RESUMO

Este artigo tem como objetivo fazer uma breve explanaçãoa obra regionalista, O Quinze, da autora Rachel de Queiroz. Estrutura-se, basicamente, em três pontos principais que tratam da vida da autora, de uma síntesede alguns dos trechos principaisdo romance regionalista e encerra-se com algumas considerações sobre ambos. É apresentado à disciplina de Literatura Brasileira II.

  • INTRODUÇÃO

O artigo em questão surgiu da necessidade de um maior aprofundamento de conhecimentos em relação à esplêndida obra regionalista de Rachel de Queiroz: O Quinze. Visto que esta foi de suma importância para a consagração da autora em todo o quadro literário, tanto brasileiro, quanto fora dele.

Por conseguinte, serão apresentados alguns fatos pertinentes à vida do autora, situando-a no cenário nordestino, apresentando-se fatos biográficos.  Ainda serão feitas explanações sobre a referida obra, sua estruturação e aspectos mais relevantes da narrativa. E, por fim, são feitas algumas considerações sobre ambos.

Certamente o assunto abordado neste trabalho, é de grande importância não só para estudantes e profissionais do curso de letras, mas sim de todos aqueles considerados amantes da literatura, principalmente acadêmicos, já que estão em busca de maiores conhecimentos na área. 

  • RACHEL DE QUEIROZ: SÍNTESE BIOGRÁFICA 

Rachel de Queiroz nasceu, em 17 de novembro de 1910, na capital cearense, e faleceu em 04 de novembro de 2003. Filha de Clotilde Franklin de Queiroz e Daniel de Queiroz, juiz de Direito na época, a escritora é parente do grande magnifico autor José de Alencar, por parte de sua mãe e por parte de seu pai sobrevém de uma família de raízes profundamente lançadas em Quixadá, cidade essa, que fez a família da autora fugir dos horrores da temível seca de 1915, para o Rio de Janeiro. Tal fato que seria mais tarde aproveitado pela autora como o tema de sua grande obra de estreia, o famosíssimo romance regionalista, O Quinze, no qual ganhou o prêmio Fundação Graça Aranha. Queiroz foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, foi também jornalista, cronista, romancista, teatróloga e tradutora.

  • O QUINZE: SÍNTESE NARRATIVA 

O livro é um dos mais conhecidos romance da autora e figura na literatura brasileira regionalista como um dos mais lidos, e teve sua publicação no ano de 1930 em Fortaleza.A obra descreve com exatidão a seca nordestina que ocorreu no ano de 1915, em Quixadá. Daí se explica o título do romance. Ainda é descrito a fome, a morte, a separação, a esperança, a humilhação, a revolta e a fé em Deus de que a vida de muitos sertanejos que estão emigrando para outras cidades, irá melhorar.

O “Quinze” está dividido em duas partes, a primeira delas, retrata a relação afetiva de Vicente, um criador de gado, um homem grosseiro e até mesmo selvagem e sua prima Conceição, uma professora culta, inteligente, educada, que busca a igualdade de gêneros. Os dois são apaixonados um pelo outro, mas por conta de alguns desentendimentos, a paixão entre eles, não é vivida. A moça acaba por descobrir que Vicente anda de namorico com uma caboclinha qualquer e se desencanta com o vaqueiro rude, porém, o mesmo não tem culpa, pois esse foi um namoro arranjado pelas suas irmãs e nem ele mesmo sabia que estava namorando. Conceição chateada, desabafa com a avó, na qual chama carinhosamente de mãe Nácia, porém D. Inácia tenta confortar a moça dizendo:“- Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores.” (Queiroz, 1937, p. 27).               

Notemos nessa pequena passagem que Dona Inácia tenta consolar a sua neta, mas Conceição não se conforma em saber que seu amado estava saindo com uma negra. No romance a autora também nos mostra o preconceito que Conceição tinha referente ao suposto namoro de Vicente, um homem branco e uma negra.

            Conceição se desencanta por completo de Vicente tornando-se fria com o vaqueiro grosseiro e o mesmo ao perceber sua indiferença, deduz que amor de verdade não existe. Então assim, a história dos dois termina por Conceição se convencer que realmente irá virá solteirona e o rapaz também acredita que o amor é uma grande ilusão.           

Na segunda parte da obra, sem dúvida a mais importante, a autora retrata a vida sofrida da família do humilde vaqueiro Chico Bento, retrata uma vida marcada de sofrimentos por conta da terrível seca. Chico Bento, sua esposa Cordulina e seus cinco filhos são expulsos pela seca e pela dona da fazenda onde o vaqueiro toma de conta e vão embora, em busca de novos horizontes.           

Logo em suas primeiras linhas, numa conversa entre Conceição e sua avó Inácia, a autora descreve a fé.           

“Depois de se benzer e de beijar duas vezes a medalhinha de São José, Dona Inácia concluiu: ”Dignai-vos ouvir nossas súplicas, ó castíssimo esposo da Virgem Maria, e alcançai o que rogamos. Amém.” Vendo a avó sair do quarto do santuário, Conceição, que fazia as tranças sentada numa rede ao canto da sala, interpelou-a: - E isto chove, hein, Mãe Nácia? Já chegou o fim do mês... Nem por você fazer tanta novena... Dona Inácia levantou para o telhado os olhos confiantes: - Tenho fé em São José que ainda chove! Tem-se visto inverno começar até em abril. Na grande mesa de jantar onde se esticava, engomada, uma toalha de xadrez vermelho, duas xícaras e um bule, sob o abafador bordado, anunciavam a ceia. - Você não vem tomar o seu café de leite, Conceição? A moça ultimou a trança, levantou-se e pôs-se a cear, calada, abstraída. A velha ainda falou em alguma coisa, bebeu um gole de café e foi fumar no quarto. A bênção, Mãe Nácia! - E Conceição, com o farol de querosene pendendo do braço, passou diante do quarto da avó e entrou no seu, ao fim do corredor. Colocou a luz sobre uma mesinha, bem junto da cama, - a velha cama de casal da fazenda - e pôs-se um tempo à janela, olhando o céu. E ao fechá-la, porque soprava um vento frio que lhe arrepiava os braços, ia dizendo: - Eh! a lua limpa, sem lagoa! Chove não!... (...). (Queiroz, 1937, p. 1)” 

Podemos ver nesse trecho que, a religião observada na obra é a católica e a personagem que mais demonstra a fé é D. Inácia. Queiroz nos faz ver quanta fé a avó de Conceição tem, mediante suas novenas, suas rezas, orações e confiança em São José, o santo que rega a esperança do sertão. Descreveu as crendices do povo nordestino. Por meio desse trecho, podemos ver não só a fé de D. Inácia, mas também o pessimismo da professora Conceição. Notemos que quando a moça diz: “- Eh! a lua limpa, sem lagoa! Chove não(...).” Daí podemos analisar uma crendice popular do povo nordestino e ao mesmo a descrença da moça.

Em seu romance, Raquel de Queiroz, busca chamar a atenção do público leitor ao relatar o drama, o sofrimento da família de Chico Bento, que padece com a tragédia da seca. Sofrem fome, sede, humilhação, cansaço, sofrem com a separação, o sol, o desabrigo e até mesmo com a morte.

Vejamos a seguir um trecho do romance regionalista onde o personagem Chico Bento diz: “- Que passagens! Tem de ir tudo é por terra, feito animal! Nesta desgraça quem é que arranja nada! Deus só nasceu pros ricos!”

            Nesse pequeno trecho, é notório uma certa revolta por parte de Chico Bento, chega a revoltar-se até mesmo com Deus, quando diz que, Ele só nasceu para os ricos. Vemos que a seca é tão terrível, que faz o vaqueiro por alguns instantes perder a fé em Deus.

            A família do vaqueiro empreendem uma caminhada desastrosa em direção a Fortaleza, em busca de uma vida melhor, mal sabem eles, o quão vão sofrer, durante todo esse percurso. Perde dois filhos durante essa longa caminhada, um morre envenenado (Josias), o outro desaparece quando ia chegando a Acarape (Pedro).

            Em meio a tanto sofrimento, tanta desgraça, o personagem Chico Bento se comove ao ver uns retirantes esfolando uma vaca que tinha morrido do mal. Vejamos logo abaixo: 

- De que morreu essa novilha, se não é da minha conta? Um dos homens levantou-se, com a faca escorrendo sangue, as mãos tintas de vermelho, um fartum sangrento envolvendo-o todo: - De mal-dos-chifres. Nós já achamos ela doente. E vamos aproveitar, mode não dar para os urubus. Chico Bento cuspiu longe, enojado: E vosmecês têm coragem de comer isso? Me ripuna só de olhar... O outro explicou calmamente: - Faz dois dias que a gente não bota um de-comer de panela na boca... Chico Bento alargou os braços, num gesto de fraternidade: - Por isso não! Aí nas cargas eu tenho um resto de criação salgada que dá para nós. Rebolem essa

porqueira pros urubus, que já é deles! Eu vou lá deixar um cristão comer bicho podre de mal, tendo um bocado no meu surrão! Realmente a vaca já fedia, por causa da doença. (Queiroz, 1937, p.16-17) 

                Nesse trecho, podemos analisar que, Queiroz quis sensibilizar o público leitor com a comoção de Chico Bento, pois em meio a tanto sofrimento, tanta desgraça, a família do retirante não se retrai e divide o pouco que tem com os esfoladores famintos, apesar de terem pouquíssimo alimento e saberem que o que estavam dividindo com os outros, iria lhes fazer falta em alguma hora, a compaixão reinou no coração do retirante, fazendo com que dividisse o pouco que tinham. Notemos, que a terrível seca faz cristãos saciarem animal morto do mal, sem se importarem com as consequências que isso poderia lhes causar.

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