Resumo : O Totalitarismo Sul Americano:
o caso de Yo El Supremo de Augusto Roa Bastos.
O respectivo trabalho está inserido em cima da figura de José Gaspar Rodrigues Francia, governante paraguaio do século XIX que procurou construir através do autoritarismo e de uma ditadura irrisória uma nação latina americana livre da influência das grandes nações européias como Inglaterra e Portugal, e por conta desse fato acabou por atrair a ira desses governos e também despertou fúria entre seus vizinhos, pois continha preceitos expansionistas que afetariam a soberanidade territoriais de Argentina, Brasil e Uruguai.
O romance de Augusto Roa Bastos narra como a personagem fez da sua figura o representante máximo de toda a sociedade paraguaia, e que sua maneira de governar tem resquícios que emergem a um sistema totalitário de governo baseada no uso dos meios de comunicação, culto a figura do ditador, manutenção de um exercito nacional e o sistemático uso do terror como a propaganda política maciça colocando uma ideologia onde o líder tudo vê e tudo ouve.
Dentro desse contexto o trabalho espera através dos estudos da filósofa judia Hannah Arendt dentro de sua obra,
"Origens do Totalitarismo" fazer uma formulação de como o governo Francia possui simetrias comparativas que submetem seu governo a postulação de um governo tcom parâmetros que o confluem ao mesmo nível do Stalinismo e do Nazismo.
O totalitarismo Sul Ameriano: o caso de Eu O Supremo de Augusto Roa Bastos A obra do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos Yo El Supremo (1974) retrata minuciosamente o cotidiano e a vida do ditador paraguaio José Gaspar Rodrigues Francia. O romance enfatiza um caudilhismo peculiar da América do Sul e está voltado para a dominação política total de uma sociedade. Esta fica centrada na sua figura, e em fundada na sua figura mitológica existente na história paraguaia. Para escrever o seu romance o autor atrela sua história imaginada a uma miscelânea de fatos e atitudes pessoais que realmente aconteceram ou existiram, construindo, uma obra literária inserida, em sua maior parte nos atos do ditador.No universo literário, tal como deve ter acontecido na História, a figura de Francia é relacionada ao uso exaurido de uma máquina estatal controlada por ele de forma arbitrária.
Ela é sustentada por uma dominação político-administrativa, fixada e focalizada na pessoa do Ditador.
Este utiliza todos os artifícios possíveis para enfatizar sua posição de governante máximo, usufruindo de todos os recursos disponíveis tanto para se manter no poder, como para dirigir a sociedade. O todo é construído em volta de sua face autoritária e de sua liderança. O personagem se propõe a realizar idealisticamente o desenvolvimentismo de uma nação latino-americana forte e auto-sustentável, no contexto de uma América do Sul que possuía a maioria de seus países dependentes das potências centrais do capitalismo, como a Inglaterra.
Ele busca ser o libertador do status escravista e colonizador do império espanhol. Para atingir os seus objetivos, atua no seu círculo pessoal e nacional, manipulando opiniões e ações, tanto nas esferas mais influentes e nas principais camadas sociais.
Tendo em vista que o narrador coloca que "sobre o poder supremo do ditador, até suas entranhas estão sob sua vontade"(1974) a obra se elabora em uma estética literária de manipulação da personagem que busca governar como líder máximo encarregado de livrar o povo guarani das amarras do expansionismo espanhol vigente na época em que se passa o romance (século XIX).O sonho do Supremo Ditador era governar e reger sua nação segundo sua vontade e transformá-la em leis, proporcionando, através de sua figura, um alvorecer de igualdade social ao povo guarani, que possibilitasse o florescimento de um Estado latinoamericano independente e autosuficiente.
Para que isso ocorresse, uma ideologia com caracteres humanitários que abarcasse toda a população formada em sua grande parte por índios e mestiços (e somente alguns descendentes de europeus) fazia se mais que necessária. A figura de Francia descrita pelo narrador
empenha-se em construir a imagem de um governante "Benfeitor" que, além de promover a transformação social e política do país proporcionando educação para todos sem exceção de etnia ou classe social e fazer uma distribuição farta de alimentos, submetesse também a nação a uma metamorfose completa do sistema governamental. Sua ambição era envolver uma parcela das futuras nações da América Latina. No lugar de se digladiarem entre si, como a carência de um plantel ideológico e político sólido e as diversas frações de classes que almejavam usurpar o poder nas ex-colônias, ele almejava realizar um estereótipo de lacuna de um líder sólido e homogêneo na América colonial espanhola, não somente no âmbito paraguaio e sim em todos os outros futuros Estados. Sonhava em produzir uma combustão de "liberdade", em relação ao espólio dos conquistadores.De uma forma explicita, o narrador escreve que os atos de Francia em sua maioria, levaram a exaltar a libertação do Paraguai, sob uma mescla de proteção e benevolência, e que esse fato alicerçado dentro de uma estrutura literária fosse correspondia a uma forma de fazer com que Francia se transformasse em um mito entre os povos latinos da modernidade. O autor ressalta que a situação do ditador personagem era bastante semelhante aos regimes totalitários do século XX, na Europa ou nas Américas ditatoriais , como o Nazismo e o Stalinismo.A filósofa política alemã Hannah Arendt (1990) descreve que para arquitetura do Totalitarismo,
"massas, ideologia oficial", e o líder com poderes inefáveis seriam os pilares para a construção dessa nova forma de soberania política, embasada no uso do terror e do medo constante. Há momentos em que "Yo El Supremo" encontra simetrias com os ideais autocráticos das principais ditaduras totalitárias do século XX tanto de esquerda como de direita.
Arendt explicita que o Estado Totalitário, somente foi possível com o usufruto da guerra, um fator que é descartado pelo narrador, para a construção do governo despótico do Francia literário. Porém, este enfrentou ameaças constantes do Império Espanhol, e contando internamente com opositores no seu emaranhado governamental. Tal aspecto era inconcebível aos olhos de Hannah Arendt, pois ela tomava como ponto de referência o totalitarismo nazista ou stalinista com sua massiva propaganda ideológica e a consumação do poder total do líder. Há, no entanto, um ponto em comum entre Arendt e Roa Bastos: a consciência de que foi a manipulação da realidade que era forjada segundo a vontade do líder que determinava o andamento dos acontecimentos. Isso que fica evidente em uma passagem do romance que elucida como as coisas, em via de regra, seriam acomodadas na vontade pessoal do ditador:
"Eu sou o arbitro. Posso decidir as coisas. Forjar os fatos, inventar os acontecimentos. Poderia evitar guerras, invasões, pilhagens, devastação em uma analise espacial, aproveitando para tanto os preceitos de Gaston Bachelard, que em "cada obra, monumento"( 1980) deveria representar a marca do poder incomensurável do Supremo, demonstrando que ele colocou seus esforços e dedicação no planejamento tanto material como ideológico de um sentimento de consciência de classe nacional moldada no orgulho de uma nação independente, embasada em sua imensa maioria no papel do individualismo do líder, que foi agraciado como servo do "Poder Supremo" ao qual ele próprio é subalterno, colocando-se em um patamar de inferioridade, sendo ele um escravo que avidamente faz de seus esforços um instrumento de governança enfadado no sublime cumprimento dos preceitos que o
"Supremo" lhe impõem especificando que o próprio "eu" é um escravo do Supremo, como é descrito pelo narrador. Assim como os lideres totalitários do Nazismo e do Bolchevismo (Hitler e Stalin), Francia sofre com a solidão. Essa solidão o transforma em um "mártir" de dedicação exclusiva a consolidação do poder total, que persegue seus opositores, e paradoxalmente oferece um conforto paternalista a aquele que o apóia e lhe agracia com devoção.Esse dualismo leva a outro aspecto: "A solidão, desfrutamos a solidão, desejamos a solidão".
(Bachelard. p.25). O antagonismo do poder supremo que é reverenciado por milhares, mas dentro de seu espaço intimo o ditador vê-se em um ostracismo e carrega um rosário de frustrações pessoais e um vácuo com morbidez e ausência de relacionamentos afetivos em virtude de sua suspeita permanente em direção das outras personagens. É um vazio sentimental da personagem principal, que vê inimigos por todos os lados, e a tudo toma com desconfiança em toda a narrativa de "Yo El Supremo".O "inconsciente coletivo" pode ser considerado um dos grandes feitos desta obra, uma vez que praticamente toda a população paraguaia estava submetida aos atos ditatoriais de Francia. Havia um misto de incertezas com um enrijecimento moral pelo qual passou a América Latina após sua descolonização, propiciou um terreno sólido, para a condução de um
"déspota esclarecido" no poder, no Paraguai. No dizer de Simon Bolívar:
"a América Latina, ficaria entre os pequenos tiranos, quase imperceptíveis, de todas as cores e de todas as raças". (Ramon Chao. 2002, p. 01), a América Latina depois de sair da hegemonia colonial, viveu uma crise de identidade. A exceção foi a nação paraguaia, pois a rigidez de se governar e a supremacia nacional foram postas em destaque com o surgimento de Francia. Através da violência e de seu "poder" pessoal ele procurou solidificar sua imagem que ele misturava com a de uma nação livre. A narrativa histórica de "Yo El Supremo" como o "espaço" foi primordial para que fosse possível implantação de uma ideologia de dominação plena em todos os setores da sociedade paraguaia. Para tanto, enfocamos aqui, o universo da narrativa literária, a construção de obras públicas, os comícios, a conservação de palacetes e castelos, bem como aspectos da vida intima do ditador no meio de controvertidos sentimentos como a inveja e a admiração inseridas no seu círculo de poder, seu comportamento contraditório e paranóico, quando a personagem coloca em evidência uma mistura de poder total com uma loucura capaz de fazer de suas vontades pessoais mais simples a vontade geral do povo, a exaltação de forma fanática por seus súditos, miscigenando sentimentos de um maniqueísmo marca do e alternado pelo amor e pelo ódio, pela solidão e pelo coletivismo. A determinação do poder supremo do ditador possuía uma envergadura
óptica relacionado à transformação do momento histórico ao qual o Paraguai estava vivendo no momento da ação narrativa e histórica, dando asas a uma independência enfocada na figura de um líder com poderes amplos, sendo isso indispensável para a engenharia ideológica na condução daquele governo. Ele governava realizando um conjunto magistral de realizações de obras públicas de importância fundamental tanto para o seu projeto pessoal, como para, assim, ludibriar a as pessoas, desviando seus olhos dos atos antidemocráticos cometidos por Francia. , Para tanto ele precisava da organização de um Estado laicizado a uma educação estatizada carregada de elementos políticos capazes de engrandecer cada vez mais a imagem do Ditador e, por conseqüência, a do Paraguai. O Totalitarismo do governo de Francia pode ser explicado pela teoria de Hannah Arendt, que usando pressupostos aristotélicos do homem concebido como um "animal político" enfatizando como a presença vital e constante do líder na vida das pessoas transforma o universo tanto público como privado. Tanto o Nazismo como o Stalinismo procuravam entrelaçar todos os setores da sociedade, e seus progenitores levaram o mito de seus feitos obtidos pela opressão e instalação do pânico sistemático para diferentes locais, para que assim pudessem preparar o terreno para seus futuros sucessores.
Marx afirmava, que "as revoluções dependem do momento histórico e social para que possam ocorrer"( 2003), Arendt destaca que os regimes totalitários "tiveram uma imensa contribuição do tempo histórico, ao qual estavam envolvidos"( 1990). No século XIX o Paraguai encontrava-se numa berlinda político-ideológica, sofrendo com a crise escravagista e com as pressões das nações européias para que entrasse no concerto do capitalismo nascente. Francia obteve de maneira similar um esplêndido campo para concentrar suas medidas na elaboração de uma nação desenvolvida
à custas de atitudes ditatoriais.Uma boa parte do romance de Roa-Bastos dedica-se a destacar o individualismo do ditador, fixado ao desejo de fazer de seus anseios pessoais, a vontade de toda uma nação.,nesse aspecto o individualismo presente no romance "Yo El Supremo" estruturou-se na narrativa como um instrumento de dominação e de isolamento político e social, oscilando dentro de sua narrativa, em agradar tanto a classe mais abastada e em criar um cenário de benfeitoria que encobrisse os espoliados, como a relação entre burguesia e os interesses das camadas mais pobres da população do Paraguai permitiram como a ditadura foi possível nos termos propostos por Francia. Bibliografia BIOGRAFIA ARENDT, H. Origens do Totalitarismo. Trad de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
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