RESENHA do Artigo "Valores na Escola de Maria Suzana de Stefano Menin
Publicado em 28 de agosto de 2015 por Lindomar Gomes dos Santos
No artigo “Valores na Escola”, publicado em 2002 pela USP, a autora Maria Suzana De Stefano Menin, aborda sobre a possibilidade da transmissão de valores como a ética e a moral através da Escola.
Fazendo um paralelo entre os modelos de educação utilizados atualmente com os que foram utilizados na época da ditadura a autora discute o papel da escola na formação dos cidadãos. É possível transmitir valores de forma impositiva para outras pessoas? E fazê-lo de uma forma em que a ética permeie essa transmissão?
Para a autora a ética deve estar permeada a todos os conceitos de valores “[...]é a ética que nos permite buscar critérios para definirmos o que é ser bom, correto ou moralmente certo e que nos fornece explicações para nosso senso de dever moral.”
Remontando a época da ditadura havia a disciplina Educação Moral e Cívica, na qual eram ensinados, valores como civismo, patriotismo e obediência a lei, essa disciplina buscava através do ensinamento desses valores conterem a desordem social, que era tida como causadora dos grandes males da sociedade brasileira. Entretanto a autora faz uma observação bastante feliz a esse respeito:
Valores impostos por uma autoridade são aceitos por temor enquanto perdurar o controle dessa autoridade e deixam de ser assumidos como valores no momento em que a força do controle é enfraquecida (MENIN, 2002).
Desta forma a autora defende claramente a sua posição de que o ensino de valores deve ser feito sob uma forma transversal e interdisciplinar e não de forma isolada e em matérias específicas separadamente na escola.
É notória também no texto de Maria Susana, a influência da doutrina Piagetiana, além de ser literalmente citado por ela, são feitas observações bem pontuais sobre os pensamentos de Piaget e a transmissão de valores ao longo da formação do indivíduo na escola. Definindo e comentando sobre duas formas de moral, a Moral heteronomia (moral do dever) e a moral autonomia (moral do bem).
Segundo essas duas formas de Moral definidas por Piaget e amplamente comentadas ao longo de todo o artigo, na Moral heteronomia a adoção de regras, normas ou de valores morais é feita pelo é o medo, o controle de uma autoridade, o receio da perda de afeto que levam à uma obediência situacional. Já na moral autônoma é o indivíduo que reflete sobre a justiça de suas opções morais considerando se que poderiam valer para si ou para qualquer pessoa desse mundo; é a reciprocidade elevada ao máximo.
A autora traz ainda dados de pesquisas realizadas nas escolas com professores e alunos a respeito da transmissão de valores na escola. E mostra que para muitos professores esses valores são aprendidos em casa, com a família e não na escola, o que nos traz um quadro alarmante sobre a visão de que na escola aprende-se apenas os conteúdos de conhecimentos gerais e nada de valores que devem permear toda as relações humanas, como respeito ao próximo, aos mais velhos etc. Ou seja, no ensino de valores a família tudo e a escola nada.
Ao final do artigo a autora deixa clara a sua posição quanto ao ensino de valores humanos na escola, demonstrando que não acredita em fórmulas prontas como uma receita de bolo e sim em uma educação moral permeada por princípios fundamentais, como: a justiça, a dignidade, a solidariedade, iluminados pelo respeito mútuo entre as pessoas.
Durante todo o texto somos levados a refletir sobre a atual realidade das escolas no nosso país, se seria melhor a volta de disciplina impositivas de valores como nos tempos da ditadura, mas que possuíam métodos para fazê-los mesmo que mecanicamente, ou se hoje é que se está no caminho certo, tentando ensinar valores, ética e moral, ao longo de todas as fases de ensino.
O artigo além de levar a uma forte reflexão, contribuindo para a formação de um senso crítico do leitor, também apresenta um grande rol de informações teóricas muito bem explicadas e detalhadas sobre pensadores e educadores de renome, contribuindo desta forma também para um acréscimo de conhecimento para o leitor.
Assim sendo a leitura do artigo, se faz muito oportuna, pois apesar de já se terem passado quase 10 anos desde a sua publicação, o tema abordado se faz atual e de extrema relevância para os profissionais educadores no exercício de sua função formando os novos cidadãos do Brasil.