O REALISMO E O PARNASIANISMO EM MATO GROSSO

ORIGEM

O avanço tecnológico e científico, o comércio e a indústria, os novos inventos e a nova filosofia, a mudança da mentalidade humana, os exageros do Romantismo, acabaram por trazer uma nova corrente literária: o Realismo. Acabava a época do sonho, da fantasia, da imaginação. Os homens tomaram consciência de si mesmo e do mundo.

O Realismo originou-se na França através de Gustave Flaubert que escreveu: "Madame Bovary" em 1857, lançando as bases da nova corrente.

Em Portugal ele apareceu entre uma briga "Questão Coimbrã". Feliciano de Castilho defendia o Romantismo e Antero de Quental - o Realismo.

CARACTERÍSTICAS:

O Realismo é a corrente que se baseia em fatos reais, na razão, na ciência. Em seus textos sobressaem variados detalhes, nomes e lugares vulgares, personagens simples da vida corriqueira, materialismo, relação com a natureza, comparação, temas bem atuais. Além disso apresenta um estilo simples e direto, com uma narrativa lenta. Usa também de observação, da análise e da crítica.

EM MATO GROSSO:

Talvez tenha sido a época mais fértil de bons escritores em Mato Grosso. Surgindo por volta de 1890, o Realismo veio com muitos personagens estranhos ao nosso meio. Eles vieram enriquecer o nosso contexto cultural e principalmente o meio literário. Assim é que vamos encontrar escritores e poetas como: Rosário Congro, João Briene de Camargo, Maria Úrsula dos Santos Costa, Otávio Cunha Cavalcanti, Frederico Augusto Prado de Oliveira(Zé Capilé) e muitos outros.

Época em que circulou por nosso Estado alguns bons jornais. Entre eles podemos citar: "O Clarim", "O Rebate", "A Reação" (este era impresso no Paraguai) e outros.

PROSA:

A historiografia continua despertando o interesse de nossos escritores. Literariamente tivemos dois bons escritores: José de Mesquita e D. Aquino Correa.

As obras de Mesquita ainda estão impregnadas de fatos históricos. Ele fala da gente, coisas, folclore, problemas de nosso povo e de nossa terra. Percebemos isto em seus contos e romances. Destacamos aqui: "A cavalhada", "Espelho das almas", "Piedade", "Gente e coisas de Antanho", entre outros.

D. Aquino Correa foi, sem dúvida, o escritor mais importante do nosso Estado. Além de escrever, ajudou o Estado em muitos outros ramos da cultura e da política.Entre suas obras temos: "Uma flor do Clero Cuiabano", cuja personagem central muito impressionou D. Aquino. Recentemente a Arquidiocese de Cuiabá publicou "Pétalas do Evangelho", recolhendo inúmeros artigos de extraordinária beleza de nosso "Príncipe das Letras".

POESIA:

Uma das principais fases da literatura de nosso Estado. A época mais rica e fértil de nossos poetas. Sobressai nessa fase uma poesia de escárnio, ou seja, satírica. O principal deles ( o pior para alguns) foi Frederico Augusto Prado de Oliveira - Zé Capilé. Ele deu muitas dores de cabeça a presidentes e políticos do Estado. Veja, por exemplo, este modelo:

"uma coisa mi bule n?ispinha
I mi dá um tremô na pacuera
É num vê meus patrício ninhum
qui mereça justiça - divera!

Só si vê a canaia di baxo
Pau rodado qui aqui incaiô
Priquitada im redó du governo
A xupá todo nosso suô."

Mas é em Otávio Cunha que vamos encontrar verdadeiras obras primas na poesia. Seus poemas, quase sempre Alexandrinos, demonstram muita sensibilidade, muita emoção.Destaque especial para o amor, mostra também muita religiosidade e amor pela terra. Preocupa-se com as pessoas simples e sofridas. Mas suas obras não esquecem o nordeste, berço do autor. Encontramos algumas características Românticas também nas obras de Otávio Cunha. Foi o homem que escreveu os mais belos poemas em nossa terra. Vejamos este exemplo:

COXIPÓ
Ontem foi meu prazer vê-lo tristonho,
Movendo o corpo muito branco e esguio...
Quase a dormir, para lembrar num sonho,
Lutas que teve para ser um rio!

E hoje porque choveu a quem, suponho,
Amanheceu a gritar, ficou sombrio...
E aquele rosto angélico e risonho
Tem tão feia expressão, que me dá frio!

O Coxipó... estando limpo e calmo,
no seu leito de pedras e segredos,
é um frade a olhar o céu rezando um salmo.

E cheio... um monstro real de ódios vetustos...
- Se eu fosse tu... matava os arvoredos,
Mas pouparia os tímidos arbustos.

Arnaldo Serra deixou-nos muitos versos espalhando a natureza pródiga da terra cuiabana, a beleza de suas colinas, de seus rios, dos pescadores, de nossos bosques.

Ulisses Cuiabano, além de folclorista, deixou-nos importantes poemas, já impregnados de elementos novos(Modernismo). Foi o único no Estado a cultivar o Hai Kai, a poesia japonesa, ainda bem que, com elementos novos, destacando as belezas de nossa terra. Sua obra "Grupiara" ainda encontra-se inédita.

José de Mesquita foi outro parnasiano importante que produziu muito nos mais diversos ramos da literatura. Foi a mola propulsora da Academia Mato grossense de Letras. Os poemas de Mesquita apresentam muitos fatos relacionados com nossa história. Porém o poeta apresentou também em inúmeras obras, características do Modernismo. Daí que, suas obras ficaram divididas entre o Parnasianismo e o Modernismo.Temos um belo exemplo de seu trabalho:

CUIABÁ

Meu carinho filial e meu sonho de poeta
Vêm-te, ó doce cidade ideal dos meus amores,
Em teu plácido vale, entre colinas, quieta,
Como um éden terreal de encantos sedutores.

Tuas várzeas gentis, estreladas de flores,
Sagram-te do Sertão a Princesa dileta,
E o Sol te elege, quando, em iris multicores
Na esmeralda dos teus palmares se projeta.

Nenhuma outra cidade assim à alma nos fala
Dos teus muros senis a tradição se escala,
E a nossa História inteira em teu Brazão reluz.

Ainda hoje em teu ambiente é minha Urbe querida,
Páira dos teus heróis a sombra estremecida
- Nobre vila Real do Senhor Bom Jesus!

D. Aquino Correa - um dos melhores poetas do Estado. Seus poemas são voltados para o lado religioso, fatos de sua terra natal.Apresenta um linguajar simples com profunda filosofia. O folclore está presente em seus poemas. Suas obras são ricas de paz e de amor. Bem mereceu o título recebido "Príncipe das Letras Mato-grossenses". Cognominou Cuiabá de "Cidade Verde" e foi o autor do Hino de Mato Grosso.

ALAVANCA DE OURO

Dizem que outrora, numa lavra funda,
Viu-se aqui, toda de ouro, uma alavanca:
Todos a querem, mas ninguém arranca,
e mais se cava, tanto mais se afunda.

Contudo, cavam sempre... E a ganga imunda,
Que nessa escavação as desbarranca,
Vai dando ouro, muito ouro, e não se estanca,
Té que o arraial feliz, de ouro se inunda.

Quanta sabedoria não encerra
Esta lenda gentil da minha terra,
Que ao trabalho e à constância nos convida!

Trabalha! Que o trabalho é o teu tesouro.
E será ele essa "alavanca-de-ouro,
Que há de elevar-te e enriquecer-te a vida!

João Nunes da cunha - mesmo no Parnasianismo o autor mostra muitas características Românticas. Escreveu pouco e deixou uma obra "Selvas". Na verdade, sua obra é parnasiana pela forma, mas romântica pelo sentido.

REALIDADE

Vai minha alma chorosa e solitária
Vivendo arcada ao peso das saudades...
E canta e gema em meio das maldades,
Da dor que neste mundo é sempre vária!

Tudo é fictício e leve. Mão falsária
Atirou-se ao negror das tempestades,
Onde passo tateando em soledades,
Entregue à luta do viver, diária!...

De misérias o mundo é um boqueirão!
Enquanto um ri-se, um outro na desgraça,
Lamenta a triste sorte, mas em vão...

Os bens da vida esvaem-se qual fumaça,
Fogem os nossos dias em botão,
Tudo define e morre, tudo passa!...

E assim tivemos uma verdadeira plêiade de poetas parnasianos. Entre outros podemos citar: Lamartine Mendes, Maria de Arruda Mulher, José Pena Vitá, João Jacob ( Jercy Jacob), Rosário Congro, Luiz Feitosa Rodrigues, Luiz Terêncio Figueiredo, Soter Caio Araújo, José Antônio da Costa, Carlos de Castro Brasil e muitos outros.

ORATÓRIA:

No Brasil o Realismo apresentou a oratória mais sólida.O período do apogeu. Daí para a frente ela decaiu novamente e hoje na literatura, ela praticamente desapareceu.

Mato Grosso possuiu um dos grandes oradores -José de Mesquita - defendendo os grandes homens e nossa história e D. Aquino Correa defendendo o lado Cristão.

D. Aquino foi o maior orador sacro do Brasil daquela época. Escreveu seus discursos, hoje publicados em três volumes.

Mas tivemos outros como: Olegário Moreira de Barros, Amarílio Novis,Francisco Bianco Filho e Filogônio de Paula Correa, além de outros.

HISTORIOGRAFIA REALISTA:

Matéria que sempre despertou o interesse dos mato-grossenses. Vindos do Romantismo e da fase anterior, eles continuaram escrevendo história. Nesta fase vamos encontrar muitos historiadores. Entre eles citaremos: Virgílio Correa Filho, Estevão de Mendonça, Nilo Póvoas, José de Mesquita, Francisco Alexandre F.Mendes, Generoso Ponce Filho, Caetano Manuel de Faria Albuquerque, Antônio Correa da Costa e outros.

AUTORES E OBRAS:

1.Otávio Cunha : Nasceu em Goiana, Pernambuco em 1884 e faleceu em Cuiabá em 1968. Formado em Direito pela Faculdade do Recife. Promotor em diversas cidades do Pará e Mato Grosso. Pertenceu à oficina literária "Martins Júnior" (Recife) e colaborou em vários jornais do Pará e de Mato Grosso. O poeta mais fértil do Estado. Suas obras ficaram distribuídas em jornais, sendo publicadas agora em dois volumes: "Sonetos", "Poemas".

2.D.Aquino Correa - Nasceu em Cuiabá em 1885 e faleceu em São Paulo em 1956. Estudou com os padres salesianos no Coxipó. Doutorou-se na Universidade Gregoriana de Roma. Foi presidente de Mato Grosso em 1918. Fundou o Instituto Histórico de Mato Grosso e a Academia Mato-grossense de Letras e resolveu questões de limites entre Mato Grosso e Goiás. Foi o único Mato Grossense a ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras sendo inclusive eleito presidente da mesma. Produziu muito nos mais diferentes moldes: "A fronteira de Mato Grosso-Goiás", "Odes", "Terra Natal", "Discursos", "Uma flor do clero Cuiabano", "Nova Et Vetera", "Florilégium Asceticum", "Pérolas Esparsas".

3.José de Mesquita - Nasceu em Cuiabá em 1892 e faleceu em 1961.Formado em Direito pela faculdade de São Paulo. Foi professor na Escola Normal e na faculdade de Direito de Cuiabá. Pertenceu a várias sociedades culturais daqui e de fora. Escreveu muito, usando várias formas. Entre suas obras temos: "Professoras novas para um mundo novo", "Gente e Coisas de Antanho", "Três poemas de saudade", "No tempo da cadeirinha", "Escada de Jácó", "Piedade", e outros.

4. Arnaldo Serra - Nasceu em Cuiabá em 1895 e faleceu no Rio em 1943. Agente Fiscal e Inspetor Fiscal do Imposto no Rio. Foi poeta e jornalista. Colaborou em jornais e revistas. Suas obras retratam a natureza e coisas íntimas de nossa terra e de nossa gente. Principais obras: "Páginas íntimas", "Aronitas", "Cenas de Minha terra" (Inédita).

5.Ulisses Cuiabano - Nasceu em Cuiabá em 1891 e faleceu em 1951. Formado em Ciências e Letras. Foi contador, poeta, professor e jornalista. Lecionou no Liceu Cuiabano e na Escola Normal Padre Celestino. Foi diretor do departamento de Educação e Cultura de Mato Grosso. Colaborou em diversos jornais e revistas do Estado. Suas obras encontram-se espalhadas nestes órgãos da imprensa. Deixou-nos um livro inédito: "Grupiaras".