servir somente mediante lisonjas. Ele jamais continuará servindo se não receber qualquer apreciação ou reconhecimento humano. Esta necessidade de ser reconhecido é uma evidência segura de motivos errados para servir. Essas pessoas jamais cogitariam a possibilidade de se rebaixar para servir alguém “por nada”.

 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. (Gálatas 5.13)

 Ao ouvir a palavra liberdade, o orgulhoso não consegue pensar além de seu estado de “não escravidão”. Ele jamais pensaria em uma possibilidade muito mais nobre e elevada: que a liberdade que Deus nos proporciona nos permite servir uns aos outros. Somos livres para servir, e o amor deve ser motivo suficiente para o fazermos! Este é o caráter que Deus quer cunhar em seus filhos. Ele deseja que estejamos sempre de prontidão para obedecer servindo e assistindo aos outros; que sejamos os primeiros a se apresentar como voluntários para tarefas que ninguém quer; que tomemos iniciativas para alcançar e servir as pessoas. Devemos ter em nós...

 “... o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Filipenses 2:5 a 8)

 Reflita... Sabemos que devemos ser servos, como Cristo foi. Mas considere: o quanto repudiamos esta idéia ao sermos tratados como um servente? É sinal de orgulho de nossa parte?

 Ore: Senhor, coloque em mim um desejo sincero, contínuo e crescente de servir e humildade suficiente para não me aborrecer por ser tratado como um servente.

 

 

 8. Voce é o cara!                                              

 O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Convém que ele cresça e que eu diminua. (Leia João 3.26-30) 

 Qualquer pessoa no mundo tem seus sonhos, ambições e projetos de vida. Todos temos aspirações e desejamos alcançar o sucesso, ser alguém na vida, vencer. Será isto um problema? De forma alguma. Fomos criados para pensar assim, desde crianças. Nossos pais investiram em boa educação, nossos professores nos incentivavam a estudar mais, o mundo é competitivo e a sociedade exige que nós nos tornemos “alguém na vida”, o que significa ter diploma, carreira, emprego, dinheiro. Deste último, quanto mais, melhor. O desafio de ganhar o mundo nos fascina. Ter nosso nome projetado, estampado no alto da página, ser reconhecido e reverenciado por onde passarmos, assumir o púlpito, a tribuna, o palanque, a direção, ser o cara! A pressão é tamanha, que sequer cogitar um modelo diferente seria loucura. Estamos tão mergulhados neste mundo que não nos permitimos pensar o contrário. Qualquer idéia diferente da ambição do sucesso é simplesmente inadmissível.

Pessoas orgulhosas também desejam ser um sucesso. Desejam tudo o que foi dito acima e um pouco mais. Pensam serem as melhores e merecem o prêmio de sua dedicação. Caso suas ambições não sejam realizadas, culpam tudo e todos por seu fracasso Quando não atingem seu objetivo, acabam se tornando queixosas e murmuradoras contra Deus, lançando críticas sobre Ele. Em uma situação difícil pensa: “Veja o que Deus me fez, depois de tudo o que eu fiz por Ele”. Uma pessoa orgulhosa é sempre queixosa.

Qual, então, é o mal de todos nós termos sonhos e querermos que sejam realizados? Qual é o mal de ter um diploma? Uma profissão? Um emprego? Uma carreira? Gozar um bom salário? Novamente, digo: não há nenhum problema nisto. Mas, quando tiramos o foco de nossos desejos e anseios e mudamos para Deus, então nossa visão será outra. Se ainda não conseguimos entender o que João quis dizer com: Convém que ele cresça e que eu diminua, é porque ainda estamos com o foco centrado no nosso ego. Se ainda pensamos que somos nós que conseguimos fazer algo com nossas forças, acredito que sequer ligamos o refletor, mas ainda estamos segurando a velinha da mediocridade que não tem poder para iluminar muita coisa além do meu ambiente. Note o que Deus advertiu em Deuteronômio 8.17-18:

 Não digas, pois, no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me adquiriram estas riquezas. Antes, te lembrarás do SENHOR, teu Deus, porque é ele o que te dá força para adquirires riquezas; para confirmar a sua aliança, que, sob juramento, prometeu a teus pais, como hoje se vê.

 

 Quando focamos em Deus, algumas coisas acontecem: deixamos de querer ser um sucesso e passamos a trabalhar para que o Evangelho seja um sucesso. Deixamos de querer projetar o nosso nome para projetar o Nome que está acima de todo o nome. Nossos sonhos e anseios deixam de ser nossa prioridade para abraçarmos os planos de Deus. Nossos esforços, estudos, diplomas, carreira e bens são alinhados e colocados à disposição da causa do Reino. E, finalmente, passamos a nos ver como alguém que não tem direito de questionar ou julgar nosso Deus soberano, caso alguma coisa não saia conforme planejamos.

A pessoa humilde pensa em Deus como seu Criador e Provedor e em si mesmo como criatura e dependente dEle. O humilde não se vê, nem mesmo remotamente, qualificado para julgar a Deus ou o que Ele faz. Reconhece que seu Deus, perfeito e sábio, pode fazer aquilo que desejar e que será o melhor para ele.

 Reflita... Será que o meu desejo é contribuir para o sucesso dos outros também? Alegro-me com isto? Terei a coragem de cultivar a “filosofia de vida” de João Batista para minha vida?

 Ore: Senhor, faça com que o desejo legítimo do meu coração seja promover o crescimento do próximo, para o bem da Tua Igreja, para a Tua glória.

 

 

 9. Eu sou mais eu                                            

 Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. (Romanos 12.3)

 Ao elaborar um Curriculum Vitae tendemos a exaltar ao máximo os quesitos referentes à nossa pessoa para causar a melhor impressão possível ao examinador. Ressaltamos até o mérito do curso de numismática por correspondência. Afinal, o mercado é competitivo e precisamos nos projetar se quisermos vencer. São poucas as pessoas que dispensam apresentações, porém, há aqueles que não necessitam correr atrás do emprego. Seu histórico e sua competência fazem com que os empregadores corram atrás dele. Não quero de forma alguma diminuir o mérito de quem chega a este patamar, quando foi construído ao longo de uma jornada de trabalho e dedicação. É mais do que lógico galgarmos com afinco nossa carreira, e faz parte do processo nossa autopromoção, pois “se eu não demonstrar meu valor, quem me valorizará? É minha carreira, meu sucesso, minha imagem, minha vida, meu projeto, meu... meu...”

Mas para qual finalidade? Do que estávamos falando mesmo? Ah, sim, Curriculum.

Lembrei de Paulo. Em dois momentos de seu ministério, o apóstolo abre algumas páginas do seu “humilde Curriculum” (Atos 22.3 e Filipenses 3.4-8). Creio que Paulo não desejava exaltar suas próprias qualidades e habilidades ou que elas fossem reconhecidas. Não foi para “se mostrar”, mas para mostrar quem ele era no passado e em quem ele se transformou após sua conversão. Ele mesmo confessou aos filipenses: Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.

Não é assim com a pessoa orgulhosa. Esta procura sempre alimentar uma visão exagerada de sua importância, talentos e habilidades, e tem uma percepção entranhada de si mesma.

Além disso, ela se esforça em demasia para ser perfeita, unicamente para obter reconhecimento, pois isto a faz sentir-se bem consigo mesma. Seja como for, este comportamento é puramente autopromocional.  O problema básico do perfeccionista é que ele torna mais importante as coisas que são menos importantes e descarta pessoas que não julga serem importantes.

Buscar excelência em tudo o que se faz, não é o problema. Talvez o orgulhoso só precise de uma pequena dose amorosa de realidade. Precisa atentar para a Palavra:

 Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido [de Deus]? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? (I Coríntios 4.7)

 

 Paulo estava tentando fazer com que os irmãos “carnais” de Corinto tivessem uma visão exata de sua importância para Deus, bem como dos talentos e habilidades por Ele presenteados. A pessoa humilde não se queixa do fato de que não é uma pessoa talentosa como os outros. Também não exagera a respeito de suas próprias habilidades. A pessoa humilde confia na capacitação que Deus dá para ela executar a Sua obra e sabe que por ela mesma, nada poderia produzir. A pessoa humilde não busca busca reconhecimento humano, nem espera que os outros corram atrás dela. Não busca ser perfeccionista naquilo que faz, mas procura fazer tudo da melhor maneira possível, dentro de suas capacidades, pois sabe que está fazendo para Deus. Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. (1 Coríntios 10:31 ler também Colossenses 3.17 e 23). 

 

 Reflita... Tenho consciência das minhas limitações? Fico feliz por ser usado por Deus mesmo que o mérito seja dado a outros? Por acaso há alguma coisa que produzo que não provenha de Deus?

 Ore: Senhor, me dê humildade, sabedoria e discernimento para aceitar minhas limitações e espírito de gratidão para te agradecer por me fazer exatamente como sou.

 

 

 10. Eu sei!                                             

 Tu és nascido todo em pecado e nos ensinas a nós? E o expulsaram. (Leia João 9) 

 Quando somamos orgulho a qualquer ciência, observamos dois tipos opostos num sentido, mas semelhantesem outro. Háaqueles (muito comuns no meio acadêmico), que são profundamente conhecedores de determinado assunto e se ensoberbecem por isto. De outro lado, encontramos aqueles que são extremamente ignorantes e igualmente arrogantes. “Se acham” os donos da verdade, mas não entendem de patavina nenhuma. Este tipo não frequenta escola nenhuma e é facilmente encontrado nos botecos de periferia.

A palavra arrogante é muito interessante. Arrogante é aquele que arroga para si direitos, poderes e privilégios, julgando se moral, social e intelectualmente superior aos outros. Você já viu um ignorante arrogante? Gaba-se do que não entende (ou seja, gaba-se da sua ignorância).

De um lado, o ignorante é orgulhoso porque se julga sabedor de tudo. Não há assunto em que ele não expresse sua opinião, normalmente em forma de lei! Pensa que sabe muito e sabe melhor do que os outros.

De outro lado, há o orgulhoso vaidoso em relação ao seu conhecimento e cultura. Ele sabe dar o devido valor às qualidades na qual é dotado e deseja ardentemente que tais qualidades sejam admiradas ou, ao menos, reconhecidas pelos outros. São pessoas inteligentes, sem dúvida, mas não sabem que inteligência não é sinônimo de sabedoria. Sua maneira de viver e o modo como aplicam seu conhecimento mostram que não são nem um pouco sábias. O inteligente orgulhoso é tolo.

O que estes dois tipos têm em comum além da jactância? Nenhum deles gosta ou admite ser ensinado. A pessoa orgulhosa pensa que sabe tudo e se julga superior. Não aprende nada com os outros e nem demonstra respeito por ninguém. Não tem paciência para ouvir.

Mas, graças a Deus, além destes dois tipos, há uma terceira opção. Quando somamos inteligência e conhecimento à humildade obtemos a sabedoria. Em Provérbios 19.20 Salomão nos aconselha:

 Ouve o conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos teus dias por vir.

 Sabedoria significa habilidade para viver da maneira como Deus deseja. Uma das principais diferenças que marca os sábios é que eles sabem que não sabem tudo e que há sempre coisas novas a aprender, como diz o adágio popular: "O sábio sabe que não sabe, e o ignorante cuida que sabe."

 

O sábio é humilde, temente e sabe ser um bom ouvinte. A pessoa humilde considera mais importante aquilo que os outros têm a dizer do que aquilo mesmo que ela tem a dizer.

O humilde não se imagina melhor do que outros para não ser considerado o pior tipo diante de Deus, o único que sabe o que vai dentro do homem. Não se orgulha de suas habilidades intelectuais para não desagradar a Deus de quem procedem todos os dons possuímos. Não julga os menos capazes, pois os juízos de Deus são diferentes dos juízos dos homens e o que agrada um muitas vezes desagrada o outro.

Precisamos aprender a falar menos de nós mesmos, de contar vantagens ao nosso respeito, de querer exibir nossas habilidades, e passar a mostrar mais interesse pelos outros, fazendo perguntas e ouvindo o que tem a ensinar. Procurar ver sempre o que há de bom nos outros e estimarmo-nos menos do que o próximo não causará mal algum a nós: o “eu” não deve ser o nosso foco principal. Finalmente, devemos lembrar que os humildes vivem em paz permanente, enquanto que no coração dos orgulhosos a ira e a inveja são frequentes.

 Reflita... Tenho sido arrogante ou soberbo quanto à minha cultura, educação e conhecimento? Ajo de forma humilde diante dos outros? Tenho consciência do quanto preciso aprender?

Ore: Senhor, mostre-me o quanto preciso aprender... Ajude-me a desenvolver um espírito humilde e ensinável.

 

 

11. Ah, Se não fosse por mim...                         

Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida. Por isso, se eu for aí, far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja. (3 João 1.9-10)

 O orgulho é a raiz de todo pecado e de todo mal! Em toda Escrituraencontramos este pecado camuflado em boa roupagem. Encontramos orgulho em posição (Mt 23.6), habilidades (2 Cr 26.15-16), realizações (Dn 4.21-22), riquezas (1 Tm 6.19), posses (Mt 6.19), conhecimento (Is 47.10), sabedoria (1 Co 8.1), em ser estimado e querido (Gl 1.10) e ainda em justiça própria (Rm 10.3), grandeza espiritual (Lc 22.24), experiências espirituais (2 Co 12.7) e liderança espiritual (3 Jo 1.9-10). Vemos que até em vestes espirituais este pecado se traveste. Sem dúvida alguma este é o pior tipo, pois este orgulho usa o nome de Deus para se esconder e “em nome de Jesus!” o orgulhoso se projeta, agride, acusa, exclui, manipula, consegue atingir seus intentos malignos e ainda diz a si mesmo: “esta igreja é privilegiada por contar com o meu trabalho e meus dons.”

Diótrefes é um caso típico. Provavelmente começou servindo, mas com o tempo mostrou quem realmente era. A palavra traduzida por “gosta de exercer primazia” (philoproteuo) significa literalmente "que ama a presidência ou posição de chefia”. De alguma maneira ele se destacou na liderança da igreja, exaltando-se sobremaneira. Ele amava tal destaque e se comportava arrogantemente desta forma, a ponto de repelir até o apóstolo João!

Em Atos 20.29-30, Paulo já havia alertado que coisa semelhante aconteceria:

 Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles.

 Lobos vorazes... Entre nós mesmos! Os “Diótrefes” não trabalham sob as ordens de ninguém e nem se submetem a autoridade alguma. Eles têm de ser seu próprio patrão. (Não confundir com iniciativa privada, pois estamos tratando de crentes inseridos dentro de um corpo, que é a Igreja de Cristo.) Pensam da seguinte forma: ”Eu não preciso de ninguém, não preciso dar explicações a ninguém sobre minha vida,minhas ações, minha fé ou minha doutrina”. São frequentemente inflexíveis, teimosos, obstinados, intimidadores, arrogantes, buscam independência e controle sobre todos: “É do meu jeito ou nada feito.”

 Em vindo a soberba, sobrevém a desonra, mas com os humildes está a sabedoria. (Provérbios 11:2)

 

 A pessoa humilde é honesta e franca a respeito do que ela é e das áreas nas quais precisa crescer. Procura auxílio e conselho quando precisa. Não é presunçosa, mas responsável no cuidado mútuo. Reconhece suas falhas e sabe demonstrar arrependimento, reconhecendo que necessita de seus irmãos e irmãs. Sabe exatamente qual é o seu lugar no Corpo de Cristo e aceita-o com gratidão no coração.

 Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. (I Coríntios 1.10-13)

 Reflita... Que sentimentos dominam meu coração? Mérito soberba por fazer parte de um ministério? Reconheço que meus dons e habilidades são bênçãos de Deus e devem ser usados para Ele e para edificação (não divisão) do Corpo?  

Ore: Senhor, tira a soberba do meu coração por ocupar um cargo de destaque ou me tire do cargo!

 

 

12. Ahhhhhhh! Que ódio!                                

Então, perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até a morte! Tornou o SENHOR: Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais? (Jonas 4.9-11)

 Vimos até agora que, invariavelmente, o orgulhoso alimenta uma mentalidade que tudo deve ser dele, por ele e para ele. Age como se pudesse domesticar a Deus, pois pensa que Ele deve estar à sua disposição; um “deus” criado sob medida, segundo sua própria imagem e semelhança. Quanto ao próximo, estes existem para agradá-lo, servir-lo e devem respeitá-lo e satisfazer suas necessidades, enquanto que o orgulhoso arroga para si o direito e o poder de julgar, criticar, manipular e faz tudo para impressionar os que estão à sua volta. Quando os outros, e não ele, são valorizados, sente-se diminuído, injustiçado, tomado de grande rancor, mágoa, inveja e ciúme. Enquanto aplaude repete secretamente: “Que raiva! Esta pessoa não merecia, mas eu sim. Só pode ter sido armação. Todos conspiram contra mim...”

Inveja e ciúme são alguns dos sintomas mais comuns e aparentes do orgulho. A pessoa se torna extremamente ácida, irada, magoada, ressentida, desgostosa e vive na defensiva, travando grande luta em relação à crítica. Tal pessoa não suporta a ideia de que não é perfeita ou que tem fraquezas, porque não aceita o que ela mesma é.

Geralmente, quando a pessoa orgulhosa não goza dos mesmos benefícios, ela tem muita dificuldade em se alegrar com as bênçãos ou o sucesso dos outros. Sua inveja faz ela rir dos que choram e chorar dos que riem. Quando é o ciúme que se manifesta, gera um sentimento penoso e corrosivo provocado por uma pessoa que pretende amor e atenção exclusivos. O orgulhoso, então, magoa-se com criticas, ira-se por não ter sido beneficiado, sente inveja pelo sucesso dos outros e ciúme porque tem medo de perder aquilo que não possui. Note o contraste desta triste realidade com as palavras de Paulo:

 O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba. (I Coríntios 13.4-8)

 Ore: Senhor, livra-nos do mal! Que possamos nos sentir verdadeiramente felizes pelos outros.

  Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram.  Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos. (Romanos 12.15-16)

 A pessoa humilde se alegra com os outros quando coisas boas lhes acontecem, cultivam um sentimento de alegria, quando outros são reconhecidos por suas ações. Ela está consciente de que Deus a tem abençoado imensamente, confiando nEle em relação ao que ela não tem.

 Reflita... Os últimos versos de Jonas chamam a atenção a uma pergunta que ficou sem resposta: Será que você está tão preocupado com o seu conforto e bem estar, e não consegue ver um palmo na frente do seu nariz? Você não se importa que milhares de pessoas sejam destruídas enquanto você lamenta a sombra no seu umbigo?  Pense: O que lhe preocupa?

 Ore: Senhor, livre-me do mal do comodismo, egocentrismo e exclusivismo. Ensina-me a amar o próximo como Cristo amou.

 

 

 13. Coitadinho de mim...                                 

 Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.(Leia I Coríntios 12.12-28).

 O orgulhoso é centralizado em seu ego; cultua a si mesmo. Um orgulhoso acredita que ele é, que dele procede ou que nele está a fonte de tudo que é bom, reto e digno de louvor. Ele também acredita que é (ou deve ser) por si mesmo o realizador de qualquer coisa que valha a pena realizar e que deve, certamente, ser o benfeitor de todas as coisas. Em essência, ele crê que todas as coisas devem acontecer a partir dele, através dele e para ele. Há aqueles que negam, dizendo ser para Deus e vestindo uma roupagem espiritual nisto tudo. Mas na verdade, o orgulhoso é competitivo em relação aos outros e, especialmente, em relação a Deus. Ele quer estar no topo. Thomas Watson disse: “O orgulhoso busca tirar Deus de seu lugar”.

O que dizer, então, a respeito daqueles que estão do lado oposto. Ou seja, consumindo-se em autocomiseração, absorvidos em si mesmo, alimentando profundo senso de fracasso? Isto também é orgulho, porém, o “verso da moeda”. As pessoas se consomem em autocomiseração porque focalizam muito o seu próprio “eu”. Elas não estão preocupadas com a glória de Deus, nem com a gratidão pelas boas dádivas e talentos que o Senhor lhes deu, mas, em vez disso, centralizam-se em como não têm “sorte” na vida ou como os outros são melhores, mais bonitos ou mais inteligentes do que elas.

A pessoa cheia de auto-piedade consome suas forças em busca de reconhecimento. Não trabalha para a glória de Deus, e sim para a sua própria glória. Quer ser aceita, aprovada e atendida por todos. Quando estes desejos não são realizados, ela se torna ainda mais fechada em si mesma, e o círculo vicioso continua. Isto se chama orgulho.

Este tipo de atitude, que lamenta o fato de não ser aquilo que desesperadamente desejaria ser (exaltado ou estimado), não deve ser enganado pelo pensamento de que não é orgulho. Tal pensamento está muito longe da verdade.

De qualquer forma, uma pessoa orgulhosa crê que a vida toda deve se resumir nela mesma – sua felicidade, suas realizações e seu valor. Aquele que se focaliza apenas na sua falta de talentos e habilidades talvez não se considere absolutamente orgulhoso, porque está sempre se considerando menor que os outros, mas orgulho é a mentalidade centrada no “eu” (a mentalidade de senhor, em vez de servo); é ter o foco voltado para o “eu” e para sua satisfação; é uma busca de auto-reconhecimento, auto-exaltação, e um desejo de controlar e usar todas as coisas em benefício próprio.

Ao invés disso, precisamos prioritariamente reconhecer o caráter de Deus e confiar nEle. O Criador nos fez exatamente como somos e com um propósito. Não temos que nos comparar com os padrões que o mundo impõe para aceitação (infelizmente tão presentes na igreja também), muito menos gastar a vida correndo atrás deles! Em Provérbios 16:19 lemos que é melhor ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos.

Se quisermos ser humildes precisamos reconhecer quem Deus é, aprender a olhar mais para Ele e menos para nós; entender que não possuímos nada, e que até a nossa própria vida vem do Pai e é do Pai. Agindo assim, confiaremos nEle muito mais do que em nós mesmos. Nas horas mais difíceis, agradeceremos a Deus por fazer-nos lembrar o quanto precisamos dEle e por todo o bem que Ele está realizando em nós.

 Reflita... Focalizo mais naquilo que não tenho e não sou (e que gostaria de ter ou ser) do que naquilo que Deus me deu? Sou ingrato com Deus por ter me feito como fez? Rejeito o melhor de Deus para correr atrás do melhor que o mundo oferece?

 Ore: Senhor, ensina-me olhar para Ti. Que meu coração transborde de gratidão, amor e reconhecimento da Tua graça em minha vida. Faça-me enxergar que tudo é Teu!

 

 

 14. Não é problema meu.                                 

 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. (Hebreus 10.24)

A dinâmica dos relacionamentos humanos é uma arte que foi maculada pelo pecado. Há relacionamentos que, às vezes, mais parecem uma guerra. Todos nós nos enveredamos por eles, alguns com mais e outros com menos intensidade. Muitos saem feridos desta batalha e não poucos morrem! Fomos criados para nos relacionarmos, mas cultivar relacionamentos sadios sempre foi um grande desafio, por vários motivos, sendo o principal deles o nosso o-r-g-u-l-h-o.

Para ser sadio um relacionamento deve funcionar como uma via de duas mãos, de fluxo constante e plenamente acessível para ambos os lados. O orgulho interrompe as pistas, derruba pontes, cria empecilhos e desvios, destrói o asfalto. Insistimos em nos relacionarmos porque precisamos: seja por interesses egoístas, seja para satisfazer desejos intrínsecos de nossas almas, pois todo ser humano tem necessidade de amar e ser amado.

De todos estes obstáculos, a principal barreira que o nosso orgulho eleva nesta estrada localiza-se bem na porta de entrada de nossos corações. Não a removemos pelo medo de demonstrar quem somos na realidade, medo de demonstrar nossas fraquezas, dúvidas, temores, lembranças e ansiedades. Precisamos manter o véu da aparência a qualquer custo, por isso insistimos nas relações superficiais.

Permitir que nosso orgulho mantenha as barreiras ativas, significa não nos importar com as outras pessoas, preferindo mantê-las distantes. Racionalizamos que a proximidade trará mais aborrecimentos do que benefícios. Talvez por causa disto nos tornamos tão auto-suficientes, a ponto de supor não precisar de ninguém. Pensamos: “meus problemas não são da sua conta e também não estou interessado nos seus”.

Dificilmente verbalizaremos tal pensamento, mas exteriorizamos de outras formas: através de ofensas, sarcasmo ou simplesmente menosprezo ao próximo.

O orgulhoso tende a ser muito rude. Ao menosprezar as outras pessoas geralmente queremos nos manter um degrau acima, e frequentemente isto pode ser evidenciado através de uma atitude indiferente, sarcástica e caçoadora. Então, o nosso orgulho se desculpa (o que nem sempre acontece) dizendo: “este é meu jeito, minha personalidade. Sou assim mesmo”.

Será que foi isto que Deus planejou para nós? Nota-se cada vez mais o crescente número de pessoas que concordam que manter um relacionamento superficial é o normal e o melhor para todos. Daí o tamanho sucesso das redes sociais cibernéticas, ajuntamentos (em vez de casamento) e do sexo sem compromisso. Ao invés de poços profundos, os relacionamentos atuais podem ser comparados a um mar bem rasinho: conhecem-se muitas pessoas, fala-se muito, mas não se aprofunda nada. Encontramos inúmeras passagens em Provérbios que nos ensinam a desenvolver relacionamentos saudáveis, como por exemplo Provérbios 17.17; 18.1-2:

Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão.

O solitário busca o seu próprio interesse e rebela-se contra a verdadeira sabedoria.

O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior.

 Cultivar relacionamentos achegados é um sinal de humildade. O humilde tem amigos e queridos, porque é afável e ama o próximo como Cristo amou. Ele se mostra disposto a pedir ajuda para os vários fardos e problemas que possa ter. Leia Atos 20.17-38 e pense no tipo de relacionamento que o apóstolo Paulo cultivou com aqueles homens.

 Reflita... Estou disposto a construir relações próximas e a amar o próximo incondicionalmente? O que posso aprender com os relacionamentos que Cristo construiu aqui na terra?

 Ore: Senhor, ensina-me a amar sem desejar (mesmo que secretamente) ser amado primeiro.

 

 

15. Não fui eu...                                             

 O que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso a si mesmo se injuria. Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará. (Provérbios 9.7-8) 

 Estamos vendo como é gritante a diferença nas condutas do humilde e do orgulhoso. Nesta altura, já deu para perceber quanta exortação à sabedoria o livro de Provérbios nos traz. Praticamente, quase todo o livro apresenta o contraste entre alguns personagens: de um lado o tolo, estulto, soberbo, escarnecedor, louco e insensato; do outro o sábio, humilde e diligente. Além disso, encontramos neste livro conselhos práticos para aqueles que querem andar segundo a sabedoria de Deus.

É interessante notar que em nenhum momento Provérbios diz que o sábio não erra, mas uma das qualidades dele é a humildade. Esta se manifesta também como gratidão nas sugestões, críticas e até numa possível repreensão, quando se faz necessária. Quantos de nós já pensamos assim?  A pessoa humilde vê a crítica como algo bom para si, e considera que Deus pode estar lhe ensinando alguma coisa. Repreenda o sábio, e ele te amará, diz o texto. Ou seja, quando assumimos uma posição de sábios, tementes a Deus, devemos receber a crítica com gratidão de coração, espírito de mansidão e profunda atitude de introspecção e respeito para com aquele que está nos repreendendo.

Você já tentou conversar com uma pessoa orgulhosa sobre algum... digamos... deslize que ela tenha cometido? Geralmente elas são extremamente resistentes a críticas. Algumas assumem uma posição defensiva como gatos: ao menor sinal de perigo, arrepiam-se todos, arreganham os dentes e mostram as garras prontas para pular no seu pescoço. Outras se fecham como uma ostra. O orgulhoso diz: Não aceito ou não tolero que me critiquem. Não existe crítica construtiva... todas são para me derrubar ou denegrir minha imagem. Aquele “conselho” que o irmão me deu é para me humilhar. Não tolerarei tal afronta.

No momento da repreensão, abaixe a guarda, solte as pedras! Não queira discutir suas razões e direitos. Não se arme de argumentos. Apenas escute...

Se você estiver certo, o tempo mostrará, se estiver errado, humilhe-se e assuma. Isto é nobre! Preste atenção em mais estes provérbios:

 Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido. (Provérbios 12.1)

Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos. (Provérbios 9.8 ; 27.5-6)

 Receber e ouvir críticas humilde e abertamente são opções que os orgulhosos desconhecem ou abominam. Aprenda a ser grato por críticas ou reprovações, e ainda, enxergue nelas oportunidades para seu aperfeiçoamento. Não seja defensivo e, muito menos, tente transferir ou amenizar sua culpa. Primeiramente ouça...

Lembre-se da atitude de Cristo diante daqueles que o acusavam:

 Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. (I Pedro 2.21-24)

 

 Reflita... Quantas vezes você já se defendeu: “Voce está dizendo que a culpa é minha?” ou “E você, não faz nada de errado?” ou ainda “Voce só fala de mim? Todo mundo faz assim!” Voce já tentou justificar seu próprio pecado comparando-se com outros, numa forma de desviar o foco de suas faltas?

 Ore: Senhor, abra meus ouvidos e faça minha boca se calar diante da repreensão. Dê-me sabedoria e humildade para receber e compreender a disciplina que vem daquele que me quer bem.

 

 

 16. Foi ele!                                                  

 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? (Leia Mateus 7.1-5)

 Um 'grande filósofo' da nossa época, chamado Homer Simpson, fez a seguinte citação:

 -  “A culpa é minha, eu a coloco em quem eu quiser!”

 Esta frase é tão genial que deveria ser emoldurada e pendurada na parede da nossa sala. Só que, como outro sábio bem observou, não há nada de novo debaixo do sol (Ec 1.9).

A terceirização da culpa é mais antiga do que a invenção da roda (e ambas existem para facilitar nossa vida, não é mesmo?). Quando o pecado entrou no mundo, o orgulho estava presente tanto na tentação (quando Eva quis ser igual a Deus), quanto na consequente queda (quando ambos – Adão e Eva) não assumiram suas responsabilidades (Gn 3.11-13).   

O orgulho nos equipa com algumas habilidades fascinantes. Uma delas é a rapidez em apontar os erros e defeitos dos outros, que, como sempre, pode vir camuflada com uma capa espiritual. É quando falamos: preciso ficar alerta quanto à vida e conduta dos irmãos, afinal, não posso deixar o pecado brotar e crescer no seio da igreja! Muitas vezes nos comportamos como aqueles atiradores de elite, só aguardando o momento certo para abater mais um “pecador”.

Outra destas habilidades é a capacidade incrível que nós temos de maximizar os pecados e as fraquezas dos outros. Para o orgulhoso, as outras pessoas são o problema. Podemos aumentar ou chamar atenção para o pecado dos outros através de fofocas e comentários carregados de malícia, maledicência e maldade, ou, com uma veste sacerdotal, espalhando pedidos de oração a todos pelo pecado do miserável irmãozinho.

Para todos aqueles que insistem em agir assim, Jesus contou a parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18.9-14). Vale a pena ler com muita atenção. Se a Bíblia não dissesse que é uma parábola (v.9), eu poderia jurar que é um caso verídico...

Em relação a isto, devemos nos lembrar que assumir uma postura humilde é não só reconhecer as nossas fraquezas, mas ainda minimizar o pecado ou fraqueza dos outros em comparação com os nossos. Uma pessoa humilde pensa nos seus próprios pecados com mais frequência do que nos pecados dos outros.

Devemos nos lembrar também que assumir uma postura de humildade é não julgar as falhas e os pecados dos outros. Note o que Jesus ensinou em Mateus 7.1-2:

 Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.

 A Bíblia diz que Deus é o justo juiz (Salmos 7.11) e, quando julgamos os outros, estamos assumindo um papel que não é nosso; antes é exclusivo do SENHOR.

Pode ser que você se lembre de um texto que diz:

 Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça. (João 7:24)

 

 Bem, primeiramente, Jesus está nos proibindo fazer aquilo que sempre fazemos (não julgueis pela aparência).  Além disso, ele está apelando para o padrão de Deus (mas sim pela reta justiça).  Portanto, devemos concluir: aquele que se julga à altura de exercer tal justiça, que atire a primeira pedra... (Jo 8.7)

 Reflita... Consigo enxergar quando e onde erro? Reconheço meu pecado ou tento contemporizar? Divido ou jogo a culpa em outros? Julgo o próximo ao ver ou saber de alguma atitude?

Ore: Senhor, mostre para mim as minhas falhas com a mesma velocidade que aponto a dos outros.

 

 

17. O que vão pensar de mim?                        

Em vindo a soberba, sobrevém a desonra, mas com os humildes está a sabedoria A integridade dos retos os guia; mas, aos pérfidos (falsos), a sua mesma falsidade os destrói (Provérbios 11.2-3)

 Que somos orgulhosos é fato. Viver uma vida marcada pelo orgulho e insistir neste pecado em nada nos ajudará. Muito pelo contrário, pode ser que o orgulho nos leve para uma espiral decadente, um poço cada vez mais fundo. Por exemplo: se retrocedermos apenas dois estudos, lembraremos que nosso orgulho nos impede de aceitar críticas e admitir culpa. O passo seguinte, então, é jogar a culpa nos outros. Tudo isto por quê? Simplesmente porque o orgulho tem uma auto-imagem a zelar!

Sentir dificuldades em compartilhar nossas fraquezas espirituais com outras pessoas é um indicativo de que o orgulho está imperando. Quando testemunhamos que é Deus o autor de uma vida vitoriosa, apesar de quão miseráveis pecadores somos, mudamos o foco do Eu para Ele; deixamos de agir com dissimulação, de fingir que não temos pecado algum em nossa vida para testemunhar que somos salvos única e exclusivamente pela Sua graça.

Porém, a pessoa orgulhosa fará qualquer coisa para que os outros não descubram coisas negativas a respeito dela. O motivo disto tudo é um só: somos tão preocupados com as opiniões alheias que acabamos gastando muita energia trabalhando para sustentar nossa imagem e reputação. E isto está muito longe da preocupação sadia em manter um bom testemunho. Muitas das nossas decisões são baseadas naquilo que os outros pensam. Nossa preocupação em ganhar a aprovação e estima dos outros, em focalizar no que os outros pensam sobre nós ou em tentar impressioná-los, mostra que estamos mais inclinados agradar a homens do que a Deus. Paulo sabia que vida cristã autêntica nada tinha a ver com ser politicamente correto. Ele demonstrou isto na sua exortação aos gálatas:

 Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo. (Gálatas 1.10)

O antídoto para este mal já foi receitado há muito tempo. Lemos, sabemos, mas não o tomamos. Foi o próprio Senhor Jesus quem nos receitou: Creia em mim, e ame ao próximo como eu vos amei. Leia o Evangelho de João atentando para isto. (Ver tbm I João 3.23)

Creia em mim: A pessoa humilde vê Cristo como sua vida e seu primeiro amor. Não há outra coisa ou pessoa além de Cristo. Durante todo o dia o humilde conversa com Cristo e o louva com frequência. Para nós, o viver deve ser Cristo e morrer, lucro (Fp 1.21).

Ame ao próximo como eu vos amei: Significa preferir os outros a si mesmo. A pessoa humilde deseja honrar os outros, sem levar em conta, primeiramente, sua própria imagem, seus direitos e interesses (Rm 12.10).

Viver o amor que Cristo nos ensinou, nada tem a ver com o quanto nos amamos (preocupados com a nossa imagem), mas com quanto e como Ele nos amou, dando sua própria vida por nós.

Definitivamente, viver uma vida baseada na falsidade e na hipocrisia, para manter intacta a nossa imagem não é o que Deus planejou para nós. Precisamos nos preocupar mais em ser sinceros e verdadeiros, importando exclusivamente em agradar a Deus.

Reflita... Provérbios 28.13 diz que “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”. Como posso aplicar esta verdade na minha vida? Sou aberto e transparente em relação às minhas dificuldades? Reconheço minha culpa? Sou integro ou dissimulador?

 Ore: Senhor, ensina-me ir além de reconhecer meus pecados. Ajude-me a confessá-los. Dá-me ainda a vontade, a coragem e a determinação para abandoná-los.  Que meu prazer esteja apenas no Senhor.

 

 

 

 18. Isto eu não perdôo!                                   

“... perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal.” (Mateus 6.12-13)

O espírito de orgulho, enquanto ativo, tende a ser o rei absoluto de todas as características negativas e destrutivas que podem constar de nossa personalidade. Como parte do processo de santificação (que Deus deseja ver plenamente operante em cada um de nós), o Espírito Santo nos auxilia a vencer ou evitar qualidades negativas em nossa personalidade, a começar pelo orgulho. Mas, conforme vimos, ninguém está a salvo e imune a ele. Todos os cristãos, jovens e velhos, “super-santos” ou não, têm que manter vigia constante sobre este pecado mordaz, e fazer tudo para impedir que esse mal se estabeleça e em nossas mentes e corações.  

Aprender a perdoar é condição sine qua non para crescer na graça de Cristo. O orgulho se contrapõe ao perdão. Não perdoar é orgulho puro, e ainda não consegui definir qual dos dois causa o outro, e nem diferenciar um do outro.

A pessoa orgulhosa raramente (para não dizer nunca, jamais) admite seus pecados ou pede perdão aos outros. Não vê ou não admite seus pecados porque está cega pelo seu orgulho ou, simplesmente, porque não deseja humilhar-se diante do outro e lhe pedir perdão. Elas sempre esperam que o outro peça perdão em situações conflituosas ou em mal entendidos, pois tem muita dificuldade em dizer: “Eu estava errada, você me perdoa?” Ao invés disto agem como quem diz: ”Eu me rebaixar e ir até ele para acertar a situação? Jamais!”

Preste bem atenção no que Jesus ensinou, e veja se pode aplicar em sua vida:

 Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta. (Mateus 5.23-24)

Interessante este mandamento: a reconciliação deve partir de você. Se você se lembrar (e o Espírito Santo o lembrará), deixe de lado suas demonstrações de espiritualidade no culto público e vá se reconciliar com teu irmão, senão (creio que posso concluir) a sua oferta de louvor e adoração não terá valor nenhum para Deus.

A questão do perdão é tão séria para Deus, que em outra passagem Jesus conta uma parábola que expressa muito bem a nossa situação diante do Senhor (Leia Mateus 18.21-35).  Quando não perdoamos, somos exatamente como aquele servo mau. Pense bem neste final:

Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?

O que Deus espera de nós? Presteza em perdoar e pedir perdão! Não vacile, humilhe-se, se for necessário. O humilde se mostra pronto a perdoar porque sabe o quanto tem sido perdoado. Ele não tem problema em pedir perdão porque o desejo ardente de seu coração é ser um pacificador. Vale a pena guardar as palavras do apóstolo em Colossenses 3.12-14:

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.

 Reflita... Tomo a iniciativa da reconciliação quando há um mal-entendido ou conflito nas minhas relações? Sei pedir perdão? Faço isto, quando necessário? Em benefício do Reino?

Ore: Senhor, que o ensino e modelo de perdão incondicional de Jesus seja o meu parâmetro para perdoar. Assim como Tu me perdoaste em Cristo, assim também eu possa perdoar – incondicionalmente – aqueles que de alguma forma me ofendem ou ofenderam no passado



19. Não fiz nada demais...                             

 “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.” (Leia Lucas 18.9-14)

 Trabalhei alguns anos no departamento de solos de um instituto de pesquisas agrícolas. Havia no laboratório um equipamento chamado peneira granulométrica, que servia para estudar a estrutura física dos diferentes tipos de solo. Ele era composto de uma série de seis peneiras que se encaixavam umas sobre as outras, sendo a malha mais aberta a de cima e a última de baixo uma malha ultrafina. Um torrão de terra era colocado na primeira peneira e, quando o aparelho era ligado, começava a vibrar, e os agregados de vários tamanhos que passavam pelas diferentes malhas iam sendo separados, ficando os maiores em cima e os menorzinhosem baixo. Porfim, daquele torrão, a única coisa que caía na latinha de baixo era apenas um pozinho fino semelhante a um talco. O resto ficava retido naquelas seis peneiras. Era interessante notar que, a olho nu, não conseguíamos distinguir a diferença entre este pozinho da lata e os minúsculos grãos que ficavam na peneira mais fina, logo acima.

Estou contando isto, pois quero fazer uma analogia desta peneira granulométrica com a nossa “maravilhosa capacidade” de separar e classificar pecado. Penso que temos apenas uma, ou no máximo duas malhas diferentes, que seriam correspondentes às duas mais abertas da peneira do laboratório. Embora declaremos que para Deus não existe pecadinho e pecadão, na prática agimos diferente. As consequências de tal mentalidade são desastrosas e influenciam diretamente a nossa forma de interpretar o mundo, julgar o próximo e confessar nossos pecados.

Por desconhecermos ou desconsiderarmos aqueles grãozinhos mais pequeninos, temos a tendência de confessar pecados de forma bem genérica e também de minimizar nossas falhas e fraquezas. Não estou bem certo se aqui nasce o orgulho ou se isto já é uma manifestação dele em nossas vidas. É difícil distinguir. Mas uma coisa é fato: uma pessoa tipicamente orgulhosa pensa que seu pecado não é tão importante. Ela sempre julgará que seus pecados são insignificantes e que os dos outros são muito graves, como aquele fariseu que orava no templo. Como somos todos pecadores, as pessoas orgulhosas precisam criar mecanismos para manter seus pecados encobertos através de desculpas, seja para os outros, para si mesmas ou até (pensam) para Deus (rsrsrsrs).  

- Ih, também faço isto!?!? (...) Todos fazemos!

Arrepender-se dos pecados é o primeiro passo para alcançar um coração humilde e quebrantado. Mas como podemos nos arrepender sem reconhecer e admitir nosso pecado? Lemosem I João1.10:

 Se dissermos que não temos pecado, fazemos Deus mentiroso, e a sua palavra não está em nós..

 Pense na gravidade desta atitude! Uma pessoa humilde reconhece seus pecados (mesmo que seja um grãozinho), confessa-os a Deus e trabalha por uma mudança de vida autêntica. No final deste devocionário há um apêndice chamado “Guia de confissão.” Use-o para avaliar-se regularmente e confesse (homologue diante de Deus!) até o grãozinho mais fininho que você possa encontrar.

 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. (I João 1.9)

 Reflita... Reconheço e confesso meus pecados de forma específica? Importo-me com o fato das pessoas tomarem conhecimento de que também erro?                     

 Ore: Senhor, faça-me perceber que muitas das minhas atitudes corriqueiras demonstram o mal que habitaem mim. Que o meu viver seja marcado pelo fruto do Teu Espírito e não pelas obras que minha carne produz.

 

 

 

 20. Não preciso disto...                                 

 Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. (1 Coríntios 11.1)

O que você pensaria se ouvisse algum irmão ou irmã dando o seguinte testemunho:

- Eu, eu mesmo, sou um exemplo vivo de vida cristã autêntica. Se todos os crentes do mundo fossem iguais a mim, a igreja seria um exemplo de fé e bondade, amor e santidade; verdadeiramente sal e luz do mundo. Ah, se todos os crentes fossem como eu sou...

Cheira a soberba, não é? Algum de nós pode fazer tal afirmação? Mas pense se no fundo de nossos corações não achamos isto de nós? Digo isto porque se agimos como agimos e continuamos agindo assim, é porque acreditamos fielmente que agimos certo e podemos ser um modelo a ser seguido. Senão, deveríamos desesperadamente procurar mudar de vida.  

Olhando para o versículo acima, podemos questionar: Paulo pensava assim? Era soberba da sua parte? Creio que não. Primeiramente, neste contexto, Paulo coloca-se como referencial para aqueles irmãos que não conheceram Jesus pessoalmente. Temos necessidade de referenciais. O apóstolo sabia disto e cita em outra carta:

Meus irmãos, continuem a ser meus imitadores. E olhem com atenção também os que vivem de acordo com o exemplo que temos dado a vocês. (Filipenses 3.17)

 Ou seja, bons exemplos, devem ser observados e seguidos. Ademais, ao longo deste devocionário, vimos dezenas de citações que este apóstolo fez que mostram o que se passava em sua mente e coração. Temos, por exemplo, as constantes exortações de mutualidade “uns aos outros” ou “uns pelos outros”. Paulo não só falava, mas demonstrava com sua própria vida.

Diferentemente, o orgulhoso crê que não precisa de restauração. Tem certeza que todas as outras pessoas precisam, mas ele não! Então, se compara com os outros, e sente-se digno de honra. Vale a pena lembrar a atitude dos fariseus naquele episódio com o cego de nascença:

 -Tu és nascido todo em pecado e nos ensinas a nós? (Leia João 9.1-34)

O orgulho permeia todas as áreas da nossa vida, inclusive nossas orações. Estas são reflexo dos desejos e anseios do nosso coração. Portanto, um coração orgulhoso poderá refletir dois tipos de atitude:

1. Não orar: A maioria das pessoas orgulhosas ora pouco, se é que oram. São tão auto-suficientes que pensam não precisar de Deus para nada.

2. Não orar como convém: O problema aqui não é falta de oração, mas a falta de oração bíblica. A pessoa orgulhosa, quando ora, centraliza suas orações em si mesma e em seus desejos e necessidades, em vez de centralizá-las em Deus e nos outros.

Novamente, vale a pena lembrar a oração do fariseu em contraste com a do publicano (Lucas 18.10-14), em contraste as muitas orações de Jesus e de Paulo registradas na Palavra.

Um coração humilde e contrito deve refletir em orações bíblicas e altruístas. A pessoa humilde quer adorar a Deus e se vê totalmente dependente dele para capacitá-la, para transformá-la no que for preciso. Visto que a pessoa humilde se vê como alguém necessitada, ela ora frequentemente. John Owen disse: “Não podemos ter qualquer poder vindo de Cristo, a menos que vivamos na convicção de que nada temos de nós mesmos”

Reflita... Com quem eu me comparo? Com a santidade de Deus ou com “publicanos pecadores”? Posso dizer que sou um referencial a ser seguido? Qual é o teor principal das minhas orações? Clamo por mudanças no meu caráter ou me incomodo mais com os outros?

Ore: Senhor, dependo de Ti para fazer a Tua vontade, para ser sal e luz no mundo, para ser testemunha da Tua Palavra e não promotor da minha identidade.

 

 

21. E se descobrirem?                                   

Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. (Leia Salmos 32.1-6)

 Somos conhecedores do bem e do mal. Este “prêmio” da desobediência foi justamente a proposta do tinhoso aos nossos avós. A partir de então, tudo neste mundo tem sempre dois lados: um bom e um mal. Tudo mesmo!  Até o manter um bom testemunho pode se apresentar como sendo uma coisa boa mas ocultar o mal (hipocrisia). E sabe o que macula esta nobre batalha? Pois é, ele mesmo... O orgulho está presente nas nossas ações, nas nossas decisões e vai além. Ele influencia até nossas intenções mais profundas, ou seja, o orgulho também diz respeito às motivações mais ocultas do nosso coração.  Não foi à toa que Salomão aconselhou em Provérbios 4.23:

 Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida.

Um coração contaminado com orgulho certamente contaminará todo o curso da nossa vida. Um pouco mais adiante, lemos no mesmo livro (Pv 6.16-19) uma listinha de coisas abomináveis ao Senhor:

Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos.

Note que começa com orgulho, mas abrange todas as áreas vitais do nosso ser: olhos, língua, mãos, pés e coração. Este mal pode denegrir tanto nossa alma a ponto de comprometer totalmente nosso estilo de vida, direcionando todos os nossos pensamentos e atitudes. Ao chegar neste ponto, querer sustentar um bom testemunho não passa de farsa e hipocrisia. 

Pessoas orgulhosas não estão preocupadas em manter uma vida íntegra perante Deus, mas somente a aparência diante dos homens; temem serem descobertos e as consequências que isto acarretará.  Quando isto ocorre, o orgulhoso pode apresentar muitas desculpas, como, por exemplo, “Eu estava cansado, vulnerável por causa disto ou daquilo” ou “Eu estava num dia muito ruim” e por ai vai. Ele jamais admitirá estar errado. Suas defesas serão contemporizar para encontrar a desculpa ideal, ou então procurar explicar as causas de seus atos para tentar justificar-se. Mais uma vez, recorremos para a Palavra de sabedoria:

O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia. (Provérbios 28.13)  

 Talvez Salomão tivesse aprendido com as experiências e os escritos de seu pai Davi (refiro-me aos Salmos 32 e 51 especificamente). Apesar de tudo o que ele fez, a Bíblia chama Davi de “um homem segundo o coração de Deus.” Sabe por quê? Porque Davi tinha um espírito pronto a admitir e disposto a aprender (Leia II Samuel 12.1-7).

A pessoa humilde tem consciência de seu pecado; que não pode confiar na sua própria carne; que ainda não atingiu a perfeição (nem atingirá nesta vida); que não sabe todas as coisas, e quando ela pensa que está certa, mostra-se disposta a considerar que pode estar errada. A pessoa humilde também sabe que Deus pode usar qualquer um para ensiná-la.

 Reflita... Procuro a integridade diante de Deus ou apenas manter as aparências? Peço para Deus sondar meu coração para trazer à tona a verdadeira motivação das minhas atitudes? Consigo distinguir uma motivação orgulhosa?  Aprendo com outros irmãos?

 Ore: Senhor, que eu nunca me engane ou me iluda com minha aparente justiça. Não permita que sustentar máscaras seja minha principal ocupação.

 

 

 22. Ih, sujou!                                                 

 Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi. Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. (Genesis 3.11-13) 

A prática da dissimulação é mais antiga que nós pensamos. Lembre-se que nossos avós utilizaram esta tática há milhares de anos. É o orgulho agindo no flagrante delito. Eu explico. Como vimos, o orgulhoso (crente) faz de tudo para demonstrar uma aparência de santidade, mesmo levando uma vida miserável de pecado. Sua preocupação não é esforçar-se para manter sempre uma “consciência pura diante de Deus e dos homens” (At 24.16), mas sim esforçar-se para não ser pego e ter sua auto-imagem maculada.

Dissimular significa não deixar aparecer; encobrir, fazer parecer diferente; disfarçar; fingir, exatamente como Adão e Eva fizeram, como seu filho Caim fez (Gn 4.9) e como nós fazemos hoje em dia quando somos confrontados.

Nosso orgulho não admite o arrependimento e a confissão e impede que se admita a falha mesmo quando o pecado é evidente. Nosso orgulho só permite o arrependimento quando o pecado é descoberto. Nosso orgulho é desrespeitoso e resiste à autoridade até o fim!

Uma evidência deste orgulho é detestar que os outros lhe questionem ou confrontem. Podem até dizer que se trata de um problema de submissão, mas, na realidade, o que temos é um problema de orgulho que está se revelando em falta de submissão.

Romanos 13.4 diz que “as autoridades são ministros de Deus para nosso bem” (leia Rm 13.1-5 e I Pe 2.13-17), por isso devemos ser alegremente submissos e obedientes àqueles que estão em posição de autoridade. A pessoa humilde é, antes de tudo, obediente a Deus e, consequentemente, às autoridades constituídas sobre ele (quando íntegras e justas) principalmente em uma situação de confrontação ou exortação pelo pecado. Genuinamente arrependidas de um pecado, o abandonam. Existem três maneiras de vencer o orgulho nesta situação, e devem ser tomadas preferencialmente em conjunto:

1. Humilhe-se. Em Tiago 4.6 lemos que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” Reconheça e confesse a Deus os seus pecados, sobretudo o orgulho. Coloque-se diariamente diante dEle em oração confiante da sua misericórdia. 

2. Peça a Deus por um espírito de humildade e gratidão. Leia Filipenses 2.3-11 e faça deste exemplo o seu estilo de vida. Entenda que sem a graça de Deus, nunca iremos nos desvencilhar de nossas ilusões. Peça a Deus para quebrar o seu orgulho e vaidade com o que for preciso: confronto, doença, perdas, ou até humilhação... É muito difícil pedir estas coisas, principalmente quando vivemos num meio que prega: “Deus está aí só para nos proporcionar prazer, saúde e prosperidade.”

3. Seja grato a toda e qualquer pessoa. Sejam autoridades (políticas, militares, eclesiásticas), sejam irmãos ou até mesmo aqueles que nos servem (o frentista, o caixa, a faxineira). Trate a todos igualmente com respeito, procurando amá-los e respeitá-los sempre. Porém, trate de modo especial aquelas pessoas que Deus coloca na nossa vida para nossa edificação.

É notório como alguns crentes podem sentir-se desconfortáveis ou até mesmo ficar ofendidos com estas coisas, porém, quanto mais elas nos ofenderem, é sinal de que mais orgulho abrigamos em nossos corações.

 Reflita... Abrigo “pecados de estimação” nos recônditos do meu coração? Qual seria minha atitude diante de uma confrontação? Reconheço autoridade em meus pastores e líderes como dadas por Deus?

Ore: Senhor, não permita que meu orgulho predomine diante de uma confrontação. Dê-me humildade para reconhecer os agentes que o Senhor coloca em minha vida para o meu aperfeiçoamento.

 

 

23. Eu mereço o melhor!                                    

“Deus foi bondoso com Ezequias, mas ele não lhe agradeceu, pois era orgulhoso. Por isso, Deus ficou irado com ele...”  (II Crônicas 32.24-25, NTLH)

 Um pastor amigo meu contou-me que houve um momento em sua vida em que ele e sua família passaram muita necessidade financeira, a ponto de não ter dinheiro nem para pegar um ônibus. Todos os dias ele fazia o percurso a pé de casa para o escritório da missão onde trabalhava, e aos domingos andava cerca de cinco quilômetros para chegar até a igreja. Um dia, um missionário colocou dez reais em seu bolso e disse:

- Recebi uma oferta de vinte reais, e quero dividir com você!

Meu amigo pastor, cheio de orgulho, retrucou:

- Que é isso... não precisa!

- Tá bom! E no mesmo instante, o missionário puxou os dez reais de volta. No final da tarde, na hora de ir para casa, meu amigo rodeava o missionário, enfatizando que estava indo embora, mas este apenas respondia com um calmo e educado “Até manhã”. Naquela tarde, o pastor foi para casa a pé, irado, inconformado, praguejando e chutando tudo o que encontrava pela frente.

No dia seguinte, já no escritório, o missionário perguntou:

- Como você foi para casa ontem? E o pastor, ainda ressentido, respondeu:

- Que pergunta... Você sabe que eu fui a pé! Então o missionário concluiu:

- Ontem eu fui abençoado com uma oferta, e quis abençoá-lo também, mas você rejeitou dizendo que não precisava. Enquanto você não abandonar seu orgulho, estará impedindo Deus de agir na sua vida.

A sutileza do veneno do orgulho é comparável a uma infiltração que aos poucos encharca toda nossa alma. O orgulho nos cega em relação à verdadeira condição de nosso coração e fatalmente nos leva a sermos pessoas ingratas.  Assim, habitualmente pensamos ser merecedores de tudo o que há de bom e melhor (pense como o marketing secular sabe explorar muito bem isto). O resultado disto é que passamos a não ver nenhuma razão para agradecer por aquilo que recebemos, caso não esteja na medida em que esperamos. Na realidade, somos queixosos porque sempre nos consideraremos dignos de maior honra e, consequentemente, deixamos de ser gratos a Deus e aos outros por aquilo que recebemos.

Há ainda mais uma nuance percebida nisto tudo. Pelo fato do orgulho nos cegar, acreditamos firmemente que não há nada do que se arrepender ou mudar em nossas vidas, os outros é que precisam melhorar suas condutas e olhar para nós como merecemos.

Se quisermos cultivar um coração humilde, devemos primeiramente aprender a nos maravilhar com a graça e a bondade imerecidas vindas da parte de Deus. O Salmo 116.12 nos dá um exemplo:

 Que posso eu oferecer a Deus, o SENHOR, por tudo de bom que ele me tem dado?

A pessoa humilde reconhece a misericórdia e a graça de Deus em sua vida. Misericórdia porque Deus não dá aquilo que nós merecemos (o inferno!); e graça, porque Deus nos dá muito mais do que merecemos. Um coração humilde é sempre grato: sabe perdoar porque Deus tanto nos perdoou e sabe dar porque tanto tem recebido de Deus. Ainda que para alguns pareça pouco...

Reflita... Procuro cultivar um coração continuamente contrito e quebrantado? Reconhecer minha necessidade de constante avaliação, sondagem, e dependência do Espírito Santo de Deus? Sou grato por tudo o que Deus tem me dado?

 Ore: Senhor, muito obrigado por trabalhar em minha vida. Pai, eu te peço que, continuamente estejas fazendo a Tua obra em mim, através de mim e a pesar de mim mesmo. Que o Senhor me faça compreender o quanto dependo de Ti e do Teu Santo Espírito para completar a obra que o Senhor Jesus começou com Sua morte na cruz, e que me salvou. Que um santo incômodo se aposse de minha vida cristã para que eu não me acomode nem me conforme com o que o mundo espera que eu seja.

Em nome de Jesus!

 

Guia de confissão

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno." (Salmo 139:23)

 SOBERBA Sentimento engrandecedor no tocante a sucesso e posição, boa educação e boa aparência, talentos e capacidade naturais; mentalidade de quem se considera importante; predileção por elogios e honras; secreto desejo de ser notado; preferência por governo e domínio visíveis; intenção de, na conversação, chamar habilmente a atenção sobre si.

 TEIMOSIA Espírito teimoso e incorrigível; constantemente quer discutir e fazer objeções; forma de expressão dura e sarcástica; atitude obstinada e irreconciliável; modos impertinentes e senhoris; deixar-se demover apenas com lisonjas; pedantismo; expressões de aborrecimentos e impaciência; facilidade de se ofender e melindrar-se; posição ofendida e vingativa diante da contradição e crítica.

 IMPUREZA Permanente inclinação para o prazer carnal; confidência e familiaridade indevidas com pessoas do sexo oposto; idéias, pensamentos e atos impuros; fantasia contaminada; olhos ávidos de prazer; existência de algo no coração em que não se pode confiar, caso surjam condições suficientes e favoráveis; vício.

 INSINCERIDADE Contornar, virar, encobrir a verdade; esconder os próprios erros; esforço de causar impressão melhor do que seria compatível com a verdade; exagero; falsa modéstia; hipocrisia; inautenticidade nas motivações.

 MEDO Temor carnal perante pessoas; fugir de repreensões e deveres; desviar-se da cruz; medo de sofrer; temerosidade que se deixa paralisar por pessoas eminentes; tendência a contemporizar; e falsa reserva.

 CIÚME Inveja oculta no coração; sentimento desagradável frente a sucesso e prosperidade de outro; inclinação de falar mais de erros e falhas do que de capacidades e pontos positivos daqueles que são mais talentosos e benquistos; mentalidade sectária; mesquinhez na preferência de seu pequeno círculo de conhecidos; frieza e desamor diante dos que possuem opiniões e modos diferentes; retrair-se numa atitude de quem sabe sozinho ou sabe melhor, quando seria necessário testemunho em conjunto.

 AVAREZA Generosidade quando se trata da satisfação dos próprios desejos, sovinice no que se refere aos outros; má vontade de contribuir regularmente para a divulgação do Evangelho no próprio país ou em países distantes; roubar honra, tempo e bens dos outros.

 INCREDULIDADE Desânimo em tempos de muito trabalho e de oposição; falta de silêncio na fé e de confiança em Deus; tendência para preocupar-se, amedrontar-se e lamentar-se com necessidades, pobreza e providências divinas; cisma e dúvida; desconfiança e reservas diante da Palavra de Deus.

 INDIFERENÇA Falta de amor ao próximo; carência de vivacidade espiritual e fé,  tepidez na oração perante Deus; egoísmo; amor ao comodismo; nenhum amor e nenhuma preocupação por pessoas não salvas; fé sem alegria; verborragia; esterilidade.

 OMISSÃO Saber o bem que deve ser feito e não fazê-lo. Ter os mandamentos, mas não guardá-los. Não retribuir bens, honra, direitos do próximo. Não testemunhar. Não cumprir o "em tudo dai graça". Não dar de comer, de beber, acolher, vestir, visitar "como cristão". Ser conivente com a iniqüidade. Abrigar a preguiça, a covardia, fugindo do caminho da cruz.

 IDOLATRIA Colocar a minha segurança quanto ao futuro em coisas/pessoas que não Deus. Consumismo. Abrigar imagens mentais idolátricas. Tentar "domesticar" Deus através de rituais, tradições, preconceitos, buscando ter controle sobre a minha vida e o mundo que me cerca. Negar os caminhos de Deus e tentar impor os meus caminhos para alcançar objetivos.

 Na obediência constante, na purificação cotidiana, na comunhão diariamente renovada com o Senhor Jesus, reside o segredo da pureza de coração, do poder espiritual e da autoridade para vencer o pecado e para servir os homens.