Realizo desde 2017, ano em que retornei de Soure, Pará e voltei a morar em Belém, Pará, frequentemente passeios em minha bicicleta de três rodas, um triciclo praiano, que carinhosamente apelidei de Triciclo Feliz. Nestes passeios que duram em média duas horas, transito por ruas, avenidas, praças, parques, ciclo faixas e ciclo vias próximas do bairro onde moro, a Pedreira, e aprecio não só a paisagem como também as pessoas que por mim, cruzam, ou a pé, ou de bicicleta, ou em algum outro veículo motorizado. Tenho a oportunidade de interagir com elas com bastante facilidade, visto que a velocidade que alcanço no triciclo equivale a uma pessoa caminhando normalmente ou um pouco apressada e o meu veículo um tanto incomum, que chama a atenção e desperta, de modo geral, a curiosidade. Mas pra mim, a pressa, como diria aquele ditado, é inimiga da perfeição, e eu prefiro pedalar em um ritmo regular que me permita apreciar a paisagem e, ao mesmo tempo ficar atento às ocorrências imprevistas, porém, bastante frequentes, de avanços de sinais, transitar na contramão ou até estacionar dentro da ciclo faixa devidamente sinalizada. Equipei o triciclo com diversas lanternas que instalei na parte dianteira e traseira e uma buzina corneta com bomba, além de um pequeno cartaz de aviso de travessia. As lanternas piscam sem parar. Às ligo independente do horário e local.

Nesta sexta-feira, 26/08/22, pela manhã, fiz mais uma triciclada. Penso que foi uma das mais emocionantes que eu já realizei em minha vida. Não, não tratou-se de ter batido algum recorde de distância ou tempo! Porém, foi emblemática. Pela primeira vez, consegui concretizar uma homenagem à um/a mestre que com seus ensinamentos atravessou em minha vida de jovem! E mais: Em uma fase decisiva de minha escolha que profissão seguir pelo resto de minha existência. Agora, início de 2022, em minha diversão - que é bem diferente de trabalho - de localizar e me comunicar com os meus grandes mestres - todos do curso de graduação em agronomia - localizei a Professora Alda Monteiro. Imediatamente me comuniquei com ela usando uma das tecnologias digitais atualmente existentes e usuais - a vídeo chamada. Talvez, eu quisesse confirmar mesmo se era a pessoa que procurava. Certamente dei uma de São Tomé. Pra minha feliz surpresa e admiração era ela mesma! Ao vivo e a cores! O que mais me chamou a atenção, porém, foi a sua jovialidade, cordialidade e otimismo além de uma comunicação alegre e simples. (Devo dizer que convivemos por várias décadas como docentes no mesmo departamento - Fitotecnia, da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, FCAP, atualmente Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA - sempre com cordialidade e respeito.)

Nós, seres humanos, de modo geral, à medida que a idade avança ficamos ranzinzas, intolerantes e de mau-humor, enfim, chatos de conviver. Mas a professora Alda, não! Transmitiu otimismo, alegria, enfim, uma pessoa feliz, totalmente feliz! Trocamos contatos telefônicos e passamos a nos comunicar frequentemente via WhatsApp. Agora finalmente, decidi mais uma vez contrariar o que sabiamente o Papa Francisco escreveu alguns anos atrás – que o homem é um ser estranho, etc e tal… e dediquei dois “mimos” - pequenos objetos decorativos – que construo frequentemente em minha outra diversão rotineira caseira – para presenteá-la. Um mini Vaso Pendente Lâmpada LED com uma muda de Callissa e um buquê de flores que apelidei de “plásticas metálicas”, restos dos mecanismos de desodorantes aerossóis, minha última invenção no reúso de materiais domésticos. Os mimos foram adornados com uma pequena carta que abaixo transcrevo, embalados em um saco plástico metálico fechado com aquelas tiras coloridas usadas em embalagens de presentes.

“Belém, PA, 26 de agosto de 2022

Estimada Professora Alda Monteiro

Receba estes mimos como uma singela gratidão pelos ensinamentos que me proporcionou enquanto aluno seu de agronomia, disciplina de Botânica e Sistemática Vegetal na então Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, FCAP, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, no ano de 1970!

1) O buquê floral é uma criação minha a partir do reuso de mecanismos de aerossóis de desodorantes. Trata-se de uma espécie botânica ainda não identificada sistematicamente, mas que são conhecidas algumas de suas características morfológicas: a) Pedúnculo floral plástico, com a epiderme na cor branca; b) Botão Floral metálico revestido com tintas guaches de várias cores e envernizados com colas brancas; c) Ausência de sépalas; d) Pétalas igualmente metálicas revestido com tintas guaches de várias cores e envernizadas com colas brancas; d) Estames plásticos únicos na cor amarela; e, e) Carpelos não visíveis.

2) Mini Vaso Pendente Lâmpada LED com uma muda prestes a falar de Callissa, uma planta epífita coletada em tronco de mangueira (Mangifera indica) na cidade de Soure, Pará.

Com muito afeto e carinho,

Carlos José Esteves Gondim, Engenheiro agrônomo.”

Fiz o “delivery” hoje, 26/08/22, pela manhã, montado em meu triciclo. Não tinha certeza de que iria encontrá-la presencialmente, mas, mesmo assim, fui! E foi assim que aconteceu. Identifiquei-me na portaria do prédio onde ela mora e pedi ao gentil porteiro que fizesse chegar às mãos da estimada professora Alda Monteiro. Antes, após pedir licença ao funcionário para fotografar, registrei este momento com uma foto da sacola entregue na portaria. Peguei o rumo de casa alegre e feliz de ter concretizado um ato simples, porém, bastante escasso atualmente: a gratidão, o reconhecimento às pessoas que nos ensinaram e nos ajudaram a ter as ferramentas para que com autonomia e conhecimento pudéssemos enfrentar com sucesso os desafios de nossas vidas! Tive muitos mestres, certamente. Mas faço na figura da Professora Alda Monteiro, minha eterna homenagem de gratidão e reconhecimento a todos eles que cruzaram em minha existência. Do Jardim de Infância aos cursos de pós-graduação!