UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
CENTRO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE LETRAS ? 7º PERÍODO
ENSINO DE LITERATURA
PROF. EDINETE TOMÁS
ACADÊMICA: LAURIVANIA DA SILVA VERAS


VISÃO DOCENTE SOBRE AS FUNÇÕES DA LITERATURA


INTRODUÇÃO: Essa pesquisa tem como finalidade procurar descobrir o Ensino de Literatura na ótica escolar, mais precisamente, como o professor leva esse assunto á sala de aula, como o mesmo aborda o tema tendo como ponto de vista as funções da literatura. Ou seja, o objetivo principal dessa pesquisa é apresentar a "Visão Docente sobre as funções da Literatura", um estudo de caso realizado nos anos finais do Ensino Fundamental na Escola Estadual e Profissionalizante Monsenhor José Augusto da Silva, no município de Camocim, no Ceará.


Para tanto, o desenvolvimento temático contou com o auxilio dos textos incorporados da Coletânea de Textos de Apoio Didático, baseado em pesquisa bibliográfica. O que será desenvolvido aqui diz respeito ao Ensino de Literatura vinculado com a visão dos professores convidados para a resolução do questionário, em relação á funcionalidade da Literatura ? qual a sua contribuição quanto á formação humana, quanto formação humanizadora. Tendo em vista também a leitura literária servindo de apoio para uma formação de leitor, para as compreensões e analisem textuais. Porque ler é antes de tudo um ato de raciocínio, uma maneira de desenvolver habilidades para a interpretação da língua escrita, buscar o raciocínio através da captação da mensagem transmitida pelo texto e também a fim de detectar incompreensões. A Literatura está ai para isso para despertar todas essas habilidades.


DESCRIÇÃO DO MÉTODO: A metodologia aplicada para essa pesquisa foi a elaboração de um questionário estruturado, cujo desenvolvimento é baseado em informações colhidas em relação á visão docente sobre as funções da literatura. Um questionário contendo questões abertas, dispostas da seguinte maneira:


? Qual a sua visão sobre as funções da literatura?
? Como você trabalha a literatura na sua sala de aula?
? Que recursos didáticos você utiliza nas suas aulas de literatura?
? Dê o seu ponto de vista sobre a importância da literatura para a formação docente?


O questionário foi aplicado em 04 (quatro) professores do Ensino Fundamental II, na Escola Estadual e Profissionalizante Monsenhor José Augusto da Silva, no município de Camocim ? Ce. Apesar das hesitações, os professores responderam ás questões e podemos realizar a pesquisa visualizando os resultados obtidos. Diante disso, realizaram-se as discussões dos resultados, seguida pelas considerações finais, acompanhadas com sustentabilidade teórica, provenientes da coletânea de textos de apoio didático.



DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: Essa pesquisa tem como fundamentação temática a Visão Docente sobre as funções da leitura. Os questionamentos propostos foram respondidos por 05 professores de Língua Portuguesa e Literatura nos anos finais do Ensino Fundamental II, na Escola Estadual e Profissionalizante Monsenhor José Augusto da Silva, em Camocim ? CE. Dentre os professores pudemos verificar a marcante presença da maioria feminina, como sempre podemos detectar isso. São professores capacitados, com a escolaridade mínima exigida para exercer o cargo e com intensas experiências no magistério.

Questionados sobre a primeira questão, que trata da sua visão sobre as funções da literatura, quatro dos professores concordam em afirmar que a literatura serve como aperfeiçoamento da compreensão, mas também como encaminhamento para o vestibular, para a formação acadêmica do aluno.


"(...) a literatura como força humanizadora, não como sistema de obras. Como algo que exprime o homem e depois atua na própria formação do homem." (Cândido, p.80).


O autor Cândido (2002) em seu texto aborda a literatura como função, função essa humanizadora, ou seja, a capacidade da Literatura em confirmar a identidade humana. Portanto, a Literatura tem a função de formação do homem, ao papel que este desempenha na sociedade, a Literatura é vista como força humanizadora.


Diante da questão de número 02 (dois) que se tratava da metodologia aplicada, sobre Literatura, na sala de aula, três professores responderam que utiliza métodos mais convencionais, como o livro didático, mas que sempre abordam no Ensino de Literatura a aplicação de outras disciplinas como o ensino da Língua Portuguesa. Os outros dois professores utilizam métodos mais enriquecedores como a utilização de livros literários trabalhando com produções de textos.


Ricardo Magalhães Bulhões cita Magda Soares em seu texto Primeiras Antologias e a formação do leitor, na página 26 (vinte e seis) que:


"É função e obrigação da escola dar amplo e irrestrito acesso ao mundo de leitura, e isto inclui a leitura informativa, mas também a leitura literária; e leitura para afins pragmáticos, mas também a leitura de ficção; a leitura que situações da vida real exigem, mas também a leitura que nos permita escapar por alguns momentos da vida real" (p. 144).


Diante dessa citação fica notável que o esvaziamento do ensino da literatura se acentua por diversos motivos. Entre eles, os autores apontam: a inexistência de uma leitura descompromissada, a falta de estímulo da criatividade e do senso crítico, recorrência de fórmulas prontas e o uso dominante do livro didático com textos fragmentados e com preocupações meramente gramaticais. Ressaltam que o texto literário é pretexto para o estudo da gramática e não é vinculado à experiência de vida do aluno.


A terceira questão trata dos recursos didáticos utilizados nas suas aulas de Literatura. Como já foi citado, três professores se utilizam apenas do livro didático, confeccionado para as escolas. Dois professores, a minoria, tentam fazer de suas aulas, não só uma aprendizagem momentânea, mas uma aprendizagem que abre possibilidades para a compreensão de outros textos, que não sejam apenas literários, como também para a compreensão das outras disciplinas.


"Antes de se tornar disciplina escolar a literatura insinua-se sem as elaborações ou critérios pedagógicos que buscam um determinado fim. Ela substitui a onipotência do saber pragmático pela visão do enigmático e propõe uma transgressão das convenções sociais e dos limites morais." (Magalhães, p. 26).


O autor, aqui, nos mostra que muitas vezes os alunos gostam de Literatura, mas por uma lógica pragmática a rejeitam. O papel do professor é tornar a Literatura uma prática mais emancipatória, mais autônoma, diante de disciplinas como o ensino à gramática.


A quarta questão pede que os professores dêem o seu ponto de vista sobre a importância da Literatura para a formação descente. Diante dessa questão, ficou claro que os professores não quiseram responder ou não souberam dar a sua opinião em relação aos seus alunos. Porém, um professor deu suas opiniões sobre essa importância da Literatura para a formação dos alunos. A seguir, uma das respostas mais relevantes e contributivas para esse projeto:

"A Literatura é de fundamental importância para uma formação descente, porque o ensino de Literatura influencia bastante o contexto de sala de aula e essa visão da Literatura como disciplina envolve e co-relaciona outras áreas do conhecimento (história, filosofia, geografia, gramática etc.) ainda precisa ser mais difundida no espaço escolar. Então, a Literatura fornece ao aluno uma ampla compreensão em relação ao mundo, à sociedade em que ele está inserido, podendo perceber as problemáticas e saber que pode compreendê-las e tentar soluciona-las." (informante A)


Essa citação foi importante porque nos mostra que os nossos professores não são totalmente alienados quando ao Ensino de Literatura. São conscientes dos seus papéis como orientador e facilitador de aprendizagem.


É obrigação das escolas darem suportes para que nossos orientadores venham estar dispostos e aptos para realmente ensinar Literatura, praticar esse ensino em sala de aula, na convivência com seus alunos, despertando suas compreensões de mundo, porque a Literatura é uma força humanizadora, ou seja, ela tem a capacidade de comprovar a identidade humana, e grande parte de nossa inteligência depende dos subsídios que a Literatura nos oferece em nossa formação.


A abordagem feita, aqui, nos mostra que há muitas discussões em torno do Ensino de Literatura, de como inserir a prática literária, através da leitura literária, na escola. O grande desafio desta é fornecer subsídios teóricos e metodológicos para auxiliar, como já foi citado, a prática pedagógica dos professores. A questão crucial é buscar motivações para que os alunos venham a começar a analisar e interpretar leituras literárias.


Já sabemos que em sala de aula, a Literatura sofre como um processo de escolarização, sendo discutidas maneiras de como trabalhar a Literatura sem torná-la pretexto para o ensino-aprendizagem de outras questões, como por exemplo, algumas noções gramaticais.


Também não é de se estranhar que seja muito pequena a contribuição das teorias da literatura às teorias e práticas de leitura, mas tem influenciado muito. Na leitura escolar, sua influência traduz-se, por exemplo, sem inspirar atividades de leitura. Ensino uma obra literária é conteúdo escolar e derivam da circulação que, no contexto escolar, tem convenções e protocolos da leitura literária.


Esses protocolos e convenções da leitura literária circulam, por exemplo, nas escolas, através de materiais didáticos que fazem figuras de linguagem serem reconhecidas, funções de linguagem serem identificadas, fatos históricos serem analisados, etc.


A prática escolar da literatura literária ilumina indagações sobre algumas condições de existência da literatura, ou seja, a literatura é uma teoria que também se ocupa das condições de manifestações de fenômenos socioculturais. A partir desse conhecimento, a noção de universalidade da literatura revela seu caráter ideológico.


Nesta perspectiva, o que se pode entender por ensino da Literatura nas escolas, é que esta não é o único agente, mas sua função é iniciar seus alunos nos protocolos de leitura segundo os quais certos textos são literários e outros não, e certos textos são mais literários e outros menos literários. Zilberman (1988) fala o seguinte:


"Se, então, em vez de patrocinar exclusivamente roteiros de leitura inspirados nesta ou naquela teoria, a prática de leitura escolar centralizar sua reflexão sobre o ato concreto de leitura em curso no espaço de sala de aula e sobre as interpretações que ai ocorre (inclusive as decorrentes de roteiros de atividades), a leitura literária escolar pode converter-se numa prática de instauração de significados e, com isso, transformar o estudo da literatura na investigação e na vivência crítica do percurso social cumprindo por seus textos, suas teorias, suas leituras." (p. 97).
A autora Zilberman(1988) relata nesse fragmento que, na execução desse projeto, a escola ganhará, sem dúvida, uma densidade nova, ao devolver criticamente a imagem de literatura que provém de canais competentes, comprometidos com o ensino-aprendizagem, com o Ensino de Literatura.

Praticar a leitura literária na escola quer confirmar uma reflexão no verdadeiro ato de ler, que é converter a leitura em interpretação literária, transformando o estudo da literatura em um processo investigativo cumprindo o caminho do texto que é a compreensão crítica social.


A leitura literária deveria ser mais valorizada como meio do aluno desenvolver a criatividade e a imaginação na interação com textos que inauguram mundos possíveis, baseados na construção da realidade empírica. É preciso que a escola amplie mais suas atividades, visando à leitura da Literatura como atividade lúdica de construção e reconstrução de sentidos. Assim, a função da Literatura vai funcionar com precisão.


Tanto o Ensino de Literatura, quanto a leitura literária deveriam estar verdadeiramente presentes no contexto escolar, de modo articular, pois são dois níveis dialogicamente relacionados. A leitura literária abordada na escola é fundamental, tendo em vista as contribuições do Ensino da Literatura, os quais certamente facilitarão a interação, a relação texto/leitor.


A visão da escola sobre a Literatura difere consideravelmente da noção que o aluno-leitor tem acerca do literário. É preciso repensar os julgamentos de valor disseminados pelas instituições que abordam a Literatura sob prismas distintos (a escola, a crítica literária, etc.), quando consideramos que cabe ao leitor o seu próprio texto literário, valorizando seu repertório de leituras.


Ensinar Literatura não é apenas apresentar uma série de textos ou autores e classifica-los num determinado período literário, mas sim revelar ao aluno o caráter atemporal, bem como a função simbólica e social da obra literária. No entanto, essa tarefa de colocar o aluno diante do texto literário, como objeto simbólico de construção, ainda se revela como um desafio no contexto escolar.


Numa escolarização inadequada, observa-se a ausência de uma proposta de ensino interdisciplinar, fator que contribui para o estudo do texto literário como elemento isolado das demais disciplinas, pois o aluno não percebe a integração entre a Literatura e as demais áreas do conhecimento.


Soma-se a isso o fato de a escola, explorar atividades que tratam a Literatura como uma espécie de "universo de signos agradáveis", tranqüilizadores e decorativos, que ajuda o aluno a escrever sem erros de sintaxe ou de ortografia ou indicar, como elemento isolado, as datas das obras principais e a biografia dos seus autores, como um preparo para o vestibular.


Os problemas do Ensino de Literatura não estão nos conteúdos trabalhados em sala de aula, mas no modo como eles são abordados, referente a ausência de uma discussão metodológica capaz de auxiliar a prática pedagógica.


Assim, a leitura literária deveria ser compreendida, na escola tendo em vista o caráter dialógico, instaurado entre autor ? texto ? leitor. O fenômeno literário deve ser compreendido como um meio de conhecer o universo transfigurado, reinventado, permitido no texto.


CONSIDERAÇÕES FINAIS: Tudo o que foi abordado no presente projeto de pesquisa nos leva a compreender que Ensino de Literatura presente nas escolas ainda é um processo de escolarização, ou seja, nossos professores não a utilizam apenas para ensiná-la como processo humanizadora. A utilizam também para a realização de outras atividades. A Literatura não é totalmente autônoma, ela é pretexto para a aplicação de outras questões.


O questionário elaborado para os professores foi importante porque nos mostrou a realidade concreta do Ensino de Literatura nas escolas, qual a sua função. E sua função, observa através das respostas dos professores, foi que a Literatura serve de subsídios metodológicos para a compreensão de disciplinas, côo a gramática e como incentivadora para a leitura literária, em relação às obras clássicas.


Diante desse projeto o que podemos esperar é que as escolas despertem para a verdadeira função da Literatura, "como algo que exprime o homem e depois atua na própria formação do homem" e que ela também possa despertar nos professores para que eles sejam os facilitadores do ensino-aprendizagem, levando aos seus alunos a compreensão universal que a Literatura oferece.


REFERÊNCIAS: BUZEN, Clécio; Mendonça, Márcia (org). Português no Ensino Médio e a Formação do Professor. São Paulo: Parábola, 2006.
CANDIDO, Antônio. Textos de Intervenção. São Paulo: Duas Cidades, 2002.
ZILBERMAN, Regina. SILVA, Ezequiel Theodoro da. (org) Literatura: perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1988.

Acessado em 02/06/2009, disponível: http://www.cepad.assis.inesp.br/