UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO – CENFLE

CURSO DE LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA

DISCIPLINA: PRÁTICA DE PESQUISA III

KARINE DE SOUSA BARBOSA

JOSÉ, Elisabete da Assunção; COELHO, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. 5 ed. São Paulo: Ática, 1993.

Sabemos que o processo de aprendizagem está sujeito a diversos fatores, que contribuem ou dificultam a sua realização. Um desses são os problemas de aprendizagem, que se fazem cada vez mais presentes no ambiente educacional.

As autoras Elisabete da Assunção José e Maria Teresa Coelho abordam justamente esses problemas, dificuldades, ou mesmo distúrbios. Especificando-os nos mais variados âmbitos: o da linguagem, envolvendo a fala, a leitura, a escrita e a aritmética; o da psicomotricidade, explorando seus tipos de distúrbios; o da saúde física, com foco na visão e audição; e o do comportamento, mostrando suas características, fatores e problemas: medo, timidez etc. Elas introduzem o trabalho, com os seguintes capítulos: Desenvolvimento e Aprendizagem, e O Normal e O Patológico; expondo conceitos e esclarecimentos, de forma clara e objetiva, que auxiliam numa melhor compreensão dos sucessivos capítulos. E concluem com outros dois, fazendo referência à criança excepcional, e à importância da observação do escolar.

Desse modo, o livro intitulado Problemas de Aprendizagem é composto por onze capítulos, apresentando definições, questionamentos e sugestões acerca dos assuntos anteriormente citados. São basicamente organizados da seguinte forma: exposição dos conteúdos em questão; atividades; leitura(s) complementar (es), com um ou dois textos extras que somam ideias ao já visto; e atividades a partir do(s) texto(s). Podemos notar que tal metodologia contribui para uma maior retenção dos conteúdos, visto que as autoras acrescentam concepções de outros autores, e testam nosso conhecimento por meio das atividades.

Contudo, nesta resenha nos deteremos à análise de apenas quatro capítulos, por terem uma relação mais ampla com a linguagem, e esta ser de maior interesse do público-alvo deste trabalho. São respectivamente: A linguagem e a fala, o de número três; Os distúrbios da fala, o quatro; A atuação do professor frente aos problemas da fala, o cinco; e Leitura, escrita e aritmética, no qual se dará maior enfoque aos distúrbios que afetam a leitura e a escrita, o de número seis.

No capítulo A linguagem e a fala, vemos a importância da linguagem para o ser humano e consequentemente, da fala; já que essa é o meio daquela. Assim, segundo as autoras fica fácil compreender a dificuldade existente por pessoas com problemas de fala. São apresentados os fatores que influem no desenvolvimento da fala: ambientais e biológicos; os primeiros tratam da influência do meio e das outras pessoas sobre a criança, como por exemplo, a maneira de falar dos pais ou irmãos; já os segundos mostram o fator hereditariedade, nos casos em que algumas crianças têm menor capacidade de aprender regras e o  vocábulario da língua e, ainda focam no estado de saúde delas, pois podem ter doenças debilitantes e carência alimentar. Vemos ainda através de uma tabela, o que facilita a compreensão, o período e suas características em que se dá o desenvolvimento da expressão verbal infantil. Posteriormente, são citadas possíveis condições para se identificar quando a fala é defeituosa.

Já o capítulo quatro nos apresenta os distúrbios da fala, com seguintes tópicos: Mudez, tida como a ausência de articulação das palavras, advinda de transtornos no sistema nervoso; Atraso na linguagem, dá-se quando a criança inicia sua expressão verbal depois do período tido como normal devido a fatores variados; Problemas de articulação, manifestados pela dificuldade na articulação de alguns sons; Problemas de fonação, também chamados de disfonias, ocorrem quando a manifestação verbal é inadequada no que se refere à fonação; Distúrbios de ritmo, ou disfluências são caracterizadas pela fala com hesitações, repetições e bolqueios; e Afasia, quando há falhas na compreensão e na expressão verbal decorrentes de problemas no funcionamento cerebral.

Os quais são descritos por JOSÉ e COELHO com uma linguagem clara e embasamento teórico, por meio também de tabelas, quadros com conceitos e em forma de tópicos. Onde são citadas as características (ou sintomas), as causas e o modo de como lidar com esses distúrbios, que podem advir de questões de cunho emocional (ou psicológico) ou orgânico.

No que diz respeito à atuação do professor frente aos problemas da fala, esse é um capítulo de fundamental importância para o acadêmico e, principalmente para o já profissional de licenciatura, pois orienta a postura a ser tomada quanto aos problemas exitentes na sala de aula. Nele, as autoras trazem à tona a grande responsabilidade e o papel significativo do professor, ao se deparar com o baixo rendimento escolar por parte dos alunos que apresentam dificuldades na fala. Elisabete da Assunção José e Maria Teresa Coelho sugerem que o professor deve inicialmente fazerm um levantamento das dificuldades dos alunos, através da obervação de questões do tipo: como eles emitem os fonemas, nível de vocabulário, aparelho fonador, atenção, comportamento etc. Ressaltam ainda que o contato com os pais é indispensável, visto que os problemas podem ser de ordem emocional e decorrer do ambiente familiar. E caso se identifique algo, é preciso que a criança seja encaminhada a um profissional adequado. No capítulo há um tópico (Sugestões Práticas) bem interessante, com exercícios diversos para os lábios, mandíbula, língua, palato etc, que pode auxiliar muito o trabalho do professor.

Em continuidade, o capítulo seis traz os tópicos: A fala, a leitura e a escrita, conceituando-os; Pré-requisitos para a aquisição da leitura e da escrita, prontidão para aprender, percepção, esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal etc; Causas dos distúrbios de aprendizagem da leitura e da escrita, que podem ser orgânicas, psicológicas, pedagógicas etc; O processo de leitura, mostrando como se dá; Distúrbios de leitura, abordando dificuldade em: leitura oral, discriminação visual e audiva, leitura silenciosa, commpreensão da leitura etc; O processo de escrita, mostrando seu desenvolvimento; Distúrbios da escrita, os mais comuns são a disgrafia e a disortografia, há também erros de formulação e sintaxe; Distúrbios de aritmética, discalculia; e O professor e os distúrbios de leitura, escrita e aritmética, mais uma vez mostrando como o professor deve atuar em tais casos. Porém, como já dito, daremos maior relevância aos distúrbios que afetam a fala, a escrita e a leitura, de forma mais específica e respectivamente, à Dislalia, à Disgrafia e Disortografia, e à Dislexia.

Com isso, de acordo com JOSÉ e COELHO, A Dislalia é um dos distúrbios da fala, um problema articulatório que consiste na omissão; substituição; transposição; acréscimo; ou deformação de fonemas. Elam citam alguns exemplos desses casos respectivamente: omei (tomei); boneta (boneca); mánica (máquina); atelântico (atlântico); nesse, deixa-se a língua entre os dentes ao pronunciar os fonemas [s] e [z], em palavras como sol, peça, azedo, asa, exame. Ela consiste na má pronúncia das palavras. A origem da dislalia pode ser orgânica, resultante de malformações, alterações ou traumatismos no aparelho fonador: língua, lábios, palato; funcional, está ligada a fatores hereditários, alterações emocionais e ao meio; e auditiva, devido a perda auditiva leve ou moderada, o que dificulta o aprendizado das palavra. O tratamento da dislalia, de modo geral, assim como a maioria dos problemas de linguagem, deve contar com apoio profissional de fonoaudiólogos e psicólogos, por meio da realização de exames dos órgãos fonadores, exercícios articulatórios, fonéticos e do apoio emocional. Além da significativa contribuição dos pais e professores, buscando sempre ajudar essas crianças e adotando a postura correta frente a esses problemas.

Em se tratando dos distúrbios da escrita, a Disgrafia é um distúrbio que atinge a escrita, caracterizada por letra ilegível ou deformada; desrespeito às margens do papel; espaçamento irregular entre letras, sílabas e palavras, etc. Está relacionada a problemas perceptivo-motores, visto que a criança não consegue reproduzir de forma escrita o estímulo visual que recebe. Já a Disortografia está mais ligada à questão de discriminação auditiva, a criança apresenta grande dificuldade em escrever aquilo que ouve. Logo, manifesta-se por troca, junção, omissão ou separação inadequada de letras ou sílabas, além de falta de percepção aos sinais de pontuação e acentuação gráfica, e de paragrafação. Quanto às possíveis causas desses distúrbios, não há nada bem definido ou preciso de acordo com as autoras. Todavia, em relação às formas de amenizar ou tratar crianças afetadas, o papel dos pais é muito importante e também o auxílio do professor.

No que se refere à Dislexia, as autoras defendem que é um distúrbio de linguagem, que atinge a capacidade leitora de muitas de crianças. Consiste em dificuldades de processar informações escritas no cérebro; geralmente crianças disléxicas apresentam memória fraca e não associam bem o som à letra. E quanto às formas de amenizá-la, o mais importante é que a família e a escola se informem quanto ao assunto, a fim de que possam amenizar ao máximo tal problema. Portanto, é válido lembrar que a postura do professor, é de extrema importância, tendo o cuidado para que a sala de aula não se torne um ambiente de preconceito, mas sim de respeito e, principalmente, de aprendizagem. Logo, ressalta-se mais uma vez que a interação pais, professores e profissionais da área, fonoaudiólogos ou psicólogos, são indispensáveis à crianças não só disléxicas, mas à todas aquelas que possuem algum problema de linguagem.

Em vista do qua já foi mencionado, podemos dizer que as autoras Elisabete da Assunção José e Maria Teresa Coelho desenvolveram um ótimo trabalho, com exposições, de maneira clara e multimetodológicas (tabelas, tópicos, textos complementares, exercícios diversos, quadros de conceituação, sugestões práticas) e com embasamento teórico de definições, características, causas e maneiras de lidar com os problemas de aprendizagem. Sendo um assunto de grande importância para todos aqueles que de alguma maneira fazem parte da área da educação, principalmente professores. Já que, certamente, eles lidarão com crianças que possivelmente possuam tais problemas.