Será que existe alguma comunicação telepática entre os seres humanos, considerando que alguns pesquisadores acreditam que possa existir, mas até hoje não se tem a comprovação cientifica de que tal fenômeno possa ocorrer. Escrevo sobre isso porque sonhei na semana passada com um amigo com quem convivi por muitos anos trabalhando numa universidade. Dias depois recebo a notícia de que ele havia falecido de um câncer que foi descoberto há um ano e meio. Como estávamos sem contato há pelo menos três anos, talvez ele tenha pensado em mim e usou a telepatia para enviar-me uma mensagem.

Pode ser, pois como diria o bardo inglês: há mais mistérios entre o céu e a terra do que pensa nossa filosofia.  Já ocorreram outros fatos comigo e com pessoas da minha família sobre situações parecidas que deixam uma margem de dúvida sobre esse mistério da comunicação sem fio entre os humanos. Quando se trata de comunicação entre vivos, aceito a hipótese de que possa ser possível, mas se for com o além ou com pessoas que já morreram, eu prefiro deixar o problema a cargo dos religiosos, considerando meu ceticismo.

Mas voltando ao meu amigo que pegou o trem da eternidade, ele era uma pessoa que estava sempre disposta a ajudar os colegas ou os alunos. Apesar de andar com alguma dificuldade por conta de um antigo acidente, era sempre pau para toda e qualquer obra. Um dos seus maiores prazeres era envolver os alunos em algum projeto acadêmico. Organizava o grupo, montava planilhas e acompanhava rigorosamente o andamento dos trabalhos e ai daquele que não cumpria as tarefas sob sua responsabilidade. Sua satisfação era tudo funcionar nos mínimos detalhes e depois congratular a equipe pela eficiência e dedicação. Era assim que ele acreditava que os alunos cresciam, pois trabalhava com a teoria e a prática. Longe de ser visto como um chato, era visto como um mestre incentivador e exemplar.

Ele gostava de contar um acidente em que foi envolvido e chegou a ser considerado como morto. O hospital, por erro ou açodamento de alguém, chegou até a avisar a família sobre o seu falecimento. Com pernas quebradas, costelas e crânio fraturados, ninguém acreditava que ele pudesse sobreviver. Mais eis que ele ressurgiu como Fênix e começou a dar sinais de vida e depois de um ano ou mais, voltou a trabalhar. Seu divertimento, segundo contava era encontrar alguém que o tinha como morto e ver a expressão de pasmo, diante de sua presença física vivo e feliz.

Esse era o professor Flademir Aparecido Bassi Lopes, que conheci quando fizemos o mestrado  na mesma época. Era um mestre que levava tudo a sério, nos seus mínimos detalhes. Não admitia o menor desvio que fosse no planejamento de um evento acadêmico. Tudo deveria ser feito com precisão dentro dos prazos estipulados.

Mas ao mesmo tempo não dispensava uma boa piada, principalmente dos amigos que o faziam rir, tirando-o do sério. Era vaidoso e conservava com cuidado alguns fios de cabelos que cobriam o topo de sua calva, mas ria junto quando alguém brincava com isso.

A partida do velho e bom Flademir me entristeceu e só soube algumas horas depois do velório e sabia que ele dava muito valor para essas coisas. Quando seu irmão faleceu eu estive no velório junto com o coordenador do curso. Éramos os únicos colegas presentes e ele comentou sobre isso várias vezes.

Na Missa de Sétimo encontrei sua esposa e filhos e um deles me contou que não gostava de falar sobre a doença, mas também deixou suas finanças e compromissos devidamente acertados para evitar qualquer problema pois tinha claro que estava de partida. Só pediu que os filhos não brigassem pelas coisas que ele havia deixado. Como já tinha experiência pela quase morte, viajou como quem diz: “não preciso que me ensinem a morrer”.