TORRES, Antônio. Essa terra -  1ª edição. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008.

RESENHA CRÍTICA DO ROMANCE ESSA TERRA 

TORRES, Antônio, é escritor. Estreou na literatura em 1972 com o romance Um cão uivando para a lua. Em 1976, publicou seu maior sucesso, Essa terra. Também é autor de várias obras e recebeu vários prêmios, inclusive o premio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras em 2000.

O romance “Essa terra” de Antonio Torres aborda aspectos físicos, sociais, econômicos, políticos e culturais de pequenas cidades do sertão brasileiro. No estilo de Graciliano Ramos em vidas secas, Antonio Torres optou por compor sobre o nordeste e o sofrimento de seus habitantes pelo flagelo da seca e a trajetória cheia de esperanças de famílias que saem de suas cidades por causa de uma condição social desigual em busca de melhor qualidade de vida.

A história dramática que se passa no Junco, uma pequena cidade nordestina do interior da Bahia, desprovida de uma boa infra-estrutura, humilde, simples, naturalmente pacífica e camarada, que segue suas crenças e preconceitos imitando os mais velhos por acharem que estão fazendo exatamente o que fizeram seus antepassados, com tradições religiosas e culturais que são peculiares a cidades tipicamente nordestinas, com características comuns e condição social que mesmo não isolando seus habitantes, mantendo-os num agrupamento de camaradagem de relevante importância, não os impede de partir. Sem muitos questionamentos, sem grandes inovações, sem relevantes iniciativas, vão alegrando-se com períodos de chuva e, so­­bre­tudo, desestimulando-se com o flagelo das secas, optam desesperançados, por migrar para grandes cidades em busca de um sonho.

Totonhim, o narrador onipresente, em meio a alguns relatos de pessoas da cidade, fala sobre a sina de sua família: o suicídio de seu irmão, a alienação de sua mãe, o isolamento do seu pai, começando pela chegada de seu irmão Nelo, que foi para São Paulo e percebendo em sua chegada que a realidade não era como pensavam, escreve a sua mãe pedindo que tire da cabeça de seu pai a idéia de fazer o mesmo percurso. Porque embora fosse visto por todos os moradores da redondeza como homem corajoso e próspero, que “deu certo” volta a sua cidade, doente e cabisbaixo após alguns anos de desilusões e experiências desastrosas. Percebendo que nada havia mudado ao reencontrar

todas aquelas pessoas sofridas, tão cheias de ilusões e tão ingênuas, que sem muitos esforços são convencidas por representantes de instituições financeiras a pegar alguns caraminguás para beneficiar suas terras, pondo todos os créditos nos poucos caroços d’água que caem em período de chuva; Supondo ter surpreendentes resultados nas plantações. Pessoas que, ao perceberem que tudo não passou de engodo, preferem entregar a um baixo custo seu único bem, a qualquer um que possa pagar para não entregar ao banco. Desorientados e sem grandes perspectivas, sem uma profissão definida, lutam para realizar um sonho, e vê nesse sonho a única saída: ir para São Paulo para trabalhar e vencer na vida, com o objetivo de ajudar a família. Ele, Nelo, sabia que aquela não era a solução, esteve lá por longos anos, anos difíceis de lutas e decepções que o obrigou a fazer o percurso contrário. Sem perspectivas, diante da decadência e desagregação de sua família, talvez se culpando em segredo por ser “aquela farsa”, por não conseguir atender as expectativas de sua mãe de solucionar os problemas financeiros da família, e por não corresponder a imagem que toda cidade nele cultivava, não teve estrutura para aplacar a tristeza da auto-avaliação nem de refletir a respeito da mãe que apesar do desajuste familiar idealizou um futuro diferente para os outros filhos, mudando de cidade com o propósito de vê-los estudando. De maneira impensada e sem propósitos, deu cabo da própria vida sem ao menos esclarecer ou tirar da mente do irmão Totonhim, a idéia de ir para São Paulo e cometer os mesmos erros. Por certo, percebeu que seu irmão caçula cresceu na expectativa de seu sucesso e iria tentar redimir o seu sonho, fazendo o que ele não havia feito.

O romance Essa Terra, fundamentado em muitas semelhanças importantes reveladas na biografia do autor e do seu narrador, entre as quais: o nascimento no Junco, a família numerosa, os estudos em cidades mais desenvolvidas, a emigração para São Paulo, e o apelido do narrador Totonhim, que às vezes é dado a quem tem o nome Antônio. Sugere-nos ser autobiográfico.

Essa obra literária vem acrescentar não só aos acadêmicos da área de letras, mas também aos que buscam conhecimento, uma vez que apresenta um assunto de extrema importância, principalmente para o nordestino, que ao entrar em contato com a obra, identifica-se de tal forma, que se sente parte dela.  A leitura do romance nos levou a concluir que é necessário trazer para dentro dos espaços acadêmicos, “pratas da terra”, obras primas como essa que está inserida num contexto social muito familiar. O que permite que o conteúdo seja mais facilmente aprendido.

Maria Arabela Sampaio Campos Acadêmica do curso de Letras vernáculas da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)