A crônica é um gênero literário que, a princípio, era um "relato cronológico dos fatos sucedidos em qualquer lugar"1, isto é, uma narração de episódios históricos. Era a chamada "crônica histórica" (como a medieval). Essa relação de tempo e memória está relacionada com a própria origem grega da palavra, Chronos, que significa tempo. Portanto, a crônica, desde sua origem, é um "relato em permanente relação com o tempo, de onde tira, como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido." No Brasil, a crônica se consolidou por volta de 1930 e atualmente vem adquirindo uma importância maior em nossa literatura graças aos excelentes escritores que resolveram se dedicar exclusivamente a ela, como Rubem Braga e Luís Fernando Veríssimo, além dos grandes autores brasileiros, como Machado de Assis, José de Alencar e Carlos Drummond de Andrade, que também resolveram dedicar seus talentos a esse gênero. Tudo isso fez com que a crônica se desenvolvesse no Brasil de forma extremamente significativa.
Na crônica, "Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. A crônica é o único gênero literário produzido essencialmente para ser vinculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem.

Em regra geral, a crônica é um comentário leve e breve sobre algum fato do cotidiano. Algo para ser lido enquanto se toma o café da manhã, na feliz expressão de Fernando Sabino. O comentário pode ser poético ou irônico mas o seu motivo, na maioria dos casos, é o fato miúdo: a notícia em quem ninguém prestou atenção, o acontecimento insignificante, a cena corriqueira. Nessas trivialidades, o cronista surpreende a beleza, a comicidade, os aspectos singulares. Uma conversa aparentemente banal.
A mistura entre jornalismo e literatura leva o cronista a um freqüente impasse: para se constituir como texto artístico, o seu comentário sobre o cotidiano precisa apresentar uma linguagem que transcenda a da mera informação. Ou seja, precisa de uma linguagem menos denotativa e mais pessoal. Isso não significa elaboração muito sofisticada ou pretensiosa. Significa que o estilo deve dar a impressão de naturalidade e a língua escrita aproximar-se da fala.
Nem sempre o cronista atinge o duplo alvo: fazer literatura e expressar-se com simplicidade. Em função do grande público, é preciso buscar primeiramente a clareza e uma dimensão de oralidade na escrita.

AS CARACTERÍSTICAS DA CRÔNICA

As características abaixo foram citadas por vários autores que tentaram entender a crônica enquanto estilo literário:
?Ligada à vida cotidiana;
?Narrativa informal, familiar, intimista;
?Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial;
?Sensibilidade no contato com a realidade;
?Síntese;
?Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
?Dose de lirismo;
?Natureza ensaística;
?Leveza;
?Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada;
?Uso do humor;
?Brevidade;
?É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.

ALGUNS TIPOS DE CRÔNICA

A rigor, podemos falar na existência de três tipos de crônica, que muitas vezes se confundem:
Crônica lírica ou poética

Caracteriza-se pelo flagrante de aspectos sentimentais, nostálgicos ou de simples beleza da vida urbana, especialmente do Rio de Janeiro. Seu maior expoente é Rubem Braga, seguido por legítimos poetas-prosadores como Carlos Drummond de Andrade, Antônio Maria, Paulo Mendes Campos e outros. Este tipo de comentário poético parece em desuso, provavelmente devido à violência e a degradação na vida das grandes cidades brasileiras.

CRÔNICA DE HUMOR

Procura basicamente o riso, com certo registro irônico dos costumes. Apresenta-se, como já vimos, tanto sob a forma de um comentário quanto de um relato curto, próximo do conto.

CRÔNICA-ENSAIO

Apesar de ser escrita em linguagem literária, ter uma veia humorística e valer-se inclusive da ficção, este tipo de crônica apresenta uma visão abertamente crítica da realidade cultural e ideológica de sua época, servindo para mostrar o que autor quer ou não quer de seu país. Aproxima-se do ensaio, do qual guarda o aspecto argumentativo Nelson Rodrigues é o grande nome dessa linha, mas devemos citar também Paulo Francis, Arnaldo Jabor, Carlos Heitor Cony e, em alguns textos, Luís Fernando Veríssimo.
Tendo em vista os tipos de crônica que foram citados acima, percebemos que " A aldeia que nunca mais foi a mesma" se encaixa nas características de crônica-ensaio, pois aborda, claramente, uma crítica ao período da ditadura militar e à sua ideologia de opressão, Rubem Alves, de maneira sutil e através da ficção, o que pensa e o que desejava para seu país.
As características de crônica são facilmente percebidas no discurso. A maneira como o autor fala de coisas sérias, por meio de uma estória aparentemente banal. Há uma fuga da modernidade, a estória se passa numa aldeia. Uma dose de lirismo nas expressões dos pensamentos das mulheres da aldeia. Um toque de humor quando os homens da aldeia questionam o comportamento das mulheres e acabam sentindo ciúmes de um morto. A brevidade com que o autor, de maneira tão objetiva, fala de tantos assuntos ao mesmo tempo, pois além das palavras opositoras principais ( vida versus morte ),outras palavras circulam pelo discurso, tristeza e alegria, monotonia e movimento, liberdade e prisão. Essa crônica traz tudo isso de forma muito inteligente e sucinta.