Pessoas de diferentes classes, em diferentes estados brasileiros, têm dedicado um tempo significativo de suas vidas a realidades paralelas, que muitas vezes tomam conta de suas vidas reais. O limite entre real e virtual já não é tão evidente.
Em uma só tela, podemos ser diversas pessoas, que muitas vezes não correspondem à nossa realidade. A internet pode ser assim uma alternativa de fuga. Mas também, através dela, podemos conversar com o nosso vizinho de lado, manter um relacionamento amoroso com alguém que mora muito longe e podemos mostrar quem realmente somos, o que a vida prática e agitada do cotidiano não nos permite.
Twitter, orkut, msn, facebook... Muitos já não imaginam suas vidas sem essas ferramentas de socialização. Por elas, temos acesso a diferentes culturas, o que nos permite construir uma cultura individual através da fusão de vários elementos. A globalização o permite!
Porém, em frente a uma Lan House, assim como em qualquer esquina, pode-se ver um menino com seus 9 anos, cheirando cola, pedindo esmola, com roupas cor de terra, gastas pelo esquecimento. Esquecido! Nem todas as classes sociais podem fugir de suas vidas reais. Há crianças que têm uma cultura bem diferente daquelas que temos como referência.
Passamos muitas horas de nossas agitadas vidas olhando fotos de roupas que estão na última moda em New York, escrevendo no twitter como a vida está trash, olhando fotos daqueles boys do sul e tirando fotos que talvez possam interessar a outras pessoas. Enquanto nos preocupamos com essas "questões sociais", nem nos lembramos da viagem de ônibus que fizemos, onde uma garotinha de 4 anos distribuía papéis pedindo dinheiro para sua família.
Provavelmente ela não aprenderá a ler nem tão cedo. Ela não poderá ler nossos blogs. Ela também não entenderia nossas gírias e abreviações. Talvez ela entenda o que está escrito nos papéis que está entregando... Seus nicks provavelmente não seriam muito interessantes. Se pelo menos conseguisse assinar seus próprios nomes...
Nos preocupamos muito em buscar nossa verdadeira identidade, uma definição de quem somos nós para colocar no perfil do orkut. Mas e esses meninos de rua? Quem são? Com certeza não são nossos amigos, afinal, não os temos no msn.
A maior participação em nossa vida virtual que eles pode ter talvez seja em um assalto à mão armada, por um dependente químico de 12 anos, em uma ponte sem a mínima segurança. Neste estado, ele realmente está longe de se reconhecer como ser humano. Age por instinto, para saciar uma necessidade que o atormenta a cada minuto que passa. Essa é a forma que ele tem de se expressar no mundo do qual foi excluído.
Dessa forma, finalmente somos obrigados a sair de nosso mundo virtual e encarar a realidade. Ele levou o laptop, então percebemos que há algo de errado no mundo. "É um absurdo essa situação... Onde está a polícia pra dar um jeito nesses delinquentes?"
Onde está a nossa humanidade? Onde está esse mundo globalizado que aproxima as pessoas?
Nesse mundo, temos mais liberdade para defendermos nossos próprios valores, escolhermos nossas crenças e nos inserir em redes sociais. Redes estas que excluem e nos distraem dos problemas que estão ao nosso lado.
Ao alimentar nossos egos, esquecemos de alimentar as nossas crianças.