Traduzido por Leny Werneck, Como um romance, de Daniel Pennac, é uma obra profundamente original, onde, de uma forma ao mesmo tempo divertida e muito séria, aborda-se aquela que é talvez a questão central de que dependem o destino do livro e da cultura tal como a temos entendido tradicionalmente. Daniel Pennac é um dos grandes romancistas da atualidade francesa. Além de uma vasta obra romanesca, Pennac faz incursões por outros gêneros como o ensaio, o teatro, o conto e a fábula. Mas, é no âmbito do ensaio, que se encaixa “Como um romance”. De um modo peculiar, quase poético, Pennac atenta nos porquês da inapetência dos jovens de hoje para a leitura. Problemática, aliás, muito discutida pelas famílias, professores, órgãos de comunicação social, enfim, pelos mais variados profissionais participantes do processo educativo.

O autor aborda a questão com humor mas, ainda assim, sério, e demonstra que o verbo ler é avesso ao imperativo e como tal não pode ser conjugado por obrigação. Assim, ler é e deve ser um prazer, desenvolvido, de preferência, desde muito cedo e "em voz alta". Pennac mostra que a magia da leitura perde-se quando o livro deixa de ser “vivo” – quando a narração ao pé da cama, na infância, passa a ser a leitura obrigatória do programa escolar. Lendo para seus alunos, Pennac os fez perce¬ber que Dostoiévski, Tolstói, Calvino, García Márquez, John Fante, todos, não importando a forma escolhida, contam uma história que temos obrigação de descobrir. Como um romance é uma declaração de amor ao ato de ler.

“Foi assim que os fiz gostar de Calvino e García Marquez”, explica Pennac. O autor cria também uma espécie de catálogo, constituído não de deveres, mas de direitos imprescindíveis ao leitor: entre eles o direito de ler qualquer coisa, e de só ler o que se gosta, o de ler em qualquer lugar e até mesmo o direito de não se gostar de ler.

Daniel Pennac nasceu em 1944, em Casablanca, Marrocos. Filho de militar, passou a infância na África e no Sudeste Asiático, antes de estudar em Nice e se formar em Letras. A opção imediata foi pelo ensino e sua primeira experiência foi com crianças sob acompanhamento judicial. A primeira incursão de Pennac pela literatura foi com o ensaio Le service militaire, a service de qui? (Serviço militar, a serviço de quem?), de 1973. Depois de alguns romances e livros para crianças, iniciou em 1985 a série sobre o clã Malaussène, com O paraíso dos ogros. Seguiram-se, com sucesso crescente, La fée carabine (1987), que rendeu prêmios e o título de revelação do ano, A pequena vendedora de prosa (1990) e Senhor Malaussène (1995). Pennac tem uma filha e continua dando aulas.

Na sala de aula, o professor Daniel Pennac dedica-se a apresentar a seus alunos a alegria de uma boa história. Fora dela, continua o trabalho com milhões de leitores de vários países, que se envolvem e se divertem com as aventuras que ele mesmo inventa. Escrevendo há 25 anos, Pennac ficou mais conhecido como o criador da saga de Benjamin Malaussène, irmão mais velho e chefe de uma família - ou tribo, como prefere o autor - que se movimenta dentro de Belleville, bairro de Paris. Pennac nasceu a bordo de um navio. É professor de língua francesa em uma escola parisiense e um apaixonado por pedagogia. Sucesso de público e de crítica, viu seus livros rapidamente transformarem-se em best-sellers. Outros títulos do autor lançados no país são “Esses Senhores os Meninos”, “Kamo e a Agência Babel”, “Kamo e a Idéia do Século”, “O Olho do Lobo” e “Vira-Lata Virador”. Pennac é um aficionado pelo Brasil, desde que morou em Fortaleza por dois anos, na década de 80. Seu mais novo romance, “O Ditador e a Rede”, sobre a história do ditador Manuel Pereira da Ponte Martins, de Teresina, será lançado pela editora Rocco nos próximos meses, antes da Bienal do Livro. Mas, vamos à obra!

Pennac inicia a narrativa afirmando que “o livro é sagrado, como é possível não gostar de ler?” (p. 13) Essa afirmativa já prenuncia o conteúdo do restante da obra: o prazer de ler. A partir desse questionamento, o autor nos faz refletir sobre a “delícia” que a leitura nos proporciona. E isso deve começar desde muito cedo, antes mesmo de se aprender a ler. Ou seja, é importante que a criança tenha seus primeiros contatos com o livro mesmo antes de ser alfabetizada. Daí a chamada leitura em voz alta ser de grande importância. A partir de um “eu” imaginário, colocado na posição de protagonista, Pennac, vai lhe atribuindo as ações da narrativa.

Inicialmente, ele supõe que esse “eu” seja obrigado a ler em seu quarto. Resultado: ele dorme em cima do livro. Depois, imagina-o ainda criança, querendo ler, e sua família o impedindo. “Vai brincar um pouco, pára de ler, vai estragar sua vista, desliga a luz, já é tarde.”. Isso exatamente no momento em que ele estava descobrindo o romance. Os pais, nesse caso, não haviam pensado em impor a ele a leitura como um dever, mas pensavam apenas no prazer. Esse “eu”, que tem paixão por ler, deixa os pais em estado de graça, deslumbrados, inspirados pelo prazer que esse leitor sentia. São os pais os primeiros responsáveis por apresentar o livro aos filhos. Os pais são pedagogos de seus próprios filhos, mesmo sem saberem o que é pedagogia.

Ainda pequenos, os filhos, futuros leitores, começam a “ler” o que os pais contam. A Branca de Neve aparece nítida na imagem visual deles. Depois, os filhos crescem e se deparam com a obrigação. Pronto! Acabou o encanto. Aí ele não lê mais. A obrigação não dá prazer. Ele começa a olhar para o número da página em que está e a contar quantas faltam para terminar. Entram seus conhecimentos em Matemática: “nossa, são quinhentas páginas, ainda estou na página quarenta e oito. Faltam quatrocentas e cinqüenta e duas, não vou conseguir terminar de ler até amanhã cedo”. E ainda tem que fazer o trabalho exigido pelo professor. Não é possível negociar com ele. “O livro o arrasta. Eles afundam.” (p. 24)

Enquanto isso, a televisão, corruptora, vai ganhando seus adeptos. Ela dá tudo. Nada é conquistado: “tudo é mastigado, a imagem, o som, os cenários, a música ambiente” (p.26). Não é o mesmo que ler. Ler é uma conquista, é preciso imaginar tudo isso que a televisão dá pronto. Por isso que uma criança é capaz de passar cerca de trinta e seis horas semanais diante de uma. Mas ela não é a única causa da distância entre o livro e o leitor.

Pennac inicia, então, uma reflexão sobre as gerações. Somos muito mais próximos de nossos filhos do que nossos pais eram de nós. Há uma afetividade maior entre nós e nossos filhos. Vivíamos numa comunidade de adultos: roupas comuns, pratos comuns, cultura comum, um irmão herdando roupa do outro, fazíamos os mesmos passeios. Alguns pais até proibiam certas leituras a seus filhos, “colocando certos títulos em prateleiras inacessíveis” (p. 28). Hoje, os adolescentes têm vida própria: uma roupa só dele, uma comida só dele, uma cultura só dele, uma marca só para ele. Nós líamos livros, eles lêem walkmans e MacDonalds. Realmente, muita coisa mudou de uns anos para cá.

E não é só a televisão ou a onda de consumismo que fazem parte desse processo contra o ato de ler. Tem também a “invasão eletrônica”, esses joguinhos hipnóticos, que servem para desenvolver o raciocínio, mas não desenvolvem a imaginação. E tem também a escola. Esta sim é uma grande culpada: “o aprendizado aberrante da leitura, o anacronismo dos programas, a incompetência dos professores, a decadência dos prédios, a falta de bibliotecas” (p. 30). Nota-se que há um “complô” contra o livro, instaurado na sociedade atual. Assim não há quem resista! “Como é que vocês querem, nessas condições, que meu filho, que minha filha, que nossos filhos, que os jovens leiam?” (p. 30)

Então relembramos de quando éramos crianças. Do encanto das primeiras histórias que ouvíamos, como se fosse uma prece, uma liturgia. A história que nossos pais liam para nós preenchia a mais bela das funções da prece: o perdão das ofensas. “Era um momento de comunhão entre nós, a absolvição do texto, um retorno ao único paraíso válido: a intimidade” (p. 33). Isso que era maravilhoso. E não eram só nossos pais que faziam isso. Quantos de nossos avós, sentados na beira de nossas camas antes de dormirmos, punham-se a nos contar as mais lindas histórias que já havíamos ouvido. E, nos outros dias, se eles não fizessem isso, nós os cobrávamos. E sempre pedíamos para contar novamente aquela história que nós já conhecíamos. É a mais bela das poesias. Tudo isso era gratuito. Um presente mesmo.

Então, o que aconteceu com esses momentos mágicos? Estamos em um século por demais visual? E as relações entre o homem o livro? Acabou a magia. E não foram séculos que se passaram desde então. Os pais preocupados em procurar novas histórias, comprar novos livros. E quando não tinha mais história, nós nos revoltávamos pela falta de imaginação deles. E ainda éramos ameaçados: “se você continuar assim, não vai ter história hoje à noite” (p. 38). Mas essa ameaça nunca era cumprida, o prazer falava mais alto.

A escola, então, entra em cena. Iríamos aprender a ler. Poderíamos ler tudo o que quiséssemos... e sozinhos! Não precisaríamos mais esperar que alguém lesse para nós. Aí começávamos a aprender as primeiras letras, todos aqueles pauzinhos, laços, curvinhas e pontezinhas que se juntavam e formavam as sílabas e logo depois as palavras. Como era mágica essa descoberta! A descoberta das primeiras letras. Sonhávamos com a manhã seguinte nos dirigindo para a escola, caminhando bem depressa para não perdermos nada, a mochila sacolejando nas costas, o beijo rápido de despedida na porta da escola, o pátio. Nós nos preparávamos para a mais bela de nossas metamorfoses. Aprendemos a ler, agora somos autônomos.

Passados os primeiros anos, o encanto começava a se perder. O prazer de ler dava espaço para a obrigação cotidiana. Pennac acha que ainda é possível recuperá-lo, pois esse prazer ainda não se perdeu, apenas desgarrou-se de nós. “Fácil de ser reencontrado” (p. 43). Seria, realmente, muito fácil reencontrá-lo, se não tivéssemos hoje tantos outros interesses maiores. Compreendemos que “aquilo que a criança aprende primeiro não é o ato, mas o gesto do ato” (p. 46). Esse gesto sim, vai ser difícil de se recuperar.

Começam, assim, os deveres. A insistência em ler para dizer o que se compreendeu daquilo. Descobrir o sentido da palavra, voltar na leitura, ver se realmente significava aquilo mesmo. “Então, o que foi que você acabou de ler? O que é que quer dizer? (p. 47). Perde-se, então, o interesse e ganha-se a preocupação dos pais. Eles se preocupam porque não agüentam as cobranças e porque comparam seus filhos às outras crianças da sua idade. Então, procuram especialistas, fazem diagnósticos, ouvem fonoaudiólogos, começam a achar que é “dislexia”, que o filho está atrasado, que não vai se recuperar, conversam com psicólogos, acham o filho preguiçoso, julgam-se “pedagogos”, detentores do saber e pressionam cada vez mais os filhos para lerem e dizerem o que entenderam.

Por tudo isso, afirma-se que “o jovem não gosta de ler, não ama a leitura”. O autor não incrimina a televisão, nem a escola, nem a modernidade. Os culpados são os próprios pais. O que eles fizeram daquele “leitor ideal”? Era uma Trindade: o pai, o filho e o livro, juntos, à noite, no quarto, antes de dormir, como se estivessem em liturgia, em comunhão. Ei-lo, agora, na sala de aula, preso a um livro que é obrigado a ler. Onde se esconderam todos aqueles personagens mágicos, aqueles reis, aquelas rainhas, aqueles heróis perseguidos por inimigos? As coisas se inverteram. Os reis, as rainhas e os heróis sufocam o leitor na espessura do livro. E ele precisa entender. Os pais, quando liam, nunca se preocupavam em saber o que o filho tinha entendido, “por que a Branca de Neve tinha mordido a maçã” (p. 51), ele punha toda a tenção na leitura, recitava as palavras e sabia que pouco a pouco o filho ia entendendo tudo. Agora esse mesmo pai insiste na pergunta: o que você entendeu sobre isso?” Os pais eram contadores de histórias e tornaram-se contadores, simplesmente. “É isso... A televisão elevada à dignidade de recompensa... e, em contrapartida, a leitura reduzida ao nível de obrigação...” (p. 52)

Pennac retoma uma interessantíssima afirmação de Rousseau: “Uma criança não fica interessada em aperfeiçoar o instrumento com o qual é atormentada” (p. 53). É isso mesmo. O que a atormenta, não pode nunca lhe dar prazer. Essas estupidezes pedagógicas se voltam contra o desejo de aprender. O bom leitor, quando criança, continuará a sê-lo, desde que os adultos, em vez de porem à prova sua competência, estimularem seu desejo de aprender, em vez de imporem o dever, acompanharem seu esforço, em vez de quererem ganhar tempo, perderem noites, se se recusarem a transformar em obrigação o que antes era prazer, se fizerem com que ele encontre sozinho o prazer de ler. E isso está fácil, basta não deixar os anos passarem, basta esperar a noite cair, abrir o livro e ler. “Ler em voz alta. Gratuitamente. Suas histórias preferidas” (p. 56). Ou seja, voltar a ser o que era antes, no começo, durante os primeiros contatos com o livro. Reencontrar a magia da prece, o mistério da Trindade: ele, o filho e o texto. Oferecer ao filho o último prazer do leitor, que é o de se cansar de um livro e pedir para passar a outro. Enquanto isso, a escola prossegue seu aprendizado.

Está pronta a receita “pennaquiana” para recriar o gosto pela leitura. Uma vez identificados os culpados, os pais, basta que eles voltem a fazer o que faziam. E assim estará resgatado o prazer de ler. Mas não é bem assim. O jovem de hoje não é igual ao de ontem. Dificilmente ele se renderia ao encanto de uma história contada ou lida em voz alta antes de dormir. Ele quer mais é ligar seu computador, entrar no “orkut”, conversar pelo “msm”, ou até se dedicar à tarefa de casa ou ao trabalho a ser entregue. As coisas não assim tão fáceis quanto parecem. Pennac até imagina a cena: o pai, lendo em voz alta para o filho já crescido e alfabetizado, pula um pedaço. O filho chama a atenção e toma o livro em suas mãos, mostrando o pedaço que o pai pulou. Ele estará, assim, interrompendo a leitura. Então ele dirá ao pai que vai ler junto com ele. Depois toma o livro e termina de ler sozinho. E ainda, se o pai quiser dar um prazer maior ao filho, basta adormecer enquanto ele lê. Que imaginação poética! Mas voltemos à realidade.

No seu quarto, o jovem se encontra com o livro. Ele precisa ler e fazer uma “ficha de leitura”. Começa o drama. Uma página vai empurrando a outra, parece que têm pés de chumbo. Elas vão caindo, umas após as outras, como caíam os cavalos feridos nas histórias contadas. A cada página virada, uma outra música no seu walkman. E prossegue a leitura. Aí pára e pensa em ligar para o colega e pedir que lhe passe a ficha dele, na manhã seguinte, para copiar às pressas, antes de entrar na aula. Então o pai será chamado na escola e ouvirá do professor: “seu filho não gosta de ler”. O pai não entende. Mas ele adorava ler, lia muito. O que será que aconteceu? Nós até proibimos a televisão (Que belo truque pedagógico!). É verdade, nada de televisão. Mas continuam as aulas de piano, de dança, de judô, de tênis, de esgrima, de ski, de cerâmica, de inglês, de natação. Tudo isso só em uma semana. Sem contar as aulas particulares, já que ele não está muito bem em uma matéria. E o pai ainda não consegue entender por que seu filho não gosta de ler. E ainda diz que tem o maior cuidado de dar ao filho uma formação completa e eficiente.

‘E assim vão as nossas existências: ele traficando fichas de leitura, nós face ao espectro de sua repetência, o professor em sua matéria ultrajada... E viva o livro!” Essa sim é a realidade. O pai, então, reclama para o professor, conta suas histórias, verdadeiras narrativas de vida, divórcios, fracassos, sucessos, doenças, opiniões sobre tudo e sobre todos e a inevitável tese da absoluta necessidade de ler, opinião unânime. E o professor escuta tudo. Complementando a opinião unânime, há pais que nunca leram e têm vergonha, há os que não têm tempo de ler, mas gostariam, há os que não lêem romances, só o que for útil, há inclusive os que lêem tudo, “devoram” tudo, não importa o quê. Há, também, os que afirmam que “leram o último livro tal e o último tal outro, porque é preciso, o senhor sabe, para estar atualizado...” (p. 68). Tudo em nome da inevitável necessidade de ler. Isso é um dogma. E o “garoto” já tem isso na cabeça: é preciso ler para viver, é a leitura que nos distingue dos outros animais, é absoluta a necessidade de ler. É preciso ler! Está gravado na cabeça dele. E razões não faltam para pensarem assim: para aprender, para dar certo nos estudos, para nos informarmos, para saber quem somos, para buscar um sentido na vida, para comunicar, para conhecermos melhor os outros, para nos distrairmos, para alimentar nossa curiosidade e por aí vai...Mas mesmo assim o “garoto” copia a ficha do colega a todo o vapor. E o professor, quando lê o que os alunos escreveram, fica certo de uma coisa: cada uma das frases deles prova que eles não lêem. É sempre uma triste e lamentável constatação.

E o pior. Ao ser questionado, o professor diz o que espera dos alunos. Que eles apresentem boas fichas de leitura que “ele” impõe, que interpretem corretamente os poemas que “ele” escolhe, que no dia do exame analisem os textos que “ele” escolheu, que examinem e comentem tudo o que “ele” determinou. E por fim, que os alunos se saiam bem nos seus estudos. Que paradoxo! Que dilema! A bem da verdade, apesar de ser uma contradição, o que se pode fazer? O sistema já está pronto. Eles não têm o que fazer. Não teriam, se Pennac não desse a dica: “o culto do livro passa pela tradição oral” (p. 75).

Agora sim, chegamos ao ponto mais importante. “O culto do livro passa pela tradição oral”. Assim disse o inglês Klaus Mann: “Tudo o que possuo de cultura literária adquiri fora da escola” (p. 76). Ele afirma que aprendeu a gostar de ler com o hábito de seus pais de lerem para ele. “Uma vez provado o encanto sedutor da grande literatura e o reconforto que ela nos oferece, gostaríamos de conhecer sempre mais – outras histórias ridículas e parábolas cheias de sabedoria, contos de múltiplas significações e estranhas aventuras. E é assim que se começa a ler por si mesmo” (p. 77). Muito bem observado. Klaus ratifica a tese de Pennac.

Entra, então, o papel da escola nesse contexto. Ela não pode ser uma escola do prazer. Deve ser uma fábrica necessária de saber que requer esforço. Os professores devem ser os iniciadores do saber, pois tudo na escola confirma sua finalidade: a competição, impulsionada pelo mercado de trabalho. É essa a função da escola: ensinar conteúdo. Ensinar a vida é função de outros. “Ler é algo que se aprende na escola. Gostar de ler...” (p. 79). Excelente e genial observação. A escola tem cumprido seu papel na sociedade. Mas isso não quer dizer que seja o papel mais adequado. É possível mudar essa visão. Como? Pennac prescreve com genialidade.

“E se, em vez de exigir a leitura, o professor decidisse de repente partilhar sua própria felicidade de ler?” (p. 80) É isso mesmo! Parece muito interessante essa idéia. Mas o que é “felicidade de ler”? É quando lemos como uma recusa, como uma oposição. A leitura é um ato de resistência contra as contingências sociais, profissionais, afetivas, psicológicas, familiares, culturais, ideológicas, entre outras. Ler é uma salvação. A leitura nos salva de tudo, inclusive de nós mesmos. E o aluno, é salvo de quê? Contra o que ele lê? Quando ele precisa ler, todos acham que ele não vai ler. Quando ele não precisa, aí é que não vai ler mesmo. Por isso, ele lê contra o que se espera dele. E esse ato irá salvá-lo de sua fama: ele não é um leitor.

Diferentemente do que se diz, a leitura não é um ato de comunicação, pois o que lemos, calamos. E calamos porque lemos. Um livro deve ser lido para nós mesmos. Não temos necessidade de discuti-lo com alguém ou de dizermos o que entendemos do que lemos. A leitura é algo pessoal, algo que fica em nós. Ela nos perturba e nos modifica. Ela mexe com nossa consciência, mas não mudamos a ordem do mundo. Isso é verdade. Mesmo não sendo um ato de comunicação, a leitura é, certamente, um objeto de partilhamento demorado e seletivo. Isso é amor. Quando um ente querido nos dá um livro, ele nos está dando um pedaço de si, que ficará marcado em nós. Seus gostos e suas preferências se revelam no livro, que, com o passar do tempo, com certeza, trar-nos-á a lembrança do outro. Eis o grande poder afetivo do livro.

Pennac, então, conta-nos a história maravilhosa, dotada de grande sensibilidade, do professor George Perros, de Rennes, na França. Perros entrava na sala de aula com uma sacola cheia de livros, esvaziava-a sobre a mesa, escolhia uma dos livros e punha-se a ler para os alunos. Andando de um lado para outro da sala, sua voz ecoava entre os alunos. A única coisa que ele pedia em troca era a atenção dos alunos. Quando um deles a perdia, Perros dava um assobio. Não para repreender, mas para trazer o aluno de volta à história. Esse professor tinha uma voz sonora e clara, que preenchia todo o espaço da sala. O que ele fazia, na verdade? Entregava aos alunos a literatura em copos transbordantes e não em forma de conta-gotas. Esse era o verdadeiro ensino das Letras.

O que ele fazia era bem menos que os outros professores faziam, mas com certeza muito mais do que se pudesse esperar dele. Ele não precisava perguntar o que os alunos estavam entendendo, pois sabia que eles compreenderiam tudo o que lia. O professor simplesmente tomava os alunos pelo que eles eram de verdade: “jovens colegiais incultos e que mereciam saber” (p.88). Ele fazia surgir, bem na frente dos alunos, os autores de que apenas tinham ouvido falar e que não imaginavam que existissem de verdade. Uma coisa é falar de um autor; outra, é ler o que esse autor escreveu. Assim é que se o faz existir.

“Esse professor não incultava o saber, ele oferecia o que sabia” (p.89). Ele lia em voz alta, elevando ou ouvintes à altura do livro. Ele ia arrebanhando suas ovelhas, que o seguiam pelos romances afora. Ele se dava verdadeiramente a ler. Conseqüentemente, esse professor ia despertando o interesse e a curiosidade de seus alunos pelos livros. Os que fossem realmente curiosos, continuariam lendo outros e outros livros. Os que fossem espertos, apenas usariam essa capacidade em benefício próprio e seriam seguramente levados à graduação ou à admissão em concursos. Sobrariam, então, os outros alunos. Aqueles que não lêem e se aterrorizam logo cedo com a leitura. Estes últimos, certamente, formariam o menor grupo. Essa é a receita, esse é o segredo do professor Perros. Já que o outro não faz o que queremos, façamos a ele o que queremos que ele faça.

Depois dessa “aula” de como deve ser uma aula, Pennac prossegue com suas idéias sobre a leitura, dando-nos o exemplo de uma jovem, candidata à vaga de professora de Letras e que passa por um exame de admissão diante de uma banca. Nem seria preciso dar esse exemplo. O professor Georges Perros, que lia romances para seus alunos, já nos convenceu de que existe um caminho para a leitura se efetivar em sala de aula. Mas vamos ao exemplo da jovem candidata.

Foi proposto a ela que elaborasse uma aula sobre Os registros da consciência de Madame Bovary. Ela está sentada, diante de seis membros da banca, para ser avaliada. É um exame admissional, portanto de exclusão. Se não for bem, ela não será contratada. Ela sabe disso e começa a ficar nervosa, suas mãos ficam trêmulas. Todos olham para ela seriamente. O presidente da banca murmura algo ao ouvido do colega ao lado. A mensagem vai passando por entre os avaliadores. Ela levanta os olhos amedrontados. Tem medo de não saber. Começa a procurar, entre muitos papéis, as anotações que fizera. O plano de aula sumiu. O presidente da banca chama a sua atenção: “senhorita”. Ela não liga, só quer saber onde estão as suas anotações sobre a consciência da Madame Bovary. Então, como se parecesse real, os avaliadores começam a dar sugestões: “senhorita, conte-nos seu romance preferido, dê-nos vontade de ler, leia A consciência de Zeno de Suevo, leia-nos Kafka, temos muito tempo, leia Os três mosqueteiros para nós, O primo Basílio, A fantástica fábrica de chocolate, leia isso, leia aquilo. Pennac resume essa suposta cena com uma expressão poética: “sonhemos!” É isso que nos resta fazer.

Então vamos continuar sonhando. Imaginemos uma classe adolescente, cerca de trinta e cinco alunos reprovados, “encalhados”, aqueles de quem não se espera mais nada, e comecemos pedindo que descrevam seus problemas. Certamente haveria respostas como “sempre fui ruim em Matemática”, “as línguas não me interessam”, “não sou bom para escrever”, “não entendo nada de Física”, “não gosto de estudar”, “era tudo muito difícil para mim”. É assim que eles se definem: acabados! Antes mesmo de começar. Entretanto esse auto-retrato não é verdadeiro. Eles não têm cara de alunos preguiçosos, apenas não gostam de si mesmos. São bem desenvolvidos fisicamente, fortões. Só isso. Usam roupas de marcas, belos penteados. Mas há um enigma em seus rostos. Estão entre dois mundos diferentes e perdem o contato com ambos.

O professor, então, proporia que eles lessem um livro. E lá vem a resposta pronta: “a gente não gosta de ler”. E num passe de mágica, o professor insistiria: “bem, já que vocês não gostam de ler, eu vou ler para vocês”. Ele abre a sacola, tira um livro grosso e pede que eles prestem atenção. Isso não existe! Como um professor pode propor a seus alunos que passe o ano lendo? Ou ele é um grande preguiçoso ou está escondendo o jogo! Alguns preparam a caneta. Não, é inútil tomarem nota. “Apenas escutem”, insinua o professor. Não faltarão questionamentos: “o senhor vai ler esse livro todo... em voz alta? O senhor não acha que já passamos da idade? O que é que tem nesse livro? Conta o quê?” Pacientemente, o professor diz que é difícil responder antes de ler. Pede a atenção de todos e inicia a leitura de O perfume, de Patrick Suskind.

Passados dez minutos, começam as primeiras reações. Alguns se entusiasmam, outros dormem um sono honesto. O professor pede que não o acordem, esse é o primeiro dos prazeres da leitura. De repente, o dorminhoco acorda e se irrita: “droga, perdi uma parte da história. O que aconteceu?” Bem, nenhum desses trinta e cinco acabados esperaram o professor terminar de ler o primeiro livro. Eles terminaram sozinhos, antes mesmo do professor. E ainda queriam saber quem era esse tal de “Suskind”. E as semanas iam passando. Márquez, Calvino, Stevenson, Dostoievski, Gary, Amado, Dahl, Roche, todos ali, vivos, bem na frente dos alunos que se diziam acabados e que não gostavam de ler.

Já começam a surgir comentários sobre os romances. “Professor, O visconde partido ao meio e O médico e o monstro tratam do mesmo assunto: o bem e o mal. Não é isso?” O mérito do professor é quase nenhum nesse caso. É que o prazer de ler estava bem perto deles. Eles tinham simplesmente esquecido o que era um livro, que um romance conta uma história. O que faziam? Punham-se diante de uma telinha e viam tudo pronto à frente deles: os desenhos, os seriados, as novelas. Isso enche a barriga, mas não enche a cabeça. É digestivo e só. Depois nos sentimos tão sós e famintos como nos sentíamos antes. O livro é uma história sim, mas contada por alguém. E cabe a nós ir descobrindo-a. O perfume começa assim: “os quartos fediam, as pessoas fediam, os rios fediam, as praças fediam, as igrejas fediam, o rei fedia”. E eles descobrem que é bonito repetir as palavras e não entendem por que alguém os proibia de fazer isso. É a magia da leitura.

Bem, é claro que a voz do professor ajudou nessas descobertas. Foi ele quem desenhou as situações, delineou os cenários, destacou os temas, e só com sua voz. Voz essa que reconciliou o aluno com a escrita. O professor deve ser um casamenteiro entre o texto e o aluno. Quando eles se apaixonam, o professor sai de fininho, na ponta dos pés. E deixa que eles – leitor e livro – fiquem se “curtindo”, se conhecendo, se descobrindo. O livro é um iceberg. O leitor se põe a lê-lo e o livro vai se derretendo. Em uma hora de leitura por dia, é possível, em uma semana, ler um livro de 280 páginas. Então, aqueles alunos acabados, vão começar a fazer cálculos e projetos. De onde vão subtrair o tempo da leitura, onde vão encontrar tempo para ler, quantas páginas tinham lido em uma semana. “O tempo para ler é sempre um tempo roubado” (p. 118). Sim, só lemos se roubamos nosso próprio tempo, que seria destinado a outras coisas. Ninguém tem, na sua programação diária, uma hora para destinar à leitura. É preciso nos roubar essa hora, preciosa, para nos encontrarmos com ele – o livro. Vamos roubar, digamos, da obrigação de viver, do tempo para amar. A leitura não depende da organização do tempo. Ela é como o amor, uma maneira de ser, apenas.

Mas há uma condição para isso: não exigirmos nada em troca. É um presente que devemos nos dar. Quando o professor lê um romance para um auditório que não gosta de ler, ele vai reconciliando os alunos com o livro. Eles vão voluntariamente abrindo caminho para outros romances, outros autores, outros sentidos. No entanto, ler apenas não é suficiente. É necessário contar a história também, oferecer ao outro nosso tesouro. E como é bom ouvir uma história bem contada. É gostoso ouvir um romance, uma lembrança de verão, um fato que ocorreu certo dia na vida de alguém ou mesmo um segredo que estava bem guardado.

Tudo isso é bonito, maravilhoso, mas, voltando à sala de aula, e o programa? Sim, o professor tem um programa a ser cumprido durante o ano. Ele não pode passar o ano todo lendo. Ele será cobrado pelo diretor, pelo coordenador e pelos pais. Os alunos não, pois gostaram da idéia. Que bom! Sim, porque tudo o que não está no programa é interessante. Aluno adora que o professor fuja do programa. Se vai “cair” na prova, não interessa. Os textos do programa são chatos por causa disso. Os alunos têm medo de não entender, de responder errado, da nota que vão tirar. Mas não vamos cair em desespero. O programa será cumprido pelo professor. Então, as técnicas de dissertação, de análise de texto, de composição, de resumo e de discussão se tornarão bem mais fáceis de ser desenvolvidas e todo esse mecanismo funcionará perfeitamente bem, pois os alunos se emprenharão no famoso esforço de compreender.

Entendemos, assim, como a coisa funciona. Uma pequena dose de divertimento, de arte, pode nos levar ao sucesso nos exames, os objetivos finais desse procedimento. Vamos entender o que o examinador espera de nós. Um mau aluno é desprovido dessa aptidão, ele tem medo de não conseguir oferecer o que se espera dele. E se priva dos livros por não ter ouvido falar deles. Então, percebemos que há outra a coisa para entender. Que os livros não foram escritos para que os leitores os comentem, apenas para que os leiam. “Nosso saber, nossa escolaridade, nossa carreira, nossa vida social são uma coisa. Nossa intimidade de leitor e nossa cultura são outra” (p. 131). A sociedade exige que a escola forme graduados, pós-graduados, mestres e doutores. Isso não se discute. Por isso é importante abrirmos todas as páginas de todos os livros. É de lá que eles sairão.

Mas, afinal, se são tão importantes, como então podemos definir livro e leitor? O que é um livro? E um leitor? Seguramente, se o professor pedir aos alunos que descrevam leitor e livro, nenhum deles descreverá a si mesmo. Dirão que é um autista, que vive em outro mundo, que vive absorvido pelos livros, que vivem como máquinas, sem TV nem amigos. E quanto ao livro? Dirão que é um objeto não-identificado, um OVNI, que pousa na sala de aula, como um “corpo estranho”. Pennac afirma que poucos objetos despertam, como o livro, o sentimento de absoluta propriedade. Eles se tornam nossos escravos, fazemos com eles o que queremos, guardamos onde bem entendermos. Nós submetemos o livro a tudo. Por isso que dificilmente devolvemos um livro quando o tomamos emprestado. É claro que isso não é exatamente um roubo, mas uma transferência de propriedade. Pensando assim, não ficamos com a consciência pesada.

Passemos ao leitor. E vamos nos incluir entre eles. Nós, leitores, concedemo-nos todos os direitos: de não ler, de pular páginas, de não terminar o livro, de reler, de ler o que quisermos e em qualquer lugar, de ler em voz alta e até de calar. O autor fica com esse último. O direito que nós, leitores, temos de nos calar quando lemos. O direito de não ler é o direito que se concede, diariamente, grande parte dos leitores. Entre um bom livro e um péssimo filme, o último é o preferido. No entanto, é dever do educador despertar no seu aluno o gosto pela leitura. “Porque, se podemos admitir que um indivíduo rejeite a leitura, é intolerável que ele seja rejeitado por ela” (p.145). Magnífica observação. O aluno não é obrigado a ler, mas os educadores são obrigados a apresentar o livro a ele.

O direito de pular páginas: não é necessário ler todas as páginas de um livro para compreendê-lo. Que mal há em pular algumas páginas. Ninguém vai ver mesmo! Por exemplo, se estivermos lendo Moby Dick e não nos atrairmos em saber quais as técnicas mais usadas para caçar baleias, não tem problema, pulamos essas páginas e pronto. Todos deveriam fazer isso. Pular páginas também é um prazer!

Se temos o direito de pular páginas, também devemos ter o direito de não terminar um livro. Razões não faltam para abandonarmos um livro antes de seu final. Entre essas razões, Pennac destaca uma importante: o sentimento vago de perda. Nesse caso, o melhor a se fazer é devolvê-lo à estante e prometer, a nós mesmos, que algum dia o tomaremos de volta. Só não podemos pensar que somos culpados por isso. Por outro lado, temos o direito de reler. Sim, de reler. Se um livro é muito bom, podemos lê-lo novamente, gratuitamente, para descobrirmos outras coisas, para nos alegrarmos com os reencontros, para nos reencantarmos.

Como cada autor tem o direito de escrever o que quiser, nós, leitores, também temos o direito de lermos o que quisermos. É certo que existem romances bons e romances ruins. Estes últimos não valorizam a criação, mas a reprodução de fórmulas já estabelecidas. E pior. São os que mais encontramos em nosso caminho de leitores. Pennac destaca, ainda, um direito muito interessante: o direito ao bovarismo, ou seja, à satisfação exclusiva e imediata de nossas sensações. Esse é nosso primeiro estado de leitor. É delicioso. O bovarismo é a coisa mais bem partilhada do mundo, pois é sempre no outro que vamos buscá-lo. Sentimos prazer no outro, isso é lógico. Temos o direito de sentir esse prazer.

Temos ainda o direito de ler em qualquer lugar. Pennac dá o exemplo do soldado. Aquele que não foi bem nos exames de admissão e acabou com a pior tarefa do quartel: lavar as latrinas. Ele pega o balde, a água e o pano e, logo cedo, se dirige ao banheiro. Passa a manhã lá. E volta feliz da vida. Por que passou a manhã lavando latrinas? Não. Porque entre uma latrina e outra ele lia algumas páginas de um romance. Então, podemos ou não ler em qualquer lugar? Podemos, também, pegar um livro da estante, abrir uma página e ler. Depois passamos à outra página e assim por diante. Depois devolvemos o livro à estante e pegamos outro. Que gostoso que é fazer isso. Qual o problema em abrirmos uma página e mergulharmos nela por um momento? E o melhor, a escolha é feita ao acaso.

Lembremo-nos do professor Georges Perros. Aquele que lia para os alunos em voz alta. Esse não era um direito dele? Sim, temos o direito de ler em voz alta, para quem esteja disposto a nos ouvir. Pelo encantamento, pelas palavras pronunciadas, pela voz de quem lê. Temos o direito de pôr as palavras na boca antes de as pormos na cabeça. Assim elas vivem de verdade, deixando de ser letras mortas, sepultadas no livro. O professor Perros dava vida às histórias apenas com sua voz.

E por fim o mais sagrado de todos os direitos do leitor: o direito de se calar. O direito de ler e não precisar dizer a ninguém o que entendeu. A leitura é nossa intimidade. E a ninguém é dado o direito de penetrar em nossa intimidade. O leitor deve ser poupado das perguntas sobre o que entendeu da leitura. Eis a resposta para a pergunta que não se cala: por que as pessoas não gostam de ler? Simplesmente porque não gostam de expor sua intimidade.

E, assim, fica lançado o grande desafio de Pennac aos educadores: leiam para seus alunos, despertem neles o prazer pela leitura. Assim que um educador atinge seus objetivos verdadeiramente. 

Conclusão

Como Daniel Pennac é convincente em suas idéias. Convivemos com um problema grave que é a falta de gosto pela leitura, principalmente por parte dos alunos. E de todos os níveis. São muitas as razões para não se gostar de ler. A tecnologia contribui muito para isso. Então, por que não resgatar a leitura de uma forma diferente. É lógico. Os professores querem que os seus alunos lêem. Então por que não ler para eles. Façamos aos outros o que queremos que eles façam, exatamente quando não fazem. É um desafio que vale a pena ser encarado. Não resta dúvida de que a leitura traz muitos benefícios. Diretos e indiretos. O aluno se constrói pela leitura. É através dela que desenvolve sua habilidade de compreender e refletir sobre o mundo. Então temos o dever de mostrar a ele o prazer dos livros. Sem cobranças, sem interpelações. Precisamos iniciá-lo na leitura para que ele, por si só, adquira o gosto. Sem imposições. Comecemos contando uma história. Depois passemos à leitura de um pequeno texto. Vamos despertando, gradativamente, sua curiosidade. Então, sem nos darmos conta, ele terá se tornado um bom leitor. Daniel Pennac foi extremamente feliz. A partir de uma “receita” simples, ele nos mostrou que nem tudo está perdido. Só basta termos a coragem de encarar esse desafio. Como um romance mexe com nossa sensibilidade. O autor comprova sua tese por meio da própria tese. Ao lermos a obra, sonhamos. E o sonho é o grande começo.

Referências

PENNAC, Daniel. Como um romance. Tradução de Leny Werneck. 1ª ed. Rio de Janeiro. Ed. Rocco: 1998.

<http://www.editoras.com/rocco/022082.htm> (acesso em 01 dez 2008)

 

<http://www.travessa.com.br/Daniel_Pennac/autor/294A54AD-5E12-4F4D-8C93-F7DDA06D6039> (acesso em 01 dez 2008)