RESENHA DO TEXTO: 

Do professor informante ao professor parceiro: Reflexões sobre o papel da universidade para o desenvolvimento profissional de professores e as mudanças na escola, de Luciana Maria GIOVANI

                                                                                    

Este estudo de Luciana Maria Giovani advoga a idéia de que os relacionamentos colaborativos entre universidade e escolas de 1º e 2º graus representam alternativa metodológica privilegiada tanto para investigação, quanto para atuação sobre o desenvolvimento profissional de professores e suas condições de trabalho. Contribui especialmente, para que que aprendamos mais sobre formas alternativas de iniciar e consolidar mudanças educacionais

"O professor forma a si mesmo mais do que é formado" (Nóvoa 1994), No novo modelo de formação estão em jogo conceitos como cooperação, partilha entre pares, autonomia profissional e prática reflexiva de ensino. A formação profissional não pode mais se reduzir aos espaços formais e escolarizados, organizados com esse fim. Ela precisa ser concebida como algo que pode se dar antes, durante e depois do processo formal, como "espaços de reflexão sobre o próprio trabalho". Há um campo específico de investigação acerca do que vem sendo denominado, nos últimos anos, de "desenvolvimento do professor".

Para a autora a busca de estratégias para o desenvolvimento profissional de professores e especialistas em serviço, deve levar em conta, duas preocupações básicas: a) a formação inicial vivenciada pela maioria dos professores nem sempre garante as condições necessárias para a continuidade de seu desenvolvimento profissional; e b) as condições de trabalho, na maioria das escolas, que caracterizam-se por gerar atuações individuais e solitárias.

Trata-se pois de reconhecer que a formação de professores e especialistas de ensino não se constrói por acumulação de informações, cursos, técnicas, mas pelo aprendizado e exercício, individual e coletivo, da reflexão crítica sobre as práticas e os contextos de trabalho, oportunizando reconstrução da identidade profissional e pessoal. E ainda de reconhecer a importância do "saber da experiência". A autora fornece pistas das novas ações pedagógicas: 1- Professores tornam-se cada vez mais atentos à necessidade de melhoria em sua prática; 2- aprender, apoiados na delimitação e solução de problemas; 3- perceber a mudança como uma necessidade individual e coletiva; 4- começar a ser alteradas ou sofrer pressão as condições institucionais básicas; 5-profissionalismo docente e níveis hierarquicamente progressivos; e 6- situações espontâneas, não são igualmente formativas.

Relacionamentos colaborativos entre Instituições são carregados de dificuldades e as vezes não produzem os efeitos desejados ou previstos. A idéia de parceria entre universidades e escolas de ensino fundamental e médio não é nova e provem desde o séc XIX. Já o trabalho de pesquisa em colaboração com professores e demais profissionais da escola nem sempre é considerado, dentro da universidade, como um trabalho com legitimidade acadêmica e científica. Contudo, experiências recentes têm apontado para as relações de parceria e colaboração entre pesquisadores e professores como um avanço no Brasil. As discussões atuais sobre formação continuada de profissionais do ensino têm estabelecido, ainda, com clareza, algumas características ou idéias essenciais que devem compor esse paradigma de relação, ação cooperativa ou "parceria colaborativa" entre universidade e demais graus de ensino - que de acordo com a autora "gera e age sobre o conhecimento, no contexto escolar, pelo e para o profissional que o usa".

A didática da pesquisa ação - Neste item Giovani questiona as práticas tradicionais de pesquisa em educação e pensando nas diferentes formas coletivas de pesquisa sobre ensino, com participação direta e efetiva dos "utilizadores potenciais" da mesma - os professores. A autora aprofunda tais idéias, a partir de investigação sobre formação inicial e continuada de professores e sobre metodologias alternativas de trabalho com professores em exercício. Pesquisa colaborativa, para o desenvolvimento profissional de professores tem apontado os seguintes benefícios: a) estrutura que facilita, reflexão e ação sobre as desordens do ensino e os problemas escolares; b) une os professores; c) os problemas que ocorrem com professores revelam-se muito mais; d) legitima o conhecimento prático dos professores; e) interação do grupo, estreitam a lacuna entre "fazer pesquisa" e "implementar achados de pesquisa".

Ainda que problemas, conflitos e tensões possam ocorrer, não se pode negar que novas teorias e práticas, de ensino e de pesquisa, têm sido geradas a partir de parcerias dessa natureza. E isso, por si só, já as torna importantes e valiosas. O texto responde à busca de autonomia do professor, por meio de cooperação e apoio mútuos, em contraposição à estrutura escolar hierárquica e autoritária em que se acham mergulhados a grande maioria de nossos professores.

Assim, os objetivos de cada uma das partes envolvidas são assumidos e atendidos. Para as escolas: o desenvolvimento profissional de seus agentes (professores e especialistas de ensino), a renovação de suas práticas (o ensino, a orientação pedagógica, a supervisão escolar, a administração escolar) e o acesso a novas idéias e conhecimentos (ou reconhecimento de seu próprio universo de trabalho). Para a universidade: o desenvolvimento profissional de seus agentes (docentes-pesquisadores e alunos-estagiários), a renovação de suas práticas (a docência, a pesquisa, a prestação de serviços) e o acesso a novas idéias e conhecimentos (visão do universo escolar e revisão dos diferentes campos de conhecimento a ele relacionados). Este é um tipo de trabalho que se volta para o que há de vital nas escolas e nas universidades, fornecendo-lhes sopro de vida nova.

Por fim a autora entende que se bem conduzidos, projetos dessa natureza podem gerar o que vários estudiosos apontam como essencial para a efetivação de mudanças educacionais: a renovação simultânea das universidades, das escolas e de seus profissionais. Ou seja, podem gerar mudanças muito positivas na "profissão de ensinar", justamente porque envolvem mudanças tanto nas instituições que formam os profissionais do ensino, quanto nas instituições em que eles irão trabalhar. 

 


REFERÊNCIA:

 

GIOVANI, L. M. Do professor informante ao professor parceiro: Reflexões sobre o papel da universidade para o desenvolvimento profissional de professores e as mudanças na escola. Cad. CEDES [online]. 1998, vol.19, n.44, pp. 46-58.