Relembra naquele exato momento, a primeira vez em que se viram, quando simplesmente seus olhares apenas se entreolharam.

Tinha na sua aparência a expressão única e ímpar, do finito em contraste com o infinito, do possível e do inimaginável, do certo e do errado, num misto de saudade e alegria, de felicidade e tristeza, do riso e do choro, da saudade e do reencontro, da chegada e da partida, do beijo e do desprezo, do carinho e do descaso, ou então simplesmente e unicamente de um olhar triste e tão somente vazio.

Viu-a arredia, desconfiada, transmitindo-lhe certo ar de soberania, de liderança, de poder, de ser intocável e até mesmo de supremacia, informando apenas para os olhares mais astutos, a alma de uma linda mulher no corpo de uma menina e de uma linda menina no corpo de uma mulher.

Percebeu tudo isto apenas com um simples olhar, diferenciado, pois aprendera desde pequeno a olhar diretamente nos olhos, pois os mesmos são o espelho e o reflexo da alma.

 Desde que a havia visto, não conseguiu se esquecer do seu olhar, diferente de tantos outros que percebera em sua jornada. Passa a pensar em si mesmo. Pensa e relembra.

Também era assim. Sentia-se diferente dos outros. Sentia-se incompreendido. Tinha a idéia de mudar o mundo, de mudar as pessoas, fazer com que as mesmas parassem de ser tão consumistas, tão arrogantes, tão egocêntricas, tão mesquinhas, incoerentes, insensatas, inconseqüentes e extremamente vazias.

 Percebia que a maioria havia perdido o caminho a ser seguido, não sabendo qual rumo tomar ou em qual direção seguir. Viviam por viver e simplesmente continuavam vivendo.

Percebia que lhes faltava algo. Algo que sempre soube e que nunca precisou procurar, que já sabia antes mesmo de saber que algum dia saberia. Tinha a certeza de que o que aprendera havia herdado de seus pais, que foram acima de tudo seus grandes amigos, companheiros, irmãos, confidentes e os grandes parceiros de sua instrução e aprendizado, fortalecidos pela palavra amor advindos do ser supremo, do grande criador, do nosso DEUS.

Sentiu-se muitas vezes incompreendido, num misto de isolamento e desesperança e de uma grande impotência. Quis muitas vezes gritar para ser ouvido, de falar e de poder pronunciar a sua angústia, seus medos, anseios, expectativas e de sua esperança em querer simplesmente ajudar.

Mas nunca era ouvido, não sabendo o porquê de tantos porquês.

Seus amigos se distanciavam, muitas das vezes por não compreendê-lo, de achá-lo até mesmo chato ou em muitas vezes insistente em suas teses, mestrados e doutorados, que detinha sem ter feito especialização, mas pela experiência já com pouca idade, de toda uma doutrina, de uma religião, de toda uma congregação, de uma sapiência incontida e pronta para aflorar.

Não tinha com quem se abrir, com quem conversar ou com quem dialogar. Sentia-se só, num mundo cheio de tantos sós, que se permitiam viver sem perspectiva do nada, mesmo tendo o tudo a sua volta.

Olhava o céu diferente dos outros, um simples arco-íris virava uma pintura a óleo, o vento cortante um aviso de mudança, o barulho das folhas das árvores uma cantiga, e uma lagrima derramada uma grande emoção escondida e incontida, mas com a felicidade de poder e de não ter medo de expor suas emoções.

E o destino os fez reencontrarem-se.

Conversaram, dialogaram e perceberam que estranhamente eram iguais em tantos pensamentos, em tantas opiniões e em tantas outras preferências. Já se conheciam antes mesmo de se conhecerem.

Eram apaixonados pelas suas mesmas paixões.

Tinham os mesmos medos e anseios, desejos e pensamentos, esperanças e expectativas.

As horas passaram de forma tão rápida, que consumiram os minutos e os segundos, como que perpetuando e administrando o momento como único e infinitamente “apaixonante”.

E aí descobriu que ela tinha uma alma como a sua, que são artistas, que valorizam a cultura, a fotografia, a pintura, o teatro, a arte, a literatura, o aprendizado, a vida e tão unicamente o amor, em sua plena e irrefutável simplicidade.

Pois eles olham a vida com um olhar diferenciado, do jeito que aprenderam, simples, como simples deve ser a simplicidade de ser simplesmente simples.