O FRACASSO DO ENSINO DE LINGUA PORTUGUESA PARA FALANTES DO PORTUGUES POPULAR

 

Juliano Ramos Santos**

 

 

 

RESUMO: O presente artigo como tema: O ensino da Língua Portuguesa na escola. Tem por objetivo analisar e refletir acerca do ensino do português restrito a gramática na normativa, buscando compreender essa produção problemática por meio do processo sócio-histórico de implementação e difusão do português no Brasil, principalmente no que se refere a língua culta. Para a construção deste artigo foi utilizada uma pesquisa bibliográfica de vários autores que abordavam o respeito do assunto, sendo possível refletir sobre esta temática a partir da analise dos textos estudados e das reflexões realizadas nas discussões em sala de aula.

 

PALAVRAS CHAVES: Língua Portuguesa, norma-culta, gramática, ensino, escola.

 

INTRODUÇÃO

    

O ensino de Língua Portuguesa na escola é um tema que exige diversas reflexões acerca da metodologia estabelecida pelo professor, bem como seu conceito de língua e linguagem.

           

Assim, torna-se pertinente salientar que o ensino de português não deve estar restrito apenas a gramática normativa, pois é fundamental considerar o processo comunicativo, valorizando o contexto e a situação dialógica entre os interlocutores.

           

 Outra questão, diz respeito à valorização do português culto no ensino de língua portuguesa. Este é prestigiada por pertencer a falantes de classe social mais elevada, desse modo, o domínio da norma “culta” explica-se pelo fato de exprimir a melhor forma de “civilização”, ou seja, por ser utilizada e ditada como correta pela elite.              

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*artigo apresentado ao professor Gredson dos Santos, da disciplina Constituição Histórica do Português Brasileiro, do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus XXI, como requisito para a complementação de nota.

** Discente do V semestre, vespertino. *

É interessante abordar o contexto sócio-histórico para compreender a implantação e difusão do Português culto, tornando-se fundamental ressaltar que o português culto só começa a definir-se a partir da segunda metade do século XVIII para cá, pois, essa variante culta passa necessariamente por questões relativas
à escolarização ao uso escrito e sua normatização. O grande acontecimento histórico ocorrido naquela época decorre da política geral e da política lingüística do Marquês de Pombal, a qual define a língua portuguesa como língua oficial da colônia, brasileira dando inicio, portanto, ao incentivo do ensino e a obrigatoriedade do ensino português lusitano nas escolas, antes (oferecidos e organizados) de responsabilidade dos jesuítas em função da catequese e colonização em favor da chamada língua geral indígena de base tupinambá e do latim.

           

Entretanto, a unidade lingüística não foi obra das instituições educativas, pois o acesso à escola era privilégio de poucos, alem do elevado percentual de analfabetos, cerca de 95% da populaçãoem geral. Dessemodo, pode-se concluir que a utilização da língua portuguesa foi uma opção do próprio povo alienado pelo processo civilizatório.

           

Nesse sentido, a política educativa das escolas trabalha com a ideologia da (elite letrada), a qual dita a política lingüística atual, valoriza a gramática normativa por ser a sua realidade lingüística e desvaloriza as variedades dialetais, pois pertence a outros grupos. Não sendo, portanto, interessante para a elite dominante este sentimento de liberdade das outras classes, uma vez que, a ideologia da classe dominante quer tomar todos submissos aos seus modelos. Por isso esta em desacordo com os moldes estabelecidos por essa está “errado”. O “certo” é seguir as regras ditadas por este grupo “civilizado”.

           

Considerado tema importante o ensino do português na escola, configura-se como uma problemática que forneça a ser discutida e analisada numa ótica mais profunda. Por isso, a reflexão, que era realizada no decorrer do artigo será uma tentativa de analisar e compreender o ensino da Língua na escola, bem como o seu fracasso a partir do processo sócio-histórico de implantação e difusão do português no Brasil.

           

Este artigo encontra-se dividido em três tópicos importantes: O primeiro, “Do processo sócio-histórico do português do Brasil para o ensino de Língua Portuguesa na escola”, buscou-se comentar o processo sócio-histórico para compreender o ensino do português na escola; No segundo “ O ensino da Língua Portuguesa na escola: O fracasso do ensino e Gramática”, analisou-se o ensino de língua portuguesa voltado completamente para o ensino de gramática; no terceiro “Ensino de Português e Preconceito Lingüístico”, revelou-se neste, a prioridade do ensino da norm culta e a desvalorização das variedades lingüísticas, em razão das condições sociais, econômicas e culturais.

 

I - DO PROCESSO SÓCIO-HISTÓRICO DO PORTUGUÊS NO BRASIL PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA

           

Para compreender os problemas acerca do ensino do Português na escola, é imprescindível ressaltar e conhecer o processo sócio-histórico de formação da Língua Portuguesa falada no Brasil. Assim, faz-se necessário comentar que tudo começa na fase colonial, onde o cenário lingüístico do Brasil é ocupado por três personagens principais: A Língua Portuguesa (colonizadores), as Línguas Indígenas (nativos) com a prevalência do tupi-guarani e as Línguas Africanas (negros escravos). Durante os dois primeiros séculos da colonização ocorreu o bilingüismo português-tupi, com a prevalência quase geral da língua indígena. No século XVIII, graças ao fortalecimento da urbanização foi-se modificando o quadro, já no final do século, estava assegurada a vitória da Língua Portuguesa.

           

Nesse sentido, a difusão da Língua Portuguesa deve-se em grande parte a fundação de novas cidades, fonte de erradicação da cultura e da língua dos colonizadores, além da obrigatoriedade, do ensino do português lusitano na escola, a qual foi conseqüência da estabelecida pelo Marquês de Pombal, instituindo, portanto, obrigatoriamente o uso da língua portuguesa e o ensino desta nas instituições educacionais, fundamental também levar em conta a chegada dos negros no Brasil, num total mais ou menos de quatro milhões, os quais iam aos poucos absorvendo mais a língua portuguesa que a geral tupi-guarani, pois estes trabalhavam nas casas-grandes, na lavoura, em serviços domésticos. Estavam sempre em contato com os feitores, os seus senhores, senhorzinhos e as sinhás. Com eles se comunicavam em português, um português “mutilado”, mas ainda português.

    

Os próprios índios pela mestiçagem, em varias gerações de mameluco igualmente vieram a adotar a língua portuguesa. Por fim, o afluxo de portuguêses para o Brasil continuou durante todo o período colonial. Além, é claro, da administração do governo português, o qual administrava o Brasil com leis que permitiam a constituição de uma base jurídica, sociedade organizada sobre o modelo da civilização européia lusitana, enraizado, portanto, n população brasileira a ideologia do “civilizado”. Enfim, é fundamental perceber que a realidade dialetal brasileira é conseqüência de um processo sócio-histórico da língua. Portanto, as variedades lingüísticas devem ser respeitadas e não desvalorizadas ou minimizadas por não estar de acordo com a norma culta das gramáticas tradicionais, pois o português culto so começa a definir-se a partir da segunda metade do século XVIII e o seu domínio explica-se pelo prestigio superior, que forçava os indivíduos ao uso da língua que exprimia a melhor forma de civilização.

           

Desse modo, a língua portuguesa não deve ser vista como apenas a norma “culta”, mas como já foi dito, esta sofreu varias influencias de diferentes povos, contribuindo para o seu processo evolutivo. Assim, a língua não deve estar presa a normas gramaticais, pois ela é vernácula, individuo sob falar a sua língua materna, tem uma gramática internalizada. Ninguém fala errado, apenas o que se tem são falares diferentes.

           

Nesse sentido, surge a necessidade de uma reflexão acerca do processo ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa na escola e consequentemente o seu fracasso. Pois o que é observado hoje é que o ensino de língua portuguesa em seu método prescritivo, não desenvolve no educando a capacidade de raciocínio, percepção e competência em sua própria língua. O que ocorre é mera reprodução da gramática normativa.

           

O conteúdo sócio-histórico do processo de formação do português é um caminho para compreender que não existe apenas um único jeito de falar, mas sim que a língua portuguesa do Brasil possui variedades lingüísticas, e estas devem ser respeitadas em suas peculiaridades.

    

Assim, torna-se fundamental prescrever que a gramática normativa não deve ser concebida como se fosse a “bíblia” para o ensino de língua portuguesa, pois a língua não é apenas a variedade culta ou padrão e tudo que a inflige é condenável. Seu papel é puramente prescrever, é a variedade mais utilizada pela classe dominante, por isso, é tida como a “correta”, a “perfeita”. Assim, ofusca as outras gramáticas: a descritiva, (que trabalha com qualquer variedade da língua dando ênfase a oralidade), a internalizada, ( para ela o falante não comete erros, pois já nasce com uma gramática subjacente que permite fazer uso normal da língua).

    

Nesse sentido, o objetivo da escola no ensino de português não deve ser o de privilegiar anorma culta, estabelecendo o que é certo ou errado, mas sim, mostrar o funcionamento da língua , atribuindo valor significativo à língua materna; Ensina o educando a raciocinar, a pensar e desenvolver a capacidade de análise sistemática dos fatos e fenômenos que ocorre no processo de evolução da língua , e seus reflexos na sociedade atual.

 

 

II - O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA: O FRACASSO DO ENSINO DA GRAMÁTICA.

 

Muitos são as discussões acerca do desempenho do ensino de Língua Portuguesa que vem sendo ministrado nas escolas, acredita-se que este ainda esteja completamente voltado para o ensino da gramática tradicional.

           

Nóbrega, no texto “Perspectiva para o trabalho com analises Lingüística na escola” (2000), afirma que em muitos trabalhos que abordam a relação do professor de português com os conteúdos ensinados em sua disciplina, pode-se verificar que a maioria desses não crê na eficiência do ensino que segue reproduzindo. O que, provavelmente, leva boa parte dos alunos ao final de sua (estadia) passagem pelo ensino fundamental, afirmarem com absoluta convicção não saber gramática, demonstrando, portanto, um fracasso no ensino da língua. Para ilustrar o que foi dito, pode-se elencar três causas que apontam para o fracasso do ensino de língua portuguesa na escola. A primeira corresponde a falta de lógica dos conceitos e definições apresentadas pelas gramáticas escolares; o segundo critica a metodologia empregada como inadequada, pois o que se ensina sob força da prescrição não encontra comprovação na língua em uso, tanto em sua modalidade escrita quanto oral; a terceira diz respeito aos objetivos, os quais estariam mal colocados, pois promete o que não pode cumprir, isto é, melhorar o desempenho do aluno na leitura e na produção de textos

           

Assim, ao fazer uma analise d situação do ensino de língua portuguesa na escola, percebeu-se que a metodologia utilizada para o ensino de português é necessariamente inadequada à realidade dos educando, pois ao ministrar aulas de uma língua para falantes da mesma, é necessário proporcionar situações que permitam o desenvolvimento da competência comunicativa de usá-la de modo adequado em qualquer situação; de produzir, compreender, avaliar, modificar e qualificar todos os tipos de textos escritos; respeitar os variados discursos dos alunos; levá-los a entender porque se ensina Língua Portuguesa na escola, como ela esta constituída e como funciona ensinar a raciocinar (observar, investigar e argumentar) com base em dados científicos.

           

Nesse sentido, perceber o agravante fracasso referente ao ensino de Língua Portuguesa, acerca da incompatibilidade da aquisição da língua, ensino prescritivo abordada pela gramática normativa que por privilegiar apenas a norma culta não contempla as possibilidades lingüísticas, tornando-se inadequada, insatisfatório e por que não dizer, contraditório e inconsciente em determinados contextos.

            O ensino de português na escola deveria ter por objetivo desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua, capacitando. Os a empregá-la adequadamente às diversas situações de comunicação, refletindo sobre as implicações pragmáticas e lingüísticas, libertando os falantes dos preconceitos socioculturais, possibilitando a abertura à pluralidade dos discursos incluindo as variedades lingüísticas.

    

Portanto, o fracasso do ensino de Língua Portuguesa, faz-nos refletir sobre as discrepâncias do ensino da gramática normativa, sinalizando o diagnostico frente à pratica de Leitura e Produção Textual: “ onde se aprende ler, lendo e escrever escrevendo” numa perspectiva interacional o todo significativo e compatível com a situação de comunicação. Pois, o ensino fica restrito a mera prescrição, considerando a ortografia como item avaliativo, utilização e encadeamento de estruturas sintáticas, pois a diversas situações comunicativas.

           

Assim, é imprescindível a necessidade das escolas em trabalhar com as variações lingüísticas, a qual existe em grande número na sociedade, sendo de fundamental importância que o professor trabalhe diretamente com a questão da variação lingüística, incentivando o aluno a sentir a necessidade e a propriedade de determinados usos nas diferentes situações comunicativas, substituindo definitivamente a idéia de uso “certo” ou “errado” pelo de uso “adequado” ou “não adequado” naquele contexto. Essa variação lingüística pode ser trabalhada numa pluralidade de textos, que devem ser analisados satisfatoriamente pelo professor, em sala de aula. Assim, partindo de fundamentos da Lingüística, o professor precisa estar atento a utilização da gramática normativa diante da variação da língua, pois a diversidade dialetal deve ser considerada e respeitada em suas peculiaridades,

           

     É pertinente mencionar, que a pratica docente, deve acontecer do contato do aluno com uma variedade de situações de interação comunicativa por meio de uma analise e produção de enunciadores ligados a vários tipos de situações de enunciação. Considerando, a relação analógica de que a língua esta passiva de mudanças e considerando que a gramática da língua é bem mais do que se está estabelecido, o ensino de Língua Portuguesa deve oferecer ao aluno condições de ler, entender os tipos de discussões bem como produzi-los, a partir de suas necessidades reais, de forma que tenha consciência dos diferentes falares, sabendo utilizar a cada situação concreta, o padrão lingüístico adequado.

           

 O ensino da língua, nesse sentido, não pode estar restrito apenas a codificação e decodificação de um sistema de escrita, de maneira banal e mecânica. O ensino da língua precisa estar ligado à recuperação de sua função social, nas suas instancias de sentido e significado, no desvelamento da realidade e na perspectiva de sua reconstrução. É preciso vitalizar a língua na escola como elemento fundamental na formação de uma cidadania consciente.

 

III - ENSINO DE PORTUGUÊS E PRECONCEITO LINGÜÍSTICO

 

            Quando falamos, revelamos mais do que o nosso pensamento. Relevamos também quem somos socialmente, ou seja, o nível cultural, posição social, o nível de escolaridade, nossa capacidade de adaptação às diversas situações – enfim, mostramos nossa forma de ser e de ver o mundo. Por isso, a língua que falamos pode tanto nos abrir quanto nos fechar cominhos socialmente.

    

Quando entramos na escola, já dominamos a língua que falamos não aprendemos a falar o português na escola, apenas temos ali a oportunidade de aprender a língua padrão, à variedade lingüística que mais tem prestigio na sociedade e que poucas pessoas dominam.

           

Assim, a escola prioriza o ensino da gramática normativa, como se esta fosse a única “correta”, desvalorizando as variedades Lingüísticas e menosprezando as variações apresentadas pela língua, em razão das condições sociais, culturais e regionais.

    

É imprescindível salientar que o preconceito lingüístico está ligado ao fato de que a língua e gramática normativa são vistas como sendo a mesma coisa. Assim, o ensino de língua sempre ficou baseado na gramática tradicional (normativa). Por tanto, as regras, às quais aprendemos na escola, boa parte não correspondem à língua, a qual falamos e que faz parte da nossa realidade.

    

Desse modo, qualquer manifestação lingüística que ultrapasse o triângulo escola-gramática-dicionário é considerada “errada”. Há, portanto, neste fato, o preconceito contra a fala de determinadas classes sociais, como também a certos dialetos regionais como, por exemplo, os dialetos nordestinos, os quais são essencialmente criticados pelo sul e sudeste. O preconceito, nesse cão, não é apenas dialetal, mas também econômico e social e cultural os quais se tornam explícitos por meio da desvalorização dos falares. Não existe um único jeito de falar a língua portuguesa, há pessoas que falam de modo diferente por pertencerem a grupos sociais distintos, por serem de outras cidades ou de outras regiões do país, terem culturas distintas. Como a sociedade é marcada por muitas diferenças, a língua apresenta muitas variações, as quais refletem essas diferenças sociais.

    

Todas as variedades lingüísticas são eficazes na comunicação verbal e possuem valor nos grupos são eficazes na comunicação verbal e possuem valor nos grupos em que são faladas. Por isso, não existe um jeito certo de falar, existe falares diversos. Uma das variedades corresponde à língua padrão, também chamada de norma culta. Esta, como foi descrita, tem grande prestigio na sociedade, por ser o tipo utilizado pela elite letrada, além de ser a língua utilizada na maior parte dos jornais, dos livros e das revistas, dos documentos, dos textos científicos e didáticos. Também é a língua falada em alguns programas de TV e pelas pessoas que tiveram maior acesso aos estudos.

    

É fundamental ressaltar que é preciso que a escola ensine a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua “mecânica”, cheia de regras e parada no tempo, reprovando a diversidade lingüística, tendo as variações como formas “erradas” de falar. Seria interessante e democrático revelar ao aluno que existem variedades lingüísticas, e que é necessário uma ortografia para a língua, para uma compreensão da leitura e da escrita.

    

Nesse sentido, falar uma língua e compreender que existe uma variedade lingüística adequada a cada situação. É preciso, portanto, ser “poliglota de nossa língua”. Neste caso, ser poliglota do português significa ter domínio do maior numero possível de variedades lingüísticas e sabê-las utilizá-las nas mais diversas situações.

    

É preciso garantir, sim a todos os brasileiros reconhecimento da variação lingüística, porque o mero domínio da norma culta não é uma fórmula “mágica”. Assim, é fundamental favorecer esse reconhecimento, mas também garantir o acesso a conhecimento da ortografia da norma padrão, pois esta será utilizada em diversas situações de comunicação. Por exemplo, ao falar em público, ao conversar com pessoas mais instruídas e que ocupam carga ou posição elevada. Nessas situações, quase sempre empregamos a língua formal, ou seja, falamos de um modo mais cuidadoso.

   

 Portanto, é preciso reconhecer que existe atualmente uma crise no ensino da língua portuguesa, pois este cultiva apenas ao desenvolvimento das habilidades lingüísticas no nível da norma culta. Neste caso, o ensino do português na escola enfrenta o dilema relativo à norma culta, pois esta não corresponde à língua usada pelos falantes do português do Brasil.

    

O preconceito acerca das variedades lingüísticas é fruto de razoes de ordem política, econômica, social, cultural, pois é uma forma de privilegiar a elite, a classe dominante, a qual domina a norma culta. Assim, o preconceito nasce da distancia social, econômica e cultural que existe entre os falantes. As classes menos favorecidas economicamente e socialmente são os falantes que sofrem com a discriminação acerca da posição na sociedade.

    

Nesse sentido, torna-se pertinente destacar que na escola prevalece uma concepção de alfabetização desvinculada da cultura e das condições sociais. A alienação da instituição acerca da sua função social e do despreparo, ou a falta de vontade política, de grande parte do grupo de alfabetização para comunidades, fim de implantar sugestões de praticas e eventos de letramento alternativos aos escolares.

    

Assim sendo, assume-se que as crianças aprendam a escrever da mesma forma e pelas mesmas razoes que aprendem a falar por meio de explorações sobre a forma e as funções da escrita, dentro de um determinado contexto sócio-cultural. Isto é, mesmo antes de entrarem na escola, as crianças constroem conhecimento sobre a escrita. O aluno quando vai para a escola, esse já tem o conhecimento da língua e possui uma gramática própria, já internalizada. Assim, o desenvolvimento do sistema de escrita depende da linguagem falada e escrita que a já faz parte da realidade da criança.

    

Em vista disso, o ensino da gramática normativa tem se mostrado irrelevante, contraditória e até mesmo prejudicial. Irrelevante e inútil, porque existem evidencias de que saber gramática não facilita a comunicação. Preconceituosa e, por desrespeitar e desvalorizar a variedades lingüísticas, utilizados pelos diferentes grupos sociais, na maioria das vezes, os menos favorecidos. Alienadora, por prestigiar uma única forma de falar, privilegiando a variedade culta, dominada pela elite, ou seja, pela classe dominante, tornando a língua, uma, uma “regra de civilidade” todos os que a seguem e são “certos”, os que a contradiz, não são “civilizados”. Todos os que a seguem estão “certos”, os que a contradiz, não são “civilizados”, não sabem falar, falam “errado”.

 

Considerações Finais:

           

As reflexões realizadas ao decorrer deste artigo trouxeram questões pertinentes para uma analise mais profunda acerca do ensino do português na escola.

           

Desse modo, ficou claro que o ensino de Língua Portuguesa na escola é um problema a ser questionado, uma vez que, é importante investigar as causas do fracasso do processo ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa.

           

 Assim, o ensino de Língua Portuguesa fica restrito apenas a gramática normativa. Sendo que esta possa a ser “receita” de uma determinada língua deve seguir para se falar corretamente. Ao ensinar somente a gramática normativa, e valorizar a norma culta à escola não compreende que a língua está passiva de mudanças.

           

Entretanto, este artigo veio mostra e questionar o fracasso do ensino de português na escoa, observando que o ensino de língua portuguesa em seu método prescritivo, não desenvolveu no educando a capacidade de raciocínio, percepção e competência em sua língua. O que é feito é mera reprodução. Por isso, o ensino de português não deve estar limitado à competência gramatical, mas também sua competência textual e discursiva.

    

Enfim, é interessante perceber que todo falante de uma língua se comunica independente de suas estruturas. Nesse caso, antes de qualquer estudo gramatical é fundamental considerar a ortografia como um dos aspectos relacionados aos padrões da escrita, entretanto, é fundamental privilegiar as diferenças entre a língua escrita e falada, bem como, suas variações. Prestigiando as variedades da língua e combatendo o preconceito lingüístico, respeitando o modo de falar em diversas regiões, o tempo, as características sociais que a regem.

 

 

Referências Bibliográficas

 

BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: O que é, como se faz. 30º ed. São Paulo: Loyola, 1999. P.42-45.

 

BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália, novela sociolingüística; São  Paulo: Àtica, 2004.

 

MUSSALINA, Fernanda; BENTES, Ana Cristina. Introdução à Linguagem 1. Domínio e Fronteiras. 4º ed: São Paulo: Cortez, 2004.

 

TARALLO, Fernando A pesquisa Sociolingüística. São Paulo: Ática, 2004.

 

TRAVAGLIA, Luis Carlos. Gramática e interação: uma Proposta para o Ensino de Grámatica no 1º e 2º graus. 3º ed. São Paulo: Cortez, 1997.