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Era uma vez,ou serão duas ou três? Uma menina de mãos e pés atados... Sem livro,sem amigos nada de peteca ou mariscos. A tal da menina atirada antes,tinha sido marcada. Uma história,ela repetia a quem por ela passava: "minha mão esquerda,a outra invejava.Queria ser como tantas, igual! " ...e suspirava...
E assim falava e lembrava toda hora que encontrava um ouvinte ou mané até motorista de táxi perguntava: "-senhora,como é mesmo essa história de mãos atrás amarradas?" Encompridando conversa atravessava... Dizem que cedo,cedo sua professora avisada pelo pai,outro destrambelhado, uma das mãos amarrara. A mãe,coitada,não se metia. Daquelas ideias,sem saber seguia,dia após dia, qual nada! de sapatos,era que entendia... A esquerda não podia! brigava,o pai enganado. E a professora,logo a primeira, obedecia,quem sabe,uma alienada...
Qual o quê!? Se a direita era livre, preguiçosa e desengonçada, reta régua,ou borracha apagava... Enquanto a outra,imaginava, tudo fazia,cansada pedia: vai,me ajuda,maninha... E a outra,se ria,ria...
Refestelada,a danada trocada de nascença,diziam, com faca não cortava, nem um leque abanava! E assim se soube da menina como torta e desleixada que santa,que nada... enquanto a esquerda corria a esperta da direita,hum... dissimulava,dissimulava... Tempos depois,a jovem desamarrada de amigos se afastava. Todos,com os olhos incomodados,lhe comiam: "-uma canhota,aqui não pode!" Que fazer? que poder!? mocinha,sacode,sacode!"
Anos passaram e o eco de amarração continuava... nem namorado,emprego, dinheiro?alegrias? ô prego! só a direita via... Por que será que uma canhota menina, mal falada,se via? Uns,dos fios invertidos, para ela explicavam,explicavam... Outros,de sem -vergonhice, achavam que ela sofria,sofria... Mas era só uma moça de mãos com força trocada a quem ninguém conseguia com paciência ensinar: a tocar violão,fazer bordado, bater bolo,então?!... nem pensar!
Um dia,mais que um dia, ela descobriu que pra jogar handball a mão esquerda servia. E muitos pontos,pro time da escola,faria... Ah! naquele dia,que folia! A mão que corria decidira esquecer... Que maravilha! a gente toda vizinha. Até à direita sabida que com ela implicava, um nada,nadica de nada, dobrada,ela contara... Foi quando,num lance de mágica sem cartola,ou varinha a mão esquerda,tinindo em poucas palavras,dizia: "-Vocês pensavam que eu não sabia que era uma biografia que sobre mim se escrevia? "anote tudo!"ele dizia..." e gargalhavam em bromaria... Pois foi assim que deixei o tempo passar e a língua grande e maldosa de todos vocês espichar." Deu de ombros para a letra “ garrancho, “montanha" e estrada “, como às escondidas, chamava aquela galera trancada. E assim crescia a menina desajeitada, há pouco, jovem inábil. doidivana, destrambelhada maluquinha? que nada! foi ficando uma mulher, dizem, pancada: Onde todo mundo em pé·ficava, ela, sem notar, sentava. Onde todos choravam carpideiras ou atrizes, ela, pasmem! consigo mesma, conversava, conversava... Uns sem graça praguejavam: “ -Sua mão, ninguém vai pedir não! porque de esquerda e mudada esse mundo gosta não!" Ela chorava às vezes, e meditava: (será que só a direita pode com pena, fama e dinheiro, boa vida conquistar? Mas eu só quero um pouco de sorte, um companheiro, quem sabe, outras parceiras pra diferença comentar...) De professora malfadada à blogueira pancada aquela menina, antes destrambelhada, passei a ser conhecida·como a” mão santa “·que a todos carimbava: ·” Esse eu gosto.Com essa eu me importo; aquele suporto; a outra, bem, a outra..." E assim, por anos registrava sua façanha: um longo tempo sem se olharem... de tendo uma irmã que parecia ser a mesma coisa que nada.
Até palmas,quando batiam,gente, era uma barulheira danada... "Ó procê! mais essa! E essa!" Pra todo mundo?aplausos,farofada. mas entre elas,as linhas é que sabem... Um dia,contam de quando em quando, que a tal da irmã despertou, depois de tanto ouvi-la sobre outras iguais a ela que a irmã mais não viam falou e falou... Pra encurtar a conversa, a despachada arrumou pra espertinha da destra um trabalho pesado pintou: "-você vai cuidar do rato! -Eu? Disse assustada,mas... -Chega de mão única! A partir de hoje e sempre você e eu vamos juntas! Amigas,parecidas e diferentes fazer o que nossos padrinhos pedirem Cabeça coração em frente...
Enquanto eu corro,coço e traço, você apoia,caminha e passa. Eu,com giz,um lápis ou à caneta; você,com tecla,microfone,ou rato." E assim,a menina amarrada, a moça encanada e a mulher doidivana, foram com suas mãos unidas, agradecidas,aprender e ensinar, a outras que se estranhavam a saírem de uma vida mundana de só a si mesmas enxergarem... A amarração foi desfeita, desamarrada! E quando um metido à besta, pra ela,à pancada,jogava: "- você é problemática, sua destrambelhada! Parafuso trocado!" Com um leve sorriso, em forma de mão estendida e delicada, abanava:tchau!tchau!
(seu panaca,que de gente diferente,você entende é nada!) em silêncio,soprava... Ela,parou,dizem,de repetir a história da amarração,da professora que obedecia, do pai enganado e da mãe da sapataria... Aprendeu a dar laços a fazer e desfazer nós e,principalmente,a estalar os dedos com euforia, a acordar pras boas ideias que apareciam... e encantadas,as duas, combinadas,costurariam... Uma mão lava a outra... e quando uma não puder por qualquer motivo ajudar, é só pensar mais um pouquinho que outra logo,logo... madrinha,aparecerá.
Nesse mundo cheio de conexões tem lugar pra toda gente: pancada e aluada também. Pode-se até com uma esquerda certeira, quiçá,encontrar um bem... parceiras e parceiros de trabalho,de jogos,e passeios tem,tem...olha que tem!
A mulher doidivana,em caravana, contam,seguiu viagem por trilhas jamais esperadas: novos amigos,diversas tarefas, e outras mãos,além,dadas.. Foi tudo o que se soube... e gente de mão boba e fechada nunca mais,me contaram, ela,agora bacana,sequer encontrava. E aquelas mãos,estabanadas, ainda comentam,"ô trem..." voltaram a bater palmas bafo-bafo,brigadeiro, mas com alegria e vintém...
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