O ser humano tem o sabor do oceano na lágrima. Na composição química do seu corpo estão todos os preciosos metais que compõem a Natureza. Ele tem a mesma proporção de líquido do Planeta Terra no seu corpo. Na formação de sua estrutura física e espiritual estão presentes os estados sólido, líquido e gasoso: natureza e homem são Universo - único verso de Deus!

Para Roger Garaudy “Crer que somos separados é ilusório. Os homens são como galhos de uma mesma árvore, ou como ondas de um mesmo Oceano”.

Roger denuncia na sua obra Apelo aos Vivos, que “O homem violou três infinitos. O infinitamente pequeno: ao domar o átomo e liberar a sua fantástica energia. O infinitamente grande: ao transpor as barreiras da Terra, viajando pelo Cosmo. O infinitamente complexo: através da Cibernética”. Muito angustiado pelo avanço tecnológico, sem compromisso com a vida, ele desabafa: "Optar pela energia nuclear é assassinar nossos netos".

Xamã, um pajé americano, diz que ensina assim ao seu povo: Primeiro, a arte de escutar. Segundo: que tudo está ligado com tudo. Terceiro: que tudo está em transformação. Quarto: que a terra não é nossa, nós é quem somos da terra.

Jesus exclamou: “Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam... nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles” - Mt 6: 28.

O Mestre aponta para a serenidade das flores do campo como alternativa na busca do equilíbrio ecológico espiritual. As flores dão nomes a mulheres, homens, lugares, rios, países. As flores são alimentos e curam, também! O equilíbrio da alma vai se conseguir na medida em que brotarem nos canteiros do respeito, as sementes da paz interior, da compaixão por si mesmo, pelo outro e pelo Universo.

Deus criou todas as coisas e controla tudo: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também” Jo 5:17. Deus está no comando e, como Criador e Sustentador, pode recriar e modificar o Universo. ”Quem mediu na concha da sua mão as águas, e tomou a medida dos céus aos palmos, e recolheu numa medida o pó da terra e pesou os montes com peso e os outeiros em balanças?” Ele mesmo prometeu que haverá “novo Céu e nova Terra”. Planetas e mundos, cidades, rios e montanhas desaparecem num piscar de olhos, galáxias e berçário de estrelas surgem ou caem pulverizadas no infinito.

       "Abrirei rios nos altos desnudos e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em açudes de águas e a terra seca, em mananciais. Plantarei no deserto o cedro, a acácia, a murta e a oliveira; conjuntamente, porei no ermo o cipreste, o olmeiro e o buxo". Is 41:19 e 20.

         Aos seus filhos a  promessa de Deus soa muito forte em meio à destruição: "Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo. Os animais do campo me glorificarão, os chacais e os filhotes de avestruzes; porque porei águas no deserto e rios, no ermo, para dar de beber ao meu povo ao meu escolhido" Is 43:19.

Albert Schweitzer afirma: "Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da Criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante".

Há urgência em reflorestar idéias, reciclar comportamentos, irrigar emoções, adubar o terreno dos perdões... Podar galhos ressecados de qualquer temor, aplainar o olhar social, buscando os excluídos, onde for, iluminar, oxigenar e plantar, plantar sementes selecionadas de amor.

O homem busca, em desespero, mas antes tarde do que nunca, a preservação do que sobrou neste Planeta. Não é impossível, até porque atitudes simples têm o poder de mudar o rumo de coisas importantes. Mas eis o impasse: por que não se começa a educar para o equilíbrio da ecologia humana? Quanto custa o esforço por um abraço, por um sorriso, pela demonstração de afeto?

A Escola gasta quase todo o tempo destinado a ela, resolvendo equações de primeiro e segundo graus e a criança vive refém de deveres de casa. Não há tempo nem espaço para brincar, ao sol. Dirão muitos que a concorrência exige tudo isso na corrida desenfreada ao mercado de trabalho: passar nos concursos, brilhar nos vestibulares e arranjar emprego estável! Nessa guerra da sobrevivência só quem sabe mais equação e rebimboca da parafuseta alcança o sucesso. Será? Claro que não. O maior desafio da educação é ensinar a viver e preservar a vida!

Preservar é insistir na luta pela vida, é ajudar a garantir às gerações a dádiva de viver! O cidadão comprometido com a vida é capaz de interagir e ajudar a deter o poder de destruição ao redor, mesmo sem ter nas mãos as prometidas verbas públicas. Ele pode exercer a cidadania de uma forma pacífica, inteligente e gratuita: indignar-se.

Para preservar é preciso formar cidadãos sentinelas da vida, que saibam intervir no momento certo para se evitar o desperdício, o mau uso, o abuso, mas, sobretudo, formar o educador do meio ambiente, capaz de ensinar “a tempo e fora de tempo” como viver sem deixar um rastro de morte por onde passa.

É preciso formar educadores para assessorar a sociedade na administração do que herdou. O Brasil pode dar também ao mundo um grande exemplo de fraternidade, ao propor um programa de reciclagem de vidas e a restauração do homem. A Família, a Igreja e o Estado, juntos, podem implantar um novo estilo de vida.

Quando o homem desperdiça água, luz, árvores, pensamentos positivos, oportunidade de preservar-se, inteligência para interagir na preservação do Planeta, está adubando com a própria lágrima da irresponsabilidade o terreno da morte para se destruir. Quando distribui lixo político, social, espiritual, emocional, e toda a espécie de ações inconsequentes, está infectando o espaço, semeando transtornos. São crimes hediondos contra a vida.

 

Não impeça que os pássaros voem

na direção que quiserem,

não interrompa seu canto,

não destrua seus ninhos

que se escondem pelos ares.

Não faça muralhas impedindo

que os rios desfilem tranqüilos

na direção dos mares,

eles são os primeiros habitantes

do Planeta.

Plante árvores, economize água,

acenda a luz,

mas não se esqueça de apagá-la.

A vida é linda,

a Terra está clamando ainda,

à procura de

alguém que possa

amá-la.

 A juventude recebeu de herança dos maus governantes, dos currículos indecentes, dos “educadores” dormentes e dos pais omissos, um grande e riquíssimo patrimônio... mal administrado, mal conservado, mal amado.

Quando o homem reflorestar idéias, podar os galhos secos da ira, regar as raízes no manancial da fé, vai colher os frutos de um mundo oxigenado de amor. Aí, sim, o homem equilibrado vai equilibrar o Planeta!

É urgente que se enfrente o maior desafio de todos os tempos: formar os valores que vão substituir as mentes destruidoras por aquelas que têm sensibilidade para amar e preservar. O slogan poderia ser: adote o seu planeta como bichinho de estimação.

É um desafio educacional.

 

Ivone Boechat