Moinhos de ventos (simulacros da realidade)

 

Os cinéfilos dizem que o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, está para a sétima arte tupiniquim, assim como Os Sertões, de Euclides da Cunha, está para a literatura nacional. As obras mostram uma realidade “desconhecida” que aos poucos se começa a compreender. A verdadeira face do povo brasileiro aparece, a do herói miserável que vive num mundo de secura e violência. O triste poema épico da vida: a terra, o homem e a luta.

Não raro, sempre alardeiam que em pleno século XXI ainda existem homens que trabalhavam em regime de escravidão. Não é novidade que as pessoas mais simples, inocentes e ingênuas não conseguem ter uma consciência plena da realidade e acabam por reproduzir e aceitar o pensamento neoliberal, se tornando presas fáceis, favoráveis à perpetuação do status quo, acham tudo natural. Acham natural o jovem se marginalizar, acham natural a menina vender seu corpo, acham natural o patrão mandar e o trabalhador calar, natural poucos ter muito e muitos nada ter. Porém, há de se ter certeza de uma coisa, a consciência não é linear! O poeta ensina que a dignidade só se afirma pela negação do silêncio.

A globalização é uma realidade, através da rede você está em todos os lugares, faz todo tipo de negócios, se comunica, bate-papo e faz o globo girar. Entretanto, quem tem acesso a essas novas tecnologias, quem vive essa realidade? O jovem desempregado? A mãe que trabalha em três horários para sustentar e educar o filho? Quem?...

 O Brasil vive num paradoxo tremendo: existem praças com Internet grátis, mas se você quiser pesquisar, mandar um e-mail ou visitar o facebook terá que procurar a Lan house mais próxima e pagar para ter o serviço. Não temos o computador, nem o celular da hora!

Os simulacros da realidade estão por aí, nas convenções sociais, você é livre para fazer tudo que quiser, pode até falar outras línguas e estudar mais, desde que pague. Você é um cidadão do mundo, mas grátis só para os filhos abastados da sociedade, aos bastardos não! Aquilo que poderia ser um benefício, para os pobres se torna um grande elefante branco.

Não se pode manipular a qualidade de vida das pessoas através da máscara de uma amizade protetora, tal qual Bush na “Guerra contra o Terror”. A propaganda enganosa caracteriza esses simulacros por meio de discursos políticos bem elaborados. É preciso ficar atentos aos políticos e candidatos. Não se pode deixar que eles mostrem uma realidade que não existe. Não a mentira - é a palavra de ordem!

Um simulacro muito bom de conhecer é o de Dom Quixote De La Mancha, de Cervantes. A luta de um cavaleiro andante contra os moinhos de ventos fez bem a todos que tiveram o prazer de conhecer a história. Ferreira Gullar que fez uma adaptação da obra para a juventude ler, disse: “queremos a sensatez que protege, mas não resistimos à loucura que arrebata. E por isso, inventamos a arte, que nos permite experimentar a loucura sem correr o risco de ir parar num hospício”.

Parece loucura dizer isso, mas é somente com a política que se pode mudar a realidade, apesar das decepções com a politicagem. O mundo não é uma miragem ideológica, a prova disso foi a China que realizou os Jogos Olímpicos em Pequim. Uma cultura milenar que uniu tradição e modernidade, países pobres e ricos, comunismo e capitalismo. Como se não bastasse ainda mostrou em seu slogan para todo planeta que um mundo novo é possível. Um sonho que se tornará realidade!

*Geone Angioli é especialista em Literatura Brasileira e Professor de Língua Portuguesa do Instituto Federal  de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – Campus/Parintins.