“Toda vez que eu chego em casa a barata da vizinha ta na minha cama/ Toda vez que eu chego em casa a barata da vizinha ta na minha cama/ Diz aí Luís Fernando o que cê vai fazer?/ Vou comprar um chicote pra me defender/ Ele vai dar uma chicotada na barata dela/Ele vai dar uma chicotada na barata dela...”

Quando tinha 17 anos, saindo da minha adolescência, recebi o convite de um frei chamado Miro para fazer parte de uma comunidade recém-formada no meu bairro, era a Comunidade Sagrada Família da Paróquia de Santo Antônio em Manaus. Esta foi onde comecei a minha caminhada na Igreja Católica.

Uma senhora muito devota, Dona Idália, que tinha um espaço muito grande disponível em sua casa, cedeu parte deste para que a comunidade realizasse lá as suas atividades. As pastorais e movimentos encontravam-se aos sábados, ficando o domingo para a celebração eucarística, ou seja, a missa, enquanto que as novenas em honra a Nossa Senhora da Conceição eram realizadas às terças-feiras. Pois foi justamente numa terça-feira durante a novena que aconteceu algo hilário e inimaginável.

Permita-me interromper por um breve momento. Logo retorno (risos).

A saber, a primeira parte das palavras proferidas por Jesus na Santa Ceia e que são repetidas pelos sacerdotes no momento da consagração são as seguintes: “[...] Ele tomou o pão, deu graças e o partiu, e deu aos seus discípulos dizendo: Tomai todos e comei: isto é o meu corpo que será entregue por vós.”

Isto acontece durante a Liturgia Eucarística, que é o momento da consagração onde ocorre a chamada transubstanciação, ou seja, a transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo.

Retornando... (risos)

Como a comunidade funcionava no pátio da casa de um dos fiéis, e ainda estava se firmando em seu início de caminhada, não tinha estrutura física e condições suficientes para adquirir um sistema de som adequado e de qualidade. Desta forma, utilizava uma caixa de som daquelas amplificadas, cheia de botões e funções variadas. Já viu uma? Conseguiu ter uma ideia do que aconteceu? Não? Então lá vai (risos).

Pois bem. Era comum que em determinados momentos essas caixas sofressem interferências de algumas rádios. E no momento da consagração eucarística o frei levantou a hóstia, olhou para o céu, repetiu as palavras de Jesus:

“[...] Ele tomou o pão, deu graças e o partiu, e deu aos seus discípulos dizendo: Ele vai dar uma chicotada na barata dela, ele vai dar uma chicotada na barata dela... Toda vez que eu chego em casa a barata da vizinha ta na minha cama’...”

Aconteceu exatamente dessa forma. A caixa sofreu uma interferência de uma rádio em que estava tocando a música “A barata”, um dos maiores sucessos da banda de pagode Só Pra Contrariar.

Quem me contou isso? Não, ninguém me contou. Eu estava lá, pois era um dos Acólitos, uma espécie de corinha mais velho. E como não podia rir, pensei: “Não, isso não está acontecendo!” (risos).  Você acredita? Pois se alguém me contasse não acreditaria. Mas aconteceu.

“NÃO MEU POVO. JESUS NÃO DISSE ISSO, NÃO.” – Disse o frei, retomando a palavra e SORRINDO. (risos)