CRÔNICA: Um dia por mim na Escola Ezilda Aragão Brasil no turno intermediário em 2023

Texto produzido e divulgado em abril de 2023 em Santa Maria do Uruará – Pa. (com ênfase para a programação do Dia do Livro Infantil)

Por: Sydney Pinto dos Santos[1]

Quando eu logo acordo, penso que tenho que ir para a escola. Mas, fico pensando que lá não é um espaço que me traga prejuízos, porém ao contrário. Me traz vida, saber e socialização com meus colegas de turma em especial, sem contar com os outros indivíduos que estão lá, como os agentes de portaria, que são os primeiros a ter contato conosco na entrada da escola.

Assim, não deixo que a tristeza possa tomar conta de mim, já pelo simples fato de ter meus irmãos no mesmo espaço ou ambiente educacional; portanto, ele me completa, como se fosse um “puxadão” da minha casa, com inúmeras interações e ações de bom convívio.

Vou indo pela rua no quase horário de entrada, e chego ao portão a primeira parada: que é a espera para a liberação para entrada no espaço propriamente dito, isto é, a sala de aula. Já são quase 11 horas, e me agonia, se transforma em alegria, em saber que depois mais já estarei em contato com todos àqueles que conheci neste mesmo lugar, e outros lá pelas ruas em ocasiões diversas.

Deu a entrada, é meio um empurra-empurra, e lá vamos nós. Mas como é segunda-feira, tem a reunião de todas as segundas que são realizadas 15 minutos antes de entrar em sala de aula. Ela é feita no espaço de distribuição da merenda. E olhem lá quem já está nos esperando, em pé numa cadeira? O nosso professor, que virou até maestro com sua batuta, para o Hino nacional.

As filas aos poucos vão se arrumando, em cinco ou seis filas, todas organizadas, mas com meninos e meninas misturados, não importa qual ano/série faz parte. Vai entrando assim, por ordem de chegada. Todo mundo misturado, vai as conversas de informações sobre a escola, ou o que vai acontecer naquela semana de aula.

Por fim, após este primeiro instante, se pede para todos tomar posição de sentido para a execução do Hino Nacional, que é começado depois da contagem: “no três: um... dois, trêeeeeessss! “Ouviram do Ipiranga às Margens Plácidas”...

E ai daqueles que não cantem alto, pois é muito capaz que possamos cantar no outro dia da mesma semana, ou até voltar para iniciar... Nada de se coçar, cruzar os braços, ou ri neste momento, a coisa é séria. Por que ele é sério? Não! Por que é a lei, como diz ele.

Assim que se termina a aclamação do Hino Nacional, vem o momento da oração, e todos já esperam: “Senhor Meu Deus todo Poderoso...”. E vai os agradecimentos pela semana que se passou, e os pedidos de acordo com as exigências para o dia, para a semana de ensino que começa...

E aí, como ele sabe que todos vão correr mesmo, já que são crianças pequenas e não conseguem atender aos seus pedidos, ele diz: “Agora podem correr”! E saem aquele monte de gente se atropelando em direção as suas salas de aula para ver quem chega primeiro. Nem é com a intenção de ocupar as primeiras carteiras, mas apenas para se ter a sensação de correr mesmo.

Entramos na sala de aula, já são 11 e 5 minutos, e aí faltam mesas, porque cadeiras tem de sobra. Busca-se em outra sala, porque a turma é grande, assim como outras que procuram buscar em salas de aula onde tem disponíveis. Professor inicia a aula, ou geralmente de Português que logo vem muitas vezes seguido de: “Leia o texto a seguir”: A Gente já até sabe, mas sabemos que não adianta afobar, porque tem nossos colegas que ainda estão atrasados.

Aula vai, aula vem, explicações diversas, muitos ralhos naqueles que não se comportam; e começa a tal sede dos alunos, e uma ida ao banheiro que não acaba mais. Professor diz que é vício, ou estão matando a fome com água. Mas tem limites, não pode ir mais de um por vez, e assim tem que aguardar a vez do outro chegar na porta para que o outro aluno que está na fila se deslocar até ao bebedouro. Mas para o banheiro não há fila, vai que está com vontade, mas já foi até descoberto, que é uma maneira de ir de novo beber água. Pois quando saem do banheiro, passam lá no bebedouro. Não tem jeito.

Quando ele vai se ausentar, em algum momento, ele destaca um aluno para ficar como “comandante” da turma naquele momento, o que tem muitas responsabilidade, inclusive se ver se alguém sobe nas mesas, ou se levanta sem que nem pra quê; ou fazer qualquer tipo de atitude incorreta. É só anotar e entregar na volta ao professor, que ele vai resolver,

Atividades escritas, explicações sobre como se resolver dadas, explicações complementares, e resolvidas as atividades, muitas delas já passam pela correção do professor; mas uns ainda estão atrasados; e o calor começa, mas depende do tempo do dia. A fome vem, alguns começam a perguntar ao professor se vai ter merenda, e o que vai ser servido. Chega então as 13 horas, fila feita ainda dentro da sala de aula por um suposto xerife diário, que vai andando conduzindo a fila de alunos para o espaço de distribuição da merenda.

Chegando lá, é aquela “muvuca”, outros alunos de outras turmas vão chegando, alguns querem furar fila, mas isto não se é permitido. Pois, deve se respeitar também aí. Muitos professores preferem a fila única, assim não tem fila formadas ou por meninos ou meninos, os tamanhos também variam e muitos reclamam,

E assim vai, cada dia uma sentença. Mas sabemos que, nossos dias vão fortalecendo nossos valores éticos e morais, assim como nossos princípios idealizadores de nos tornarmos mais fortes e mais respeitosos a cada dia que passa, para a construção de um futuro melhor para nós e para a nossa sociedade, com ajuda de nossas famílias, de nossos professores, de nossos colegas e de nós mesmos, principalmente.

 

 

[1] Professor e Pedagogo da rede pública de ensino do Município de Prainha – Pará.

Mestrando em Educação com Especialização em Ensino Superior pela (FUNIBER-UNIB)