Carlos Drummond de Andrade e a ‘‘educação do ser poético’’

          O ser humano na infância expressa seu mundo fazendo poesia com os objetos, com as palavras, com o corpo inteiro, a crianças pensam metaforicamente valendo-se das várias linguagens criadas e recriadas na cultura em que estão inseridas. A poesia é entendida como algo que expõe sentimento e pensamento, emoção e razão. A reflexão poética leva o indivíduo a imaginação e a sonhos por meio de sons, gestos, cores, formas e movimentos. A interação com a criança é importante, pois afirma que a imitação e a reverência pela palavra está presente na vida humana desde a infância através da origem poética, assim, a literatura se utiliza do cotidiano e das coisas e seres que nos rodeiam para tentar explicar questionamentos e sentimentos humanos.

         As crianças gostam de poesias, assim afirma Drummond e podemos comprovar essa assertiva quando observamos o interesse dos pequenos em atividades poéticas, em escrever poemas, em recitar quadrinhas, parlendas e, sobretudo decorar pequenos poemas com rimas. A rima atrai a criança e o jogo de palavras, adivinhações, cantigas de roda e o ritmo poético são motivos de satisfação para a criança. O lúdico poético está presente através dos estratos fônicos, do brincar com as palavras e do óptico.

        Muitas vezes para dar conta de suas inquietações, o homem, tenta obter respostas para perguntas que lhe são proferidas e as respostas muitas vezes trazem a tona um adulto que utiliza a lógica formal pretendendo sempre decifrar a ‘‘mensagem’’ ou saber onde o autor quer chegar e ‘‘quais são os sujeitos do predicado da oração’’,dessa forma ele transforma o poema em uma aberração da gramática.O vícios do adulto vem de uma imperatividade escolar que requer formar profissionais capacitados para lidar com determinados textos e estabelecer mediações com o meio social. Na infância a experiência vem da expressão adquirida através da ligação entre o real e o imaginário, os brinquedos, a invenção do prazer e o viver significam abrir portas e ir além do espelho,a linguagem e a vida se mesclam numa relação vital.

        O aprendizado vivido subjetivamente pode ser uma decepção ou um deslumbramento. A formação é valiosa na infância, pois o indivíduo precisa ver que cada momento é rico e a diversão é marcada sem preconceitos eternizando intensamente o momento em que vive. A etapa dos acontecimentos mais fortes deve ser superada, pois a experiência pode interferir na função do que é belo e a experiência estética pode colaborar com a aprendizagem e apreciação de uma obra poética. Para que a reflexão sobre o teor potencial e imagético seja gerada, é preciso que o educador partilhe com seus alunos questões que envolvam expressões artísticas, afirmando que a arte é uma forma de linguagem que trabalha o intelecto, a criatividade e as ideias em um dado momento da existência.

        A indagação apresentada na poesia de Drummond tem como característica a dimensão simbólica de um momento de formação do indivíduo a partir de seus vínculos com o mundo. Com interesse em formar apenas um profissional capacitado, a escola não repara o ser poético do aluno, não atende a sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento do mundo, estabelece apenas regras que envolvem a matemática, a geografia, a linguagem, sem se importar com o ensino através da poesia matemática, geográfica e linguística.       

         A poesia é um estado da infância relacionado com a necessidade de um conhecimento livresco, despreocupado com os mandamentos práticos do viver e precisa de uma pureza mental para existir. A criança deve permanecer com uma comunhão poética durante todo o seu desenvolvimento físico e intelectual, agregando e gerando durante toda a vida suas experiências com o mundo ao fazer poético. Tudo isso depende de fatores que atrelem aos diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo intelectual um enxergar real sobre as potencialidades individuais.

ANDRADE, C. D. de. Carlos Drummond de Andrade: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.