O ESPAÇO E O HOMEM

Era uma vez um empregado que se chamava João Romão. Esse trabalho bem que poderia ser iniciado dessa forma pois, nessa frase, está contido o começo de algo que sabemos
ser fruto de uma imaginação que se desdobra entre o mundo real e o imaginário atrelando ele-
mentos fictícios do imaginário a elementos reais. Segundo o psicólogo Jungiano Johnson, toda
vez que encontramos esta frase em um texto podemos saber de ante mão que teremos um insight
que nos remeterá a nosso próprio mundo interior. Johnson (1996.p,15).
A história de João Romão é uma ficção, ele é um personagem e tudo o que está rela-
cionada a ele também o é, mas, enquanto que nas histórias do era uma vez todo o enredo é cons-
truído visando o objetivo de divertir e, se possível, instruir didaticamente, nessa história o enredo possui um toque mais elaborado no qual o ambiente é tão importante que adquire vida.
Skinner (1975, p, 9) discordava da visão comum da sociedade sobre o hábitat: "[...]
Há algum tempo atrás, pensava-se o meio ambiente como o simples lugar onde animais e
homens viviam e se comportavam[...]", para ele o espaço compreendia algo; ainda com, "[...]
Que talvez favorecesse ou dificultasse o comportamento, mas não o que determinava a sua ocorrência ou a sua forma[...]" sendo que da, reação do ser às circunstâncias que diante de si
são colocadas no seu dia a dia, dependerá sua realidade futura, em um fenômeno que se asseme-
lha a uma reação em cadeia que, uma vez iniciada, pode até ser retardada ou acelerada mas nun-
ca impedido.
A medida em que formos mergulhando nas personalidades de João Romão e Miranda tentaremos apreender os estímulos que os impulsionavam forçando-os a comportarem-se desta
ou daquela forma na busca da resposta ao problema da acumulação do capital que, muito embora
se apresentasse formulado em abordagens diferenciadas pois se, João Romão ,buscava a riqueza
como resultado de seus esforços pessoais trabalhando, roubando e mentindo para resolver as complicações que apareciam no decorrer do seu dia a dia; Miranda ,no entanto, trilhava o cami-
nho dos conchavos políticos, das leis e costumes estabelecidos pela sociedade aos quais ele a- apropriava-se manipulando as pessoas por meio da dissimulação em um jogo em que a cada
passo tinha de ser bem pensado com as conseqüências desses passos avaliadas e prevenidas não havendo como negar, que o desejo de acumular capital, era ponto comum entre eles.
Toda a psique humana estrutura-se a partir de um determinado tempo e espaço, assim
o que nos séculos V e VI era tido como normal e aceitável, nos séculos XVIII e XIX seriam pro-
va irredutível de atraso e ignorância e ,tendo em vista que, no tempo em que viveu o autor dessa
obra, todos os olhos estavam voltados para os grandes avanços da ciência no que se chamaria,
tempos depois, de o século da razão, identificaremos, para fins de estudo, os insight que nos re-metam a coexistência, pacifica ou não, entre a razão e o instinto animal dentro da mente humana
no que se determina como psique.
Toda a humanidade sempre primou por estabelecer limites e, esse, é um comporta-
mento que herdamos dos animais e dos nossos antepassados primitivos. O primeiro espaço do
qual o homem apropriou-se foi, segundo Wells (1972. p, 120 volume I ):

Não somente o homem buscava as cavernas. O período revela também a existên-
cia de um leão, um urso e uma hiena das cavernas, estas criaturas tinham que
ser expulsas e mantidas fora das cavernas a que os homens primitivos desejavam
recolher-se escondendo-se.

As cavernas e, como podemos perceber por esse relato, havia a necessidade de prote-
ger o espaço contra qualquer coisa ou qualquer um que representasse ameaça. Assim o espaço
era dividido entre espaço seguro, que é o espaço interno e, espaço inseguro, que era o externo.
É fácil perceber que na literatura do cortiço existe uma clara delimitação do espaço geográfico pois inicia-se pelo espaço da taverna: Azevedo (2005. p, 1) "[...] João Romão foi,
dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as qua-
tro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do botafogo [...]" que as-
semelha-se em muito ao espaço do homem primitivo das cavernas, escura e localizada nos refo-
lhos do bairro. O que indica um local de difícil acesso, onde só iriam aventurar-se os que fossem
obrigados por uma questão de sobrevivência.
Nesse mesmo trecho o autor coloca em evidencia um outro espaço, como se dividisse
a realidade do sonho da realidade da vida: Azevedo (2005. p, 1) "[...]ao retirar-se o patrão pa-
ra a terra[...]" A realidade, uma trabalhosa e sacrificada vida por alguns trocados, o sonho era o
progresso das industrias que haviam forçado esse mesmo patrão a lançar-se ao mundo em busca
de riquezas e, para a qual, regressava agora como senhor.
Podemos perceber na forma como os espaços são colocados em relação ao individuo
que ambos são reais. Um representa a realidade que um dia expulsou de seus limites o homem
que agora retornará como patrão após ter extorquido as riquezas de um povo que existe em outra realidade, o outro espaço, a realidade de Romão, que sustenta e financia a realidade do velho pa-
trão, que era sonho, enquanto não dispunha este dos meios necessários para a ela retornar.
João Romão representa o salto evolucionário do homem primitivo, com seu limitado
e deficiente capital primitivo, para o mercantilismo, que requer a posse do capital de lastro para
suas operações. Capital esse que na maioria das vezes era fruto da exploração descarada por
meio da posse de terras e vidas em nome de um poder maior que se constituía no estado monár-
quico absolutista.
Segundo Nicola (2004. p, 125): "[...] Enquanto no Brasil predominavam a manu-fatura e a mão de obra escrava, nos paises europeus a industria se desenvolvia plenamente.
[...]" embora em toda a Europa o capitalismo moderno estivesse operando profundas mudanças
na sociedade desde o final do século XVII, no Brasil, em pleno século XIX, ainda predominava
um misto entre a aristocracia e a nobreza com a mão de obra escrava como principal fonte de ri-queza. Tais características nos remetem a comparação entre a produção na era das revoluções mecânicas e industriais, e a produção na era da força bruta feita por Wells, (1972. p, 1528) sobre
o sistema produtivo:
Os seres humanos já não eram procurados como fonte de mera e indiscriminada
força. O que podia ser feito mecanicamente por um ser humano, podia ser reali-
zado mais rapidamente e melhor por uma maquina. Os seres humanos eram pré-
cisos agora somente onde se tinha de exercer inteligência e escolha. Os seres hum-
anos eram precisos somente como seres humanos.

De acordo com essa comparação percebe-se que no Brasil o modelo vigente tinha
como base à força bruta. Sendo um ambiente um tanto impróprio para o desenvolvimento da
ideologia burguesa, mas, mesmo assim, ela existia. Não uma ideologia burguesa no molde da revolução inglesa e sim uma ideologia construída sobre os valores retrógrados de resquícios do feudalismo temperados com uma forte dose de absolutismo monárquico sustentados pela mão
de obra não especializada dos escravos.some-se então a tudo isso um pouco de expropriação e teremos em mãos o ambiente do cortiço.
A primeira apropriação de João Romão foi Bertoleza que representava a sustentação
de sua riqueza, a mão de obra farta e barata que se dá na base da troca e se deixa espoliar por não perceber seu próprio valor e também por desconhecer a maldade no ser humano, já que, para ela; segundo suas próprias palavras: Azevedo (2005. p, 1) "[...]- Coitado! A gente se queixa é da
sorte! Ele, como meu senhor, exigia o jornal, exigia o que era dele.[...]" a realidade não era
injusta mas sim algo estabelecido por um poder maior que, se deus, ou o estado, era algo normal
para ela.
Para nós, que vivemos em uma era repleta de valores construídos sobre uma ciência humana, Bertoleza pode parecer tola, mas seu comportamento reflete a ideologia de seu tempo,
um tempo em que o senhor tinha confirmado o seu poder por direito de nascimentos sendo que
entre o escravo e o servo não existia grande diferença.
Além disso, na mente dela havia tomado forma a idéia de que João Romão era um
herói e isso despertava nela um sentimento de gratidão. O leitor repudia seu comportamento por
saber das mentiras de seu parceiro, (2005. p, 2) "[...] Entretanto a tal carta de liberdade era
obra do próprio João Romão, e nem mesmo o selo ele entendeu de pespegar-lhe em
cima [...]" mas esse repúdio se dá por esquecer-se que ela, Bertoleza, não sabe o que o leitor
sabe e, por isso, julga em função de seus próprios conceitos, conceitos estes que não são os dela
e que com certeza nem existiam em seu tempo e espaço.
Ambos os dois passam por um processo de evolução pois, de acordo com Skinner (1981.p,19) "[...] Os processos psicológicos parecem ocorrer sempre paralelamente aos processos fisiológicos ou biológicos básicos [...]" por isso sua completitude torna-se impossi-
vel pelo fato de estar, a humanidade, sempre exposta a continuas situações que exigem de sua
parte, decisões e ações em uma cumplicidade entre ambiente e ser humano pois, enquanto ser,
ela é o resultado de uma equivalência.
João Romão construía riqueza roubando a riqueza dos outros: Aluízio (2005. p, 3)
"[...] esses furtos eram feitos com todas as cautelas e sempre coroados do melhor sucesso, graças à circunstância de que a policia não se mostrava muito por esse tempo [...]" toda a monarquia constituísse sobre a expropriação de bens e vidas, João Romão, ao roubar, não fazia
mais do que se comportar de acordo com o que aprendera observando a ação do próprio estado.
Sua imagem era a imagem do estado, suas ações eram as ações do estado, seu espaço representa-
va o espaço do estado mas ele não era somente o estado.
O espaço de João Romão contém o espaço de Bertoleza, o espaço de Bertoleza está contido no espaço de João Romão e, é a partir desse espaço, que toma forma o espaço do cortiço
como um ser vivo, Azevedo (2005. p, 10) [...] Durante dois anos o cortiço prosperou dia a
dia, ganhando forças, socando-se de gente. [...], a principio pequeno, o espaço cresce, avolu-
ma-se e, toma forma, Azevedo (2005. p, 3) "[...] E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foi o ponto de partida do grande cortiço João Romão. [...]"
até limitar-se com outro espaço, o espaço do próprio estado burocrático que cresce em sentido horizontal, apontando para cima, o espaço da razão, do conhecimento, que seduz pela ostentação
de poder mais do que pelo próprio poder em si :

Justamente por aquela ocasião vendeu-se também um sobrado que ficava à direi-
ta da venda, separado desta apenas por aquelas vinte braças; de sorte que todo o
lado esquerdo do prédio, coisa de uns vinte e tantos metros despejava para o ter-
reno do vendeiro as suas nove janelas do peitoril. Comprou-o um tal Miranda,
negociante português estabelecido na rua do hospício com uma loja de fazendas
por atacado.


O sobrado do Miranda era tudo isso e muito mais. Era o espaço onde as aparências estavam acima da realidade, onde a razão dominava soberana com suas institucionais formas de-mocráticas de coerção pelos direitos estabelecidos e deveres decorrentes desses direitos.Assim
como João Romão, que possuía Bertoleza como sustentação do seu poder da mesma forma que o patrão possui o empregado por estar, este, sujeito a ele por uma imposição da própria ideologia
que oculta aos sentidos a verdadeira face do "ser o homem o lobo do próprio homem", Miranda
unia-se a Estela.
No caso de Estela não podemos usar a palavra possuir. Estela, apesar dos votos ma- trimoniais, não é propriedade de Miranda, sua participação não se dá somente pela força dos
braços e, ela, não se sujeita ao marido sem reservas, entre eles há um jogo de poder. Miranda
precisa de Estela por imposições financeiras morais e éticas e Estela precisa de Miranda pelo
mesmo motivo. Os dois são mais do que marido e mulher, são sócios.
Assim, de acordo com o que vimos até agora, podemos demarcar o espaço dentro da
obra da seguinte forma;

O cortiço o sobrado do Miranda
- Espaço do domínio sentidos - Espaço dos sentidos "dominados"
- Espaço do instinto - Espaço da razão
- Espaço do esforço físico - Espaço do intelecto
- Espaço das contingências - Espaço dos estímulos discriminatórios
- Estado da realidade - Espaço das aparências



REGRAS E GONTINGÊNCIAS NA BASE DO COMPORTAMENTO HUMANO

De acordo com Skinner: (1975. p, 36) "[...] resolver um problema é um evento comportamental. Os vários tipos de atividades que promovem o parecer de uma solução
são formas de comportamento [...]" um homem pode comportar-se de formas diferentes no momento de resolver um determinado problema e podemos ser tentados a avaliar o ser pela qua-lidade das suas respostas. Talvez sejamos tentados a avaliar João Romão e Miranda pela eficácia
de suas respostas a problemática do desejo de acumular capital, Mas isso é um erro pois uma maquina, apesar de sua perfeição na resolução de problemas, repete suas funções sem que delas resulte algum aprendizado estando à mesma presa ao movimento para a qual foi criada.
João Romão tem em seu comportamento uma resposta à problemática da sobrevivên-
cia, sua luta e esforço podem ser erroneamente interpretado como algo que indique racionalidade extrema, ou seja, a busca da riqueza e do poder como resultado de um plano traçado em uma es-
tratégia pensada e premeditada, mas suas ações evoluem no campo das contingências, enquanto
que as ações do Miranda se dão no campo da discriminação.
Skinner relata que o termo, contingência, pode ser aplicado a inúmeras possibilidades
na área da psicologia comportamental, aqui fazemos uso do termo conceituando-o, segundo ele, como (1975. p, 38): "[...] comportamento modelado pelas contingências quando dizemos
que um organismo se comporta de uma determinada forma com uma dada probabilidade porque o comportamento foi seguido por um determinado tipo de conseqüência no passa-do[...]"
João Romão encaixa-se nesse tipo de personalidade pois suas ações se deram a partir
da busca da sobrevivência estruturada em acordo com a formação cultural que recebeu quando criança cuja norma principal era economizar e possuir: Azevedo (2005. pá,1) "[...] João Romão
foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as
quatro paredes de uma escura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto econo-
mizou do pouco que ganhara, {...]" que, motivados por reforços como, o prazer de ver suas po-
sses crescerem, muda seu comportamento no decorrer da narrativa como resultado de uma dife-
rença motivacional.
O velho português, com o qual João Romão trabalhou como empregado, comportava-
se, provavelmente, como um verdadeiro usurário da miséria dos seus fregueses, aumentar o peso, diminuir as medidas e majorar as contas em suas cadernetas são apenas alguns dos recursos usa-
dos pelos comerciantes da época. Esse comportamento propiciou o acumulo de capital necessá-
rio para que ele voltasse a Portugal e, João Romão, influenciado por esse sucesso, não tinha mo-
tivos para comportar-se de forma diferente.
O ato de explorar os clientes serviu como modelador das ações futuras de João Ro-
mão e, continuando com Skinner, ainda no mesmo parágrafo citado anteriormente, "[...] referi-
mo-nos ao comportamento sobre controle de estímulos especificadores de contingências anteriores quando dizemos que um organismo se comporta desta e daquela forma porque espera que uma conseqüência similar se siga no futuro[...]" podemos compreender que suas
ações baseavam-se na idéia de que, da mesma forma que o velho, ele também seria feliz em seus esforços, também ficaria rico.
Miranda, por sua vez, age segundo as regras e, para Skinner, ( 1975. p, 34) "[...] À medida que uma cultura produz máximas, leis, gramática e ciência, seus membros acham
mais fácil eficientemente sem contato direto ou prolongado com as contingências de refor-
ço assim formuladas. [...], essas regras são um caminho mais fácil para quem não deseja expor-
se ao risco de perder-se em seu trajeto, outras pessoas, que antes dele, já enfrentaram esse mesmo problema do desejo do acúmulo de capital, deixaram regras. Observe-se então que não são regras dele, não foram elas apreendidas por situações conseqüentes de um encadeamento de fatos que
se deram de modo inerente a sua vontade.
Tudo o que ele tem é resultante de atos conscientes executados e premeditados em um plano, que muitas, vezes exigia dele sacrifícios tendo que suportar situações que o tornavam infe-
liz. Exemplo disso é o casamento de Miranda; Azevedo (2005. p, 4) "[...] Ainda antes de termi-
nar o segundo ano de matrimonio, o Miranda pilhou-a em fragrante delito de adultério; fi-
cou furioso e seu primeiro impulso foi manda-la para o diabo junto com o cúmplice; mas
sua casa comercial garantia-se com os dotes que ela trouxera. [...]" que, apesar de perdido, destruído pelo adultério de Estela sua mulher, mantem-se nas aparências. As regras da sociedade determinam seu comportamento, ele segue regras, regras essas que são o resultado d e uma for-
mação apurada e estabelecida segundo as convenções da sociedade reunidas em epistemologias
do conhecimento transmitidas pelos meios dos quais dispõe o estado, ou sela, as igrejas, as esco-
las, as leis e etc.
João Romão e Miranda vivem a necessidade de obter lucro em uma mesma socieda-
de, mas suas ações para resolver este problema dão-se em campos diferentes pois um é regido
por leis pré estabelecidas enquanto que outro cria suas próprias leis, um age por extinto aprovei-
tando as oportunidades e o outro age pela razão seguindo um caminho mais ou menos determi-
nado pela sociedade, a questão é; podemos nós afirmar que as ações de João Romão sejam resul-
tado do uso da razão? Ou então; seus atos podem ser classificados como racionais entrando pelas características dos estímulos discriminativos.

O COMORTAMENTO POR INSTINTO "CONTINGENCIAS" E PELA RAZÃO "DISCRIMINAÇÃO"
João Romão respondeu aos desafios de uma série de contingências durante sua busca pela ri- queza e, como resultado dessas respostas, teve, no final da obra, suas ações submetidas a regras pois o ser, segundo Skinner, (1975. p,37) "[...] Quando submetido a ações contingentes do meio, termina por sofrer uma programação provocada por sua forma de construir solução problema. [...]" por isso a diferença entre ele e Miranda fica obvia quando analisamos seus comportamentos no inicio da obra, mas vão, aos poucos, aproximando-se um do outro quase que eliminando as contingências e substituindo-as por impulsos discriminatórios, "lembrando-se, e claro, que discriminação, nesse caso, refere-se ao ato de agir conforme a determinadas regras impostas pelo meio social" (2005. P, 11):
Miranda tem de agir em acordo com as regras do jogo, ele não pode expulsar Estela de casa, mesmo que queira, pois as regras sociais exigem sua permanência no posto de marido provedor dos bens e guardião da moral e, apesar de não gostar de João Romão, cumprimenta-o com um sorriso e um bom dia forçado em busca do sonho do titulo de barão, Azevedo (2005.
pág,11)

semelhante preocupação modificou-o ao extremo. Deu logo para fingir-se escravo
dasconveniências, afetando escrúpulos sociais, empertigando-se quanto podia e
disfarçando sua inveja pelo vizinho com um desdenhoso ar de superioridade
condescendente. Ao passar-lhe todos os dias pela varanda cumprimentava-o com
proteção sorrindo sem rir e fechando a cara em seguida.


João Romão, no entanto, não tem de esconder-se por trás de nenhuma regra e desafia a quem queira lhe enfrentar partindo, inclusive, para as vias de fato se assim se fizesse necessário, Azevedo (2005. pág, 2) "[...] ?O cego que venha busca-la aqui, se for capaz.... desafiou o
vendeiro de si para si. Ele que caia nessa e verá se tem ou não pras pêras![...]" ele não pensa nas conseqüências de seus atos e, uma vez que não há um planejamento em suas ações, ele não
pensa no futuro aproveitando as oportunidades quando estas aparecem enquanto que Miranda, cria
as oportunidades trabalhando, para que elas apareçam. Tanto um como o outro tentam responder
da melhor forma possível a problemática que tem diante de si que é acumular capital, as respostas
a esta interrogação é que se desdobram de forma diferente.
Skinner faz uma comparação entre o comportamento movido por regras e o comporta-
mento pelas contingências usando a imagem do comandante de um navio e a figura de um atleta
de beisebol em pleno jogo. O primeiro tem a missão de resgatar satélites perdidos no mar e, para executar sua tarefa, ele determina a velocidade do navio e sua direção segundo as ordens que rece-
beu de seu alto comando. O segundo corre e salta em perseguição a bola.
Ambos movem-se em busca de um objetivo mas o que determina a velocidade do atleta
são as contingências momentâneas, o aplauso do publico torcedor, o desejo de superar-se conquis-
tando pontos para seu time são motivações que despertam os instintos subordinando suas ações a reflexos.( 1975. p,37)
O comportamento de João Romão assemelha-se em muito ao comportamento do joga-
dor, ele agiu por reflexo ao aproveitar-se de Bertoleza, agiu por reflexo ao comprar o lote e cons-
truir suas primeiras casinhas enquanto que o comportamento de Miranda tem todas as característi-
cas do comandante do navio. Ele é calculista como Romão mas, seus cálculos, são feitos com uma perspectiva de longo prazo e não de acordo com as oportunidades.
Quando lemos pela primeira vez o cortiço temos a impressão de que João Romão é a
razão encarnada por seus atos serem extremamente movidos pelo interesse, no entanto, seu comportamento não avança nesse campo, e sim no campo da intuição, João Romão e intuitivo e podemos entender o porque dessa confusão na mente do leitor no trecho em que Skinner explica
que (1975. p, 40) "[...] Em geral admiramos o homem intuitivo com seu comportamento mo-delado pelas contingências mais do que o mero seguidor de regras [...]" e essa admiração
acontece pelo fato de ele, um homem simples, ter conseguido conquistar seu espaço numa socie-
dade que geralmente não premia os rudes e sim os que ostentam status de clássicos e eruditos.
Então, após toda essa análise do comportamento de João Romão e de Miranda a luz
da teoria comportamental de Skinner concluímos que, segundo Skinner, (1975. p, 41) "[...] a dis-
tinção clássica entre o comportamento racional e irracional ou intuitivo é do mesmo tipo. As ra-
zões que governam o comportamento do homem racional descrevem relações entre as ocasiões nas quais ele se comporta, seu comportamento e suas conseqüências.[...]" o homem racional pautasse
por agir levando-se sempre em consideração as futuras conseqüências dos seus atos, como Miran-
da que , como já foi citado anteriormente, resistiu a seu ódio pela esposa por temer o prejuízo e os dissabores de uma separação. O que não pode ser dito de João Romão que saia a noite para roubar
sem se preocupar com uma possível prisão, o que certamente terminaria com sua busca pelo capi-
tal.
Por isso conclui-se que João Romão era guiado mais por instintos sendo um ser extre- extremamente intuitivo enquanto que Miranda era guiado pela razão.





















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WELLS.H.G. História universal, volume I. São Paulo: Companhia editora nacional, 1972

JOHNSON A. Robert. A chave do entendimento da psicologia feminina São Paulo: Mercúrio
1996

SKINNER Frederic Burrhus. Contingências do reforço Capítulos I, VI, VII, VIII. Os pensadores. São Paulo: Abril cultural 1975.