O CONTINENTE E ILÍADA:

METAMORFOSES DO MITO

Apresenta-se, nesse artigo, a síntese do terceiro capítulo da dissertação de Mestradoem Estudos Literáriosdefendida na UPF – Universidade de Passo Fundo – RS em 2008, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Becker.

 Neste estudo, tematiza-se a relação entre elementos transtextuais nos universos míticos e literários de O Continente v. I, de Erico Verissimo[1] e da Ilíada, atribuída a Homero, como possibilidade de interrelação entre teoria e práxis para análise e interpretação literária.  

Os objetivos deste estudo visam construir um aporte teórico-prático com referências de crítica e teoria literária sobre a obra de Erico Verissimo e sobre a Ilíada e interrelacionar elementos transtextuais[2] sobre categorias de análise.

Justifica-se a opção desta incursão temática pelas possibilidades de explorar alternativas plurissignificativas para a interpretação em um exercício transtextual entre mitos antigos e personagens literários contemporâneos. Explicita-se a escolha da Ilíada e de O Continente, porque são obras balizadores das sociedades de suas épocas em narrativas que sintetizam a aventura humana de gerações, que empenharam o destino e arriscaram a vida por ideais de liberdade e de justiça em prol do coletivo, mesmo enfrentando poderosas estruturas de confronto e de dominação.

Os personagens de Erico em O Continente, tal como os troianos, na Ilíada, defenderam o território invadido por poderosos exércitos, lutaram bravamente em alternadas vitórias e derrotas e foram vencidos. Porém, os gaúchos superaram as divergências e escreveram sua (des)ventura, enquanto os troianos foram dizimados e tiveram sua história contada apenas pela ótica dos vencedores.

Para a sistematização deste estudo, elaborou-se um planejamento para a análise das obras O Continente, v.I e Ilíada, considerando-se similitudes textuais e contextuais, conforme indicações de categorias e elementos das narrativas explicitados por Carlos Reis (2003) e de transtextualidade por Genette (1982).

 Dos prenúncios da aurora dos tempos, os mitos em Ílion e a literaturaem Santa Féreinterpretam a idealização do amor, a conquista pela guerra, a busca pela paz e a defesa da comunidade em cenários onde a morte se inscreve no corpo do herói e na alma do povo, como protagonista épica da reconstrução do passado primordial.  

 1 O Continente e Ilíada: conexões transtextuais

      

Os textos que compõem as narrativas, focalizadas nessa análise, conduzem às raízes do idealismo, da barbárie e da civilização, da convicção apaixonada e da traição, da nobreza e da pobreza,  da épica e do romance, em similitudes sobre a destruição de universos e de utopias, entre o real e o ficcional, o histórico e o mítico, o ancestral e o contemporâneo, de heroínas e de heróis (re)construídos na memória ficcional.

A opção por procedimentos transtextuais sobre o romance e a épica eleitos para essa abordagem - inspira-se em Barthes (1976), ao afirmar que o texto não é uma sucessão de termos envolvendo um único sentido, mas uma tessitura de empréstimos textuais de vários cenários culturais onde circulam escritos; os quais se entrecruzam e se chocam, embora haja apenas um lugar no qual se centra essa multiplicidade – o receptor, no instante em que se efetiva a interpretação da leitura.

No reexame dos sinais transtextuais entre O Continente e Ilíada, exploram-se elementos desde o título ao âmago dessas narrativas através de elos entre o sentido figurado e o expresso sob o texto literal, como denúncia de preconceitos e repressão; jogo de poder entre dominados e dominantes; ideologias de expansionismo territorial; destruição de instituições e de modos de viver, ou simplesmente a expressão de conceitos imobilizados no passado e ressignificados ao lume da transtextualidade.

A paratextualidade se estabelece entre a relação dos nomes do romance e da épica, que remetem ao espaço geográfico sobre o qual se desenrolam as narrativas: o Continente de São Pedro, antiga denominação do Estado do Rio Grande do Sul e Ílion, ancestral nome grego de Tróia. Desta forma, os sinais paratextuais, entre os títulos dessa obras, inserem-nos como temáticos, segundo referência de Genette (1982).

Entre O Continente e Ilíada a metatextualidade emana em diversas cadeias de significados, principalmente, em críticas emitidas por personagens sobre as tempestuosas desventuras dos protagonistas, as quais estão articuladas a grandes eventos de guerra e à interferência de forças independentes das ações dos personagens nas decisões sobre seus destinos, como a conspiração dos deuses na Ilíada e a política de confronto bélico para a consolidação federativa em O Continente; além da opressão e derrota dos povos sob o domínio dos oponentes nos episódios transcorridos da Revolução Farroupilhaem Santa Fé e na guerra de Tróia em Ílion.

A arquitextualidade se estabelece entre o romance de Verissimo e a épica de Homero, por diversas características indicadas por Genette (1982), como enunciação e enunciado. Entre as relações arquitextuais destacam-se relatos retrospectivos sobre a origem e (in)volução de gaúchos e troianos, das quais Verissimo e Homero não participaram.

Nessas narrativas, os redutos do poder, como o castelo de Príamo em Tróia e o sobrado de Santa Fé, eram cenários onde o tempo corria sem calendários e a lei era ditada pelo mais forte. Porém, a gênese de Ana e Pedro se aliou à história marcada por períodos de evolução e derrota de uma sociedade em transformação política, econômica e social; enquanto a narrativa de Homero esgota-se com a derrota de Tróia e a dizimação do povo troiano.

Para a interrelação da estrutura dos textos em tela, faz-se necessário apontar algumas características das épocas e dos espaços cênicos dos enunciados. A ficcional Santa Fé situa-se, pela biografia dos personagens, em um período histórico integrado à saga das famílias Terra e Cambará para a consolidação do território rio-grandense; entretanto é difícil traçar o perfil da distante Tróia, palco da Ilíada. Sabe-se que os mitos e os eventos que compõem a épica surgiram antes das indagações filosóficas e de todas as concepções de arte, história, ciência e religião como se apresentam hoje.

A trilogia - O tempo e o vento - compõe-se por três títulos: O Continente, O retrato e O arquipélago, publicados entre 1949 e 1962; cada livro apresenta uma estrutura narrativa independente, mas interrelacionada por personagens e eventos que mesclam ficção e história sob uma perspectiva realista.   

Zilberman (1989: 44) esclarece que a estrutura do romance, O Continente, v. I, abre e fecha com uma moldura, o cerco ao sobrado, que se desdobra com ritmo próprio em relação ao conjunto do texto, no qual se salienta o jogo moldura/sequências internas, que seguem com integridade o fechamento da narrativa; outro jogo se estabelece pelo cotejo entre a história do Rio Grande do Sul, do início da colonização, passa pela Revolução Farroupilha (1835 -1845) até o apogeu do castilhismo, com a vitória de seus adeptos na Revolução Federalista em 1895, anoem que Licurgo conquista a hegemonia política sobre Santa Fé.

O Continente apresenta cenários e temas que transversalizam a obra em desdobramentos e espelhismo, por exemplo: o livro inicial progride intercalado aos demais com destaque para a ação de Licurgo - o herói construído sobre um molde diverso do Capitão Rodrigo - luta para assegurar o pódio social representado pela propriedade, isto é o sobrado, que antes pertencia à família Amaral, opositores dos Terra Cambará, em relação a princípios morais e ideais políticos. Além de grandes contendas, o sobrado é o palco no qual se instalam e se desenvolvem vários episódios como o nascimento, a vida e a morte de representantes de várias gerações, a derrota e a vitória de heróis em diversas guerras.

Em O Continente, consoante Zilberman (1989: 30-31), textos em itálico antecedem os capítulos de O Sobrado, para referir acontecimentos históricos, oportunizar a manifestação de um personagem coletivo, os efeitos das inúmeras guerras que sacrificavam a população, a trajetória dos Carés, que representam o segmento dos excluídos sociais; nessa condição, eles desempenham papéis secundários até o volume II, quando passam a ser agentes de transformação política.

A estratégia de Verissimo, para preencher as lacunas apontadas por Zilberman (1989), reside na interligação de personagens por objetos herdados ou presenteados, como o punhal de Pedro Missioneiro - representando a masculinidade, e a tesoura de D. Henriqueta – símbolo de feminino, com a qual Ana Terra trouxe à luz muitas crianças e depois a entregou para Bibiana; as novas gerações assegurariam a continuidade aos Terra Cambará, que protagonizariam os demais livros da trilogia: O Retrato e O Arquipélago.

A estrutura da Ilíada como indicam as referências de Schüller (1972) evolui sobre um esquema planejado em torno da fúria de Aquiles; desde o início da ação no proêmio, com a invocação à deusa e a apresentação do motivo inicial da discórdia entre ele e Agamenon. A ferocidade do herói grego se manifesta no desenvolvimento das batalhas, mesmo sem a presença de Aquiles e se desloca impetuosamente até a conclusão, com a morte de Heitor. Embora, essa fórmula pareça inacabada, esse desfecho deixaria Aquiles satisfeito ao provar sua supremacia e sua estratégia para possibilitar a vitória dos gregos pelo enfraquecimento do exército troiano desfalcado de seu maior comandante, Heitor.

Ao iniciar o poema, Homero apresenta a invocação das musas, como crédito à tradição épica pela transmissão do objeto cantado; assim, volta-se para fora e acolhe a inspiração que imprime beleza e veracidade aos fatos dos quais o poeta não é testemunha ocular. Algumas lacunas surgem, pela inquestionável palavra das musas, as quais são esclarecidas pela atuação dos deuses que favorecem a ação dos lutadores, principalmente dos heróis, como Aquiles e Heitor.

Sobre o preenchimento de lacunas por atuação divina, Schüler (1972) esclarece que ao contrário do que acontece na idade da razão, na cultura mítica os ouvidos são testemunhas mais verdadeiras que os olhos. O mito se sustenta na palavra inspiradora das musas, da tradição, do passado; diante do qual o poeta não é mais que um instrumento da verdade que lhe é exterior e eterna.

A Ilíada é o canto das musas, que falam a linguagem dos antepassados e os estereótipos de sempre; o poema épico valoriza a realidade exterior, a constância de um mundo fixo, de um tempo em que o homem não tem consciência individual e se percebe pelos ouvidos do outro; portanto não possibilita a subjetividade, nem permite comentários do poeta, como a poesia lírica. Pelas características da épica, a ausência do poeta é tamanha que muitos duvidam de que os poemas homéricos sejam de autoria de um poeta individual.

Tal como em O Continente, na Ilíada, há uma liturgia relativa aos objetos pessoais das protagonistas. A armadura de Aquiles é um elemento presente em vários momentos; desde que sua mãe lhe presenteia com a preciosa e simbólica veste de ouro elaborada por Hefesto, a qual se tornou objeto de identificação do herói. Protegido por suas armas, Aquiles enfrenta e mata muitos inimigos, tornando sua figura resplandecente um sinônimo de implacável vitorioso. No canto XVI, ao ver a recusa de Aquiles em lutar, Pátroclo pega a armadura dele, veste-a e combate com Heitor, que reconhece pela armadura seu maior oponente; porém ela escondia Pátroclo, que a usou com o propósito de atrair o troiano.

Após a vitória, Heitor - vestindo a armadura que tirou do inimigo morto - esperou que Aquiles o enfrentasse para vingar Pátroclo. Despojado de suas armas, Aquiles vê-se impedido de lutar; para que ele retorne à batalha Homero dedica quase todo o canto XVIII às novas armas do grego, principalmente ao detalhamento do escudo. Corajosamente, Heitor lutou contra Aquiles, que após vencê-lo, tomou-lhe a armadura e arrastou o corpo do troiano pela arena em torno do castelo de sua família em comemoração à desforra pela perda de Pátroclo.

  A permanência da Ilíada e da Odisséia na literatura contemporânea, na apreciação de Schüler (1972), reside na eloquente narrativa que progride sobre a arquitetura poética aliada a fatos que eram preservados pela tradição oral, constituindo-se em obras de arte não fixadas a contextos exteriores. Especialmente, a Ilíada, cuja estrutura se constrói com a incorporação de personagens da tradição épica, no entanto, o poema dá-lhes personalidade própria conforme seus propósitos para detalhar os feitos de Aquiles durante o cerco ao castelo de Tróia.

A interrelação entre a arquitetura textual das obras em estudo se evidencia pelas características heróicas dos personagens - sobre os quais o texto progride em contextos primordiais de guerras em defesa territorial, pela transgressão de códigos rígidos de conduta moral; por romances proibidos; pela excelência da estrutura textual cíclica e espelhada, com episódios centrados em um personagem aos quais os demais se relacionam na construção do enredo e da trama e, principalmente, pela ação de protagonistas, que se tornaram parte da história e da mitologia de suas épocas. 

Em O Continente, o capítulo O Sobrado fraciona-se e evidencia a ideologia e a coragem de Licurgo do início ao desfecho da história à qual se somam episódios vivenciados por outros antecessores; na Ilíada, a ira e a bravura de Aquiles abrem e fecham a epopéia com recortes que cedem lugar a atuação de outros personagens.   

A transitoriedade e a efemeridade do tempo triunfam além da grandiosidade dos eventos e da supremacia de um povo sobre o outro, tudo termina: a morte celebra o réquiem final; somente ruínas imemoriais possibilitam a reinterpretação do heróico passado de Santa Fé e de Tróia.

 

2 Universo mítico, aspectos épicos, históricos e literários

 O romance O Continente e a épica Ilíada referem-se a universos distintos em relação ao tempo, ao espaço e aos eventos narrados, sobre os quais não se podem dimensionar semelhanças ou diferenças, porém ambos apresentam similitudes em um tempo primordial dos povos protagonistas destas narrativas.

No Continente, sob a crônica da história, a qual para Chaves (1981) é secundária enquanto conteúdo; embora, indispensável enquanto arcabouço episódico - há o nível mítico do texto, que propõe como tema recorrente a oposição entre o transitório e o perene em combates entre a morte e a vida. Essa diferenciação crucial que se projeta na antítese entre os arquétipos geradores dos demais personagens.  

O universo mítico, no início da narrativa em O Continente, desenha-se em um local com características primordiais durante a fundação e construção dos rudimentos culturais da Província de São Pedro durante disputas pelas Missões entre portugueses e castelhanos; nesse local isolado, Ana Terra e Pedro Missioneiro concebem o início de uma estirpe. Após o assassinato de Pedro, outra tragédia se abateu sobre Ana: os castelhanos atacam e exterminam todos os homens da família; sobrevivem somente ela, uma cunhada e os sobrinhos, que viajam para um local que viria a ser Santa Fé.

Ao romper-se o cosmo primitivo da fazenda de Maneco Terra, Ana ingressa em uma realidade onde sua descendência atuaria em um universo histórico, que se transforma em um difusor da desmitificação de um passado real e, literariamente, reconstruído sob a ótica de Verissimo.

Zilberman (1989) afirma que o mito preside o processo de apresentação da história dos Cambarás e aparece sob diversas maneiras em O Continente,  obra que destaca a concepção de história circular, com a repetição de ações no tempo e no espaço por gerações que se sucedem.

 - a origem de uma família e de uma sociedade a partir da ação de um herói, Pedro, que apresenta traços incomuns de personalidade, caráter e crenças. Além de suas premonições, inclusive da própria morte, considerava-se filho de Maria, isto é, de natureza divina, e de certo modo, ele repete o sacrifício de Jesus;

- Ana e Pedro, o casal primordial, núcleo gerador do clã - vivem em regiões primitivas no inícios dos tempos de O Continente. As Missões Jesuíticas, locus da infância do missioneiro, configura-se como espaço sagrado, onde pagãos e cristãos se harmonizam;

 - como é próprio do mito, o tempo das origens pode ser recuperado através da repetição ritualística da ação dos ancestrais, o que acontece através da transmissão às gerações subsequentes de objetos, como o punhal de Pedro e a tesoura de Ana;

- a repetição de nomes próprios nas gerações mais jovens e a transmissão de traços hereditários paternos e maternos aos descendentes, como Pedro Terra, semelhante ao avô materno; Bibiana, que se assemelha a avó, Ana, da qual recebe o nome após o prefixo que indica duas vezes.

- Bolívar repete o gesto de Rodrigo Cambará e Licurgo, representante da última geração dos Cambarás em O Continente, é o somatório físico e psíquico dos antepassados;

A história da Província de São Pedro evolui desde a presença de Pedro nas Missões Jesuíticas durante a disputa destas reduções por portugueses e espanhóis e nas invasões de Santa Fé por castelhanos; as demais gerações de familiares desse casal presenciariam a imigração alemã, a Revolução Farroupilha, na qual lutou o capitão Rodrigo e a Revolução Federalista, quando Licurgo estava no lado vencedor.

O universo épico da Ilíada constitui um cenário ancestral composto de elementos colossais, onde homens deuses e semideuses partilham as mesmas vaidades e as mesmas fraquezas, como se exemplifica com passagens no Livro I: a intervenção de Tétis em favor de Aquiles, ao mostrar seu desejo de vingança, quando ela pede a Júpiter que favoreça a vitória dos troianos para vingar a ofensa dos gregos contra seu filho.

Em Tróia, na última batalha narrada na Ilíada, os homens da família de Heitor foram mortos pelos gregos, porém Andrômaca e algumas mulheres e crianças foram poupadas. Sabe-se que Tróia desapareceu por relatos de outros autores, como Virgílio (35 a.C.), ao contar em Eneida que Andrômaca deixou este espaço mítico e saiu com alguns sobreviventes para fundar um vilarejo, onde nasceriam os gêmeos, Remo e Rômulo, que iniciariam a construção de Roma.   

Somente no tempo/espaço mítico criado por Homero seres divinos poderiam co-existir com humanos; como Helena, filha do próprio Zeus, que despertava a paixão dos homens e ocasionava a destruição de reinos e Aquiles, o maior herói grego, também tinha ascendência sobre-humana, seria filho da deusa Tétis e de um mortal Peleu. A origem de ambos, ou seus destinos, após a guerra, não são abordados na Ilíada

As características míticas dos heróis, dos seres divinos e do universo da Ilíada são elementos indissociáveis do cenário imutável em um passado distante, no qual os personagens viviam cada dia sem questionar o presente ou o futuro, pois para os seres Homéricos tudo acontecia por vontade divina.   

As características da epopeia, e principalmente pela ausência de fontes históricas, sobre a existência e a localização de Tróia, ou sobre as causas reais da  guerra que teria ocorrido no século XIII a.C.; ou ainda as incertezas sobre a autoria da Ilíada por Homero, tornam esta narrativa mais fascinante.

Com a derrota de Heitor e a invasão do castelo de sua família, o universo mítico se desfaz e a narrativa de Homero esgota-se. De modo inverso, em O Continente, o universo mítico do início da narrativa rompe-se para que a literatura ficcionalize a história de uma família e a história heróica do povo sul-rio-grandense. 

 

 3 Motivos literários, fábula, trama e tempo narrativo

 Nas obras em análise, os motivos - que compõem a psique dos protagonistas através de atributos de caráter, concretizam-se na liderança, no comando dos guerreiros, na coragem e no comprometimento em defender os aliados e aniquilar os inimigos - interligam-se às características de Aquiles, Heitor e Rodrigo; enquanto as heroínas, como Helena e Ana Terra, amavam e sofriam pela escolha de um homem estranho às suas comunidades.

O amor impossível, a guerra, a destruição e a morte, encontram-se no âmago dos motivos que constituem a fábula e a trama dessas narrativasem estudo. Empregam-seconcepções de Tomachevski (1925) sobre o termo motivo, que corresponde à “unidade temática” em um conjunto ordenado de subunidades que formam a trama. Para este autor (1925: 177), “a fábula exige um índice temporal e causal, em uma sucessão cronológica de causa e efeito que constitui o conjunto de acontecimentos” que compõe a narrativa. A trama é uma construção artística constituída pelos mesmos acontecimentos, na ordem em que aparecem na narrativa.

Em O Continente v. 1, os motivos tecem uma trama que avança e recua por quase cem anos. Do assalto ao sobrado, no qual Licurgo defendia seus ideais republicanos contra o ataque dos federalistas em 1895, a sequência narrativa desloca-se ao capítulo denominado A fonte, onde nasce e vive Pedro Missioneiro até a expulsão dos indígenas pelos portugueses em 1756.

Em uma linha atemporal, dois principais motivos interligam-se em O Continente: a história da família Terra e a história da gênese e evolução do povo gaúcho em sucessivas guerras, das quais a mais longa entre1835 a 1845, foi a Guerra dos Farrapos; quando os gaúchos tiveram seu território invadido em batalhas entre federalistas e republicanos.

Na Ilíada, motivos, trama e fábula progridem cronologicamente durante a narrativa através do recurso de delimitar aproximadamente cinquenta dias do último ano da guerra de Tróia. A partir da eclosão da ira de Aquiles, que se introduz por suas consequências sobre o segundo motivo: a superioridade dos gregos sobre os troianos nas batalhas travadas e nas façanhas dos heróis, que estão descritas no campo visual do leitor; as respostas e os revides a ataques entre os contendores são detalhadas para evidenciar o heroísmo do mais bravo entre os gregos, que invadiram e dizimaram Ílion.

O jogo temporal demarca, como referencia D’onofrio (1990), o plano da enunciação e o plano do enunciado. Mais de dois séculos marcam a distância entre a ocorrência dos primeiros episódios em O Continente e a edição do romance por Verissimo; enquanto quatro séculos, indicam o transcurso entre a guerra de Tróia e a composição do poema por Homero.

As origens e as consequências do amor transgressor com final trágico apresentam-se na gênese da épica, tal como no romance; nos quais os motivos se desenvolvem nas fábulas das respectivas tramas. Em O Continente, Ana Terra apaixonou-se por um índio vindo das Missões, que se hospedou na casa da jovem; deste amor origina-se a trama amorosa que se desenvolve a partir da gravidez da jovem, da revolta da família que sentenciou a morte do rapaz. Desses eventos, origina-se um novo ciclo para a história de Ana e de seus descendentes por duzentos anos.

Na Ilíada, ocorre o rapto de Helena por Páris, o príncipe troiano, que ao hospedar-se na casa de Menelau, apaixona-se por sua mulher, mantém com ela um romance secreto e a leva para Tróia. O relacionamento de ambos ocasionou a invasão do território de Ílion pelos gregos em uma guerra que se estendeu por dez anos.

Os amantes dessas protagonistas, Pedro, o índio missioneiro, e Páris, o nobre príncipe, mesmo sendo personagens decisivos para a construção motivacional das tramas, caracterizam-se apenas como coadjuvantes das séries de eventos oriundos de suas relações amorosas, as quais chocaram os padrões de comportamento ético e social de suas épocas.

A passagem de Pedro Missioneiro pela obra é marcante pelas consequências que provocaria na vida de Ana, mas ele é insignificante como personagem; tal como Páris, que ao raptar Helena se tornaria o estopim da Guerra de Tróia, porém sua personalidade frágil o esconde na narrativa que se desenrola sem sua presença, pois ele é obscurecido pela bravura e heroísmo de Aquiles e de Heitor.

Por suas amadas, Pedro e Páris desconsideraram as diferenças e selam um destino traçado previamente por seus delitos, porque incorreram em transgressões, cujas consequências extrapolam a si mesmos, atingindo gerações de seus descendentes.

  Em O Continente; a morte da família de Ana é o motivo da sua saída do espaço fechado e distante dos núcleos de urbanização da época. As primeiras gerações dos Terra Cambarás progridem econômica e socialmente através do trabalho, porém  as demais envolvem-se em eventos que associam desagregação político-social, até o último episódio da trilogia. 

A ação de Aquiles, nos poemas da Ilíada, consoante Schüler (1972), “situa-se em limites temporais, mais ou menos determinados e se concentra em personagens precisas”. Para este autor, Homero “cria a unidade de tempo e de ação, muito antes de os teóricos refletirem sobre a estrutura da obra literária”.

A Ilíada, na análise de Schüler (1989), desenvolve-se num plano teleológico, com múltiplos episódios encadeados em unidades abertas que remetem a um fim, que é determinado pela fúria de Aquiles, que eclode e se desdobra em incidentes paralelos no início e no final do poema; isto é, o Canto XIX, corresponde antiteticamente ao canto I, nos quais se realizam assembleias nas quais Agamenon e Aquiles se defrontam. No final, seus sentimentos se abrandam, ao recuperar sua escrava que lhe fora tomada no por Agamenon.

Desta forma, os conflitos iniciais são solucionados próximo ao final do poema; por este plano, Schüler (1989) afirma que a Ilíada fecha-se em círculo, com Aquiles reintegrado ao exército e Tróia resistindo como sempre: o fim remete ao início em uma circunferência sobre  o universo humano e o cenário mítico, sobre o amor e o ódio.

A épica homérica inaugura um gênero de características sólidas, que apresenta variação e transitoriedade no ato de contar e da representação de diferentes subjetividades, sob pontos de vista que assinalam a polifonia no foco narrativo. O tempo homérico, como observa Schüler (1989:42), distingue-se do tempo psicológico do romance moderno: “o tempo psicológico se opõe ao tempo medido pelos relógios [...]; distinguimos o tempo exterior do tempo interior e sabemos que um não coincide com o outro”.

Os diversos episódios que constituem a Ilíada interligam-se pela presença dos heróis, ou pela causa e efeitos das ações heróicas, que são coordenadas na composição estrutural da unidade estética do texto. Os procedimentos empregados por Homero - ao apresentar e encadear os motivos, que constituem a temática da Ilíada - correspondem aos diversos tipos de motivação, semelhantes os que seriam dois milênios depois teorizados por Tomachevski (1925). 

Em O Continente e na Ilíada, o mosaico de motivos, trama e fábula, constroem-se sobre o caráter épico da origem e consolidação dos territórios sul-rio-grandense e troiano; diversos episódios transcorrem durante vitórias e derrotas em batalhas desumanas, enquanto amores considerados inadmissíveis pelos padrões culturais de épocas primevas envolviam os amantes, porém as tramas de destruição e morte abreviam seus destinos.

As relações ideológicas entre os heróis e as instituições, a força e a fragilidade humana devastadas pela paixão destacam-se nos episódios que incidem sobre a alegoria punitiva da transgressão pela quebra do código amoroso e ético exigido pelas sociedades fechadas e estratificadas onde viviam Ana e Pedro, Helena e Páris, nas quais a lei era imposta pela violência, exclusão e morte.

 4 Personagens, cenários, ações, duelos e guerras

 Entre O Continente e a Ilíada podem ser identificadas diversas cadeias de significados, como: características primordiais em lutas pela defesa e consolidação dos territórios, amantes que arriscam a vida por suas amadas, contendas por ampliação de domínios pelos Amaraisem Santa Fé e por Agamenon em Tróia; valores de honra e glória, valorização de ideais comunitários acima da vida individual, como Rodrigo Cambará e Heitor, que em universos de milênios distantes rompem limites e convenções para superar as trágicas desventuras de suas biografias ficcionais.

Em O Continente, os personagens ficcionais, principalmente, Rodrigo, a síntese do herói/anti/herói, morto em combate no sobrado, e Licurgo que, décadas mais tarde, fez do mesmo sobrado, o espaço de luta por seus ideais; ambos são identificados por detalhes característicos de protagonistas que defendem suas comunidades, como representantes da tipologia gaúcha; seus arqui-inimigos, Bento Amaral e seu pai Cel. Ricardo Amaral, apresentam-se como protótipos da elite local, caracterizada como opressora e contrária aos interesses da maioria da população de Santa Fé. Enquanto os personagens não-ficcionais, como Bento Gonçalves e Bento Manuel, apenas atuam em fatos históricos.

As referências de Tomachevski (1925: 193) esclarecem que o “caráter dos personagens pode apresentar-se de forma direta e indireta”.  As características dos heróis de Verissimo e de Homero são apresentadas diretamente pela fala, ação e bravura em atos cotidianos ou heróicos e, também, de forma indireta pela descrição dos sentimentos, emoções e impressões que causam nos demais personagens. Por exemplo, a fala de Rodrigoem Santa Fée de Aquiles em Tróia revelam, entre outras qualidades, seus modos afáveis com as mulheres, enquanto os relatos de seus feitos heróicos pelos outros personagens mostram a bravura e o destemor deles na defesa de seus pares.

Os heróis de Ílion, apesar de se identificarem com estereótipos épicos são dotados de paixões, determinação e vontade própria, como demonstra Aquiles, no duelo em que despojado de ajuda divina, enfrenta Heitor e triunfa sobre a morte do inimigo.

A figura de conselheiro emerge das duas narrativas; em O Continente, o padre Lara aplaca os ímpetos de Rodrigo; abranda sua cólera, tenta catequizá-lo segundo as crenças católicas e se torna seu mediador na defesa do relacionamento do herói com Bibiana em tratativas com o pai dela. Na Ilíada, Nestor intervém junto a Aquiles, para incentivá-lo a lutar, ou para persuadi-lo a conciliar, como nos cantos I e IX; é ele quem sugere prudência e estratégias para a reconciliação entre Agamênon e Aquiles; no livro VII o conselheiro intervém com seu discurso para que ambas as partes interrompam a guerra e enterrem os mortos.

A amizade e a confiança entre o Padre. Lara e o capitão Rodrigoem Santa Fée de Nestor e Aquiles em Tróia mostram a composição de caracterizações psicológicas opostas e revelam planos ideológicos distintos em indivíduos integrantes de segmentos sociais diferentes, porém partícipes da mesma comunidade.

A estratificação sócio-econômicaem Santa Féé representada pelas famílias Terra e Caré, que se originam na periferia ruralista, migram para uma célula populacional, que se urbanizava e, através do trabalho e inserção nos valores comunitários traçam sua ascendência em disputas pessoais e partidárias; a elite local é representada pela família Amaral, detentora do domínio e do poder político sobre a comunidade.

Na Ilíada, além da divisão de castas entre nobres e plebeus, entre os quais estavam soldados e escravos; há a diferença entre a natureza humana e a divina; os deuses eram considerados perfeitos e exerciam influência para a vitória ou derrota dos exércitos e, consequentemente, sobre os destinos dos heróis.

A intervenção dos deuses no Olimpo para as vitórias de Aquiles e os desmandos dos governantes em Santa Fé são decisivos sobre o destino dos personagens. Os seres ficcionais de O Continente tiveram suas histórias definidas por eventos que ocorreram antes, durante e após as guerras, nas quais as estratégias de personagens históricos, como Bento Gonçalves e Garibaldi, decidiam a batalha e, assim, a vida e a morte dos personagens, como Rodrigo. 

As guerras das narrativas analisadas impõem limitações e árduas renúncias aos contendores, que sacrificaram suas filhas em um lúgubre intertexto: no cerco ao sobrado, apesar dos esforços de Maria Valéria, a filha de Licurgo, morre ao nascer, por falta de assistência médica; pois o pai não se arriscou a transladar a esposa grávida para um hospital. Na Ilíada, Agamenon, antes de sair para a guerra, sacrificou sua filha, Ifigênia, à deusa Ártemis para que ela o favorecesse com o vento para tornar propícia a navegação; este ato cruel não é narrado na Ilíada, mas na peça Agamêmnon, de Ésquilo e também na obra máxima de Virgílio, Eneida, escrita aproximadamente em30 a.C.

Os elementos naturais dos cenários das narrativas em análise interagem na dinâmica cotidiana dos seres ficcionais, como as estações do ano, o frio, o passar dos dias e o vento. O vento, que não raramente personifica-se e entra em cena com os personagens, ao aguçar-lhes os sentidos; como em O Continente, expressa a velha Bibiana: "Noite de vento, noite de mortos", em Verissimo (2002); na Ilíada o vento atua diversas vezes como um personagem invisível e alia-se aos desejos dos deuses para ofuscar a visão dos inimigos.

Os períodos introdutórios de O Sobrado I em O Continente e do Livro III da Ilíada narram confrontos entre exércitos inimigos; porém, antes situam o leitor na paisagem onde o silêncio e o frio dominam o sobradoem Santa Fé e a Fortaleza realem Tróia. No interior destes parágrafos encontram-se palavras que remetem à metáfora de derrota, como cemitério, ruína e morte; estas premissas se confirmam no jogo que se desenrola em diversos combates narrados. Erico escreveu (2005:21)

 Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado. Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até escutar o sereno na solidão.

 Homero (2005:91) versificou:

 Os Teucros em batalha, após seus cabos,/ gritando avançam: tal se eleva às nuvens/ o grasnar de aves pernaltas, que em áreas turmas,/ da invernada e friagem desertores,/ contra o povo Pigmeu com ruína e morte,/ o Oceano transvoam. Desejosos de entreajudar-se, em silêncio os gregos/ força e coragem respirando marcham.

 Em O Continente v.I, em 1836 o sobrado foi palco de várias mortes, como a do capitão Rodrigo pela causa farroupilha em combate com seu maior opositor; posteriormente outra luta transcorreria no mesmo sobrado, em 25 de julho de 1895, entre federalistas e republicanos, enquanto vários fatos ocorrem com a família de Licurgo: Maria Valéria assiste a cunhada no parto e providencia o enterro da sobrinha que não sobreviveu.

Na Ilíada, a narrativa dos embates armados prossegue na fortaleza, durante alguns dias com diversos episódios de luta e dor, de cerimônias fúnebres e enterros dos mortos, como de Pátroclo pela espada de Heitor e deste pela espada de Aquiles. 

 Os duelos narrados no romance e na epopeia apresentam coincidentes desfechos: o capitão Rodrigo, forasteiro que se instala em Santa Fé, trava um duelo com Ricardo Amaral em disputa pelo amor e pela sorte de Bibiana no início do capítulo ao qual empresta seu nome, Um certo capitão Rodrigo. Armado com uma espada, ele iniciou a forja de sua inicial no rosto do rival; o oponente violou a honra de conduta e atingiu Rodrigo com um tiro, que lhe seria fatal sem a ação salvadora do amigo Juvenal Terra.

No capítulo III da Ilíada, narra-se o confronto entre o exército das forças gregas e o troiano, liderados por Menelau e Páris, que se enfrentariam em duelo na disputa pessoal por Helena; porém Afrodite o livra dos golpes de Menelau e o transporta para os braços da amada no leito, onde Páris esquece o rival.

Nos enfrentamentos, os contendores, Rodrigoem Santa Fé, Páris em Tróia, foram poupados da morte, tornando as mulheres vencedoras nesta disputa amorosa; porém a morte os esperava em outro ponto das narrativas. Entretanto, o mais formidável foi o último e derradeiro duelo que aplaca a ira de Aquiles ao matar cruelmente Heitor, o responsável pela morte de Pátroclo.

As derrotas de Rodrigo e de Licurgoem Santa Fé, de Páris e Heitor em Tróia antecedem o desfecho de guerras perdidas, que remetem à decadência e à desfragmentação do universo das respectivas narrativas. O desfecho da guerra de Tróia, nem o final da revolução federalista em 1895, ou a rendição da Revolução Farroupilha em 1845, não são relatados pelos autores; pois as histórias dos personagens eram focos centrais das narrativas, enquanto as batalhas constituíam motivações para os episódios e cenários para a ação ficcional.

Para Chaves (1981), a mais profunda oposição na estrutura de O Continente não está na divisão de personagens históricas e imaginárias; mas na dialética entre o transitório e o permanente, que intercalam a narrativa através do tempo histórico com guerras, massacres e violência, Neste contexto, surge o Capitão Rodrigo Cambará, como protótipo deste comportamento coletivo e como matriz de outros vultos guerreiros, que se alternam na obra.

Elementos espaço-temporais permitem a identificação de traços semelhantes, na enunciação, no desenrolar e na estrutura das duas tramas: embora Santa Fé seja um universo ficcional, o local criado por Verissimo insere-se no mapa do Continente de São Pedro, assolado pelas guerras em que lutaram heróis reais e ficcionais. Homero não indica a cronologia nem a localização dos cenários das batalhas. As informações pesquisadas indicam que Tróia situava-se num espaço geo-histórico na Costa da Turquia há aproximadamente três séculos antes do nascimento do grego poeta épico.

Além dos jogos transtextuais, dos elementos alegóricos, das semelhanças na reconstrução narrativa do tempo primordial do povo gaúcho e do troiano, o nome de Erico ao somar-se ao de Homero totaliza-se no adjetivo homérico; ambos ampliam-se nos universos de O Continente e da Ilíada.

REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland.  Introdução estrutural à análise da narrativa. 1976.

CHAVES, Erico Verissimo: realismo & sociedade. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado aberto, 1981.

CHAVES, Flávio Loureiro. O narrador como testemunha da história. In GONÇALVES, Robson Pereira (Org.) O tempo e o vento: 50 anos. Santa Maria: Ed. UFSM; Bauru; EDUSC, 2000.

D’ONOFRIO, Salvatore. Literatura ocidental. São Paulo: Ática, 1990.

GENETTE, Gérard. Palimpsestes. Paris: Édtions du Seuil, 1982.

HOMERO.  Ilíada. Trad. Manuel Odorico Mendes.São Paulo: Martin Claret, 2006.

REIS, Carlos. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. 1ª ed.- Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

SCHÜLER, Donald e GOETTEMS, Miriam Barcellos. Mito, ontem e hoje. Porto Alegre: UFRGS, 1990.

TOMACHEVSKI, Boris et al. A vida dos procedimentos da trama. Teoria da Literatura, formalistas russos. (1925). Porto Alegre: Globo, 1973.

VERISSIMO, Erico. O Continente. Vol. 1. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.



[1] Nesse estudo, emprega-se a grafia Erico Verissimo, sem acento, como consta na certidão de nascimento do autor, segundo a grafia vigente naquela época.  

[2] A noção de palimpsesto, introduzida por Genette (1982), remete ao conceito de transtextualidade, que engloba todos os elementos que colocam um texto em relação manifesta ou secreta com outros.