A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL, O ESTADO E A DEMOCRACIA ECONÔMICA

 

FERRER, Gabriel Real. A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL, O ESTADO E A DEMOCRACIA ECONÔMICA. 2008.

               Embora a crise não tenha sido desencadeada pelos países em desenvolvimento, estes estão a ser seriamente atingidos devidos, entre outras coisas, a uma diminuição das trocas comerciais, a condições mais estritas de financiamento em todo o mundo e à redução das remessas de fundos. A pobreza e a fome estão aumentando. As crianças, as mulheres, os trabalhadores pobres, os migrantes e as pessoas já desfavorecidas são os mais vulneráveis. Há um maior risco de aceleração da degradação ambiental e as tensões sociais acentuam-se.

         Os anos que precederam a crise caracterizaram-se por um forte crescimento mundial e uma inflação relativamente estável e baixa, na maioria dos países. O crescimento foi impulsionado por aumentos significativos da produtividade, os quais, conjugados com a maior integração dos países em desenvolvimento na economia global e uma forte expansão do comércio, permitiram que os preços se mantivessem relativamente estáveis durante vários anos.

              Este padrão de crescimento, aliado a uma regulação deficiente, acabou por conduzir ao sobre endividamento das instituições financeiras, das empresas e das famílias, uma situação que se revelou insustentável.  As taxas de juros baixas levaram os investidores a tentar obter rendimentos cada vez mais elevados das ações, do setor imobiliário  e dos produtos de base bem como de instrumentos financeiros de risco acrescido. Os preços dos ativos subiram num amplo conjunto de países industrializados e de economias emergentes e muitos países em desenvolvimento beneficiaram dos custos elevados dos produtos de base. A procura mundial de um maior rendimento foi acompanhada de um aumento dos desequilíbrios financeiros à escala internacional.

As democracias representativas atuais estão carentes de uma estrutura ética concebida a partir de valores democráticos. Esses que foram impostos são os valores do mercado, enquanto que o modelo de conduta é o das estratégias empresariais que se movem pelo lucro, deixando de lado outros padrões éticos e de valores totalmente indispensáveis para a convivência. Assim, a única política possível parece ser a da lógica que o sistema econômico proporciona. Esta colonização da vida pública pela economia fez com que os estatutos de defesa do consumidor fossem se afirmando sobre os direitos de cidadania, supondo a mercantilização da vida política. Devemos recordar, nesse sentido, que o mercado, mesmo com a pretensão descabida de ser um dos paradigmas da liberdade, produz desigualdade e não ajuda a configurar o exercício responsável da liberdade. Isso ocorre porque o mercado, ao proporcionar modelos de discussão privados em lugar de públicos, impede as pessoas de falarem como cidadãs sobre as consequências de nossas ações em comum.

           A criação de espaços públicos entre os estados, a fim de regular e democratizar os mercados, tornando-os distribuidores de riquezas. Em tal sentido, a criação de novas instituições transnacionais mundiais democráticas deverá ajudar a ajustar a padrões humanitários esse grande cassino em que se converteu o atual mercado financeiro. As desigualdades em todo o mundo chegaram a proporções sem precedentes. Para se alcançar um mínimo de justiça social é preciso, portanto, que se instrumentos de governança sobre a produção global e sobre o sistema financeiro, sendo este um primeiro passo necessário para uma redistribuição de riqueza e poder.

 

Camila Bandeira de Oliveira é acadêmica do Curso de Ciências Contábeis pela Fadergs.