Por Luciane Miranda de Paula


Segundo Denis Simon - em "Techno-security in an age of globalization" (1997), no início do século XXI aparecem alguns padrões de comportamento, seja por parte de governos ou do setor privado, que são definidos como tecno-nacionalismo e tecno-globalismo. Estes padrões de comportamento predominarão nos mercados tecnológicos, especialmente em alta tecnologia, microeletrônicos e biotecnologia, e que coloca a segurança nacional, em termos tecnológicos, menos importantes frente aos desafios comerciais.

O autor, ainda, chama a atenção para o fato de existir uma distância entre as perspectivas do setor privado, este estimulando sempre a colaboração e alianças estratégicas, e as do setor público, que em nome de uma proteção nacional e bem estar da nação, não somente promove o progresso tecnológico doméstico, mas, sobretudo mantém um controle sobre o acesso externo ao seu ?know-how?.

Há, portanto, uma ironia em os Estados adotarem caminhos que impedem a globalização em favor da regionalização, ao mesmo tempo em que as corporações afrontam as barreiras nacionais e políticas. Alguns eventos destacados pelo autor exemplificarão estes fenômenos, como em fevereiro de 1992, quando Bush suspende sansões na venda de alta tecnologia para a China em represália a atitudes internas contra os direitos humanos, proliferação de mísseis, entre outros; em 1992, medidas drásticas foram tomadas por Robert Gates, para evitar violações no sistema de tecnologia, público e privado; a ?US General Accounting? editou um relatório criticando o Japão por não estender aos Estados Unidos a tecnologia utilizada em um modelo de avião desenvolvido por este, segundo um acordo bilateral.

Alguns autores, citados por Simon em seu estudo, sugerem, portanto, a prevalência de um aumento de tecno-nacionalismo dos EUA, especialmente nos corredores da burocracia do Congresso e do governo. Este mantém uma atitude conservadora em meio ao rápido movimento de inovação e avanço tecnológico no mundo.

O tecno-nacionalismo é definido como a prática usando tecnologia como ferramenta de poder nacional na competição da economia global em uma dimensão defensiva. Já o tecno-globalismo se refere ao compartilhamento livre de tecnologia entre fronteiras cooperando para novos produtos.

O Japão e alguns países da Ásia, por exemplo, são, sob este ponto de vista, tecnologicamente nacionalistas, já os EUA utilizam o controle na legislação de exportação construindo sua proteção. A colaboração em pesquisa e desenvolvimento entre empresas é uma tendência crescente na globalização, e empresas tradicionais como a Hitachi e Toshiba se abrindo para ganhar novos mercados.

Também nesta linha, alguns países que tomam parte em projetos de pesquisa em conjunto fazem parte de um processo de colaboração através de fronteiras, que visam problemas comuns, planetários, como mudanças climáticas, poluição AIDS e que demandam soluções coletivas.

Porém há uma apreensão entre alguns governos que os frutos deste chamado tecno-globalismo não serão igualmente espalhados pelo mundo. Talvez mais um fator para o crescimento do tecno-nacionalismo seja o aparecimento de firmas globais e alianças estratégicas podendo incitar o aparecimento um novo monopólio e oligopólio, que distorcerão o caráter de competição em mercados internacionais.

As mesmas forças que estão produzindo cooperação e colaboração, podem também causar conflito e um novo mercantilismo. O autor irá argumentar também, que o conceito de tecno-segurança está relacionado com a percepção e melhoria de bens tecnológicos de uma nação ou empresas.

Em sua análise, alguns papéis desempenhados pelos Estados nação e uma forte tendência de mudança paradigmática destes papéis com o advento da globalização.

Entre alguns dos papéis clássicos do Estado Nação citados no texto, como o de proteção e integridade do conhecimento tecnológico do país; sua capacidade de fazer o país crescer e competir; a manutenção de sua balança de pagamentos; a capacidade do manter acesso educacional e intercâmbio tecnológico e ainda o de manter sua integridade nas missões militares ofensivas e defensivas, podem justificar um comportamento tecno-nacionalista.

Porém, hoje, por mais que os Estados-Nação têm fortemente resistido a restrições em sua autonomia e soberania, eles são mais permeáveis que antes e não podem mais agir unilateralmente na resolução de problemas.

O comportamento dos Estados nas duas últimas décadas tem sido principalmente moderado, como efeito da interdependência global. Na questão da segurança, bem como mostram os autores Robert Keohane e Joseph Nye no livro "poder e interdependência", o poder nacional e seus interesses também foram definidos em termos de forças militares.

A relação entre países mudou muito em função de compra de tecnologia para sua segurança. Em 1990 a interdependência foi suplantada pela potência e inexorável força da globalização no jogo das relações internacionais. Entre as nações do terceiro mundo, o maior desafio na política econômica é atrair investimentos externos e importar tecnologia, e assim não ficar marginalizadas na dinâmica da competição global.

O autor chama a atenção para uma mudança dos novos papéis do Estado e cita autores como Michael Porter, que no livro "A vantagem competitiva das Nações" coloca a questão de sua utilidade, como clara razão de ser. Esta é a base para o sucesso de empresas multinacionais competitivas podendo contribuir, através de suas políticas, pela sua viabilidade competitiva.

As capacidades nacionais têm um importante papel como jogador na competição global, e a empresa global pode ser uma causa ou um efeito da globalização. Estas empresas são, claramente, instrumentos da globalização com características de habilidade na mobilidade de pessoas, capital e know how, na criação e aumento de mercados, além de conectar pesquisa e desenvolvimento e bens de produção e serviços em todo o mundo.

O globo é seu campo de desempenho, e embora seu código de conduta seja amplamente discutido, o que vale é a transferência de tecnologia. Estas empresas estão respondendo racionalmente aos efeitos da liberalização do GATT à tendência ao protecionismo, bem como a liberalização de mercados, como o de telecomunicações e o financeiro, e a melhorias e aumento das fontes tecnológicas.

A conclusão é que em um mundo em que a competição baseada na tecnologia é crescente, tempo e flexibilidade se tornam chave para a sobrevivência e sucesso destas empresas, e restringir sua mobilidade seria negar seu acesso ao crescimento e desenvolvimento. Portanto a tensão existe na esfera comercial de negócios tecnológicos envolve um dinâmico relacionamento entre tecno-nacionalismo e tecno-globalismo.