O gótico e o amor representados na obra "O morro dos Ventos Uivantes"
Publicado em 01 de julho de 2014 por Francisca Renata Gomes Arruda
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ –UVA
CENTRO DE FILOSOFIA LETRAS E EDUCAÇÃO - CENFLE
CURSO DE LETRAS – HABILITAÇÃO EM LÍNGUA INGLESA
Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA
Curso: Letras-hab.Língua Inglesa
Disciplina:Literatura Inglesa III
Prof: Márton Gémes
O gótico e o amor representados na obra “O Morro dos Ventos Uivantes”
Francisca Renata Gomes Arruda
Sobral – Junho
2012
Sumário
1- Introdução
2- Desenvolvimento
3- Conclusão
4- Referências Bibliográficas
Introdução
O objetivo deste trabalho é analisar a estética da obra “O morro dos ventos uivantes”, detalhando as características do romance gótico e do amor romântico presentes na mesma.
Este trabalho irá mostrar a influência dessas características no decorrer da história e a relação com os personagens, o que nos leva a entender o desenrolar dos fatos e acontecimentos ao longo da narrativa.
Estudar um romance como “O morro dos ventos uivantes” é algo tão difícil quanto prazeroso. Um livro tão enriquecedor que quanto mais lemos mais percebemos a sua complexidade.
A obra de Brontë se enquadra na típica paisagem gótica e o personagem Heathcliff representa o herói gótico que se insere no romantismo, ressaltando a importância da figura do amor em torno da história e nos convidando a discutir de forma critica sobre o romance.
O romance gótico surgiu na Inglaterra com “O castelo de Otranto”, em 1764, de Horace Walpole e com esse gênero literário, reapareciam em cena os fantasmas e espectros, que o mundo racional da era havia pretendido relegar ao esquecimento.
A palavra “gótico” refere-se ás tribos nórdicas (Godos) que contribuíram para a queda do Império Romano. O período que se seguiu á queda do Império Romano passou a chamar-se Idade Média, quando os Godos estabeleceram-se na Europa e o período medieval foi identificado com o termo “gótico”, referindo-se as características de barbarismo, ignorância e superstição, que se remetia aos Godos.
Na literatura, o gótico era oposto ao modelo “clássico” do iluminismo e englobava todas as temáticas que o mesmo excluía. Opondo-se aos valores racionalistas e materialistas da sociedade burguesa, os romancistas criaram uma literatura fantástica, identificada com um universo de satanismo, mistério, morte, sonho, loucura.
O gótico é idealizado para atingir o leitor no sublime, que induz ao medo, ao horror. O uso do imaginário sobrenatural, do irreal e do assustador. Para Maggie Kilgour,
“O gótico é, portanto
uma visão de pesadelo
de um mundo moderno,
feito de indivíduos
separados, que se
dissolveu em relações
predatórios e demoníacas
que não podem ser
reconciliadas numa
ordem social saudável.”
Outro ponto importante no romance gótico é o desejo pela imortalidade e, ao mesmo tempo, o temor a ela, acompanhado por fantasias sobre o demônio, desenvolvendo idéias que desafiam nossos sentimentos e a nossa mente.
Em “O Morro dos Ventos Uivantes”, podemos encontrar vários elementos do gótico, como suas paisagens e as conturbadas vidas dos personagens. As duas casas que constituem o cenário do romance – a Granja Thushcross e o Morro dos Ventos Uivantes – são lugares isolados, próximos a florestas e o vento forte varre a paisagem. A casa do morro é descrita quase como um castelo (grandiosa), com o clima tempestuoso e envolto a vendavais, cenário típico da literatura gótica.
“A propriedade do
Sr. Heathcliff
chama-se, adequadamente,
Wuthering Heights,
sendo Wuthering
um significativo
adjetivo provinciano
para designar o tumulto
atmosférico ao qual
ela está sujeita em
tempo tempestuoso”.
(BRONTE, cap. I, pág. 20)
Um dos elementos góticos mais importantes do romance é a presença de fantasmas e do sobrenatural. Ao dormir uma noite no Morro, o personagem Lockwood, após ter encontrado e lido um trecho do diário de Catherine, teve um terrível “pesadelo”, no qual o narrador não nos diz se realmente trata-se de um, colocando o leitor em contato com o desconhecido, com o aterrorizante.
“Tenho de acabar com
esse barulho seja como
for! – murmurei, partindo
a vidraça com um braço
para agarrar o importuno
galho. Em vez disso, porém,
meus dedos pegaram os
dedos de uma mão
pequenina e gelada! O
intenso horror do pesadelo
tomou conta de mim:
tentei retirar a
mão, mas a
mãozinha agarrou-se
ainda mais a
ela e uma vozinha
melancólica soluçou:
“- Deixe-me entrar!...
Deixe-me entrar!”
(BRONTË, cap.III, pág. 41)
O ambiente de horror é descrito através da presença de túmulos e cadáveres, além de sangue e crueldade, tornando a atmosfera da história ainda mais sombria. Heathcliff, o protagonista do romance, é apresentado como uma criatura diabólica, descrito como um menino de pele escura e semblante sombrio e demoníaco, induzindo o leitor a vê-lo como alguém diferente, misterioso.
Ao longo do romance Heathcliff é comparado com o diabo, seja por suas ações ou por sua aparência. Heathcliff pode ser considerado um herói/vilão, típico personagem contraditório do romance gótico, representando a figura do mal, contribuindo com o aspecto sombrio e tenebroso da história, e ao mesmo tempo não pode ser considerado de todo mal, pois o amor que sente por Catherine, o torna um herói romântico, aquele que nutre um amor que perdura por anos, e que até morre por ele.
Outras características do romance gótico presentes na obra é o uso da psicologia do terror (o medo, a loucura) através dos maus tratos e o medo provocado por Heathcliff em Cathy e Linton ( seu filho ), além disso, o papel do poder exercido por Catherine sobre Edgar e Heathcliff, é exemplo de uma das reflexões feitas pela autora.
Podemos citar ainda que a morte, outro elemento gótico, não é detalhada ao leitor, ficando por conta da imaginação do mesmo, como observamos na morte de Heathcliff.
“O Dr. Kenneth
não conseguiu
diagnosticar a
causa da morte. (...)”
(BRONTË, cap. XXXIV, pag. 368)
Outro aspecto importante para ressltar é a presença da imaginação, do suspense e do fantasmagórico, representados pelas aparições dos espíritos de Catherine e Heathcliff depois de mortos.
“Mas a gente do
campo, quando se
lhes pergunta, jura
pela bíblia que o vê
caminhar. (...) Contudo,
aquele velho sentado
diante do fogo afirma.
Que vê os dois,
olhando pela
janela do quarto
dele, todas as noites de chuva. (...) ”
(BRONTË, cap. XXXIV, pág. 369)
No romance citado, os personagens são o retrato da miséria humana e do amor que destrói. O amor na obra é representado como o causador de todas as ações, que pode unir ou destruir os personagens, relacionando-os entre si e o desencadear dos fatos.
O amor romântico é representado pelo amor que Heathcliff sente por Catherine, algo além do mundo real. Um sentimento arrebatador, que domina e provoca a destruição. Catherine, diante da constatação de seu erro, ( de se casar com Edgar, por ele ser rico e educado), não resiste e deixa-se levar á degradação física e mental, beirando a loucura, morrendo com a impossibilidade de união com seu grande amor Heathcliff.
“O meu amor por
Heathcliff lembra as
rochas eternas:
proporciona uma
alegria pouco
visível, mas é
necessário. Nelly,
eu sou Heathcliff!
ele está sempre,
mas sempre, no
meu pensamento; não
como uma fonte de
satisfação, que eu
também não sou para
mim mesma, mas
como eu própria”.
( BRONTË, cap. XI, pág.99)
O amor dos protagonistas vive mesmo após a morte, quando Heathcliff começa a ter visões de sua amada, deixando-se levar e entregando-se ás aparições dela, vindo a morrer.
O sentimento que causa tanto sofrimento e dor à Heathcliff a vida inteira desde a infância, leva o leitor a sentir pena dele, mesmo sabendo ser ele um homem cruel, implacável, vingativo e impiedoso. Apesar de suas maldades e sede de vingança, ele contrasta com sua história de amor e sofrimento.
A paixão que envolve a obra, é diferente do amor que é considerado sublime, do amor que eleva a alma e traz felicidade aos apaixonados, pois leva os amantes a consumir suas vidas, nutrindo o sentimento através da morte.
O protagonista que ao mesmo tempo assume o papel de vilão e vitima ( o herói Byroniano do romantismo) eleva-se à condição de herói, que se origina dos vilões góticos, implacáveis e cruéis perseguidores de jovens inocentes, sendo a representação do amor que conduz ao caminho do bem ou do mal.
Conclusão
O Morro dos Ventos Uivantes pode ser considerado um romance gótico e romântico ao mesmo tempo, no que diz respeito ás características presentes na obra.
É importante destacar que ao analisar os elementos e construção dos personagens, consegue-se compreender o estilo que forma a obra e a personalidade e reflexões que a autora faz.
O romance reflete as transformações sociais da época, analisando na obra de ficção, traços da vida real representados pelas emoções e paixões vividas na história.
Referências Bibliográficas
– BRONTË, Emily. Wuthering Heights. ( São Paulo, Brasil, 1997. )
– VASCONCELOS,Sandra Guardini. Romance Gótico : Persistência do Romance ( cap. 8 )
– VASCONCELOS,Sandra Guardini. Ascensão do Romance ( São Paulo, 2.002)