A filha do negociante de cavalos é uma obra do inglês D.H. Lawrence (1885-1930); romancista, contista, crítico, poeta e pintor, uma das maiores figuras da literatura inglesa do século XX. A obra possui um narrador heterodiegético-auctorial, ou seja, aquele narrador que sabe de tudo, que comenta, que explicitamente explica a ação. Como podemos observa no trecho a seguir: He finished his duties at the surgery as quickly as might be, hastily filling up the bottles of the waiting people with cheap drugs.(pág. 158)

O fato de o narrador começar o conto com a descrição dos três irmão sentados a mesa, tristes, sem assunto e ao mesmo tempo descrever a casa como também sendo um lugar triste e sombrio naquele momento, pode ser interpretado como a importância, ou melhor, a falta que a mãe, ou seja, a mulher faz a casa, a família. Podemos interpretá-la como o porto seguro de todos, pois foi este um dos motivos pela qual todos, em especial a Mabel, se encontram em tal situação. Então com a falência e a falta da mãe ela se sente desprovida de poder e segurança, exposta a um mundo que ela desconhece, no qual é incapaz de viver sem seu status financeiro. A relação da Mabel com o mundo exterior era antes baseada no orgulho caracterizado no dinheiro, e após a morte de seu pai, ficara  sem ele e cheia de dividas, Mabel está ameaçada, não tem mais poder e segurança. Para ela o dinheiro representa algo mais importante do que família ou sua própria educação. Mabel que tem como características básicas o orgulho animal e falta de pensamento; que é muito mais instinto que racionalidade, por isso busca refúgio no cemitério, no túmulo de sua mãe. Nesse caso o cemitério, aqui, teria um significado contraditório da realidade, pois quando ela estava no cemitério se sentia bem, é como se ela passasse a ter vida ao se encontrar em tal ambiente, para ela  o mesmo funciona como uma fuga da realidade que ela não quer aceita. Ela acaba criando um mundo interno, onde aquele espaço associado a morte, para ela representa um lugar seguro, longe daquele mundo externo, um lugar na qual ela está longe dos olhares alheios, onde poderíamos comparar o cemitério a um útero, ou seja, lugar seguro junto a mãe. Como podemos observar na seguinte passagem:

There she always felt secure, as if no one could see her, although as a matter of fact she was exposed to the stare of everyone who passed along under the churchyard wall. Nevertheless, once under the shadow of the great looming church, among the graves, she felt immune from the world, reserved within the thick churchyard wall as in another country.(pág.: 157)

Não sentindo-se satisfeita Mabel vai ao lago para morrer. Aqui, o lago pode ser interpretado como um portal para o mundo da mãe, ou seja, a morte. Sendo assim, o lago, assim como o cemitério, representa o útero, a tentativa de fugir da realidade, de sentir-se segura, amparada, uma busca de aconchego. Com esse intuito ela se direciona a um lago, de águas sujas e escuras, seu instinto animalesco é agora regido pela vontade de morrer, e a única maneira de conseguir isso é tentar acabar com sua própria vida naquela água escura do lago e consequentemente conseguir entrar no mundo interior, pois o lago simboliza o portal para tal mundo. O medico não entra no cemitério, mas no lago sim, com isso o médico está adentrando no mundo feminino, um mundo que não conhece e que ele não sabe o que fazer. Também que as águas escuras desse lago simbolizam a "placenta" e que no momento na tentativa desesperada de tirar a própria vida, ela é salva pelo Dr. Fergusson,. Observe a seguinte passagem:

He crouched a little, spreading his hands under the water and moving them round, trying to feel for her. The dead cold pond swayed upon his chest. He moved again, a little deeper, and again, with his hands underneath, he felt all around under the water. And he touched her clothing. But it evaded his fingers. He made a desperate effort to grasp it. (pág.:160)

Por fim, Mabel se encontra na casa do médico, recebendo os cuidados necessários. Ao acordar ela percebe que está sem roupas, apenas embrulhada a um cobertor. Despida ela renasce e o tirar das roupas simboliza entende-se como pessoa.

Ainda podemos dizer que essa fuga da realidade que ela tanto buscava é consumada com amor que Fergusson demostra sentir por ela. É nesse amor que ela encontrará seu porto seguro, o aconchego que ela tanto queria, sua segurança emocional e financeira.

                       

LAWRENCE, D. H. “ The horse Dealer’s Daughter. In: The Penguin Book of English Short Story. Ed.: Christophe Dolley harmondsworth: Penguin,   1994[1967], pp 150- 167

http://www.literature.org/authors/lawrence-david-herbert/england-my-england/chapter-08.html Acessado em 10- 06-13