Deborah Cristina Ferreira


Análise do Livro Mulher de Trinta Anos



Nova Mutum ? MT 2006


Introdução

O presente trabalho tem como objetivo a análise do romance realista de Honoré de Balzac, A Mulher de Trinta anos. Livro publicado pela editora Nova Cultural Ltda., uma divisão do Círculo do Livro em 1995.
Romance de cunho psicológico, cuja personagem principal é Julia, uma bela jovem que, contra a vontade, de seu pai, casa-se com um oficial das tropas de Napoleão Bonaparte. Homem bonito, rico, elegante e com muito prestigio social, porém de caráter duvidoso.
A presente análise será apresentada em quatro etapas:

1.Biografia do autor
2.Resumo da obra
3.Análise Literária
4.Análise Pessoal (conclusão)


1. - Biografia

Honoré de Balzac nasceu em Tours, em 20 de maio de 1799. Filho de um camponês convertido em funcionário público, teve uma infância infeliz. Estudou Direito em Paris de 1818 a 1821, obrigado pelo pai. Apesar da oposição paterna, decidiu dedicar-se à literatura. Entre 1822 e 1829, viveu na mais obscura pobreza, escrevendo teatro trágico e novelas melodramáticas. Em 1825, chegou a conhecer a sorte como editor e impressor, mas se viu obrigado a abandonar o negócio em 1828, à beira da bancarrota e endividado para o resto da vida.
Em 1829 escreveu seu primeiro romance. Trabalhador infatigável, Balzac produziu 95 novelas e inúmeros relatos curtos, obras de teatro e artigos para a imprensa nos 20 anos seguintes.
Em 1832 passou a corresponder-se com uma condessa polaca, Eveline Hanska, que prometeu casar-se com ele depois da morte do marido. Este morreu em 1941, mas Eveline e Balzac não se casaram até março de 1850. Balzac morreu em 18 de agosto de 1850.
Em 1834, Balzac concebeu a idéia de fundir todos os seus romances em uma obra única. Sua intenção era oferecer um grande retrato da sociedade francesa em todos os seus aspectos, desde a Revolução até sua época. A obra, A Comédia Humana, inclui 150 novelas, divididas em três grupos principais: "Estudos de Costumes", "Estudos Filosóficos" e "Estudos Analíticos". Entre as novelas mais conhecidas da série figuram "Papai Goriot" (1834), "Eugénie Grandet" (1833), "A Prima Bette" (1846), "A Busca do Absoluto" (1834) e "As Ilusões Perdidas" (1837-1843).

2. - Resumo

Livro publicado pela editora Nova Cultural Ltda., uma divisão do Círculo do Livro em 1995.
Romance psicológico, cuja personagem principal é Julia, uma bela jovem que contrariando a vontade de seu pai, se casa com um oficial das tropas de Napoleão Bonaparte, o coronel Vitor D´Aiglemont, homem bonito, rico, elegante e com muito prestigio social, porém de caráter duvidoso. Egoísta, incapaz de preocupar-se com os desejos e anseios de uma mulher.
Apesar de amar a seu esposo, Julia é extremamente infeliz em seu casamento, pois seu esposo mostra-se insensível a seus anseios e necessidades, principalmente no que se refere á relações íntimas. Pouco menos de um ano após seu matrimônio, seu pai morre e seu esposo a leva para a casa de uma tia, durante a viagem, Julia e Vitor encontraram um jovem inglês que os seguia, ao chegar à casa da tia, Vitor parte para cumprir suas obrigações militares. Durante sua estada na casa da tia de Vitor, Julia nota que o jovem inglês passa por sua janela todos os dias, com intenção de vê-la, porém esta o ignora. Após algumas semanas na casa da tia, Vitor envia um de seus subalternos para busca-la, pois Napoleão cai e passa-se a cogitar a volta da família Bourbon ao poder, causando conflitos e perseguições de ordem política. Julia parte e reencontra-se com seu esposo.
Apesar de sentir-se doente desde o início de seu casamento, passa a sentir-se mais feliz após o nascimento de sua filha Helena, porém esta melhora dura somente dois anos, após os quais Julia volta a cair em depressão.
Evitando o esposo sempre que possível, este passa a procurá-la cada vez menos, e ela, em seus momentos de sofrimento, passa a pensar com freqüência no jovem inglês. Apesar de que jamais havia falado com ele, passa a idealizá-lo como símbolo da pureza e da beleza dos sentimentos.
Julia definhava e a cada dia sentia-se mais doente, em profundo estado de depressão até que certo dia descobre que seu marido tem uma amante e este a convida para ir a uma festa em casa desta mulher. Julia decide ir à festa e reencontra Artur, o jovem inglês, ao vê-lo, emociona-se e sente-se mal. Ao recuperar-se, descobre que este é médico.
Ao saber da doença de Julia, Artur pede a Vitor cure sua esposa, Vitor aceita a proposta e Artur passa a tratá-la, porém, pede a Vitor que se afaste dela como esposa, condição que é aceita por Vitor. Após dois anos de tratamento, Julia sente-se renovada em suas e feliz, Artur declara seu amor por Julia e esta o rechaça, pois não concebe a infidelidade no casamento, e pede a ele que volte à Inglaterra, este parte e passam-se dois anos sem que ela tivesse qualquer notícia dele.
Certo dia, Vitor parte para uma caçada e Artur reaparece com a intenção de matar à Julia e depois suicidar-se, porém ela o leva ao quarto e lhe mostra sua única filha e quando os dois estavam conversando, Vitor volta à casa. Para proteger a reputação de Julia, Artur se esconde no balcão e lá passa toda a noite, com o frio, Artur contrai pneumonia e morre pouco tempo depois.
Após a morte de Artur, Julia sente-se mortificada e volta a cair em estado profundo de depressão, não se sentindo capaz sequer de amar a sua própria filha Helena, pois esta é filha de seu esposo e não de seu adorado Artur, seu grande amor.
Ao completar trinta anos, conhece Carlos de Vandenesse, um diplomata que se apaixona por Julia e ela por ele, os dois passam a ser amantes e ela tem um filho de Vandenesse que recebe o nome de Carlos, porém durante um passeio, Helena empurra o menino e este bate a cabeça, cai em um rio e morre afogado.
Julia tem mais três filhos, Gustavo, Moina e Abel, sendo que Gustavo, moina e Abel eram filhos de Vitor, Carlos e Moina de Vandenesse. Apesar de todos os sofrimentos e de esforçar, Julia é incapaz de amar os filhos de Vitor, e com a morte de seu filho Carlos aos cinco anos (aproximadamente), mostra grande predileção por sua filha Moina.
Alguns anos depois, a família D´Aiglemont está reunida em sua casa quando um homem bate a sua porta durante a noite e Vitor permite sua entrada já que o homem está em perigo de vida, Vitor o esconde em um quarto e Julia envia Helena até lá para saber quem estava lá. Mesmo contra sua vontade e contrariando as ordens de seu pai, Helena entra no quarto, vê e fala com um homem e descobre que este é um assassino, ao saber disso, sente-se identificada com o homem, pois se sente culpada pela morte de seu irmão Carlos.
Ao descobrir quem é este estranho, Vitor pede que ele se retire de sua casa. Neste momento, Helena decide acompanhá-lo e parte em sua companhia, indo em contra a vontade de seu pai. Sete anos depois, seu pai a reencontra e descobre que aquele homem que levou sua filha, tornou-se um temido pirata e que sua filha é imensamente feliz ao seu lado e que esta é mãe de quatro crianças. Algum tempo depois do reencontro, Vitor morre.
Durante o período de luto pela morte de Vitor, Moina sente desejos de ir para as montanhas a passeio e Julia a acompanha. Na hospedaria, reencontra sua filha Helena, que estava com um de seus filhos, ambos estão à morte e Julia tem oportunidade de estar com Helena em seus momentos finais, sendo que suas últimas palavras foram pronunciadas em tom de acusação contra Julia. Os outros dois filhos de Julia, Gustavo e Abel morrem e Julia passa a dedicar sua vida à caprichosa Moina, que se casa com um homem muito rico.
Moina dá pouca importância à mãe e, após o casamento, passa a encontrar-se com um homem chamado Alfredo de Vandenesse, Julia morre logo após certificar-se de que Moina tem Alfredo de Vandenesse como seu amante sem saber que ele é seu irmão.

3. - Análise Literária

Trata-se de um romance que apresenta várias características literárias do Realismo como, Contemporaneidade (os fatos se passam no presente, período em que foi publicado o livro), Verossimilhança (o autor busca mostrar a vida real,de forma objetiva), Análise Psicológica, Tipificação Social (grande parte do texto faz uma análise psico-social dos personagens), Impessoalidade (o texto é narrado em terceira pessoa, não havendo em nenhum momento a opinião do autor).
O texto é um romance psicológico, onde toda a trama ocorre na França, abrangendo um período de trinta e um anos (1813 a 1844). Situado historicamente no final do período Napoleônico e na volta dos Bourbons ao poder. Os acontecimentos político não são mencionados pelo autor salvo quando necessário para justificar determinadas atitudes ou ilustrar certas situações, sendo que estes são descritos de maneira muito superficial, não demonstrando qualquer tendência ou posicionamento político ideológico ou religioso do autor.
A personagem principal Julia é, ao mesmo tempo protagonista e antagonista, sendo que as demais personagens mencionadas na obra são destituídas de maior importância, assumindo uma posição de meros coadjuvantes no desenrolar da trama, com exceção de Helena, a quem é dada certa importância, já que esta é a maior vítima de Julia.
Quanto às descrições, o autor as faz de maneira impressionista, de forma magistral de determinados ambientes externos, porém deixa a desejar na descrição física de personagens, fazendo-o de modo paulatino e superficial, inclusive no que se refere à personagem principal.
As descrições psicológicas das personagens são, em sua maioria, superficiais, descrevendo com profundidade somente Julia, porém faz determinadas descrições que, mesmo que estas sejam sucintas, o autor consegue expor o perfil psicológico de certos personagens com clareza e precisão.
O texto é narrado basicamente em terceira pessoa, com Narrador onisciente, em Ordem cronológica e Linguagem Culta, porém simples, e fácil de ser compreendido.
Durante a leitura, foram observadas certas incoerências, enumeradas abaixo:

3.1 - Narrativa e identificação de personagens

O texto é narrado em terceira pessoa quase que em sua totalidade, porém, no capítulo I (A Mulher) p.34, o autor narra, em terceira pessoa a viagem de Julia, quando esta vai de encontro a seu esposo, este utiliza as palavras "chegamos a Orleans" e logo após volta a utilizar a terceira pessoa.
No capítulo IV (O dedo de Deus ? O Bievre )p. 97 a 102 , o autor narra todo o capítulo em primeira pessoa, colocando-se no lugar dos fatos, em certo ponto da narrativa, coloca os fatos como se os houvera observado à distância "...e olhando para além da ponte dos Gobelins, descobri uma dama que me pareceu bastante nova..." O narrador segue a narrativa da mesma maneira, narrando a morte de Carlos, filho de Julia, ao chegar ao justo momento da morte do menino, o narrador o faz sob outra perspectiva, já como personagem integrante do evento: "A mãe encontrava-se junto de mim... nem pessoa alguma à distância".
Apesar de fazer estas alterações na narrativa, demonstrando haver participado da trama, em momento algum este se identifica ou esclarece sua função na trama.
No capítulo V (Os Dois Encontros ? A Fascinação), páginas 109 à 147, o autor, inexplicavelmente, passa a omitir o nome de Vitor e de Julia , passando a chamá-los somente de "O Marques" ou "O General" e "A Marquesa", porém menciona o nome de seus filhos: Helena, Gustavo, Abel e Moina, sendo que, com exceção de Helena, estes surgem na trama de maneira repentina e pouco clara, o autor não menciona em nenhum momento, o nascimento dos filhos de Julia, e sua circunstância, porém, através de descrições físicas, mesmo que extremamente superficiais e algumas descrições psicológicas das atitudes de Julia com relação à seus filhos, é possível concluir que Helena, Abel e Gustavo eram filhos de seu esposo Vitor, e Carlos e Moina, filhos de seu amante, Carlos de Vandenesse.
O autor volta a mencionar o nome de Julia (Sra. D?Aiglemont) no final do capítulo V página 147, no episódio da morte de Helena.

3.2 - Cronologia

No que se refere à Cronologia, pode-se notar certas imprecisões e algumas incoerências, a seguir serão enumerados os fatos, conforme estes surgem na narração, após o que, será feita a análise dos dados obtidos:

Abril / 1813 ? Inicio da História (pág.9)
Março / 1814 ? Julia casada há pouco tempo, encontra Artur Ormond pela primeira vez. (pág.19 a 35)
1817 ? Nascimento de Helena (pág.39)
1819 ? Reencontra Artur Ormond e este passa a tratá-la como médico (pág.44 a 48)
1821 ? Termina o tratamento médico, Artur declara seu amor e Julia pede que este se afaste (pág.48 a 55)
+ 2 anos ? Arthur reaparece (pág.55)
1820 ? Julia vai para o interior e conversa com o padre, Artur já estava morto. (pág.63)
1822 ? Julia completa 30 anos e conhece Carlos de Vandenesse, em conversa com Carlos, afirma que Artur está morto ha quatro anos. (pág.88 a 89)

* A partir deste ponto, as datas passam a ser omitidas.
O autor afirma que as crianças, Helena e Carlos estão respectivamente com oito e quatro anos, aproximadamente (pág. 100), na pág. 110, afirma que Carlos morre aos cinco anos de idade.
Mais dois ou três anos, menciona Helena e Gustavo, sendo que Gustavo mantém uma conversa com um tabelião, porém não menciona datas ou a idade das crianças (pág. 104/105)
Menciona a idade das crianças: Gustavo treze, Moina sete, Abel cinco, não menciona a idade de Helena, que parte com seu futuro esposo, sugere a idade de Julia, trinta e seis anos de idade (pág. 110/111)
A partir deste ponto, as datas, ou sugestões temporais, voltam a ser mencionadas:
Vitor reencontra Helena, esta está casada e feliz com seus quatro filhos (pág. 139/144).
1833 ? Morte de Vitor e, pouco tempo depois, a morte de Helena.
1844- Julia morre aos cinqüenta anos.

3.3 - Análise dos dados

As datas e fatos narrados pelo autor seguem uma seqüência cronológica e coerente, até o ano de 1821, capítulo em que Sir Artur declara seu amor por Julia e esta pede que este se afaste (pág.55), porém, a partir deste ponto, as mesmas passam a ser mencionadas de maneira confusa e COM pouca coerência temporal.
Na página 55, o autor localiza a narrativa no ano de 1821 e afirma que após dois anos, (o que nos levaria a 1823), Sir Artur, após haver se afastado de Julia, reaparece e logo após morre, na página 63, localiza a cena no ano de 1820 e, no mesmo capítulo, menciona indiretamente, a morte de Sir Artur neste mesmo período (pág.77), sendo que, segundo as datas oferecidas, este não poderia estar morto no ano de 1820.
Na página 81, afirma que após a morte de Sir Artur, Julia se absteve de freqüentar a sociedade, por quatro anos, voltando a freqüentá-la, aos trinta anos de idade, porém localiza o episódio no ano de 1822 e Julia firma que Sir Artur está morto a quatro anos (págs. 88 e 89).
Após a página 89, os fatos passam a ser confusos e menos coerentes no que se refere à seqüência temporal, deixando o autor de mencionar datas, passando, em algumas ocasiões, a fazer a contagem de tempo, acrescentando anos: "passados dois ou três anos..." (pág. 102), "seis anos haviam decorrido..." (pág. 130). Neste mesmo período da narrativa, que transcorre das páginas 97 a 148, os fatos são narrados de maneira bastante confusa, voltando a especificar datas somente na página 145.
Com referência à morte de Helena, o autor localiza o episódio no ano de 1833 (pág.145), sendo que este menciona o nascimento de Helena no ano de 1817 (pág.39). Considerando as datas oferecidas, Helena, sendo a primogênita de Julia, ao sair de casa, deveria ter no mínimo, 15 anos de idade, já que seu irmão Gustavo, estaria com treze anos nesta data, segundo dados do autor e considerando seu outro irmão Carlos, possivelmente mais velho que Gustavo e que falece aos 5 anos de idade (pág. 97 a 102 e 152), O que nos levaria a crer que Helena teria, no mínimo, 15 anos de idade, no momento de sua partida, reencontrando-se com seu pai 07 anos após sua partida, casada e feliz com seus quatro filhos. O autor localiza sua morte no ano de 1833, o que se torna impossível, já que Helena teria 16 anos nesta data.

4 - Conclusão - Análise pessoal

O texto é bastante interessante, com algumas descrições de paisagens magistrais, que fazem com que o leitor se sinta parte integrante da cena descrita.
Baseado quase em sua totalidade em fatos, descrições, reações e situações de cunho psicológico, leva ao leitor a refletir a respeito do amor, do casamento, da maternidade, da posição social, do caráter e da fidelidade.
O texto tem como personagem principal Julia D?Aiglemont e seus conflitos pessoais. Mulher extremamente infeliz em seu matrimonio, presa às convenções sociais, vítima de uma depressão profunda. Protagoniza no texto o papel de vítima e vitimaria, já que seus maiores sofrimentos são provocados, em grande parte, por ela mesma. Seus filhos são igualmente vítimas desta mulher que passa trinta e um anos punindo a si própria e aos que a cercam por um erro cometido em nome do amor que ela julgava sentir.
Apesar de induzir o leitor a profundas reflexões, é opinião desta leitora que o autor deixa bastante a desejar no que se refere à narrativa dos fatos e na cronologia mesmos, omitindo fatos e datas de relevância ao contexto, fazendo com que o leitor se confunda e fique em dúvida no que se refere a determinados trechos.
Em alguns momentos, o autor faz descrições extremamente longas, o que faz com que a leitura se torne pouco atrativa e monótona. Porém isto não é uma constante, já que, no geral, é bastante dinâmico, principalmente considerando-se o fato de que este é um romance de fundo psicológico.
A leitora não indicaria o presente texto como leitura de lazer, pois trata-se de um texto difícil e bastante denso, com nuances psicológicas profundas e, em alguns pontos algo confusas, exigindo do leitor certa capacidade de análise, concentração e compreensão, requerendo, para tanto, leituras introdutórias a respeito do tema. Porém, como objeto de estudo no campo psicológico e literário, a obra oferece vasto material para análise e reflexão.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

BALZAC, Honoré. Mulher de trinta anos (tradução José Maria Machado) Editora Nova Cultural Ltda (uma divisão do Círculo do Livro), SP. 1995.