No artigo “Valores na Escola”, publicado em 2002 pela USP, a autora Maria Suzana De Stefano Menin, aborda sobre a possibilidade da transmissão de valores como a ética e a moral através da Escola.

Fazendo um paralelo entre os modelos de educação utilizados atualmente com os que foram utilizados na época da ditadura a autora discute o papel da escola na formação dos cidadãos. É possível transmitir valores de forma impositiva para outras pessoas? E fazê-lo de uma forma em que a ética permeie essa transmissão?

Para a autora a ética deve estar permeada a todos os conceitos de valores “[...]é a ética que nos permite buscar critérios para definirmos o que é ser bom, correto ou moralmente certo e que nos fornece explicações para nosso senso de dever moral.

Remontando a época da ditadura havia a disciplina Educação Moral e Cívica, na qual eram ensinados, valores como civismo, patriotismo e obediência a lei, essa disciplina buscava através do ensinamento desses valores conterem a desordem social, que era tida como causadora dos grandes males da sociedade brasileira. Entretanto a autora faz uma observação bastante feliz a esse respeito:

Valores impostos por uma autoridade são aceitos por temor enquanto perdurar o controle dessa autoridade e deixam de ser assumidos como valores no momento em que a força do controle é enfraquecida (MENIN, 2002).

Desta forma a autora defende claramente a sua posição de que o ensino de valores deve ser feito sob uma forma transversal e interdisciplinar e não de forma isolada e em matérias específicas separadamente na escola.

É notória também no texto de Maria Susana, a influência da doutrina Piagetiana, além de ser literalmente citado por ela, são feitas observações bem pontuais sobre os pensamentos de Piaget e a transmissão de valores ao longo da formação do indivíduo na escola. Definindo e comentando sobre duas formas de moral, a Moral heteronomia (moral do dever) e a moral autonomia (moral do bem).

Segundo essas duas formas de Moral definidas por Piaget e amplamente comentadas ao longo de todo o artigo, na Moral heteronomia a adoção de regras, normas ou de valores morais é feita pelo é o medo, o controle de uma autoridade, o receio da perda de afeto que levam à uma obediência situacional. Já na moral autônoma é o indivíduo que reflete sobre a justiça de suas opções morais considerando se que poderiam valer para si ou para qualquer pessoa desse mundo; é a reciprocidade elevada ao máximo.

A autora traz ainda dados de pesquisas realizadas nas escolas com professores e alunos a respeito da transmissão de valores na escola. E mostra que para muitos professores esses valores são aprendidos em casa, com a família e não na escola, o que nos traz um quadro alarmante sobre a visão de que na escola aprende-se apenas os conteúdos de conhecimentos gerais e nada de valores que devem permear toda as relações humanas, como respeito ao próximo, aos mais velhos etc. Ou seja, no ensino de valores a família tudo e a escola nada.

Ao final do artigo a autora deixa clara a sua posição quanto ao ensino de valores humanos na escola, demonstrando que não acredita em fórmulas prontas como uma receita de bolo e sim em uma educação moral permeada por princípios fundamentais, como: a justiça, a dignidade, a solidariedade, iluminados pelo respeito mútuo entre as pessoas.

Durante todo o texto somos levados a refletir sobre a atual realidade das escolas no nosso país, se seria melhor a volta de disciplina impositivas de valores como nos tempos da ditadura, mas que possuíam métodos para fazê-los mesmo que mecanicamente, ou se hoje é que se está no caminho certo, tentando ensinar valores, ética e moral, ao longo de todas as fases de ensino.

O artigo além de levar a uma forte reflexão, contribuindo para a formação de um senso crítico do leitor, também apresenta um grande rol de informações teóricas muito bem explicadas e detalhadas sobre pensadores e educadores de renome, contribuindo desta forma também para um acréscimo de conhecimento para o leitor.

Assim sendo a leitura do artigo, se faz muito oportuna, pois apesar de já se terem passado quase 10 anos desde a sua publicação, o tema abordado se faz atual e de extrema relevância para os profissionais educadores no exercício de sua função formando os novos cidadãos do Brasil.