Impressionante ver hoje as ruas, avenidas, estradas e todas as outras artérias por onde passam veículos, uma grande quantidade de motocicletas. Por todo o Brasil, especialmente nas capitais.

Algumas décadas atrás, por volta de 1960, a motocicleta era um bem de consumo muito desejável, porém, pouquíssimos conseguiam ter uma. Era coisa de “playboy”, filhinho de papai e outros apelidos. No Brasil não existiam ainda suas fábricas e seus preços eram inacessíveis para a grande maioria das populações jovens, especialmente.

Naquela época tinham as lambretas e vespas – igualmente importadas – contudo, comparadas às motocicletas, eram mais “quietas”, mais lentas, menos glamorosas. Seus condutores às pilotavam parecendo automóveis. Os pedais de comando eram no assoalho e suas velocidades máximas eram bem menores do que das motocicletas de então.

Entre as motocicletas a marca mais famosa e charmosa era a Harley-Davidson – também importadas – que alguns motoqueiros apaixonados atuais curtem como um precioso diamante, só usado em eventos especiais ou quando querem se exibir e chamar a atenção dos demais seres humanosNessa mesma época, no final da década de 1969, surgiu o filme “Easy Rider”, que em português recebeu o nome de Sem Destino. Enaltecia a aventura de jovens inquietos sobre uma motocicleta toda estilosa. Sucesso esplendoroso.

De lá pra cá os sonhos de consumo da maioria continuam a ser um automóvel, porém, as motocicletas passaram a empatar nos desejos de muitos, por vários motivos

Assim, as cidades já entupidas de automóveis receberam as motocicletas, agora com fábricas dentro do Brasil. Realização dos sonhos para muitos e para muito outros, a opção encontrada para vencer os engarrafamentos infernais nas grandes metrópoles brasileiras. E aí as motocicletas passaram a ocupar o lugar de muitos automóveis. A busca pela velocidade maior parece que é o principal objetivo de muitos motoristas. Não importa se é de manhã, de tarde, de noite ou de madrugada. Eles querem chegar logo, o mais rápido que podem e outros tantos querem simplesmente se exibir entre seus pares e demais pessoas. E aí muitos deles ignoram as leis de trânsito, o Código Nacional de Trânsito e até os princípios básicos das relações cordiais e rotineiras entre pessoas e ambiente. Cometem as maiores aberrações. Rodam pelas calçadas, passeios públicos, ciclofaixas e ciclovias. Entram na contramão, avançam sinais luminosos e fingem não ver as placas de sinalização, sempre em busca de não perder tempo. É a cultura da velocidade e não da felicidade. Dentre os usuários contumazes e empedernidos dos veículos motorizados de duas rodas, estão os entregadores de mercadorias, produtos e serviços. Uma categoria que não pára de crescer visto as comodidades e conveniências do mundo atual. Comparando apressadamente com o sistema circulatório humano, é como o acúmulo de gorduras nas veias. O infarto bate à porta. E devo dizer que não sou médico, mas um pouco maluco – sigo o ditado popular que diz que “médico e louco, cada um tem um pouco…”

Certamente, dentre outras coisas, falta uma política para implantação e funcionamento de um sistema de transporte que priorize o transporte coletivo e o uso de bicicletas, por exemplo. Construindo e mantendo ciclovias e ciclofaixas nos principais itinerários. Com toda certeza isso favoreceria muito o descongestionamento das grandes cidades brasileiras, sem falar das ocorrências de desastres, muitos deles mortais envolvendo motociclistas. Não preciso ir atrás de estatísticas para saber que o atendimento em casa de saúde, pronto socorros, UPA’S, de acidentes envolvendo motocicletas a cada dia é maior. É só ver os telejornais diários.

Mas tudo isso será em vão se a sociedade não perceber que o que importa mesmo não é chegar primeiro, mas sim ser o “pole positon” em cordialidade, solidariedade, educação e fraternidade. Aí o coração, as veias e artérias irrigariam o corpo todo sem nenhum congestionamento e estresse…