Oração aos Moços – Rui Barbosa

Luciene P. Santos

A princípio há a explanação do autor em relação à esperança depositada por ele nos jovens iniciantes na carreira jurídica (moços), a continuarem o trabalho o qual ele estaria prestes a cessar. Assim, o mesmo explica o fato de não poder estar presente naquele momento, depositando a responsabilidade em Deus.

“Não quis Deus que os meus cinqüenta anos de consagração ao Direito viessem receber no templo do seu ensino em S. Paulo o selo de uma grande bênção, associando−se hoje com a vossa admissão ao nosso sacerdócio, na solenidade imponente dos votos, em que o ides esposar.”

Ele se dirige aos jovens como um pai falando a seus filhos, fala a eles do coração como algo não tão trivial e carnal, mas como um órgão sublime, fundamental para se enxergar com os olhos da alma, bem como o que ocorre quando este se contamina, se degenera, quando está saturado de resíduos de vida mal gasta. Apela aos moços para que mantenham seus corações limpos, incontaminados. A partir faz uma explanação de momentos que são vividos na vida acadêmica até chegar a ao momento da coloação de grau de seus alunos, dando lhe a honra de ser o homenageado.

Fala então do encerramento de sua carreira de jurista, bem como em relação ao trabalho prestado por ele à nação, ao meio século de carreira, o seu empenho em suas idéias avançadas para a época, o que a seu ver não conseguiu atingir, contudo, se sente consolado em ter dado o seu melhor pelo seu país, desde sua vida acadêmica.

Ele trabalhou sempre em busca da verdade eleitoral, da verdade constitucional, da e da verdade republicana e de bons ideais, mesmo havendo aqueles que a estas não buscavam, neste ponto faz uma comparação entre o bem e o mal, afirmando não sentir rancor por estes.

Demonstra que a ira seve às vezes deve ser utilizada, ela inflama o coração, contudo não o degenera, não o macula desde que utilizada com sabedoria, pois manter-se inerte não é a solução.

Assim se apresenta aos jovens de maneira aberta, esperando que estes entendam e recebam o peso que carregaram em seus ombros, esperando que estes se dediquem a carreira de maneira honrosa.

Esclarece sobre a importância dos inimigos no caminho que percorreremos. O benefício que eles podem nos proporcionar e que as verdadeiras amizades não podem nos oferece, mas acabam nos fortalecendo ao nos desejarmos o mal.

Discorre acerca das diferenças existentes entre os seres, que devem ser contabilizadas, pois estas são importantes para a regra da igualdade tão relevante para o direito “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de duas desigualdades”, isto porque não há no mundo ser igual ao outro. Contudo se nossa sociedade não pode tratar igualmente os que “nasceram desiguais”, cada um de seus estudantes “pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança”, esta sendo a missão de suas carreiras.

Manifesta-se também sobre a formação moral do homem, evidenciando como cruciais o trabalho e a oração em sua construção. O trabalho completa o homem, pois influencia em sua formação.

Relata as noites de sono perdidas para alcançasse o seu consumado saber intelectual, alertando para o fato de que nada que seja digno de ser lembrado se consegue nessa vida sem esforçar. Mas alerta ao fato de não se trocar o dia pela noite. É importante zelar as noites de sono para ter um dia produtivo de trabalho.

     Há o incentivo para que os bacharéis permaneçam em estudo constante, mas não apenas ler vulgarmente e sim o exercício de raciocinar. Distingue o saber aparente do saber real, tendo em vista que este advém da leitura reflexiva e é o saber que propõe o autor que aconteça.  Assim diz “Vulgar é o ler, raro o refletir.”. Segue fazendo uma crítica a nosso país onde o saber não é cultivado, onde a um ”medo” daqueles que muito sabem, são cidadãos perigosos que não podem ocupar cargos importantes no Governo, pois como se trata de um país de analfabetos, apenas ignorantes devem governar.

Pronuncia uma crítica ferrenha à legislação vigente no país, pelo fato de expressarem a vontade da minoria e das oligarquias. Mostra que quando a colisão entre leis ordinárias e a Constituição a justiça quem decide, é ela quem “as ampare contra os abusos”, afirmando que só há uma soberania tamanha do judiciário, cujo eixo é a justiça, em Democracia apresentada nas Federações nos moldes norte-americanos.

Expõe a respeito dos “dois braços”, das duas instituições que mantêm de pé a lei: a advocacia e a magistratura. Aponta a necessidade dos bacharéis se encorajarem num caminho dedicado a Deus, à pátria e ao trabalho.

Encerrando o texto mostra que em seus cinquenta anos de trabalho aprendeu que a experiência vem do saber observar.

Coloca como último conselho, que adquiriu através de sua experiência de vida, o ensinamento que para ele tenha sido o mais valioso: “Não há justiça, onde não haja Deus.”.

Concluindo, reitera a necessidade de pautar a carreira, seja a advocacia ou a magistratura, por vias sempre éticas mediante uma postura licita e integra, roga para que o Brasil se desenvolva e cresça e não volte aos tempos coloniais como às vezes da sinal de que o esta para acontecer, e depositando, assim, mais uma vez, sua esperança entusiasta na bancada acadêmica que colara grau naquele dia, para que estes sim evoluam, que “se salvem”, não sendo um sonho e sim uma certeza ao seu ver que espera poder presenciar antes de enfim partir.