O papel do professor analisado a partir de uma leitura dos filmes: O sorriso de Monalisa, Sociedade dos poetas mortos e Clube do imperador.

Solineide Maria de Oliveira
Discente em Letras/UESC
2011

Em O Sorriso de Monalisa, encontramos Julia Roberts, atriz no papel da protagonista Katherine Watson, uma professora de Arte que vai trabalhar numa instituição tradicional apenas para moças. Lá chegando, Watson se depara com uma turma de alunas pedantes, que estão com todas as respostas prontas para o módulo que a professora havia indicado.
Inicialmente, Katherine Watson fica um tanto apreensiva com relação ao que faria para responder às alunas. Recebe um conselho, de uma professora veterana: "não deixe que elas percebam que você está com medo". Essa fala nos faz refletir sobre as atitudes em sala de aula, sobretudo acerca da maneira como se deve portar um professor (a), diante das afrontas dos alunos, por vezes gestos típicos da idade, afinal, a adolescência é a fase da onipotência juvenil.
A professora da película se sai muito bem: articula uma fotografia de Arte Moderna em slide, e leva para sala de aula. Pergunta às alunas sobre aquela fotografia e inquire sobre o que é arte. Daí em diante, as alunas ficam surpresas, pois aquela aula não estava no módulo, não estava no cronograma, afinal, as aulas do cronograma já haviam sido estudadas por todas elas.
Outra reflexão se dá: o profissional da educação deve ter cabedal. Deve-se estar preparado para as eventualidades, as surpresas, e, nesse caso, Watson estava.
Durante o filme, surgem outras provas que a professora de Arte enfrentará com tanta criatividade, quanto equilíbrio emocional, haja vista a perseguição que sofre por parte de uma das alunas. Mocinha rica, que pensa que a vida é dinheiro e futilidade, apesar de se mostrar inteligente e perspicaz que. No entanto, a moça em questão, é resultado de uma criação torta, da parte de uma mãe submissa às relações sociais e ao estranho efeito que o casamento causava na década de cinquenta sobre as mulheres.
Vale assistir ao filme, e ter a grata surpresa de ver essa mocinha casar e sofrer, e separar-se do marido mundano e da relação doente com a mãe e mudar o comportamento e o coração, e se fazer mulher, de fato. E todo isso não seria possível, sem a presença marcante da Sra. Watson no meio do seu caminho.
Em Sociedade dos Poetas Mortos, encontramos outro belo exemplo de professor. Uma pessoa com ótimo humor e vontade de mudar. Vontade de melhorar e vontade de fazer com que essa vontade se instale também em seus alunos, ou, ao menos que os incomode, a ponto de fazê-los pessoas reflexivas.
A escola preparatória Welton Academy, recebe um professor de Literatura, mas não é um professor qualquer. Trata-se do professor John Keating, (ex aluno da escola e muito otimista). Profissional que não se conforma com a ideia de que estudar seja ler e responder. Para ele, seria necessário pensar por si e ter suas próprias perguntas, para buscar suas próprias respostas.
Assim John segue, revelando-se um professor especial, que traz questionamentos, mas, sobretudo, que pede questionamentos aos seus alunos, incitando-os à reflexão e ao "carpe diem".
Aproveitar o dia para aquele professor, seria sentir o dia passar, percebê-lo ante do coração. Pensar sobre as coisas e sobre a vida, e sobre os versos dos poemas que liam todos, e sobre o motivo dos poemas e dos versos e sobre o que move a vida além da inevitável força física: acordar, levantar, ir para os lugares que se vai todos os dias.
Em grupo, revive A sociedade dos poetas Mortos, uma antiga sociedade da escola, que ele apresenta aos seus alunos. E aí as coisas não dão muito certas, pois que são eles descobertos nessas reuniões secretas, a partir da denuncia de um aluno descontente com o ar novidadeiro que o novo professor de Literatura traz para a turma.
No entanto, o pior não seria isso, o pior seria o suicídio de um dos seus alunos, que não consegue com que seu pai desista da ideia de colocá-lo numa Academia Militar, depois de descobrir que o filho tem dotes teatrais e deseja seguir por esse caminho.
Com o suicídio de Neil, Keating é demitido e todos os alunos fazem uma bonita homenagem ao professor, quando vai à sala pegar seus pertences. Todos sobem em suas carteiras, e, ainda que o diretor os advirta, eles continuam firmes naquela cena que sugere ser a mais soberba da película.
A Sociedade dos Poetas Mortos faz com que se repense qual o papel da família, qual o papel do professor, até que ponto o professor não deve interferir na vida de um aluno. Até que ponto pode-se deixar alguém morrer em vida? Até que ponto um professor deve interferir em decisões (ainda que erradas) da família de um aluno?
O Clube do Imperador traz outros importantes questionamentos, trata-se da história de Hundert, um professor que cria "O Clube do imperador" para ensinar sobre a história da cultura greco-romana. O professor é uma pessoa de caráter correto e se intriga com o desempenho de certo aluno, Sedgewick Bell, que apresenta determinados desvios de conduta. Tal aluno tem um pai que é Senador e é também, pessoa de péssimo caráter, o relacionamento entre ambos não é bom, e o professor percebe, tentando, após burlar um resultado para se aproximar de Bell, e, de alguma forma, aconselhá-lo, guiá-lo em direção de vestir um caráter melhor.
Infelizmente o professor não consegue vencer o que o pai do rapaz já havia disseminado nele. A falta de caráter acaba vencendo na alma de Sedgewick, e fica a moral da história: a escola não consegue bons resultados, se a família não dá boa base sobre caráter e valores às crianças, que um dia se tornarão moças e rapazes, homens e mulheres.
Os três filmes são uma boa lição para os que se identificam com a noção de que ser professor é uma responsabilidade maior do que "dar aulas" e aponta questionamentos importantes sobre a profissão, apontando pistas de como se aprimorar na área, como reagir a determinados desafios típicos da sala de aula. Além de todos os questionamentos que se apresentam nestes filmes, faz a pergunta mais importante que todo profissional ou aquele que esteja a caminho de sê-lo deveria fazer-se: o que é ser professor e que tipo de professor eu quero ser?
Vale a pena assistir a estes três filmes, mas apenas se estiver com a alma aberta para que seja inquietada, pois que apenas o desassossego faz com que se reflita e, dessa forma, o amadurecimento brote.
Referência

O Clube do Imperador. Título original: (The Emperor's Club). Lançamento: 2002 (EUA) Direção: Michael Hoffman. Atores: Kevin Kline, Emile Hirsch, Embeth Davidtz, Rob Morrow , Edward Herrmann. Duração: 109 min., gênero: Drama.
O Sorriso de Mona Lisa (Mona Lisa Smile). País/Ano de produção: EUA, 2003 Duração/Gênero: 125 min., Drama Direção de Mike Newell Roteiro de Lawrence Konner e Mark Rosenthal Elenco: Julia Roberts, Kirsten Dunst, Julia Stiles, Maggie Gyllenhaal, Marcia Gay Harden, John Slattery, Juliet Stevenson, Dominic West, Ginnifer Goodwin.
Sociedade dos Poetas Mortos. Tíitulo original: (Dead Poets Society). Lançamento: 1989 (EUA). Direção: Peter Weir. Atores: Robin Williams , Robert Sean Leonard , Ethan Hawke , Josh Charles , Gale Hansen. Duração: 129 min., gênero: Drama.