Resenha  do filme "O que é isso companheiro?"


O filme tem uma característica peculiar no que tange a categoria "ditadura militar" uma vez que ele não apela ao melodrama e ao mesmo tempo não foge da realidade; não se atem a um romantismo exacerbado que desvie o foco da problemática narrada. Tais características são comuns na maioria dos filmes. Porém, "O que é isso companheiro" não intui fazer rir, nem chorar, mas refletir. Visto que a ficção-realidade bem apresenta o contexto em vários anglos: Como pessoas "comuns" viam a ditadura, uns a favor outros contra; a posição da mídia; a ótica dos ditadores e executores e, por fim, estratégias dos grupos de resistência. No caso do filme, táticas do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR8) e Ação Libertadora Nacional(ALN). 
"O que é isso companheiro?" é uma versão áudio-visual do livro de Fernando Cabeira, o qual também fez parte da história. O longa-metragem foi produzido em 1997, tendo a direção de Bruno Barreto, cuja narração conta a história dos grupos ( MR e ALN) quando seqüestraram o embaixador dos Estados Unidos Charles Burke Elbrick, a fim de trocá-lo por companheiros presos. 
O filme começa apresentando algumas imagens estáticas do cotidiano e, adiante, uma manifestação nas ruas em resistência a ditadura Militar, contrapondo-se a conquista estadunidense do homem chegando lua pela primeira vez (Em 20 de julho de 1969) Interessante: Após a cena onde os jovens pisam o chão sofrido do País, correndo da polícia e reagindo, é colocada a sena dos astronautas pisando a lua pela primeira vez, como um antagonismo articulado para afirmar a arbitrariedade norte-america como poderoso e invencível. A fala irônica dos personagens sustenta esta analise: 
"Grande passo da humanidade! Modéstia, nunca foi o forte deles, né ?" 
"Decorou direitinho o dialogo de holioowd" 
"A lua foi tomada pela cavalaria... Eles pensam que estão conquistando alguma coisa? Não estão conquistando nada. Não tem um índio pra matar" Mostra-se a comemoração por parte dos mandantes da grande conquista do império americano e a "fantasia" termina quando um jovem diz: "Vamos deixar a lua e vamos voltar pra terra! Estamos completando seis meses de imprensa censurada. A extrema direita se instalou no pode e não dá nenhum sinal que vai sair. É neste contexto que a história acontece. Médici , o general-presidente, tinha acirrado um embate contra a esquerda, usando meios bárbaros para manter o controle do sistema. Por isto tinha criado o conhecido AI-5 (Ato Institucional número 5) pelo qual tudo que fosse contra o sistema ou tendencioso passou a ser censurando. Os meios de comunicação passaram a ficar do controle dos militares. A aventura começa com alguns jovens que entram para a luta armada. Nisto passam a fazer parte de um grupo de esquerda denominado Movimento Revolucionário 8 de outubro. Poderia parecer uma aventura de pessoas que queriam brincar com a o sistema, mas não foi, uma vez que na formação do grupo tem-se claro, quando Maria (Membro do movimento) explica: 
"O MR8 é uma organização com muitos serviços prestados contra a ditadura militar no Brasil. Muitos de nossos de nossos companheiros já caíram, alguns estão mortos e outros sofrem bárbaras torturas nas mãos de militares. O destino de nossos companheiros mortos pode ser bem o meu destino ou destino de vocês aqui dentro". 
O MR8, após expropriar um banco, planeja como tática revolucionária, seqüestrar o embaixador americano Charles Burke Elbrick, afim de trocá-lo por companheiros presos. Também queriam causar uma maior repercussão na sociedade. Com o Apoio da Ação Libertadora Nacional (ALN), o seqüestro aconteceu. O grupo então escreveu uma carta: 
"grupos revolucionaram detiveram hoje Charles Burke Elbrick, levando-o para um local do País, onde o mantém prisioneiro. A vida e a morte do embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela cumprir essas duas exigências o senhor Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos forçados a cumprir a justiça revolucionária e embaixador será executado. As exigências são (Como está no filme): 
A) A libertação de 15 prisioneiros políticos e sua extradição para o México... 
B) A publicação e leitura deste manifesto nos principais jornais de estação de rádio e televisão em todo o País. 
A ditadura tem 48 horas para responder de publico se aceita ou não a proposta. Este prazo não será prorrogado e não hesitaremos em cumprir nossas promessas. 
Depois o filme apresenta o desenrolar da história principal, o seqüestro, mesmo, desde o começo do longa, com algumas diferenças em relação ao livro. Por isto há algumas criticas acerca disto. Bruno Barreto conseguiu transmitir a mensagem., cuja preocupação não foi extrair da história fatos empíricos, mas produzir uma ficção-realidade que sirva de instrumento pedagógico nos tempos vindouros. Visto que as novas gerações tende a assimilar este momento vergonhoso do País numa perspectiva do espetáculo e da banalização frente à violência que prolifera na contemporaneidade. Contudo, não podemos generalizar. Há quem ainda, mesmo por outro viés, luta sem hesitar contra as novas ditaduras, as quais apresentam-se disfarçadas atrás das aparências da chamada democracia. Um País que mata todos os dias tantas pessoas de fome ou por conseqüência de carência, que deixa milhares ganhando um mísero salário, empregados sentindo a sua força de trabalho sob condições desumanas sofrendo os mais diferentes tipos de assedio moral. Crianças e mulheres sofrendo violência física, índios, dos muitos que restaram, jogados as margens da sociedade, negros sem privados de dignidade . 
Portanto, olha para a história da ditadura e se emocionar não é o suficiente, e sim, se posicionar consciente e apaixonadamente pela causa dos explorados e excluídos pelo bárbaro capitalismo.