“Da mesma forma que se exige (com toda a razão) que não haja censura e que a liberdade de imprensa prevaleça, também é imperativo que se exija ética de quem se diz no direito de não ter o trabalho impedido...” (Jonas Gonçalves da Silva, titular da coluna "Enredo Virtual" do site Tele História)

Por sucessivas vezes esta coluna apregoou que, em geral, o jornalismo no Brasil não é levado muito a sério. Há de se excluir desse contexto, evidentemente, publicações como Carta Capital e Caros Amigos, que por suas naturezas excêntricas fogem, felizmente, à realidade jornalística do País. Esses dois periódicos são raras exceções que demonstram que seus dirigentes obtiveram aproveitamento máximo nas aulas de Ética enquanto cursavam a Universidade.

É notório que quando falamos da grande imprensa, sobretudo escrita, referimo-nos ao Estadão, Folha de São Paulo, O Globo, Veja, Isto É etc., cuja linha editorial atende aos interesses de uma mesma elite econômica que permanece incólume na gerência do País há séculos. Essa prerrogativa, como também já foi afirmada outrora, não é intrínseca somente aos periódicos escritos, uma vez que a televisão brasileira também segue as diretrizes traçadas por pequenos grupos ávidos em blindar seu poderio econômico. Esse tipo de jornalismo foge, em muito, da máxima de Maquieval, o qual afirma que “é ético o que interessa ao bem comum e não o que interessa meramente ao príncipe”.

Iniciada a campanha eleitoral deste ano, basta ler qualquer um dos periódicos já mencionados para confundi-los com verdadeiros panfletos produzidos por publicitários do PSDB. Abriu-se uma campanha vergonhosamente tucana nas manchetes de primeira página, sempre com informações incompletas, distorcidas e mentirosas a fim unicamente de tentar elevar o nome daquele que deveria ser o mais execrado de todos os candidatos à presidência: José Serra.

Exemplo prático temos centenas, ou milhares, vide a reportagem sensacionalista do Estado dando a atender que Dilma Rousseff havia protocolizado programa de governo no TSE antes de, sequer, lê-lo na íntegra. Outro exemplo é a maneira tendenciosa de noticiar a suposta quebra do sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-Secretário-Geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso (que já foi acusado, diga-se de passagem, de fazer lobby para empresas de computação conseguirem contratos na administração pública). A especulação, obviamente, sugere que a trama foi arquitetada por mentores da campanha de Dilma Rousseff, o que parece bem inocente imaginar que a alta cúpula do governo tomaria decisões tão primárias como esta e, pior, que isso facilmente cairia nas mãos da imprensa. Por fim, as mentiras e distorções publicadas como verdades absolutas são inúmeras.

O mais curioso de tudo isso é que o espetáculo propagandistico não se restringe aos artigos de opinião, editorial e reportagens, uma vez que também é possível notar, nas cartas de leitores, uma seleção rigorosa daquilo que interessa ao jornal ou revista. Nesse aspecto, o efeito produzido têm mais um caráter de comicidade, pois somente são reproduzidas frases medíocres e insensatas a respeito do governo petista, comentários que nem de longe representam uma opinião coerente sobre a atual realidade econômica, política e social do nosso país. Caso tentássemos realizar uma ''peneira'' nas cartas mais inteligentes (ou menos imbecis), nada encontraríamos que nos fizessem refletir sobre seu conteúdo, uma vez que só expressam bobagens que a classe média, ora tão alienada, tem como verdades.

Fica uma sugestão: Não seria mais ético e coerente um periódico assumir em bom português sua tendência política ao invés de manipular a opinião pública com mentiras deslavadas que, se analisadas criteriosamente, beiram ao ridículo? Evidentemente que, caso tomasse tal postura, essa imprensa marrom não teria a mesma elegância de estilo de Carta Capital ou Caros Amigos, porém, ao menos, quem sabe reconstruiria uma parte de sua credibilidade tão depauperada pelos seus próprios erros.