Os Ushers de POE à luz da narrativa POEtica Edgar Allan Poe (1809 –1849) é considerado um dos expoentes da literatura universal ao lado de outros contistas da estirpe de Maupassant e Tchekóv, sendo exaustivamente estudado por aqueles que se interessam pela teoria do conto. Poe, ao contrário do que deveria, não tem seu valor reconhecido por críticos norte-americanos. Foi ele, porém, o primeiro a perceber e a instituir a diferença entre um capítulo de um romance, um relato autobiográfico e um conto, afirmando que este se apóia inteiramente na sua intensidade, criando, assim, uma unidade de efeito. É considerado por muitos o criador do conto e, em particular do conto de horror. Segundo Baudelaire e Cortázar, esta relutância norte-americana em aceitá-lo como membro do grupo dos gênios contísticos dá-se pelo fato de seu grau de cultura estar bem acima da média da dos seus contemporâneos, esbarrando, assim, em uma certa ignorância. À recusa em aceitar a genialidade literária de Poe, estes dois críticos também somam a preferência dos críticos e, principalmente, leitores da época por um estilo mais leve, sem tantas pitadas de estratégia, grotesco, horror, morbidez e macabrismo. Embora estes sejam elementos de toda a obra poeana, não se pode desprezar o lado poético que ela abrange. Por também ter sido poeta, Poe utiliza a própria poesia dentro de alguns contos e elementos poéticos em outros. Muitas vezes, ele faz uso de ambos. Suas personagens também são poéticas, mesmo que elas sejam sombreadas pelo horror ou pelo macabro: quase todas elas são egos perdidos, em uma busca obsessiva de identidade ou de algo que não sabem definir exatamente. Tal busca já é poética em si só e, em Poe, esta busca se faz solitária, melancólica e angustiante. É a presença do homem visto pelo próprio homem em sua solidão maior.