A LITERATURA E A INTERDISCIPLINARIDADE: APRENDER É RELACIONAR...

A LITERATURA E A INTERDISCIPLINARIDADE: APRENDER É RELACIONAR...

RESUMO

            A Literatura é a área do conhecimento mais interdisciplinar, pois nela está registrada toda a manifestação cultural do homem através da palavra. Aprender a fazer relações interdisciplinares é uma forma de aprofundamento na Literatura e de despertar um maior interesse de estudantes para a Literatura. Levando-se em consideração que áreas, como a Pedagogia, realizam estudos científicos que já comprovaram: a interdisciplinaridade é uma estratégia que traz incontáveis benefícios à aprendizagem, seja ela em qualquer fase escolar, inclusive no Ensino Superior. Apesar disso, a Literatura não vem sendo a disciplina mais adorada, pelo contrário, os alunos alegam que, na maioria dos textos estudados, a linguagem é de compreensão difícil. Isso se deve, na maioria dos casos, à falta de compreensão do período histórico cultural onde o texto estava inserido.Os professores mais atentos a este fato já estão trabalhando a História aliada à Literatura, mas é preciso ir mais além.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Literatura; Escolas Literárias Brasileiras

           1.    INTROUDUÇÃO

É sabido que todos os períodos literários são diretamente ligados à História, todavia é possível fazermos relações com todas as disciplinas, inclusive com outras manifestações artísticas.

            Assim, podemos afirmar que este estudo numa visão interdisciplinar amplia o conceito de Literatura, despertando ainda mais o interesse das pessoas em geral e, especialmente, de nossos alunos.

            Aprofundar o estudo dos períodos literários, relacionado-os com as demais áreas do conhecimento, para que a Literatura abra caminhos e mostre aos alunos a importância de uma visão global, bem como conscientizar de que a leitura pode nos dar acesso a todas as manifestações culturais .

No decorrer deste artigo, buscaremos respostas a algumas inquietações que podemos constatar no ensino de Literatura. Tais perguntas são:

            - Por que a Literatura não é uma das disciplinas mais adoradas pelos alunos atualmente?

            - Como podemos tornar o estudo da Literatura mais atraente?

            - Como podemos estudar a Literatura numa visão interdisciplinar?

            - Qual o papel da leitura para o estudo da Literatura?

            - Como outras manifestações artísticas influenciam na Literatura?

            Aprender a fazer relações interdisciplinares dentro da Literatura é fazer uma viagem dentro das obras literárias, buscando verificar uma “pitada” de cada área do conhecimento ou de cada manifestação artística nas palavras utilizadas por autores que estudamos hoje como mestres na Arte da Palavra.

2.    A LITERATURA E A INTERDISCIPLINARIDADE

 

            A Literatura é a área do conhecimento que mais e melhor pode relacionar-se com as demais. Isso é possível devido que a escrita é uma atividade exclusivamente humana, portanto através dela o homem registra sua cultura, ou seja, através da Literatura.

            Em outras palavras, o homem deixa em verso e em prosa seus pensamentos, seus sentimentos, suas ideias, suas críticas, suas expectativas...

            A Literatura é uma das divisões da Arte, portanto precisamos estudar também a influência que outras formas de Arte têm na Literatura, buscando relacioná-las, saber como se dá este processo.

            Cada época tem seus registros literários. Assim, divide-se a literatura em períodos ou escolas.

            Na Literatura Brasileira, podemos realizar um estudo de suas escolas, relacionando-as com outras áreas do conhecimento, proporcionando um estudo interdisciplinar que se tornar mais atraente e de melhor compreensão.

            Dessa forma, analisaremos cada período e as relações interdisciplinares que cada um deles nos permite fazer.

            É importante ressaltar que a História é uma disciplina de especial relação com a Literatura, sendo indispensável um estudo concomitante entre ambas em todos os períodos literários.

            Façamos então um apanhado teórico de quais e como relacionar outras áreas do conhecimento à Literatura.

QUINHENTISMO

            O Quinhentismo foi divididoem duas Literaturas: Informativa e Jesuítica.

            Na primeira, é evidente a relação com a História, levantando discussões sobre o dia 22 de abril de 1500. Descobrimento, achamento ou tomada do Brasil por Portugal?

É possível relacionar com Redação, através de um estudo do texto descritivo “Carta de Pero Vaz de Caminha”.

Na segunda, é possível relacionar com a religiosidade, estudando a iniciação da Igreja Católica no Brasil.

BARROCO

O Barroco foi o culto à religiosidade e ao exagero, exagero esse em todos os aspectos.

Um importante aspecto é na Arquitetura. Visualizando as construções realizadas naquele período, temos uma noção clara do que ele representou, principalmente em se tratando dos templos católicos (religiosidade e exagero).

Opondo-se a essas ideias, Gregório de Matos passou a ser chamado de “Boca do Inferno”. Como o apelido sugere, ele resolveu, após também ter escrito conforme os moldes barrocos, colocar-se contra esse exagero. Em suas obras satíricas, é possível analisar sua ideologia, que está mais do que explícita.

Um estudo sobre ideologia também cabe ás obras do Cultismo e do Conceptismo defendidos, respectivamente, por Luís de Gôngora e padre Antônio Vieira. O primeiro consiste no jogo de palavras e o segundo, no jogo de ideias. A esses estilos, podemos aplicar estudos linguísticos.

ARCADISMO

O Arcadismo foi uma fuga da realidade. Os autores mergulharam em universos imaginados por eles, através de romances e paisagens naturais. Todavia não faltou um pouco de crítica, que pode ser vista em “O Uraguai” e em “Cartas Chilenas”.

Essa escola literária foi influenciada por pensadores iluministas da época, como Jean-Jacques Rosseau, Horácio, entre outros. Assim, podemos estudar a Filosofia, para compreendermos melhor tais pensadores e, conseqüentemente, o Arcadismo ou Neoclassicismo.

ROMANTISMO

            O Romantismo teve três gerações: Nacionalista, Byroniana e Condoreira. Todas as três permitem-nos relacioná-las com a Psicologia, já que o Romantismo traz à tona os sentimentos humanos.

REALISMO E NATURALISMO

            O Realismo surgiu, assim como a maioria das escolas literárias, em oposição ao que o antecedeu, ou seja, não admite sentimentalismos, quer ver a realidade como ela é. Dentro da prosa realista está o Naturalismo, que tem as mesmas ideias, porém com a presença marcante do cientificismo e dos instintos humanos mais primitivos e até chocantes, quando lidos.

            O Parnasianismo é a poesia realista e primava pelo culto à forma: ”a Arte pela arte”.

            A relação interdisciplinar necessária ao Realismo é com a Biologia. Ela influenciou totalmente nesse período. As teorias de Darwin e o Positivismo são os mais presentes.

            Darwin afirmava que “o meio modifica o homem” e Aluísio de Azevedo mostrou em “O Cortiço” a mudança que o meio provocou em alguns personagens.

            Dessa forma, é imprescindível que o estudo de obras com essa seja feito, relacionando Literatura e Biologia.

SIMBOLISMO

            O Simbolismo trouxe de volta a subjetividade do Romantismo, porém com um ar de sugestão, ou seja, os textos não trazem mensagens explícitas. A linguagem é carregada de figuras e é preciso mergulhar na alma do autor para compreender melhor sua obra. Cabe aí também um estudo de perfis psicológicos dos autores.

            Assim, a necessidade é de um olhar lingüístico a esses textos, pois cada palavra pode significar toda uma ideia.

VANGUARDAS EUROPÉIAS

 

            As Vanguardas Européias chegaram ao Brasil e fizeram a cabeça da maioria dos artistas da época.

O Futurismo, o Expressionismo, o Dadaísmo, o Surrealismo e o Cubismo influenciaram a Arte em todos os aspectos, portanto, para que entendamos tal influência na Literatura, devemos estudar os textos literários, observando também as outras obras artísticas desse período, como na pintura, na escultura, na música, entre outros.

Um exemplo é a obra “Memórias Sentimentais de João Miramar” de Oswald de Andrade. Tal obra do primeiro momento modernista foi denominada como cubista. Pablo Picasso foi considerado o principal pintor cubista.

O que teriam os dois em comum?

As obras de Picasso são “recortes” de imagens, ao passo que o livro citado de Oswald traz “recortes” de textos e fragmentos da vida de João Miramar, personagem fictício, mas quase autobiográfico.

PRÉ-MODERNISMO 

            O Pré-Modernismo caracterizou-se principalmente pelo romance social, onde se destacaram obras que mostram a miséria humana, através de personagens nordestinos, os quais representam a má distribuição de riqueza em nosso país.

            A obra destaque deste período no quesito interdisciplinaridade é “Os Sertões” de Euclides da Cunha. O livro está dividido em três partes: A Terra, O Homem e A Luta.

            Na primeira parte, ocorre uma descrição geográfica do lugar onde se passa a narrativa, ou seja, do sertão nordestino.

            Na segunda parte, o autor faz uma descrição do personagem principal, ou seja, do homem sertanejo e da figura mística de Antônio Conselheiro, sendo assim um texto antropológico e sociológico.

 Na terceira parte, é narrada a Guerra de Canudos, num enfoque histórico-crítico. Esta é apenas um exemplo de interdisciplinaridade também no Pré-Modernismo.

MODERNISMO 

            O Modernismo teve início com a Semana de Arte Moderna em São Paulo. Aideia principal foi a valorização da Arte Nacional, envolvendo arte literária, plástica e musical.

            As obras modernas são de temáticas livres, portanto cada obra deve ser analisada individualmente e vista a possibilidade de relações interdisciplinares. O mesmo pode-se afirmar de obras da Geração de 30 e do Pós-Modernismo.

           

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MARTINS, Ivanda. Desafios do ensino da literatura na visão do professor do ensino médio. 4°. Ed. São Paulo: Editora Atual, 2006.

NICOLA, José de. Literatura Brasileira – das origens até os dias atuais. Scipione: São Paulo, 200,